O MILAGRE DA VIDA
Teresa Martins
Mãe pela quinta vez, à saída da Maternidade (oito dias depois de ali ter dado entrada), veio, orgulhosa, mostrar-nos a sua lindíssima e bem compostinha menina, sempre de olhinhos fechados, a calma perfeita, uma total confiança no mundo que lhe abriu os braços e nos pais que, apesar de não terem programado a sua chegada e, por isso, terem sido absolutamente apanhados de surpresa, lhe não interromperam a vida… Ela veio e já está entre nós. Linda de encantar. O casal já tinha três rapazinhos e uma menina, aquela que hoje se mostrou felicíssima e voluntariamente guardiã do seu verdadeiro tesouro… "Até no momento de chegar ela nos surpreendeu, porque se antecipou…, que a bolsa das águas rebentou antes do dia previsto… Foi tudo inesperado…", contava-nos, sorridente, a mãe.
A "Bolsa das águas…"!… Frei Manuel Rito, ao lembrar-nos o "poço de Jacob", na Samaria, lembra-nos que «todos viemos dum poço… Todos seguimos um rio, o curso acidentado da vida, e todos acabamos no oceano de Deus…» e acrescenta: «A fonte é o silêncio no seio materno, o rio é o discurso da fonte, e o mar é o descanso do rio…» A água na origem da vida, mesmo que em líquido amniótico envolvendo o feto na cavidade uterina, ou talvez por isso mesmo, a grande riqueza do corpo humano e do planeta que habitamos… Tão mal tratado, uma riqueza tão injustamente distribuída e desperdiçada! «A Irmã Água» de Francisco de Assis… Já Tales de Mileto, 640 anos antes de Cristo, nos dizia que a água "era o que havia de primordial"!
A revista «Bíblica» referente a Março e Abril, deste ano internacionalmente dedicado ao Planeta Terra (22 de Março, dia consagrado à água; 22 de Abril, a todo o planeta) dedica ao precioso líquido a sua maior e melhor atenção e Frei Acílio Mendes, lembrando-nos o «cântico das criaturas», cria para a água uma "nova fórmula" («não se trata de uma nova fórmula química, que essa é e sempre será H2O, mas apenas de uma fórmula franciscana ainda por desvendar…»), «Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é tão Útil, e Humilde, e Preciosa e Casta…»! UHPC!… Verdadeiramente de inquietar é o assustador desrespeito pela natureza em geral, bem como toda a poluição que nos rodeia e que aumenta minuto a minuto…
Que se fez ou pensa fazer-se no «Ano Internacional do Planeta Terra»? Já em 1970, o Senador norte-americano, Gaylord Nelson, ao indicar o «Dia do Planeta Terra», que continuamos a comemorar, alertava para os gravíssimos perigos que estamos correndo… E, nos fins da vida, Miguel Torga, pedindo ao seu próprio coração que não parasse («Não pares, coração»!), deixava no ar a pergunta que persiste, como eco fatal: «Que seria dos montes e dos rios… sem o amor palpitante que lhes demos a vida inteira?!… », in Diário XVI.
Sim… Que seria? Que será? E de toda a Humanidade?!… Das gerações que virão depois de nós? A pergunta de Torga manter-se-á, qual Eco do Principezinho de Saint-Exupéry…