Não é fácil trabalhar em coligação
Luís Providência em longa entrevista ao "Correio", reconhece que não é fácil trabalhar em coligação. Segundo este jovem autarca, esta situação exige um grande esforço no modo de se articularem os projectos e as posições de dois, ou mais, partidos, num objectivo comum, neste caso o futuro de Coimbra.
Ao "Correio" revelou a necessidade de se criar infra-estruturas desportivas de lazer, nomeadamente um parque anglo-saxónico e uma ciclovia, há muito reclamado pela cidade. Quanto à problemática da sobrelotação dos cemitérios defende a construção de um novo espaço municipal.
Entrevista de Miguel Cotrim
Como está a decorrer o seu mandato como vereador do desporto, juventude e lazer na Câmara Municipal de Coimbra?
O mandato tem corrido bem, com normalidade, dentro dos condicionalismos que o país atravessa e, a que a Câmara Municipal de Coimbra não é alheia.
Já não estamos no tempo em que o país construía novos estádios de futebol para receber o campeonato da Europa; Estamos no país que, com dificuldade, os vai pagando.
Estamos no país que fecha escolas, serviços de urgência, maternidades… Coimbra, neste contexto, assegura infra-estruturas desportivas de qualidade, de que os complexos de piscinas (o complexo Olímpico em particular) e o Pavilhão Multidesportos, são bons exemplos.
A relação com os clubes tem sido sempre de grande transparência e abertura, sendo sempre explicadas as dificuldades que a CMC atravessa na sua capacidade financeira. Apesar de tudo, reafirmo que continuamos a prestar um serviço de elevada qualidade nos três complexos de piscinas, no Pavilhão Multidesportos e no Estádio Municipal Sérgio Conceição.
Coimbra possui hoje várias infra-estruturas desportivas. São suficientes para a prática desportiva?
Relativamente a saber se as infra-estruturas existentes são, ou não, suficientes, há duas realidades diferentes a considerar. Uma, é a da prática desportiva formal, enquadrada em clubes e associações, com quadros competitivos próprios, em que na maioria das modalidades as infra-estruturas são suficientes, embora com uma ou outra excepção identificadas, como seja o caso do Râguebi, que aproveitaria, seguramente, de um ou dois novos campos relvados. A outra, é a da prática desportiva informal, desporto-lazer, em que claramente faltam espaços informais para a prática desportiva, dirigidos a toda a população. Um parque Anglo-Saxónico (tipo Abadias na Figueira da Foz) é um exemplo claro de uma infra-estrutura em falta na cidade. O mesmo se pode dizer relativamente a ciclovias. A importância destes espaços é ainda maior, quando existe a noção de que com mais espaços destinados à prática desportiva, mais cidadãos passam a praticantes e, esse deve ser o maior objectivo: garantir as condições para que os conimbricenses se possam tornar melhores cidadãos.
Que eventos têm sido proporcionados à população?
A CMC tem proporcionado um conjunto interessante de eventos desportivos de qualidade, que correspondem à estratégia pensada.
Coimbra, em nosso entender, deve estar vocacionada para receber eventos desportivos identificados com os pontos altos das modalidades, a que correspondem fases finais de campeonatos ou taças nacionais, de que são exemplo: a final da taça de Portugal em Futsal (que encheu o Pavilhão Multidesportos, com um SLB-SCP), os Campeonatos Nacionais Absolutos de Natação e, a final 4 da taça feminina de Basquetebol a realizar no próximo fim-de-semana.
Devemos ainda, conseguir receber eventos desportivos internacionais, que, promovendo uma determinada modalidade, dêem visibilidade a Coimbra e às infra-estruturas municipais, de que são exemplo os Campeonatos Europeu e Mundial em duas vertentes da ginástica (rítmica e acrobática) ou o Campeonato do Mundo de kickboxing, a realizar no final deste ano. Cabem ainda na estratégia definida nesta área dos eventos desportivos, organizações dirigidas (fundamentalmente) ao desporto informal, como sejam as provas de BTT ou, a partir deste ano, os Jogos do Século XXI, que pretendem recuperar o espírito dos Jogos de Coimbra.
É fácil trabalhar em coligação com o PSD?
Uma coligação pressupõe que se consigam articular os projectos e as posições de dois, ou mais, partidos, num objectivo comum de futuro, neste caso, o futuro do Concelho de Coimbra. As diferenças naturais e salutares que possam existir, têm de ser ultrapassadas com uma prática de lealdade e bom senso.
Coimbra é uma cidade suja. Que políticas tem sido aplicadas no decorrer da sua vereação para colmatar esta problemática?
Não concordo que Coimbra seja uma cidade suja, ou, se quiser, mais suja do que a generalidade das cidades. Há, no entanto, situações pontuais que foram identificadas. A baixa, que depende de um protocolo com terceiros, é um exemplo. Outro, é a praça Heróis do Ultramar e a envolvente do Estádio Cidade de Coimbra, que têm uma pressão particular pelo número de pessoas que frequentam diariamente estes espaços. Esta situação foi resolvida, afectando um funcionário em permanência, para fazer a limpeza destas áreas. No geral, esta problemática só se resolve com mais meios e com a sensibilização de todos para uma prática consciente e empenhada, em que cabe a todos e a cada um de nós, contribuir para a solução do problema. Não há limpeza que resista, se, por exemplo, os detritos resultantes de uma refeição "fast" forem parar ao chão, mesmo que existam uma série de papeleiras e caixotes do lixo à disposição dos cidadãos, como acontece frequentemente na Praça Heróis do Ultramar, entre o Centro Comercial e as escolas.
Os cemitérios de Coimbra registam neste momento um sobrelotamento. Como pretende a Câmara Municipal resolver o problema?
Ampliação, nos cemitérios em que esta solução seja possível.
Construção vertical de ossários e gavetões, como já foi feito na Conchada. A solução a médio-longo prazo, deverá passar, em meu entender, por construir um novo cemitério municipal, acompanhado de um forno crematório.
Como se caracteriza politicamente. É político por convicção?
Tenho a minha profissão (Director Comercial da empresa Guidant Aparelhos Médicos), que interrompi durante este período para me dedicar a Coimbra, assumindo um lugar político que me orgulha mas que não me ilude: a política é um estado transitório, não definitivo.
Se estar na política para" transformar o poder em serviço", como fazia o Engº Nuno Abecassis, é ser político por convicção, então sou político com uma convicção inabalável.
O Luís Providência foi reeleito recentemente presidente da concelhia do CDS-PP. Que leituras faz desta crise provocada por Paulo Portas no partido?
A leitura que faço é a de uma crise, imposta ao partido por um ex-presidente, que o partido não queria e, seguramente, não precisava. Não é, do meu ponto de vista, aceitável que o Dr. Paulo Portas não se obrigue a respeitar os tempos do partido e, venha exigir eleições nas suas condições e nos termos exactos que entendeu exigir. O CDS é muito mais do que o Dr. Paulo Portas, que só demonstrou, com esta atitude, aquela que é a sua concepção de partido: ele próprio e as suas regras. Os militantes, a direcção do partido, não lhe mereceram qualquer respeito: deu um mau exemplo de (falta de) "lealdade institucional", que tanto apregoou.
A concelhia vai tomar alguma posição?
A concelhia aguardará as decisões do Conselho Nacional do partido, sendo que é posição largamente maioritária na concelhia que a resolução desta crise interna passe pela realização de um congresso.
Apoia Portas ou Ribeiro Castro?
Apoio Ribeiro e Castro sem dúvidas nem tibiezas. O seu modelo de partido é aquele em acredito.
Porque me revejo num partido democrata-cristão, assente em valores e princípios, com uma profunda inspiração personalista e de proximidade. Devemos trabalhar para um partido que está ao lado das pessoas, um partido ao serviço das pessoas. Acredito, como acredita Ribeiro e Castro, que somos um instrumento ao serviço do partido e, que o partido é um instrumento ao serviço de Portugal. Um partido que vê nas autarquias, na proximidade às pessoas, a fórmula para um sólido crescimento político.
O CDS-PP é um partido de democratas cristãos. Porquê que se assumem como cristãos? Em que diferem dos outros partidos?
O CDS tem na sua génese inspiração na Doutrina Social da Igreja. É pois um partido doutrinário, à semelhança do Partido Democrata Cristão Alemão criado por Konrad Adenauer em 1946. O CDS foi sempre um partido único no panorama político-partidário em Portugal: nunca defendeu a colectivização dos meios de produção, nem nunca caminhou para o socialismo. A solução para os problemas sociais foi sempre inspirada na Doutrina Social da Igreja Católica, a Rerum Novarum, a primeira encíclica social promulgada por Leão XIII, em resposta à primeira grande questão social, a questão operária e, de alguma forma em alternativa ao socialismo, que é excluído como remédio.