Como avalia o plano pastoral que agora termina? Sente que teve consequência práticas positivas?
É difícil fazer um juízo objectivo dos resultados do plano pastoral na diocese de Coimbra. Temos a percepção de algum movimento que se gerou nas paróquias e em vários organismos mas talvez nos escape a realidade concreta nalgumas situações. Penso que este plano contribuiu para desenvolver acções que não teriam existido se não houvesse plano. Os resultados de alguns trabalhos que se fizeram são fruto das propostas que a diocese apresentou. Este plano tinha várias áreas e insistiu-se bastante na parte da acção sócio caritativa, na atenção aos mais desfavorecidos. Tentou privilegiar-se, concretamente, quem mais só. A solidão é um dos maiores problemas da nossa sociedade. Não se foi tão longe quanto se desejava mas alguns passos foram dados nesse âmbito. O plano tinha, talvez, propostas excessivas e notou-se uma certa dispersão. Conversámos no sentido de haver menos propostas e mais concretas, mais concisas porque será mais fácil agarrá-las e desenvolvê-las. Claro que temos uma dificuldade que tem a ver com os seus executores que nem sempre estão nas melhores condições, pela idade. Falo do clero, naturalmente, que não abunda e que já vai tendo uma certa dificuldade nalguns trabalhos. Têm muitas paróquias e tarefas e alguns estão já limitados pela idade e pela doença, sendo difícil que tomem nas mãos um compromisso sério com a implementação do plano pastoral. As vocações têm sido uma das nossas preocupações dos últimos anos e têm-se realizado algumas acções concretas porque o tema merece da diocese e dos seus responsáveis atenção e apoio. Tem-se caminhado num sentido positivo e tem havido um esforço sério de acompanhamento dos jovens. Alguns padres novos têm trabalhado nesta pastoral e têm feito um excelente trabalho, estando os frutos já à vista, por exemplo, se virmos os alunos que vão entrando no Seminário.
O plano pastoral foi demasiado longo?
Talvez cinco anos seja demasiado tempo e estávamos habituados a planos de três anos, no tempo do Sr. D. João. Mas, embora se tenha estabelecido um período de cinco anos, houve um faseamento e, em cada ano, apostou-se mais numa ou noutra área. Foi-se fazendo a revisão do trabalho realizado e foi-se acentuando um ou outro aspecto no ano seguinte ou nos dois anos seguintes. Mas si, talvez o plano seja um bocadinho longo e se crie uma certa monotonia.
Fala-se, hoje, na necessidade de enquadrar a acção social da Igreja nos problemas sociais do nosso tempo, atendendo a necessidades específicas e realidades concretas e actuais. Sente que
E isso vai acontecendo nas comunidades da diocese?
O que sabemos, em primeiro lugar, é que é necessário este serviço sócio caritativo e que ele é uma exigência da própria natureza da Igreja. Temos privilegiado muito a liturgia e a evangelização pela catequese, por exemplo, e penso que não temos valorizado tanto como devíamos a área social e a resposta aos problemas sociais na forma como eles se apresentam hoje na nossa sociedade. O ideal é que em cada paróquia exista um serviço desta natureza. Algumas têm através dos grupos de jovens, de grupos sócio caritativos, das conferências vicentinas, etc. mas há muitas comunidades em que não há esta facilidade. Há muitos agentes nas paróquias da diocese que, de algum modo, cumprem este papel de responder aos problemas locais e não podemos esquecê-los, mas há caminho a fazer. Penso que a Igreja deveria mergulhar mais no concreto da vida dos homens de hoje. Para nós, às vezes, é mais fácil anunciar a Palavra na Eucaristia, na catequese ou através dos sacramentos e talvez estejamos um pouco distantes da realidade objectiva de muita gente o que levanta alguns problemas por causa da situação de pobreza em que algumas pessoas vivem. Estamos apostados em sensibilizar mais as comunidades para que haja respostas a estas situações com a especificidade de cada comunidade. É um trabalho que se vai fazendo a pouco e pouco.
Alguns dos responsáveis pelas regiões pastorais referiram o facto de a juventude parecer estar mais desligada da Igreja. É um fruto do nosso tempo?
Desde que a indústria começou a crescer, a Igreja tem perdido muitos operários e eu pergunto se não estamos também a perder os jovens…As razões são muitas mas penso que, se falarmos em culpa, elas são de parte a parte. Os jovens têm, hoje, muitas solicitações que não existiam há vinte, trinta ou quarenta anos. O materialismo domina o mundo e há uma certa insensibilidade ao transcendente e ao espiritual mas penso que a Igreja devia questionar seriamente as causas deste afastamento e perguntar-se se ela própria não tem algumas culpas. Há poucos dias, na Sé Nova, na preparação para o crisma dos jovens, eu dizia que, realmente, estes se têm afastado da Igreja. É visível. Mas perguntava-me se a culpa é só dos jovens ou se é também da Igreja…São só os jovens que não amam a Igreja ou é também a Igreja que não ama os jovens? São só os jovens que não compreendem a Igreja ou é a Igreja que também não os compreende? Acho que temos dificuldade em lidar com os jovens.
De que formas deve evangelizar a Igreja hoje?
Têm-se feito várias tentativas e há organismos diocesanos encarregados da pastoral juvenil mas, mesmo esses, encontram dificuldades no crescimento dos jovens na participação da vida da Igreja. Já sabemos que a juventude costuma ser um pouco inconstante: entusiasmam-se mas também se cansam depressa. Penso que isto tem a ver também com o tipo de vida dos nossos dias. Por exemplo, ao fim de semana, muitos estão ocupados com actividades extra escolares, exames ou com a ida para as suas terras, no caso dos que não são de Coimbra. O Domingo já não é celebrado como antigamente. Na diocese, há organismos dedicados especialmente à pastoral universitária como o Instituto Justiça e Paz, com mais de 100 anos de existência e é feito, também, um trabalho grande pelos Jesuítas, por alguns lares que participam nas actividades nesta área, por movimentos como os Focolares, pela Opus Dei. Claro que esta pastoral não tem, hoje, a expressão que gostaríamos que tivesse e que existiu noutros tempos.
A ligação entre a cultura e a fé era outra das preocupações do plano pastoral. De forma geral, que passos previa o plano pastoral neste sentido?
O plano sublinhou a necessidade de uma intervenção da Igreja no campo da cultura e de um diálogo da Igreja com a cultura, mas ele tem-se mostrado difícil. A nossa cultura está longe de ser dominada por alguns valores do passado. O afastamento dos jovens dá-se também, de alguma forma, nos adultos, na medida em que eles não estão imbuídos dos ideais cristãos: nem os vivem nem os comunicam. É esse o grande problema. Há um grupo considerável de professores universitários que se dizem cristãos e o são verdadeiramente mas são pessoas já ocupadas, assoberbadas com tanto trabalho e vivências e têm dificuldade em encontrar tempo para actividades no campo da evangelização. O mundo da cultura é um campo problemático para a Igreja.
Em termos de prática cristã e de envolvimento dos leigos, como caracteriza a diocese de Coimbra?
Começo por dizer que devemos dar graças a Deus por termos um grupo de leigos tão bom, bem formado, com sentido de responsabilidade e muito empenhado na vida diocesana. A nossa Igreja Diocesana não seria o que é hoje sem o empenhamento destes leigos e eles precisam de ter uma intervenção maior, não só pelas necessidades que se vão sentido na Igreja mas por exigência do seu próprio Baptismo, do seu ser cristão que deve levá-los a empenharam-se nas nossas actividades. Depois, a Igreja diocesana deve abrir-se mais ainda à sua acção. Embora falemos na necessidade de os leigos intervirem, por vezes, cerramos as portas... Dando um exemplo concreto, penso que eles deveriam ter uma intervenção maior na tomada de decisões. Habitualmente, elas têm origem, sobretudo, no clero, nos responsáveis pela pastoral diocesana e nos párocos, mas penso que os leigos deviam ter uma intervenção mais activa nas decisões quer a nível diocesano, quer a nível paroquial. Claro que há organismos para isto mas tudo depende também das pessoas que estão à frente destes órgãos e do saber ou não saber ouvir…
Quais os maiores desafios da função de vigário geral da diocese de Coimbra?
A minha função é variada porque abrange toda a diocese e os problemas são muitos variados. Muitas vezes, é necessário resolver problemas que se levantam entre sacerdotes e leigos por pequenas questões a propósito de festas, de obras, de casamentos, de baptismos, comunhões, por questões surgidas porque o padre fez isto e aquilo e as pessoas não gostaram…
É também presidente da Comissão de Arte Sacra, a nível diocesano…
Sim e tenho muita estima por essa responsabilidade. Recebemos do passado uma herança muito rica no campo patrimonial e basta olhar as nossas igrejas mais antigas que são uma referência no campo arquitectónico. Infelizmente, nos últimos anos, temos poucos exemplos bons a apontar de arquitectura moderna nas nossas igrejas. A nossa preocupação é a de sermos mais isentos e objectivos nos projectos que nos vão chegando, tanto no que respeita a novas construções como a projectos de preservação. E, em obras novas ou de conservação e reparação, deve haver um projecto, em princípio elaborado por um arquitecto, que deve ser apreciado e aprovado pela Comissão de Arte Sacra. Dentro das possibilidades, procuramos fazer também um acompanhamento das obras porque, às vezes, o que acontece é que os projectos são bem elaborados mas não são executados correctamente. O pároco ou o construtor às vezes alteram um bocadinho as suas linhas.
Como olha a vivência cristão na nossa diocese?
Olho com esperança para vida cristã da nossa diocese mesmo com as dificuldades. Sinto que as dificuldades de hoje podem até ser um incentivo para fazermos melhor. Apesar de um certo materialismo, hedonismo, indiferença que se vivem no nosso tempo, há muitas pessoas que procuram as respostas da Igreja e há um trabalho imenso a fazer. Pena que os braços sejam tão poucos para um campo tão grande…