Correio de Coimbra

Jornal informativo da Diocese de Coimbra. Assine e divulgue o nosso semanário. 239 718 167. fax: 239 701 798. correiodecoimbra@mail.telepac.pt

A minha foto
Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

4 de abril de 2008

Peregrino do mundo esteve em Coimbra

83 mil quilómetros em nome da fé

Peregrino saiu de Roma em 2000 e já percorreu 83 mil quilómetros a pé. Sobrevivente de um naufrágio na Noruega, fez a promessa de percorrer o mundo e nunca mais parou. Com milhares de aventuras para contar, entre as quais o encontro com o Papa, prepara-se para regressar a casa dentro de três meses.
Saiu de casa, em Civitavecia, a 80 quilómetros de Roma, no ano de 2000 e já percorreu quase o mundo inteiro a pé. São mais de 83 mil quilómetros, 30 pares de sapatilhas e botas e muitas memórias, nem todas positivas. José António Garcia Calvo, de 59 anos, esteve nos dias 3 e 4 de Abril, em Coimbra.
Em Coimbra e, especialmente, no Parque de Campismo, veio a encontrar uma hospitalidade e “simpatia” como poucas vezes se confrontou ao longo da peregrinação. “Ofereceram-me dormida e o almoço”, relatou ao Diário de Coimbra, na caminhada de cerca de 40 quilómetros, desde Pombal.
Muitas vezes já foi vítima de assaltos, muitas vezes já viu as portas fecharem-se, muitas vezes dormiu na rua ou nas matas, mas, nem por um minuto pensou em desistir de cumprir a promessa que fez à Virgem del Cármen. É que em 1997, José António foi o único sobrevivente de um naufrágio, na Noruega, quando andava à pesca do bacalhau. Passou nove horas perdido no mar, mas conseguiu resistir, graças ao equipamento térmico e também, acredita o ex-pescador, à santa, a quem prometeu percorrer os lugares sagrados de todo o mundo.
Se bem o pensou, melhor o fez. Chegou a Portugal de avião, foi a Fátima e, a partir daí nunca mais parou: Lourdes, Santiago de Compostela, Jerusalém, Lhasa (Tibete), entre muitos outros.
Quando lhe perguntamos quais os países por onde passou, responde que é mais fácil dizer por onde não passou: Japão e Austrália, porque não há como lá chegar a pé, explica.
Agora só pensa no regresso à casa para abraçar a sua neta que ainda não conhece.

Igreja de Quiaios com chão aquecido para dar mais conforto aos fiéis

A Igreja de S. Mamede, em Quiaios, Figueira da Foz, é a primeira igreja do concelho a possuir um sistema inovador de aquecimento do chão e, simultaneamente, do ambiente.
No âmbito de obras de beneficiação que aquela igreja está a ser alvo, o velho e podre soalho foi substituído por um sistema pioneiro de climatização que “torna o ambiente agradável e acolhedor”.
“Em toda a igreja, a caixa de ar do antigo soalho de madeira foi colocado um sistema de aquecimento que tempera o ambiente ao nosso gosto. Há controlo de temperatura através de um termostato, criando um ambiente agradável”, explicou o padre Carlos Noronha, pároco de Quiaios.
O trabalho, executado por uma empresa polaca que, pela primeira vez, colocou este tipo de equipamento em Portugal. “Há outras igrejas portuguesas com sistemas parecidos mas este é inovador”, adianta o Padre Carlos.
“Acredito que através deste equipamento chamaremos mais fiéis à nossa igreja pois, por fora é uma sala de visitas, mas para os cristãos este é um espaço de encontro com o sagrado. É preciso que se sintam em casa, só dessa forma virão até nós”, acrescentou o pároco em Quiaios desde Outubro de 2006.
Foi nessa altura que decidiu meter “mãos à obra” e remodelar totalmente o interior e exterior da igreja bem como recuperar todas peças de arte sacra existentes. Os trabalhos rondaram os 50 mil euros.
“Retirámos todo o recheio, desde os altares aos coros, pois estava tudo podre. Picámos as paredes e abrimos dois vãos onde foram inseridos os altares do Mosteiro de Seiça, que estavam na capela de Senhora da Graça. Picámos também o tecto da capela-mor para a restituir ao que era inicialmente e recolocou-se o altar do século XVII, única peça de valor que havia, no seu lugar”, explicou o Padre Carlos Noronha.
Mas, a obra no templo – um antigo oratório ao santíssimo sacramento dos frades crúzios, remonta aos finais de Séc. XV – ainda não está completa. Para breve, o pároco prevê a recuperação do tecto, do Séc. XVIII, obra orçada em 40 mil euros.

Escutas de Fala cumpriram promessas

“Prometo pela minha honra, e com a graça de Deus, fazer todo o possível por cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria. Auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias, e obedecer à Lei do Escuta”. Foi com estas as palavras que 21 escuteiros, do Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento 893 de Fala, procederam recentemente ao ritual de Promessa do Escuteiro, em Bencanta. Um evento que juntou os jovens escutas do agrupamento e familiares. Segundo Paulo Melo, o agrupamento conta neste momento com 70 escuteiros, divididos por vários escalões etários: lobitos (seis aos 10 anos), exploradores (10 aos 14 anos), pioneiros (14 aos 18 anos), caminheiros (18 aos 22 anos) e dirigentes (mais 22 anos).
Sob o lema “Aprender fazendo” as crianças e jovens vão apreendendo a conhecer-se melhor e a descobrir o mundo que os rodeia desde que entram para os escuteiros.
“No Agrupamento 893 de Fala, formam-se os homens e mulheres do amanhã, que desenvolvem o seu conhecimento individual com tarefas bastante simples, como aprender a cozinhar e a cuidar de si próprios”, adiantou Paulo Melo.
No que se refere às actividades e programas desenvolvidos pelos escuteiros, os mesmos são adequados aos vários escalões etários e visam a necessidade de explorar e descobrir.
Desta forma o Agrupamento de Fala tem feito algumas caminhadas e realizados vários jogos, nomeadamente, o “jogo da cidade”, que permite conhecer uma aldeia ou um determinado local. Os escutas têm também a oportunidade de fazer contactos e amizades com outros escuteiros, através de encontros e convívios.
O Agrupamento 893 encontra-se, actualmente, no salão paroquial da Capela de Fala. Todavia, Paulo Melo, adiantou que a futura sede dos escuteiros já se encontra em construção.
“A Câmara Municipal de Coimbra cedeu um terreno, na Rua da República, em Fala, e com o apoio da Junta de Freguesia de São Martinho e dos pais, a nossa “casa”, em madeira, está a ser construída ao poucos”, sublinhou o chefe dos escutas.

3 de abril de 2008

Reflexão


Catequese em debate pelos Secretariados Nacionais Diocesanos

“A catequese num mundo em mudança” em discussão durante as jornadas

Pela primeira vez Cantanhede acolheu, entre os dias 25 e 27 de Março, o 47º Encontro Nacional dos Responsáveis Diocesanos da Catequese da Infância e Adolescência. Durante três dias, as duas dezenas de Secretariados Nacionais Dioceses debateram o tema “A catequese num mundo em mudança”, que dominou as discussões. A importância da Bíblia como critério interpretativo para a existência humana, bem como a experiência e a palavra na dinâmica da fé, foram outras das temáticas abordadas, numa jornada que terminou com a partilha das actividades mais significativas e os ecos dos “novos catecismos” dos Secretariados Diocesanos.
António Coelho, sacerdote responsável pelo Secretariado Diocesano de Coimbra, em declarações ao jornal Boa Nova, enumerou algumas das dificuldades que a catequese vive actualmente. “Da parte do Secretariado existe a consciência de que o mundo está em mudança, mas quando chega a hora da prática o difícil mudar, porque os catequistas já têm rotinas instaladas”, afirmou. Por outro lado, o padre Coelho reconheceu que os catequistas necessitam de fazer com que “a catequese não seja mais uma aula”. “O catequista tem de se adaptar à mudança, não tanto à mudança tecnológica, mas sim na relação com Deus, na ligação entre a catequese e a liturgia e ainda a sua forma de estar e o tempo que dedica à oração”, sublinhou.
Maria José Sousa, missionária das Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus e responsável do Departamento Nacional da Catequese da Infância e Adolescência, fez um balanço positivo dos três dias de trabalho. “Os trabalhos foram frutíferos e os aspectos tratados foram bastante actuais, uma vez que uma das mudanças registadas teve a ver com o lançamento, este ano, dos novos catecismos para o sétimo, oitavo e décimo volumes, e do primeiro catecismo da fase da infância”.
As mudanças tiveram a preocupação, segundo a responsável, em “fazer a actualização da linguagem pedagógica tendo em conta a mudança social, adaptando a linguagem cristã à linguagem da sociedade”. “Não queremos adoptar o mundo, porque há muitos valores que não estão bem, mas tentamos fazer uma caminhada de fé em vida e dentro desta mudança, preparando os homens e mulheres de amanhã com valores e critérios cristão”, explicou.

Mirla Ferreira Rodrigues



FESTA DE FAMÍLIA

O dia da Igreja Diocesana é uma festa!
Venham para ela os jovens, carregados de alegria cristã e imaginação criadora!
Preparem-nos um dia feliz, que eu quero chamar para ele o pai e a mãe, os avós e os mais novinhos. Venham todos respirar esta alegria de nos sentirmos uma só família. Quem a reúne é o Pai grande e bom que temos no Céu!
A casa da reunião, que Ele criou para nós, é larga e bela: o parque do Luso, na Serra do Buçaco.
Quando, por entre as árvores da mata, se ouvirem as vozes da multidão, que ela há-de chegar, vinda de toda a Diocese, o Pai, que a todos nos conhece, há-de sorrir e nós, seus filhos, diremos: que bela que é esta família chamada Igreja!
Estou ao seu serviço e tenho uma ordem: vem e traz muitos outros!


Albino Cleto, Bispo de Coimbra

Fé e Compromisso


ESCÂNDALO E LOUCURA
José Dias da Silva

Estas conhecidas palavras de S. Paulo (1Cor 1,23) resumem a dificuldade com que se depararam as comunidades primitivas para vencer a dupla incredulidade que resultou da morte de Jesus. Para os judeus era inconcebível (um escândalo) que Deus morresse na cruz. Para os pagãos era inaceitável (uma loucura) que um homem fosse Deus, muito menos, um homem condenado a um suplício aplicado sobretudo a escravos, ladrões e outros representantes do sub-mundo humano.
Contudo, estas palavras continuam, parece-me a mim, a ser hoje de algum modo actuais.
Os crentes notam hoje escândalo e loucura num mundo que vive como se não existisse (um) Deus e que não precisa de nenhuma causa inicial e exterior a si, ou no homem que se julga omnipotente, que não se preocupa em saber donde vem nem para onde vai, que tem (tinha?) uma fé absoluta na sua inteligência com explicação para tudo. E, contudo, a história mostra o contrário. Há pouco mais de cem anos, dizia-se aos alunos de Física para se dedicarem a outras matérias porque nesta área estava tudo descoberto. E, no entanto, bastaram três fenómenos insignificantes (espectro do hidrogénio, efeito fotoeléctrico e radiação do corpo negro) para desmoronar tudo e obrigar a encontrar novas teorias. E hoje essas explicações já não servem e precisamos de outras. E depois de outras… e outras. Por isso, não foi com surpresa que encontrei, num livro recente sobre "os próximos 50 anos" da ciência, várias vezes a palavra "humildade " ou "afinal de contas somos humanos e não anjos e da mesma forma que existem coisas que somos capazes de perceber, devem existir outras que não somos capazes de entender… porque não somos suficientemente inteligentes para perceber tais coisas. Podemos estar como cães a tentar perceber análise matemática".
Mas também há, não digo, escândalo e loucura mas algo de pouco compreensível entre nós, que lemos a Bíblia particularmente os relatos da Paixão e passamos por estes textos, recusando-nos a aprender o que nos ensinam todos aqueles intervenientes. A ajuda das nossas catequeses e homilias também não é muita!
Tão prontos que nós somos a condenar Judas, aquele traidor tão infame que só "merecia" acabar nos ramos de uma figueira. E não pensamos em quantas vezes trocamos o nosso Deus pelo dinheiro, que comanda muito mais a nossa vida que a fé em Jesus: vivemos para o ter, para o gastar, para o guardar. Adoramo-lo em vez de o usarmos como instrumento da nossa realização autêntica, da nossa partilha com os mais necessitados, do nosso contributo para uma sociedade mais justa. E no entanto "ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6,24). Quantos de nós que vamos comungar ao domingo não somos autênticos Judas!
Nós os "bem-comportados" olhamos os ladrões crucificados como a ralé da sociedade. Nós, que vamos à missa ao domingo, não nos drogamos, não roubamos, nós os auto-suficientes da moral humana (que não da do Sermão da Montanha!), não podemos misturar-nos com esses ladrões, prostitutas e publicanos. E, no entanto, esses serão os primeiros no Reino dos céus (Mt 21,31). Não estará Jesus a virar tudo do avesso: aquela gentalha à nossa frente no Reino de Deus? Não é possível! Aquele ladrão, que "estarás comigo hoje no paraíso" (Lc 23,43), ainda vá! Mas porque tivemos de inventar o chavão de que ele era "o bom ladrão"!
Para ajudar Jesus a levar a cruz teve que ser requisitado um anónimo Cireneu, porque os discípulos não estavam lá. Foi o que aconteceu ao longo da história. No início, os cristãos morreram pela liberdade de consciência. Depois, durante séculos, estivemos na vanguarda. Finalmente, adormecemos à sombra do poder e da nossa organização humana, e, embora atentos aos pobres, ficámo-nos pela salvação das almas e fomo-nos esquecendo de ajudar as pessoas a serem mais felizes já aqui e de lutar contra as injustiças deste "vale de lágrimas". Então, porque deixámos de ser sinal e instrumento de Deus na construção de um mundo novo, Deus, que "não faz acepção de pessoas" (Act 10,34), teve que chamar os Galileus, os Darwins, os Marxs, os Freuds e outros tantos Cirineus que ajudaram a avançar a história, embora nem sempre como Ele quereria. Mas, por Sua expressa vontade, a história sempre se irá construindo num diálogo dialéctico entre a vontade, infinitamente bondosa, de Deus e a vontade, finitamente ambígua, dos homens.
Quantas vezes temos sido Pedro a negar a nossa condição de discípulos de Jesus. Vamos à missa, até assinamos uns abaixo-assinados contra o aborto, mas depois a nossa vida familiar, profissional, social e a nossa atenção ao outro, que sempre é Cristo, não é confirmação convincente daquilo em que acreditamos. "O divórcio entre a fé e a vida é um dos mais graves erros do nosso tempo" (GS 43; cf. EN 20).
Depois vieram as exigências físicas de Tomé e os discípulos de Emaús que não reconheceram Jesus. Também nós passamos o tempo com lamentações, por vezes mais que os outros. Temos muita dificuldade em perceber que não bastam os olhos da cara ou da inteligência, mas que são precisos os olhos da fé para, em tempos de crise, testemunhar, na esperança e na alegria, a proposta libertadora de Jesus Cristo.
Mas será que temos fé ou que temos fé suficiente? Ou não passamos de homens de pouca fé (Mt 8,26) que cada vez a vamos degradando mais, de tal modo que o próprio Jesus nos deixou este desabafo terrível: "Quando o Filho do Homem voltar encontrará a fé sobre a terra?" (Lc 18,8).
"Já que ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo" (Col 3,1). Aspiramos mesmo?

As Cortes de Coimbra


José Eduardo Reis Coutinho

O próximo dia 6 de Abril recorda-nos a data de conclusão das vulgarmente chamadas Cortes de Coimbra, reunidas para tratar de vários assuntos prementes, gerados com o problema da sucessão dinástica de Dom Fernando, agravados com a crise de 1383 a 1385.
A convocatória foi resolvida na assembleia realizada em Lisboa, a 2 de Outubro de 1384, após a chegada de Dom Nuno, das operações do Sul, pois, no seguimento dos acontecimentos do cerco à capital, feito pelo rei de Castela e disposto a retomar as ofensivas, era necessário, para lhe fazer frente, solidarizar o clero, a nobreza e o povo de todo o reino, na defesa de uma causa nacional e na participação dos encargos que isso implicasse.
Esse notável esforço de reunir forças fiéis à causa do Mestre, assegurando a lealdade dos nobres e obtendo dos povos os suficientes recursos financeiros, bem como humanos, só podia partir do competente organismo político-administrativo que assumisse a responsabilidade do empreendimento colectivo, catalisador do sentimento nacional.
Isso requeria, antes de mais, anunciar aos possíveis intervenientes a convocação para tal data e local, igualmente comunicada aos conselhos, pedindo a cada um que elegesse os respectivos procuradores, com suficientes poderes para resolverem sobre o inevitável custo da guerra.
Por consequência, essas reuniões foram deliberativas, definiram a legítima sucessão da Coroa e revelaram a preocupação dos participantes de dar uma estrutura jurídica ao regime iniciado com a nova dinastia.
Um assunto tão imperioso inculcara, no pensamento dos mais avisados, a ideia de ser indispensável à união dos Portugueses e à firme vontade de combater, a aclamação de um soberano, cuja indiscutida chefia assegurasse as eficazes condições de luta nacional contra os castelhanos.
Nos seis meses antecedentes à reunião em Coimbra, iniciada em 3 de Março de 1385, a sugestão dos privados do Mestre obteve alargado consentimento, aceitação e acordo entre os municípios encabeçados pelo de Lisboa e tendentes a alçar e receber por rei e senhor destes reinos o mui nobre senhor Dom João, Mestre da Cavallaria da Ordem de Avis, e lhe fazer preito e homenagem como a seu rei e senhor e receber delle promessa e juramento e lhe guardar e manter seus privilégios, e foros e costumes, conforme os dizeres do cronista Fernão Lopes.
Havendo grande divisão nas opiniões, repartidas em três partidos manifestos, os legitimistas eram apoiantes da rainha Dona Beatriz; os moderados estavam a favor dos meio-irmãos do falecido Dom Fernando; e os nacionalistas, que afastavam quaisquer preocupações de ilegitimidade, perante a supremacia do interesse nacional, propunham a defesa da independência portuguesa, facto que requeria um rei verdadeiramente português e intimamente ligado à causa da Nação. Deste modo, só restava considerar o trono vago e proceder à eleição de um monarca, mesmo sem atender às regras tradicionais da sucessão, devendo, inerentemente, a escolha recair no chefe popular, que era Dom João, Mestre de Avis, embora clérigo e bastardo.
Vindo de Leiria, para Coimbra, Os da çidade fezeromsse prestes pera hir rreçeber o Meestre, a cleerezia em proçissom, e os leigos com seus jogos e trebelhos, e desi os fidallgos e Comçelhos, que hi eram, todos jumtamente de bestas como melhor podiam. E em sse corregemdo huus e os outros começarom muitos cachopos de sair fora da cidade sem lho mamdamdo neguem, pello caminho per hu viinham o Meestre, com cavallinhos de canas que cada huu fazia, e nas maãos canaveas com pemdoões, corremdo todos e braadamdo : Portugall! Portugall! por elRei dom Joham! em boa hora venha o nosso Rei! e assi forom per mui gramde espaço açerca dhuua legoa (Crónica de D.João I, capítulo 81)
Como se reconhece, a primeira facção esteve ausente daquela célebre assembleia. As outras confrontaram-se em grandes desvairos e debates, realça a Chronica do Condestável, tendo, uma, Vasco Martins da Cunha e os filhos, homens de muitas gentes e detentores de algumas fortalezas, pelo lado do Infante Dom João, preso em Castela e aliado deles, e a nacionalista, que compreendia todo o povo miúdo do Reino e alguns boons e grandes, à frente dos quais estava Dom Nuno Álvares Pereira.
Nestas difíceis circunstâncias, os debates parciais e os plenários prolongaram-se morosamente e, pelo auto da eleição, verifica-se que houve significativa e bem qualificada representação do alto clero (o Arcebispo de Braga e os Bispos de Lisboa, Lamego, Porto, Évora, Coimbra, Guarda, o Prior de Santa Cruz e os Abades de Alpedrinha e Bostelo), outros eclesiásticos, a presença de mais de 70 fidalgos – cavaleiros e escudeiros, e dos procuradores de 31 cidades e vilas, com a ausência de muitas localidades importantes.
Mesmo sem referir, expressamente, os juristas ou letrados do Conselho, que acompanhavam o Mestre, em documentos como o Despacho dos capítulos especiais da cidade de Lisboa, consta a participação dos doutores Gil do Sem, João das Regras e Martim Afonso, enquanto a tradição recolhida por Fernão Lopes atribui ao segundo uma preponderante função nas deliberações, que apuraram a eleição do Mestre, conseguida na Quinta-Feira, 6 de Abril de 1385, quando contava 26 anos, 11 meses e 25 dias de idade.
Deste denso panorama sócio-político, em que pela primeira vez esteve envolvido e deveras empenhadamente participativo o povo, ressalta que decorreram muitas reuniões, sendo algumas restritas, a cada um dos estados; que, à margem dos encontros oficiais, entre os mais destacados dos partidos, alguns ocorreram no limitado Paço da Alcáçova e, talvez, no Paço Episcopal, o dos prelados; e que as principais assembleias, as plenárias, tiveram lugar no Convento de São Francisco, além da ponte, já desaparecido, sob o Choupalinho. Foi ali, o local destas Cortes.
Eis a série dos factos históricos, aceites pelos competentes medievalistas, geógrafos e conceituados historiadores, que os recolheram da tradição fiel, completamente distinta dos psitacismos dos propaladores e dos exibicionistas insensatos, que fazem coro com as vozes desafinadas e nem sequer sabem cantar.

Coros religiosos


Mário Nunes (*)

Como praticantes e frequentadores habituais dos templos da Igreja Católica, quer como investigadores e admiradores da herança cultural/artística que se alberga nos espaços religiosos, quer como assistentes activos das cerimónias litúrgicas, temos acompanhado, com agrado, a notória valorização dos actos de culto, sobretudo as missas dominicais, com os cânticos alusivos ao cerimonial festivo, através da formação e consolidação dos Coros.
Constituem um valor acrescentado e importante, porque emprestam às manifestações religiosas uma extraordinária beleza sonora e musical (vozes e instru-
mental) que, além de provocar a partilha dos cânticos, motivando os fiéis, permite engrandecer e cativar os católicos assumidos e, simultaneamente, oferecer aos "esporádicos" assistentes ou "distraídos" frequentadores, a grandeza espiritual e reconfortante, mesmo inebriante, que se desprende e abraça no templo sagrado. Inclusive, nas cerimónias pontuais de casamentos e baptizados que juntam convidados, quantos deles entram pela primeira vez no lugar religioso por mor de pertencerem ao número de presentes ao acto, torna-se pertinente e exemplar receberem, sem esperarem, os sons melodiosos e as vozes e ritmos encantadores de homens e mulheres, que em perfeita sintonia, no equilíbrio melódico que a composição exige, dominam e valorizam o ritmo e a cadência que as notas mostram na leitura e interpretação da pauta musical.
Entendemos que os Coros, que se perfilam nas nossas Igrejas, proporcionam um ambiente mais autêntico e consentâneo com a espiritualidade do momento e da função, provocando a interiorização e a sublimidade respeitantes às cerimónias desta amplitude e objectividade. Há uma forte elevação, que transporta, naturalmente, o assistente para universos grandiosos, onde a alma se sente abençoada e o organismo se projecta no Cosmos da infinita beleza consoladora e saudável. Uma comunhão entre o terreal e o espiritual, qual doação de valores vividos e exteriorizados para lugares e espaços que estão para além da nossa imaginação e fé. Constrói-se um campo "magnético" atractivo e atraente que empolga, emociona, alegra e dá paz, a todos os sentidos.
Sublinhamos, com agrado, a magnificência do Coro da Catedral da Sé Nova e dos Coros dominicais das Igrejas de S. José e de Santa Cruz, Coros que conhecemos e ouvimos. São agrupamentos de real valia musical e imbuídos da essência espiritual que sublima o sublime do acto religioso.
No passado Domingo, na Sé Nova, presenciámos a grandeza e a força invisível que se desprenderam das melodiosas vozes e da extraordinária sonoridade vinda do órgão, momentos que deixaram "esquecidos" do tempo, os assistentes à missa e inebriaram os convidados do casamento. Uma relação profunda e inquestionável entre o céu e a terra, graças à musicalidade e enquadramento harmónico que "feria", agradavelmente, as fímbrias mais íntimas do nosso ser. Maravilhoso.
Parabéns ao Cónego Sertório pela persistência louvável de incentivar os executantes, ampliando e revigorando o manancial humano/musical/religioso que contempla o magnífico Coro da Catedral.
Semelhante procedimento endereçamos ao Cónego João Castelhano da Igreja de S. José e ao Padre Anselmo da Igreja de Santa Cruz, pastores que merecem a nossa admiração pela entrega pessoal e evangélica que transmitem aos grupos e ao incentivo que oferecem aos elementos corais e aos maestros.
Nomeamos estes sacerdotes, templos e Coros, porque são aqueles que conhecemos, razoavelmente bem, dado serem os templos que mais frequentamos e acompanhamos nas suas iniciativas e empreendimento.

*(Vereador da Cultura Câmara Municipal de Coimbra)

O GUARDIÃO DO SALVADOR


Teresa Martins

João Paulo II, na Exortação Apostólica sobre São José, «Redemptoris Custos», considera o Esposo de Maria como «o guardião do Salvador»!… É uma expressão tão bonita… E faz-me sentir uma enorme alegria pelo facto de pertencer a uma religião que tem como alicerce uma família e o nascimento de uma criança… Uma criança que brinca e cresce como qualquer outra, só que nasce numa manjedoura e morre numa Cruz… Para salvar o mundo! Eu acho que nós, católicos, temos motivos de sobra para nos sentirmos felizes! A Ressurreição!… de Cristo e nossa!… João César das Neves, nas suas maravilhosas «Parábolas sobre Jesus», diz-nos que «o cristianismo vive ou morre pela verdade ou mentira da ressurreição» E que «isto não acontece com mais nenhuma religião.» Também S. Paulo dizia aos coríntios, 1ª carta: «Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados.» A afirmação de César das Neves veio na sequência de uma comparação de religiões, em que afirmava: «Todas as religiões, ao fazerem evangelização, proclamam um código de ética, afirmam um culto litúrgico, descrevem um sistema cósmico. O cristianismo é completamente diferente, pois ele é a única religião que se baseia exclusivamente num facto: Cristo ressuscitou.» Referindo-se à Bíblia, lembra-nos que só ela (dos livros sagrados) nos conta uma história, a de um povo, no Antigo Testamento, e a de uma Família, de uma Pessoa, no Novo Testamento…
Decorre o mês que é, particularmente, dedicado a São José. Este ano enriquecido porque o calendário reservou um dos seus dias para nós comemorarmos mais festiva e directamente a Ressurreição de Cristo. A Páscoa.
A minha última leitura, «São José», da autoria de Leonardo Boff, deliciou-me com tudo o que me deu a conhecer, em pormenores comoventes, sobre este dedicadíssimo pai, aparentemente, vulgar, marido inteiramente responsável, mensageiro divino e, como diz o autor, Personificação do Pai de toda a humanidade… Foi um gosto e um enriquecimento ler esta obra que, em dado momento, afirma: «Em Jesus de Nazaré, no artesão-carpinteiro, no esposo e no pai de Jesus, o Pai encontrou a pessoa conatural a Ele. Nele decidiu personificar-se.» Na já referida Exortação Apostólica, João Paulo II, ao referir «o clima de silêncio que acompanha tudo o que se refere à figura de José» também nos diz que «os evangelhos falam exclusivamente do que José "fez"; mas eles permitem descobrir nestas "acções" envoltas em silêncio um clima de profunda contemplação. José estava em contacto com o mistério "escondido há séculos"!»
José foi «a figura silenciosa do Novo Testamento»!… Porque tudo os anjos lhe revelavam em sonhos… Mas, como diz Leonardo Boff, o grande teólogo, Jhon Sanford, diz-nos que «os sonhos são a linguagem esquecida de Deus…»

2 de abril de 2008

Vigília de Oração pelas Vocações


Ao celebrarmos a 45ª Semana de Oração pelas Vocações, sob o tema proposto pelo Santo Padre "Vocações ao Serviço da Igreja – Missão", a Igreja Diocesana une-se, de especial forma, ao seu Bispo, para pedir ao Senhor a generosidade e alegria, necessárias para que cada baptizado se sinta chamado a descobrir a sua missão eclesial no mundo.
Assim, no próximo dia 10 de Abril pelas 21, 30 horas, na igreja do Carmelo de Santa Teresa celebrar-se-á uma Vigília de Oração presidida pelo nosso Pastor D. Albino Mamede Cleto.
O Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações da Diocese de Coimbra convida todas as comunidades a participar nesta celebração para que em comunhão-orante, suplicar do Senhor a graça de muitos homens e mulheres felizes, porque fiéis à Vocação a que Deus os chama.

Inventariação da Paróquia de Covões


No passado dia 26 de Março, concluiu-se a inventariação da paróquia de Covões, sendo acompanhada pelo senhor Prior, o Padre Henrique José Ribeiro Figueiredo Maçarico. Na igreja matriz e nas várias capelas fizeram-se 55 fichas e um pormenorizado levantamento fotográfico.
Esta freguesia era do padroado do cabido da Sé de Coimbra, o qual mandou construir a igreja, em 1558, e para ela encomendara a imagem do padroeiro, Santo António, ao escultor João de Ruão.
À mesma centúria pertencem outras representações, em calcário, de santos e de mártires, todos de mediana categoria, e algumas esculpidas em madeira, já de concepção barroca. Há, ainda, alguns bons exemplares do século XV.
De tipo popular, embora com interessantíssimas particularidades, é a cúpula e o retábulo da capela do Santíssimo, na igreja paroquial, realizado no século XVII, composto de sacrário, ao centro, e dois baixos-relevos, de cada lado.
Os poucos objectos em estanho, dos séculos XVII-XVIII, além de raros têm reduzida representatividade, como também acontece com a paramentaria e os livros litúrgicos, por força das reformas ciclicamente repetidas.
Quanto a vasos sagrados e demais utensílios de culto, os principais bens de considerável valor são a cruz processional e a custódia, da segunda metade do século XVI, obras-primas de qualificados mestres prateiros, por certo devidas às dotações efectuadas pelos capitulares conimbricenses e deixando perceber um primoroso labor que, na segunda peça, manifesta uma origem espanhola.

José Eduardo R. Coutinho

Corpo de Voluntários para o Dia da Igreja Diocesana


Nos próximos dias 17 e 18 de Maio, o Luso vai ser lugar de reunião de toda a diocese num encontro de celebração de uma mesma fé, vivida com outros que são Igreja connosco. Os jovens e a família estarão no centro destes dois dias que, no entanto, contam com a participação de cada membro da nossa diocese. O programa inclui espaços de festa e de oração e momentos de contacto entre grupos e movimentos. Porque queremos envolver e partilhar trabalho e responsabilidades, oferecemos-te a possibilidade de pertencer a um corpo de voluntários que funcionará nos dias do encontro e a quem serão atribuídas algumas tarefas. O grupo iniciará uma caminhada de conhecimento e de oração algum tempo antes do grande dia. Se tens mais de 16 anos e queres fazer parte deste corpo de voluntários, inscreve-te até ao dia 14 de Abril enviando a para igrejadiocesana@sdpjcoimbra.net.

Voluntariado


João Evangelista R. Jorge

Como uma figura típica da Sociedade da abundância, o voluntário guarda em si o património espiritual da cristandade antiga. A caridade, a prática das obras de misericórdia, o espírito das Irmandades e confrarias, monopolizavam todas as iniciativas do bem-fazer. A cultura da fraternidade cristã aproximava o rico do pobre, em instituições dirigidas, financiadas e servidas em longíssima escala por figuras como o irmão ou irmã, o provedor e o benfeitor.
a voluntário é o homem livre que se dispõe a servir os outros, pessoas ou Instituiç6es, sem nenhuma recompensa material despendendo multas vezes dos seus próprios recursos obviar a gastos e encargos do próprio serviço. O voluntário fiel e dedicado é a moderna Imagem do bom samaritano. Para fazer o bem não precisa de apregoar as suas convlcç6es religiosas ou ideológicas. E se o fizer poderá alterar a sua imagem inicial de voluntário ao antepor ao serviço do próximo alguma intencionalidade pessoal, algum Interesse.
No cristianismo, a norma perfeita do bem-fazer é a perfeição do serviço. O Interesse do pobre, do assistido, do utente, será o único motivo a ter em conta. A religião pura de Cristo coincide rigorosamente com a plena entrega do voluntário ao serviço do outro, ao bem do outro.
Para um mundo descristianizado, o voluntariado não vem substituir a doutrina Cristã do Amor ou das obras de misericórdia. No seu agir, o voluntário estabelece uma boa relação entre crentes e descrentes. Aproxima as pessoas do Bem, e da Verdade. Anunciam aos outros que a felicidade pessoal não está na vida egoísta e Solitária, mas no Bem-fazer.
Quando Jesus contou a parábola do Bom Samaritano, traçou o perfil mais completo dos voluntários e terminou com as palavras "vai e faz o mesmo, tu também".