Foi chefe de redacção do “Correio” durante 22 anos; foi pároco de S. Bartolomeu de 1952 a 1980. Foi sacerdote insigne e artista de mão cheia.
Coimbra não vai esquecer a celebração do centenário do seu nascimento, que ocorre a 3 de Dezembro.
No dia em que se comemora o centenário do seu nascimento, inicia em Coimbra “um programa ambicioso e diversificado” de homenagem a uma personalidade que foi exemplar nas vertentes cultural, eclesiástica e social. Uma sessão solene, exposições, lançamentos de livros, cerimónias religiosas, visitas guiadas, um roteiro Augustiano, concertos e um concurso literário e artístico, entre outras actividades, compõem o programa de um ano de eventos que pretendem “sustentar uma memória presente e futura” desta personalidade que, segundo o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Mário Nunes, “é merecedora de todos os elogios”. “É a afirmação plena de que a cidade, o concelho, o distrito, a região e até o país esteve perante uma pessoa inigualável e que já tem um lugar na história”, afirmou na passada terça-feira, numa conferência de imprensa. Como tal, e para que as actividades fossem o mais diversificadas possíveis, juntaram-se, na Comissão Organizadora das comemorações, entidades como a Câmara Municipal de Coimbra, Delegação Regional da Cultura do Centro, o Movimento Artístico de Coimbra, a Delegação de Coimbra do Inatel e o Seminário Maior de Coimbra. Mas, porque Monsenhor Nunes Pereira deixou a sua marca por onde esteve a exercer o seu múnus sacerdotal, intregram a Comissão Executiva as câmaras municipais de Montemor-o-Velho, Arganil e Pampilhosa da Serra, bem como as Juntas de Freguesia de Fajão (Pampilhosa da Serra) e Côja (Arganil).
O Cónego Aurélio Campos, reitor do Seminário Maior de Coimbra, recordou o “homem extraordinário”, que se distinguia pela “disponibilidade e alegria que punha ao serviço dos outros”. Com um sorriso, lembra a viagem de Madrid a Coimbra, que não demorou menos de cinco horas, em que Nunes Pereira e outro passageiro passaram os mais de 500 quilómetros a travar um diálogo ao desafio. “Era um homem com um potencial de criatividade enorme”, recordou ainda o cónego Aurélio Campos, salientando ainda que, cerca de sete meses antes de morrer, o artista venceu um concurso de poesia em Fajão, na sua terra-natal. Na mesma ocasião, voltou a merecer aplausos por “manter um diálogo de improviso de 20 minutos de fado popular”.
Com as celebrações, recorda-se também a obra, ainda que Aurélio Campo considere “impossível” saber a totalidade das criações do monsenhor. “Só esculturas em madeira da ceia do Senhor fez mais de 100”, frisou.O Cónego João Castelhano, que também esteve presente na conferência de imprensa manteve com Nunes Pereira um “contacto diário” durante cerca de 20 anos na paróquia de S. José, sem esquecer as férias no Algarve. Nesse período, recordou o pároco, Nunes Pereira tinha a “missão” de criar, pelo menos, uma aguarela por dia. Nem sempre apenas baseadas na paisagem da praia, mas também de quem a frequenta, porque, dizia, “a beleza é a que foi criada por Deus, o resto são farrapos”.
Entre a obra do padre-artista, o Cónego João Castelhano destaca o vitral da igreja de S. José, que, foi instalado pouco antes dele morrer. E é, precisamente, na igreja onde celebrou eucaristia até aos últimos dias da sua morte, que se iniciam as comemorações do centenário do seu nascimento, no dia 2 de Dezembro, às 21 horas, com a conferência “Vida e obra de monsenhor Nunes Pereira”, seguida da actuação do Grupo Coral de Santa Cruz de Coimbra.
No dia seguinte, dia 3, pelas 10 horas, realiza-se uma Sessão Solene no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra. Às 11.30 horas, celebra-se uma Eucaristia comemorativa do centenário do seu nascimento, na igreja de Santa Cruz, presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto.
No dia 8 de Dezembro, pelas 15,30 horas realiza-se a abertura ao público da Oficina-Museu Monsenhor Nunes Pereira, no Seminário Maior de Coimbra.
As ausências
Uma das ausências notadas na Comissão Executiva é da Paróquia e da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu. È no mínimo lamentável que a comissão organizadora se esqueça que Monsenhor Nunes Pereira tenha sido pároco daquela freguesia entre 1952 e 1980. O presidente Carlos Clemente lamentou o facto de não ter sido convidado a participar nesta comissão. “Penso que se trata de uma falha e que não houve outra intenção por detrás disso. Mas que é, estranho, é”, referiu ao Diário Às Beiras.
Numa nota biográfica elaborada pela comissão organizadora refere que Mons. Nunes Pereira foi redactor do nosso jornal de 1952 a 1974, quando na verdade foi chefe de redacção. Antes de falecer foi colaborador assíduo deste mesmo jornal e da revista Mensageiro de Santo António. Também o “Correio de Coimbra” não foi contactado para esse efeito…