Correio de Coimbra

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3 de julho de 2008

O BISPO, CONSTRUTOR NA UNIDADE E NO TESTEMUNHO

Homília na ordenação episcopal do Sr. D. João Evangelista Pimentel Lavrador
29 de Junho de 2008


Hoje, por graça de Deus e para alento da nossa fé, contemplamos com os olhos nesta secular Catedral de Coimbra, o que os ouvidos acabaram de escutar: Eu “edificarei a minha Igreja”.
Jesus, construtor divino e Ele mesmo “pedra angular”, talhou na rocha de Israel e preparou com a sua palavra, o seu exemplo e a força do Espírito Santo, as primeiras pedras para o alicerce da construção: os doze Apóstolos. Um deles, o discípulo amado, afirmou-o lapidarmente no seu texto do Apocalipse: a cidade santa”tinha doze alicerces e sobre eles os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro”.
Hoje, uma nova pedra vai ser talhada e aparelhada!
As pedras do alicerce hão-de ser grandes e solidamente ajustadas, já que delas depende a firmeza da construção. Sólidos e bem unidos hão-de ser também aqueles que, de quando em quando, se colocam no muro a levantar; essas somos nós, os Bispos, que ao longo de dois mil anos tivemos e temos por missão dar coesão e beleza ao edifício da Igreja, morada de Deus e casa de seus filhos.
Assim, é à semelhança dos doze Apóstolos que hoje nós, seus continuadores, havemos de nos aparelhar para desempenharmos a missão a que fomos chamados.
É meu propósito tomar da palavra de Deus agora escutada e do exemplo de Pedro e de Paulo tema para breve reflexão sobre duas virtudes que hoje hão-de ser cultivadas por nós, Bispos, e de tal modo cuidadas que se tornem evidentes no zelo da construção: refiro-me à unidade e ao testemunho.
“Edificarei a minha Igreja”, prometeu o Senhor Jesus Cristo; e indicou o alicerce: “Sobre esta pedra”, que é Pedro. Paradoxalmente, promete construção divina sobre alicerce humano!
Hoje, como ontem, o Sucessor de Pedro é um homem, sujeito ao tempo e à escola que o formou, devedor à idade e às marcas do seu temperamento… Quantas vezes escutamos opiniões e críticas, tão frequentes agora na opinião pública, porventura justas e perspicazes, mas que, emitidas sem o resguardo da fé, podem minar aquela unidade que queremos manter neste Colégio Episcopal, em que entra agora o novo Bispo.
Praza a Deus, Senhor D.João, que sinta connosco o cultivo da unidade entre as nossas Igrejas e, dentro de cada uma delas, o cuidado dessa mesma unidade pela qual Jesus rezou na Ceia. Esta unidade constrói-se sobre rocha humana, mas a assistência do Espírito Santo comunica ao barro a firmeza inabalável que é maravilha de há vinte séculos!
E como é edificante relembrar neste dia em que a Igreja, e com toda ela também a Diocese de Coimbra, inauguram o Ano Paulino, como é edificante relembrar o exemplo do Apóstolo Paulo que, confessando ter discordado de Pedro, cuidou de subir a Jerusalém para o conhecer, mais tarde com ele acertar caminhos e, provavelmente companheiro em Roma nos dias de perseguição de Nero, com ele se irmanar no testemunho do martírio!
O testemunho do Bispo é justamente o outro ponto da minha meditação.
O Decreto Conciliar “Christus Dominus”, que orienta a nossa tarefa de pastores, sintetiza magistralmente essa labuta nesta frase lapidar:”Apliquem-se os Bispos ao seu múnus apostólico como testemunhas de Cristo diante de todos os homens”.
E o texto discorre sobre o modo de prestar esse testemunho através da convicção com que ensinamos, da piedade com que presidimos à celebração dos mistérios sacramentais, da entrega incansável com que acompanhamos os nosso presbíteros e servimos as ovelhas do rebanho.
De verdade, toda essa entrega apenas se torna testemunho de Cristo na medida em que for resultante do amor, da paixão por Aquele que nos disse: “Fui eu que vos escolhi”. E haverá maior prova de amor do que “dar a vida por Aquele que se ama”?
Hoje temos perante nós o testemunho do martírio de Pedro e de Paulo. Deram a vida! Pedro, que, libertado da prisão de Jerusalém, havia de morrer na capital do Império para que o seu testemunho ganhasse a força que ainda lhe sentem os milhões de visitantes do seu túmulo! Deu a vida S.Paulo, que no seu testemunho amoroso há pouco escutado, antevia a morte dizendo:”Estou a ser oferecido em sacrifício”!
Que martírio é hoje o de um Bispo? Que males nos fazem agora sofrer, de modo a testemunharmos na paciência de uma imolação, a paixão por Deus e por seu Filho Jesus?
Não receamos a prisão, não nos apoquenta a fome, habituámo-nos às criticas, já não nos entristece a impossibilidade de levantarmos edifícios proveitosos, como igrejas ou seminários, e até à míngua de sacerdotes nos habituámos já… Afinal, que martírio é hoje o de um Bispo, martírio partilhado aliás pelos nossos queridos padres, diáconos e consagrados, vivido também por vós, muito amados irmãos leigos?
Penso que nos dias que correm e nestas terras da Europa em que vivemos, o martírio poderá chamar-se “despojamento”. Mostra-nos o Espírito Santo que urge sermos o que somos: comunidade de crentes. “Edificarei a minha Igreja”, disse o Senhor. E a sua obra de construção é converter-nos, de tal modo que sejamos no meio da sociedade presente a luz de que ela necessita para cada um se torne filho de Deus; converter-nos, para que nos tornemos o sal dos valores eternos que dê sabor de felicidade à vida particular e colectiva do nosso século. Este é o labor da construção. Tudo o mais, organizações, edifícios, planos pastorais, meios humanos…tudo é útil, necessário, por vezes, mesmo imprescindível. Mas tudo isso não passa de andaimes de apoio para construir comunidades de fé, onde floresçam santos. E é tão difícil construir com Deus sem nos encantarmos com os nossos andaimes!
Será este, porventura, o sacrifício que hoje Deus espera de nós e nos torna irmãos de Pedro e de Paulo no testemunho do seu martírio?
Senhor D.João Lavrador: Na festa grande deste dois Apóstolos, a sua alma está generosamente disposta para o sacrifício daquela fidelidade que lhe vai ser lembrada quando receber o seu anel episcopal: “Sê fiel à Igreja e guarda-a como esposa santa de Deus”.
Que esta generosa fidelidade se torne ao longo de uma vida pastoral, o seu primeiro testemunho. E se tiver de experimentar o que reza o salmo, dito dos lavradores que semeiam –“À ida vão a chorar” – que o Senhor Deus o recompense e lhe pague a sua persistente dedicação à Diocese de Coimbra com as alegrias que se cantam no mesmo salmo, referidas aos que são evangelistas: agora “vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas”. Que Deus lhe conceda e à nossa irmã Diocese do Porto uma colheita abundante.



+Albino Mamede Cleto, Bispo de Coimbra

1 de julho de 2008

Saudação final ao Povo de Deus



Dou graças a Deus Pai que no Seu Filho Jesus Cristo e com a actuação do Espírito Santo me julgou digno de confiança, chamando-me ao ministério (cfr. 1Tim. 1, 12). É grande e profundo este mistério que nos toca quando Jesus Cristo, apesar das nossas deficiências e limitações, toma a iniciativa de nos chamar a partilhar com Ele da vida Trinitária e da missão de renovar todas as coisas mediante o anuncio do Evangelho.
Realiza-se novamente na Igreja a cena descrita por S. João (cfr. Jo. 21, 1-23), segundo a qual Jesus Ressuscitado manifesta as maravilhas do seu poder mesmo quando aos olhos humanos parece que as capacidades se esgotaram. Inseridos no âmago do Mistério Pascal, pela participação no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo, ressurgindo como homens novos, primícias da nova criação, o Senhor estabelece um diálogo amoroso profundo, arrancando de dentro de cada um dos seus apóstolos a realidade mais sublime que configura todo o seu ser e da qual depende toda a sua realização, o convite a um amor maior, na entrega total de si mesmo, servindo a Deus e aos irmãos.
Hoje, Jesus Cristo convida-me a apascentar o seu rebanho. Faz-me participar do seu Ser Pastor. «Aquele que dá a vida pelas suas ovelhas» (Jo.10, 11). A força do convite que me é dirigido, através das palavras «Tu, Segue-Me» (Jo.21,22), encontram toda a expressão neste contexto apresentado por Jesus Cristo. Dar a vida pelas Suas ovelhas, as que pertencem ao redil e as que estão fora (cfr. Jo. 10, 16): eis a missão de que sou investido. «Para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo.10, 10).
Sinto, nesta hora, especialmente dirigidas a mim próprio as palavras de João Paulo II que dizem «Cristo é o ícone original do Pai e a manifestação da sua presença misericordiosa entre os homens. O Bispo, agindo em lugar e em nome de Cristo, torna-se, na Igreja a ele confiada, sinal vivo do Senhor Jesus, Pastor e Esposo, Mestre e Pontífice da Igreja. Aqui está a fonte do ministério pastoral, pelo que (…) a tríplice função de ensinar, santificar e governar o Povo de Deus deve ser exercida com os traços característicos do Bom Pastor: caridade, conhecimento do rebanho, solicitude por todos, acção misericordiosa pelos pobres, peregrinos e indigentes, busca das ovelhas perdidas para reconduzi-las ao único redil» (PG, 7).

Quero ser portador da verdadeira vida, que só em Jesus Cristo se pode encontrar, para todos os homens e mulheres, que nas diversas circunstâncias aspiram por Alguém que lhes mate a fome e a sede de realização, que a inteligência e a sensibilidade humanas provocam mas que só o Amor Infinito de Deus, revelado em Jesus Cristo, pode saciar.
Quero despertar o Verbo Eterno de Deus em todos os que andam sobrecarregados e oprimidos para que, através da minha humilde pessoa, Ele possa dizer-lhes: «Vinde a mim vós todos que andais sobrecarregados que eu vos aliviarei» (Mt.11,28).

Pede-me a Igreja que paute a minha vida pelos critérios das Bem-aventuranças de modo a que seja transparência de Jesus Cristo. De modo fascinante me interpela João Paulo II, dizendo: «os fiéis devem poder contemplar, no rosto do Bispo, aquelas qualidades que são dom da graça e que as bem-aventuranças constituem quase o auto-retrato de Cristo: o rosto da pobreza, da mansidão e da paixão pela justiça; o rosto misericordioso do Pai e do homem pacífico e pacificador; o rosto da pureza de quem constante e unicamente contempla Deus. Os fiéis hão-de poder ver, no seu Bispo, o rosto também daquele que continua a compaixão de Cristo pelos atribulados e às vezes, como sucedeu na história e acontece ainda hoje, o rosto cheio de fortaleza e alegria interior de quem é perseguido por causa do Evangelho» ( PG, 18).
Vejo nestas palavras do saudoso Papa João Paulo II as linhas força do meu programa de vida episcopal.

Reconheço, como descreve o Concilio Vaticano II, que vivemos numa nova fase da história da humanidade, cujas rápidas e profundas transformações, provocadas pela inteligência e actividade criadora do homem, «reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e colectivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também na vida religiosa» (GS, 4). O Concílio recomenda o discernimento, novas análises e novas sínteses. Perante a bivalência da cultura de hoje, a Igreja acredita que Jesus Cristo oferece aos homens pelo Seu Espírito a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação (cfr. GS, 10).
Tal como Salomão, imploro de Deus a verdadeira Sabedoria e Inteligência (cfr. 2Cron. 1,10) para poder discernir a vontade de Deus presente nos Sinais dos Tempos.

Sou convidado a ser profeta, testemunha e servo da esperança, é-me pedido que infunda confiança e proclame perante quem quer que seja as razões da esperança cristã (cfr. 1Pe. 3, 15). Hoje, sinto a Igreja a dizer-me que «o Bispo é profeta, testemunha e servo desta esperança sobretudo nas situações onde maior é a pressão de uma cultura imanentista, que marginaliza qualquer abertura à transcendência. Onde falta a esperança, também a fé é posta em questão; e o amor enfraquece, quando começa a exaurir-se aquela virtude. Com efeito a esperança, especialmente em tempos de crescente incredulidade e indiferença, é firme apoio para a fé e incentivo eficaz para a caridade. Extrai a sua força da certeza da vontade salvífica universal de Deus e da presença constante do Senhor Jesus, o Emanuel, que está sempre connosco até ao fim do mundo» (PG, 3).
Tenho a graça de celebrar a minha ordenação episcopal no início do ano Paulino. É graça, incentivo e missão. Tal como Paulo, no início da Igreja, fiel ao chamamento divino, soube rasgar novos horizontes na caminhada cristã e interpelar sabiamente, com os dinamismo do Evangelho, as culturas dominantes de então, imploro o seu auxílio para que me assista na obra evangelizadora da Igreja, que é de sempre na fidelidade ao único Salvador Jesus Cristo, mas que se quer sempre renovada nos seus métodos, no seu ardor e no seu ímpeto.

Este mistério do Amor infinito de Deus que hoje me envolve teve a colaboração de muita gente a quem hoje me compete agradecer.
Agradeço em primeiro lugar ao Santo Padre pela confiança que em mim depositou. Peço ao Representante do Senhor Núncio Apostólico, a quem agradeço a sua presença, que faça presente junto do Santo Padre a minha gratidão e o meu sincero desejo de fidelidade ao Sucessor de Pedro e de viver a colegialidade episcopal em comunhão apostólica.
Agradeço ao Senhor Dom Albino Cleto, Bispo de Coimbra, tudo o que desta diocese e da sua pessoa eu recebi, o exemplo de Pastor dedicado e amigo, o empenho que colocou na preparação desta celebração e o ter-se dignado presidir à minha ordenação episcopal. Igualmente agradeço ao Senhor Dom João Alves, Bispo Emérito de Coimbra, que me orientou na maior parte da minha vida sacerdotal e me confiou grande parte das tarefas que exerci nesta diocese de Coimbra, obrigado pela sua amizade e estimulo, e por se ter dignado aceitar o convite para ser ordenante nesta celebração. Agradeço ao Senhor Dom Manuel Clemente a confiança que em mim depositou ao aceitar a nomeação da minha pessoa para o ajudar no seu ministério episcopal, na Diocese do Porto, e a alegria que me deu em ser ordenante na minha ordenação episcopal. Peço a Vossa Ex.cia Rev.ma e a todo o Povo de Deus da Diocese do Porto, a quem renovo a minha saudação, que me ajudem no novo caminho de serviço que hoje começo.
Agradeço a presença do Senhor Arcebispo Primaz de Braga e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, testemunho-lhe a minha disponibilidade para colaborar fiel e lealmente nos trabalhos da Conferência Episcopal. Agradeço aos Senhores Bispos que se disponibilizaram para estarem presentes e manifestarem de modo sensível a comunhão apostólica. Igualmente agradeço as mensagens de todos os membros do Episcopado Português que me testemunharam a sua união nesta hora.
Agradeço aos Senhores Cónegos de Coimbra e do Porto, tal como aos Senhores Padres de Coimbra, do Porto e de outras dioceses, estou grato pelo muito que recebi e peço que me acolham, agora, noutra família sacerdotal, com a qual quero continuar a aprender e a dar o melhor de mim próprio.
Agradeço a presença de todos os consagrados e leigos que quiseram participar na minha alegria.
Agradeço a presença das autoridades académicas, civis e militares. Agradeço a presença de homens e mulheres com responsabilidades na comunicação social.
Agradeço às pessoas e instituições que me formaram e que servi: os seminários diocesanos de Coimbra, a Universidade Pontifícia de Salamanca, o ISET de Coimbra, a paróquia de Pombal, o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e o Movimento dos Convívios Fraternos, o colégio de S. José das Irmãs Dominicanas, o CNE de Coimbra, a Pastoral Universitária e do Ensino Superior, O Instituto Universitário Justiça e Paz, o Centro Académico de Democracia Cristã, a Vigaria Geral, o Carmelo de Santa Teresa de Coimbra, as Auxiliares do Apostolado, a Comissão Episcopal da Cultura, dos Bens Culturais e das Comunicações Sociais, os movimentos de casais, CPM e outros movimentos laicais e serviços.
Agradeço a todos os que prepararam a celebração da minha ordenação, à comissão que se organizou para o efeito, ao grupo coral, na pessoa do Padre Dr. Manuel Frade, aos seminaristas, à Doutora Emília Nadal, ao Padre Alberto, ao Padre João Marcos, ao Padre Dr. José Moço e ao Padre António Nogueira, que se empenharam prontamente na realização dos sinais episcopais e nos arranjos para esta celebração. Igualmente agradeço à Gráfica de Coimbra e à Sé Nova pelo seu empenho na preparação deste acto.
Deixei para o fim, de propósito, a minha paróquia de Seixo de Mira, o seu pároco, o Senhor Cónego Jerónimo, e a minha família. Todos compreendereis a relação profunda que me une à minha paróquia de origem, onde nasci, onde fui baptizado e onde fui educado para a fé. Aí, senti a alegria do Povo de Deus que foi acompanhando a minha caminhada sacerdotal. Para todos muito obrigado.
Por último, agradeço à minha família, pais, irmãos, cunhadas madrinha, sobrinhos e sobrinhas netas, tios e tias e demais família que me acompanharam ao longo da minha vida, me ajudaram a ser padre e, certamente, continuarão a ajudar-me a ser Bispo. Permitam-me que apresente um agradecimento muito especial ao meu Padrinho, Padre Aníbal Castelhano, pela sua presença amiga, pelo incentivo próximo e pelo testemunho de vida sacerdotal que sempre me dedicou.
Imploro da Santíssima Virgem a protecção maternal e com ela louvo o Senhor pelas maravilhas que realiza em favor do Seu Povo.
Rezai por este humilde Lavrador da vinha do Senhor!



+ João Lavrador
Bispo Auxiliar do Porto

Dioceses de Coimbra e do Porto irmanadas na ordenação episcopal de D. João Lavrador


"Sou convidado a ser profeta, testemunha e servo da esperança" – afirmou o novo Bispo na sua primeira alocução aos fiéis presentes na Sé Nova.
Duas dezenas de bispos, uma centena de padres de várias diocese, as autoridades académicas, civis e militares da cidade e uma multidão incontável de cristãos estiveram presentes na Sé Nova de Coimbra, a seu modo, participarem na ordenação episcopal de D. João Evangelista Pimentel Lavrador, nomeado pelo Papa Bento XVI bispo auxiliar do Porto.

Os bispos devem cultivar as virtudes da unidade e do testemunho


Na altura própria foi lido o mandato apostólico, seguindo-se a homilia do bispo ordenante principal, D. Albino Cleto que teceu uma "breve reflexão sobre duas virtudes que, hoje, hão-de ser cultivadas por nós, os bispos" – a unidade e o testemunho.
Referindo o Evangelho do dia, em que Jesus diz a Pedro "sobre esta pedra edificarei a minha Igreja", lembrou que "paradoxalmente, promete construção divina sobre alicerce humano". E acrescentou: "Hoje, como ontem, o Sucessor de Pedro é um homem, sujeito ao tempo e à escola que o formou, devedor à idade e às marcas do seu temperamento. Quantas vezes escutamos opiniões e críticas, tão frequentes agora na opinião pública, porventura justas e perspicazes, mas que, emitidas sem o resguardo da fé, podem minar aquela unidade que queremos manter neste Colégio Episcopal, em que entra agora o novo Bispo". Por isso exorta-o "a que sinta connosco o cultivo da unidade entre as nossas Igrejas e, dentro de cada uma delas, o cuidado dessa mesma unidade pela qual Jesus rezou na Ceia".
Quanto à segunda virtude a cultivar pelos bispos – o testemunho – D. Albino citou o decreto conciliar "Christus Dominus" que tem esta frase lapidar: "Apliquem-se os Bispos ao seu múnus apostólico como testemunhas de Cristo diante de todos os homens". Este testemunho, referiu D. Albino, deve ser prestado "através da convicção com que ensinamos, da piedade com que presidimos à celebração dos mistérios sacramentais, da entrega incansável com que acompanhamos os nossos presbíteros e servimos as ovelhas do rebanho".
À homilia do Bispo ordenante principal, que se encontrava ladeado dos outros dois bispos ordenantes, D. João Alves e D. Manuel Clemente, seguiu-se a promessa do eleito de se "consagrar até à morte ao ministério episcopal herdado dos Apóstolos", e de "guardar integro e puro o depósito da fé". Após as ladainhas, durante as quais o Bispo eleito, se prostrou por terra, o Ordenante principal e os demais bispos presentes impuseram as mãos sobre ele. Seguiu-se a Oração de Ordenação, em que se pediu a Deus Pai que conceda ao Eleito que "exerça de modo irrepreensível diante de vós o sumo sacerdócio, servindo-vos noite e dia, para que (…) Vos ofereça os dons da vossa Igreja santa". Em seguida o Bispo Ordenante ungiu a cabeça do ordenado, entregando-lhe depois o livro dos Evangelhos, o anel episcopal, a mitra e o báculo. Revestido com todos os símbolos episcopais, o novo Bispo foi acolhido pelos outros bispos presentes de quem recebeu o ósculo da paz.

Ter como critério de vida as Bem-aventuranças


Antes da bênção final, D. João Lavrador tomou a palavra, saudando todos os presentes. Depois de dar graças "a Deus Pai que, em seu Filho Jesus Cristo e com a actuação do Espírito Santo" o julgou digno e o chamou ao ministério, o novo Bispo apontou algumas das metas do seu novo munus. "Quero ser portador da verdadeira vida, que só em Cristo se pode encontrar, para todos os homens e mulheres que, nas diversas circunstâncias, aspiram por Alguém que lhes mate a fome e a sede de realização" – afirmou.
E acrescentou: "Pede-me a Igreja que paute a minha vida pelos critérios das Bem-aventuranças, de modo a que seja transparência de Jesus Cristo". E ainda: "Sou convidado a ser profeta, testemunha e servo da esperança; é-me pedido que infunda confiança e proclame perante quem quer que seja as razões da esperança cristã".
De facto – acrescentou – "onde falta a esperança, também a fé é posta em questão; e o amor enfraquece, quando começa a exaurir-se aquela virtude.
Antes de terminar, D. João Lavrador agradeceu ao Santo Padre "pela confiança que em mim depositou"; a D. Albino Cleto "pelo seu exemplo de Pastor dedicado e amigo"; a D. João Alves "que me orientou na maior parte da minha vida sacerdotal, a D. Manuel Clemente e aos demais bispos presentes. Os agradecimentos estenderam-se aos cabidos de Coimbra e do Porto, ao clero presente, às autoridades académicas civis e militares, às instituições onde recebeu formação e onde actuou pastoralmente, à sua paróquia do Seixo, e sobretudo à sua família – pais, irmãos e outros membros – "que me acompanharam ao longo da vida, me ajudaram a ser padre e, certamente, continuarão a ajudar-me a ser Bispo". Terminou implorando a protecção maternal da Santíssima Virgem, e com o pedido aos presentes: "Rezai por este humilde Lavrador da vinha do Senhor!"
No final da Eucaristia, e durante mais de uma hora, D. João Lavrador foi cumprimentado por familiares, pelas autoridades presentes e por um incontável número de amigos que não quiseram deixar de comungar da sua alegria. Entre esses amigos estiveram os que têm a responsabilidade de publicarem o "Correio", que aqui renovam votos de muitas felicidades ao novo prelado.

Programa religioso da festa da Rainha Santa


Quanto ao programa religioso, está sob a responsabilidade da Confraria da Rainha Santa, e começou com
o Tríduo preparatório (1 a 3 de Julho) que foi presidido por D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa.
No passado sábado, como é habito todos os anos por esta altura, um grupo de zeladoras das Irmãs da Rainha Santa Isabel entregou alimentos essenciais para uma semana a cerca de 350 famílias consideradas das mais carenciadas de todas as paróquias da cidade. A iniciativa decorreu nos claustros do Convento de Santa Clara-a-Nova.
No 4 de Julho, pelas 11horas, a Missa Solene da Rainha Santa será presidida por D. Albino Cleto, na Igreja do Convento de Santa Clara-a-Nova. Às 16.30 horas, a Eucaristia será presidida pelo Cónego Marim, do Patriarcado de Lisboa, e em que participarão as Reais Ordens de Santa Isabel e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
No dia 10 de Julho, será celebrada uma Eucaristia na Igreja da Rainha Santa Isabel pelas 17 horas. Às 19 horas iniciar-se-á a procissão de penitência com saída da Igreja da Rainha Santa em direcção à Igreja da Graça.
No dia 13 de Julho, pelas 17 horas, iniciar-se-á a procissão solene com saída da Igreja da Graça, em direcção à Igreja da Rainha Santa Isabel.



Miguel Cotrim

Solidariedade com Timor abre Festas da Cidade


A iniciativa teve como nome "A Guitarra de Coimbra por Timor" e juntou grandes nomes da música portuguesa. Vitorino, Janita Salomé, Filipa Pais, Galina Vale e vários outros artistas actuam no passado dia 27 de Junho, no Jardim da Sereia, pelas 21,30 horas, num espectáculo musical que tem como lema "A Solidariedade". De destacar a estreia do coro "Alma de Coimbra", dirigida pelo maestro Augusto Mesquita que proporcionou momentos de grande emoção.
O objectivo deste espectáculo foi angariar fundos para ajudar na construção de duas clínicas dentárias em Timor no âmbito do projecto "Timor-Leste – Saúde Oral".
O Professor Alberto Araújo, responsável da Comissão de Apoio à Diocese de Baucau congratulou-se por esta iniciativa. "Foi um espectáculo maravilhoso, num cenário (Jardim da Sereia) que se adoptou bem a Timor", frisou o comissário. O objectivo desta comissão é levar a efeito uma série de concertos para a angariação de cerca de 210 mil euros para a construção de duas clínicas dentárias em Timor. Segundo Alberto Araújo, a comissão já organizou dois concertos em Lisboa, onde não foram bem sucedidos em termos de receitas.
Para o presidente da Empresa Municipal de Turismo, Luís Alcoforado, "Coimbra mostrou-se solidária para com o povo de Timor. Tivemos uma presença significativa de público". Quatro mil euros foram as receitas obtidas neste concerto. Os ingressos para assistir a este espectáculo eram de 10 euros por pessoa.
A iniciativa marcou ainda o arranque das Festas da Cidade de Coimbra e da Rainha Santa Isabel.
Até dia 15 de Julho, os espectáculos e restantes eventos vão percorrer Coimbra, em locais como o Convento de S. Francisco, o Estádio Cidade de Coimbra, a Praça da República, entre outros.
Pela primeira vez, as festas são promovidas pela Empresa Municipal Turismo de Coimbra, por "incumbência estatutária", explica Luís Alcoforado.
Quanto ao formato, difere do que tem sido feito. De acordo com o responsável, "este ano houve uma diversificação ao nível dos públicos a que nos dirigimos, mas também se alargou o espaço e o período das festas".
O Jardim da Sereia recebeu ainda no passado dia 1 de Julho, uma Ópera, com a participação do elenco do Teatro Nacional de S. Carlos, a Companhia Portuguesa de Ópera e o coro espanhol Liceo Casino de Vilagarcía de Arousa.
De destacar amanhã à noite, um concerto do Grupo Novo Rock (GNR) com a Banda da Guarda Nacional Republicana (GNR), no Estádio Cidade Coimbra.
De 4 a 6 de Julho decorre o evento "Coimbra Air Show", no Aeródromo Municipal Bissaya Barreto: sobrevoo do Rio Mondego e acrobacias aéreas, no Parque Verde.
De 4 de Julho a 31 de Outubro vai estar patente no Convento de S. Francisco uma exposição de Cerâmica de Coimbra, que reúne peças do Museu Machado de Castro, de outros museus portugueses e de coleccionadores privados.
De 11 a 15 de Julho, no Arco da Almedina pode assistir a fados "30 Minutos com a Canção de Coimbra".
No dia 5 de Julho, o Pateo das Escolas da Universidade de Coimbra recebe um concerto de Mariza.


Miguel Cotrim

João Fernandes homenageado pelos amigos


Um grupo de cidadãos e instituições ligadas à cultura homenagearam, no passado sábado, João Fernandes, o rosto do INATEL em Coimbra nos últimos 24 anos. A este grupo associaram-se dezenas de individualidades, não só do associativismo, mas também da política, da cultura, das ciências, da Igreja, entre outros, com os quais João Fernandes sempre soube ter uma relação e cordialidade.
O programa teve início na igreja de S. Tiago, cedida para o efeito pela paróquia de S. Bartolomeu, com uma sessão solene. Seguiu-se depois um desfile de filarmónicas, grupos folclóricos e outros agrupamentos culturais desde do Largo da Portagem até à Praça 8 de Maio.
Após algumas personalidades terem elogiado o percurso de João Fernandes, no decorrer da sessão solene, o homenageado confessou continuar a ser "muito pobre de bens materiais, mas muito rico pela família que tenho". Visivelmente emocionado, João Fernandes exclamou: "Sinto-me podre de rico pelos amigos, pela qualidade dos amigos que granjeei", concluiu.
Após sublinhar ter solicitado à comissão organizadora que a homenagem fosse simples, o delegado distrital do INATEL de Coimbra revelou ter pedido, também, que a mesma tivesse lugar na Praça Velha, como sempre lhe chamou, lugar da sua infância e juventude.
Uma escolha justificada pelo facto de ali ter jogado à bola e ter aprendido a doutrina na igreja de S. Bartolomeu com o Padre Afonso. Ensinamentos e valores, que segundo ele, lhe serviram no seu percurso de vida.
Actualmente com 79 anos de idade, os últimos 24 dedicados ao INATEL, o delegado distrital recordou a forma como lá foi parar: "O delegado do INATEL deve ser o único cargo político do país que não é remunerado".

Miguel Cotrim

João César das Neves interpela empresários sobre a ética nos negócios

- O encontro dos empresários cristãos decorreu na Sé Velha



"A questão da ética está na moda. Encontra-se por todo o lado. As universidades já possuem cursos sobre isso. As empresas têm códigos de ética. A própria ACEGE também já possui um código de ética."
A afirmação foi do Professor João César das Neves, proferida no passado dia 26 de Junho no ciclo de conferências sobre a ética empresarial, levadas a cabo pelo núcleo da ACEGE de Coimbra.
Segundo João César das Neves, "as empresas gastam milhões com as campanhas sobre a ética" e as coisas, nem por isso têm corrido bem para os empresários. "Há uma sensação de hipocrisia geral", afirmou o conferencista perante uma centena de sócios e amigos da ACEGE.
"A ética é uma coisa bonita para se pôr nos relatórios das empresas, mas tem que ser trabalhada por dentro", disse ainda o professor universitário. "Temos que nos interrogar a nós próprios sobre aquilo que podemos fazer de bom em prol da sociedade", salientou. A questão de ética nunca é uma questão de economia, de direito, mas sim de moral. Para João César das Neves, o objectivo dos empresários cristãos não deve ser criar a empresa ideal, mas sim, contribuir para melhorar as condições de vida. Por isso, "há uma escolha a fazer – que nem sempre é fácil, principalmente numa sociedade que atravessa actualmente uma crise cultural – entre sucesso e ser boa pessoa.
Para César das Neves, a ética tem que estar nas razões da nossa existência. Temos que seguir a consciência, olhando para as consequências.
O conferencista não procurou solucionar problemas dos empresários, mas sim interpela-los, desafiando-os a contribuir para uma sociedade mais justa e mais solidária. "Como alguém consegue viver consigo próprio, sabendo que tem que fazer uma escolha? Qual é o meu contributo perante a vida, na selva onde me encontro? foram estas e outras interrogações deixadas por João César das Neves no Salão da Sé Velha, em Coimbra.



Miguel Cotrim