Correio de Coimbra

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22 de fevereiro de 2007

Mensagem da Quaresma do Papa Bento XVI

Santo Padre desafia os cristãos a serem generosos
Queridos irmãos e irmãs!


«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram» (Jo 19, 37). Este é o tema bíblico que guia este ano a nossa reflexão quaresmal. A Quaresma é tempo propício para aprender a deter-se com Maria e João, o discípulo predilecto, ao lado d’Aquele que, na Cruz, cumpre pela humanidade inteira o sacrifício da sua vida (cf. Jo 19, 25). Portanto, dirijamos o nosso olhar com participação mais viva, neste tempo de penitência e de oração, para Cristo crucificado que, morrendo no Calvário, nos revelou plenamente o amor de Deus. Detive-me sobre o tema do amor na Encíclica Deus caritas est, pondo em realce as suas duas formas fundamentais: o agape e o eros.



O amor de Deus: agape e eros
A palavra agape, muitas vezes presente no Novo Testamento, indica o amor oblativo de quem procura exclusivamente o bem do próximo; a palavra eros denota, ao contrário, o amor de quem deseja possuir o que lhe falta e anseia pela união com o amado. O amor com o qual Deus nos circunda é sem dúvida agape. De facto, pode o homem dar a Deus algo de bom que Ele já não possua? Tudo o que a criatura humana é e possui é dom divino: é portanto a criatura que tem necessidade de Deus em tudo. Mas o amor de Deus é também eros. No Antigo Testamento o Criador do universo mostra para com o povo que escolheu uma predilecção que transcende qualquer motivação humana. O profeta Oseias expressa esta paixão divina com imagens audazes, como a do amor de um homem por uma mulher adúltera (cf. 3, 1-3); Ezequiel, por seu lado, falando do relacionamento de Deus com o povo de Israel, não receia utilizar uma linguagem fervorosa e apaixonada (cf. 16, 1-22). Estes textos bíblicos indicam que o eros faz parte do próprio coração de Deus: o Omnipotente aguarda o «sim» das suas criaturas como um jovem esposo o da sua esposa. Infelizmente desde as suas origens a humanidade, seduzida pelas mentiras do Maligno, fechou-se ao amor de Deus, na ilusão de uma impossível auto-suficiência (cf. Gn 3, 1-7). Fechando-se em si mesmo, Adão afastou-se daquela fonte de vida que é o próprio Deus, e tornou-se o primeiro daqueles «que, pelo temor da morte, estavam toda a vida sujeitos à escravidão» (Hb 2, 15). Deus, contudo, não se deu por vencido, aliás o «não» do homem foi como que o estímulo decisivo que o levou a manifestar o seu amor em toda a sua força redentora.


A Cruz revela a plenitude do amor de Deus
É no mistério da Cruz que se revela plenamente o poder incontível da misericórdia do Pai celeste. Para reconquistar o amor da sua criatura, Ele aceitou pagar um preço elevadíssimo: o sangue do seu Filho Unigénito. A morte, que para o primeiro Adão era sinal extremo de solidão e de incapacidade, transformou-se assim no acto supremo de amor e de liberdade do novo Adão. Pode-se então afirmar, com São Máximo, o Confessor, que Cristo «morreu, se assim se pode dizer, divinamente, porque morreu livremente» (Ambigua, 91, 1956). Na Cruz manifesta-se o eros de Deus por nós. Eros é de facto – como se expressa o Pseudo Dionísio – aquela «força que não permite que o amante permaneça em si mesmo, mas o estimula a unir-se ao amado» (De divinis nominibus, IV, 13: PG 3, 712). Qual «eros mais insensato» (N. Cabasilas, Vita in Cristo, 648) do que aquele que levou o Filho de Deus a unir-se a nós até ao ponto de sofrer como próprias as consequências dos nossos delitos?


«Aquele que trespassaram»
Queridos irmãos e irmãs, olhemos para Cristo trespassado na Cruz! É Ele a revelação mais perturbadora do amor de Deus, um amor em que eros e agape, longe de se contraporem, se iluminam reciprocamente. Na Cruz é o próprio Deus que mendiga o amor da sua criatura: Ele tem sede do amor de cada um de nós. O apóstolo Tomé reconheceu Jesus como «Senhor e Deus» quando colocou o dedo na ferida do seu lado. Não surpreende que, entre os santos, muitos tenham encontrado no Coração de Jesus a expressão mais comovedora deste mistério de amor. Poder-se-ia até dizer que a revelação do eros de Deus ao homem é, na realidade, a expressão suprema do seu agape. Na verdade, só o amor no qual se unem o dom gratuito de si e o desejo apaixonado de reciprocidade infunde um enlevo que torna leves os sacrifícios mais pesados. Jesus disse: «E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12, 32). A resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é antes de tudo que acolhamos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele. Mas aceitar o seu amor não é suficiente. É preciso corresponder a este amor e comprometer-se depois a transmiti-lo aos outros: Cristo «atrai-me para si» para se unir comigo, para que eu aprenda a amar os irmãos com o seu mesmo amor.


Sangue e água
«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram». Olhemos com confiança para o lado trespassado de Jesus, do qual brotam «sangue e água» (Jo 19, 34)! Os Padres da Igreja consideraram estes elementos como símbolos dos sacramentos do Baptismo e da Eucaristia. Com a água do Baptismo, graças à acção do Espírito Santo, abre-se para nós a intimidade do amor trinitário. No caminho quaresmal, recordando o nosso Baptismo, somos exortados a sair de nós próprios e a abrir-nos, num abandono confiante, ao abraço misericordioso do Pai (cf. São João Crisóstomo, Catechesi, 3, 14 ss.). O sangue, símbolo do amor do Bom Pastor, flui em nós especialmente no mistério eucarístico: «A Eucaristia atrai-nos para o acto oblativo de Jesus... somos envolvidos na dinâmica da sua doação» (Enc. Deus caritas est, 13). Vivamos então a Quaresma como um tempo «eucarístico», no qual, acolhendo o amor de Jesus, aprendemos a difundi-lo à nossa volta com todos os gestos e palavras. Contemplar «Aquele que trespassaram» estimular-nos-á desta forma a abrir o coração aos outros reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; impulsionar-nos-á, sobretudo, a combater qualquer forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas. A Quaresma seja para cada cristão uma experiência renovada do amor de Deus que nos foi dado em Cristo, amor que todos os dias devemos, por nossa vez, «dar novamente» ao próximo, sobretudo a quem mais sofre e é necessitado. Só assim poderemos participar plenamente da alegria da Páscoa. Maria, a Mãe do Belo Amor, nos guie neste itinerário quaresmal, caminho de conversão autêntica ao amor de Cristo. Desejo a vós, queridos irmãos e irmãs, um caminho quaresmal proveitoso, enquanto com afecto envio a todos uma especial Bênção Apostólica.


Vaticano, 21 de Novembro de 2006.
Bento XVI

Encontro de Coros Litúrgicos em Cantanhede

Está previsto para o próximo dia 25 de Fevereiro (1º Domingo da Quaresma) um encontro de Coros Litúrgicos. Para ele são convidados todos os coros da nossa diocese. Começará às 15 horas e terminará pelas 18 horas. O local de encontro será a Igreja Matriz de Cantanhede. Será bom que os cantores tragam consigo o livro “NOVO CANTEMOS TODOS”. Depois de um tempo de exposição doutrinal sobre o ministério da música, haverá lugar para prática de canto, terminando com o canto das Vésperas (ou ao menos uma parte) do Iº Domingo da Quaresma. Falar-se-á também da necessidade de formação e dos meios existentes para o efeito.

Fé e Compromisso


PAULO OU APOLO?

José Dias da Silva

Alguém me perguntou por que não escrevi sobre o referendo. A resposta é fácil. Porque não me parece legítimo este tipo de referendos. Se estamos no campo moral, as normas morais não são, para mim, referendáveis; se estamos no campo legislativo, a sociedade portuguesa dispõe do Parlamento onde existem peritos nas várias áreas para preparar a lei que melhor sirva os interesses de toda a sociedade. Além do mais, este assunto é demasiado complexo para se ficar por uma pergunta ambígua, mais apropriada para quem dispõe de dotes oratórios.
De qualquer maneira o debate foi intenso. Não sei se foi esclarecedor na medida em que se cruzaram informações contraditórias sobre dados objectivos. Mas chamou a atenção para um problema muito sério e para a necessidade de fazer muito mais do que até agora tem sido feito.
Do muito que se pode dizer, há um aspecto que queria hoje abordar: o ter havido católicos que votaram não, que votaram sim e que se abstiveram. Como vamos lidar com esta situação sem cairmos em extremismos e falta de caridade? Não nos iludamos, pois corremos o risco de olhar para o outro, o que votou diferente, com suspeição declarada ou disfarçada, incapazes, na maior parte das vezes, de falar claro preferindo indirectas ou insinuações malsãs. Esta não é uma forma evangélica de abordar a situação. E há muitas razões para nos continuarmos a amar como irmãos.
Razões humanas: os que votaram sim nem são pessoas mal intencionadas nem o expoente civilizacional; os que votaram não nem são as pessoas mais bem formadas nem são atrasadinhos que põem em causa o desenvolvimento da humanidade. Estamos todos, de um modo geral, preocupados para que este mundo esteja cada mais conforme à dignidade humana.
Razões teológicas: Deus não faz acepção de pessoas, sempre acolheu todos especialmente os pecadores; Jesus mandou-nos amar a todos mesmo os nossos inimigos e quanto aos seus discípulos deu-lhes um mandamento novo que "nos amássemos uns aos outros como Ele nos amou". Mais, o Sermão da Montanha recomenda que "não julgueis" e o senhor do campo proibiu os criados de arrancar o joio do meio do trigo. Portanto, nenhum de nós foi instituído por Deus como inquisidor do outro, de nenhum outro. Até porque ninguém, senão Deus, sabe responder à pergunta: quem ama mais Jesus Cristo: os do não, os do sim ou os que se abstiveram?
Razões eclesiais: o tema não é nenhum dogma de fé; é um assunto muito importante, mas que envolve aspectos muito complexos nem sempre fáceis de destrinçar.
Razões sociais: somos todos cidadãos que vivemos numa sociedade democrática e plural em que há várias soluções legislativas, que não podem ser ditadas pelas exigências morais de um dada corrente de pensamento mas pelo consenso resultante dos vários pareceres. Daí a importância ímpar que a Assembleia da República desempenha neste exercício.
Por outro lado, há causas que dificultam a vivência da fraternidade. Aponto apenas três.
Não sabemos lidar bem com o conflito dentro da comunidade cristã. Esquecemo-nos ou não lemos com atenção e amor a Sagrada Escritura. A primeira leitura de domingo passado é já um bom exemplo. As Cartas de S. Paulo e os Actos estão cheios de situações em que a comunidade se dividiu ao meio. Só a título de exemplo sugiro a leitura de Rom 14. Ou as disputas em Corinto sobre Paulo, Apolo, Cefas ou Cristo (1Cor 1,12ss). Esquecemos (ignoramos?) a regra do Concílio para estas situações: "Procurem sempre esclarecer-se mutuamente num diálogo sincero, salvaguardando a caridade recíproca e atendendo, antes de mais, ao bem comum" (GS 43).
Outra dificuldade, mais de fundo, é que olhamos para o Cristianismo como uma ética (que também é) e não como seguimento de uma Pessoa, Jesus Cristo. É evidente que é muito mais fácil ir à lista das virtudes ou dos pecados do que perguntar o que faria Jesus ou o que me interpela Ele a fazer. O episódio da mulher adúltera devia ser mais meditado, mas não para destacar apenas o reconfortante e sossegador "vai e não tornes a pecar" (Jo 6,11).
Muito delicada é a questão relacionada com atender ou não às palavras do Papa. Ouvir e ler as palavras do Papa e dos Bispos não preocupa muito a maioria dos católicos! E quando nos preocupa, só ouvimos o que nos interessa. Que fizemos destas palavras de Bento XVI: "A Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do necessário. Ao mesmo tempo, porém, a caritas-agape estende-se para além das fronteiras da Igreja; a parábola do Bom Samaritano permanece como critério de medida" (DCE 25)?
Damos a mesma importância a estas palavras e às palavras sobre o aborto? Manifestamente que não. É que lutar contra o aborto (e devemos continuar a lutar contra o aborto e suas causas sem nos esquecermos de acolher amorosamente as mulheres envolvidas) não me obriga a mudar o estilo de vida. Mas fazer com que "ninguém sofra por falta do necessário" impõe uma mudança radical: partilhar bens e dons e combater o meu egoísmo e as estruturas injustas da sociedade. Ora, se as palavras do Papa nos vêm incomodar, obrigando-nos a uma tal ruptura vivencial, como podemos nós, que estamos bem como estamos, ouvi-las? Não será melhor ignorá-las?
"Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei: nisso conhecerão que sois meus discípulos".

Director do Colégio de S. Teotónio ao “Correio”:



"Em Portugal não há liberdade de escolha!"

O Padre Dr. Manuel Carvalheiro, à frente do Colégio há quatro anos, quer um ensino assente em valores "como a responsabilidade, a solidariedade, a autonomia e a criatividade".


"Ser escola inspirada no Evangelho de Jesus Cristo": é desta forma que o director do Colégio S. Teotónio define a missão da instituição que dirige. Para o padre Manuel Carvalheiro Dias, "valores como a responsabilidade, solidariedade, autonomia e criatividade" ganham sentido e corpo em todas as actividades da escola, que, nas suas palavras, apenas tem em comum com os estabelecimentos de ensino públicos, "aquilo que o Ministério da Educação não deixa que seja diferente". Falando de projectos e iniciativas, das mais de vinte actividades de enriquecimento curricular oferecidas aos alunos e da presença da animação religiosa no projecto educativo, não disfarça o orgulho numa instituição que soma já 44 anos de existência e que orienta há 4 anos. Diz ainda, ter esperança num Portugal onde as escolhas dos pais para a educação dos filhos tenham lugar sem estarem sujeitas a "quaisquer constrangimentos financeiros ou sócio culturais". Com o curso superior de teologia do ISET e uma licenciatura em estudos de Português – História pala Universidade Católica, o padre Manuel Carvalheiro esteve também à frente da Obra de Frei Gil e foi director pedagógico da Escola Profissional da Lousã. Actualmente é ainda responsável pela Escola de Leigos da Diocese.


Entrevista de Lisa Ferreira e de Miguel Cotrim


Correio de Coimbra – Que valores se assumem no projecto educativo do S. Teotónio?
Padre Manuel Carvalheiro (MC) – "Colégio de São Teotónio: o humanismo cristão, um projecto educativo, uma escola plural" traduz de forma simples e concisa a missão desta escola como Escola Católica. O seu projecto educativo aparece como tradução do ser escola inspirada no Evangelho de Jesus Cristo. Concretamente, procuramos materializar valores como a responsabilidade, solidariedade, autonomia e criatividade, assentes na interioridade como espaço onde esta forma de ser ganha verdadeiro sentido.

"Como Escola católica, privilegiamos a qualidade da educação, a formação nos valores éticos e espirituais e a qualidade da relação entre todos os que fazem a comunidade educativa."


CC – O que distingue o colégio de uma escola estatal?
MC –
Além de alunos, professores, funcionários e instalações, diria que apenas tem em comum aquilo que o Ministério da Educação não deixa que seja diferente: o curriculum dos alunos e a forma de organizar. Tudo o que depende da nossa autonomia, é diferente. Como Escola católica, privilegiamos a qualidade da educação, a formação nos valores éticos e espirituais e a qualidade da relação entre todos os que fazem a comunidade educativa. Isto ganha sentido e torna-se visível em tudo o que fazemos, pois cada actividade é parte de um todo sólido e coerente. Das actividades de carácter religioso e de enriquecimento curricular, durante a semana, ao fim-de-semana e até em períodos de férias, ao acompanhamento dos alunos, quer os que conseguem elevados níveis de progresso quer os que manifestam mais dificuldades, tudo traduz esta forma peculiar de ser escola, com uma experiência de 44 anos.


CC – O governo definiu como aposta para os estabelecimentos públicos uma ocupação plena do tempo passado na escola. No Colégio, alguma coisa mudou com esta nova política?
MC –
Absolutamente nada, pois já há muito que temos uma escola a tempo inteiro. Quer dizer que é tradição entre nós ocupar pedagogicamente os nossos alunos mesmo quando algum professor falta (o que só acontece por razões verdadeiramente válidas), e a mancha horária é alargada, pois além de apoios e salas de estudo, são muitas as actividades de enriquecimento curricular que estão disponíveis.


CC – Que papel desempenham as actividades extra curriculares oferecidas pelo S. Teotónio?
MC –
Tudo o que se faz numa escola tem que estar ao serviço do currículo escolar, enriquecendo-o, traduzindo-o, de forma a poderem ser atingidas as competências definidas pela Tutela em cada ciclo de estudos. Por isso, em substituição de actividades extra curriculares, preferimos a designação de enriquecimento curricular e que é isso mesmo. Desde o reforço linguístico, às actividades desportivas, artísticas e culturais, são mais de vinte as possibilidades oferecidas aos alunos. Além de desempenharem a tal função de enriquecer o currículo, procuramos alargar os horizontes culturais dos nossos alunos e facilitar a vida às famílias, concentrando no Colégio aquilo que doutra forma teria de ser procurado em diferentes instituições.


CC – Que áreas atravessa a animação religiosa do colégio?
MC – A Animação Religiosa é uma esfera central da nossa identidade, pois, em articulação com a Educação Moral e Religiosa Católica, organiza a catequese segundo o Plano Nacional e sublinha a importância das celebrações cristãs, especialmente a Eucaristia, mas também celebrações penitenciais (2 por ano) ou de carácter mariano no mês de Maio. Temos ainda encontros e actividades que sublinham a educação cristã e os valores eclesiais.


CC – O Colégio foi fundado em 1963 numa época em que se verificava um grande surto de emigração. Para responder também a essa realidade, foi criado um regime de internato. Ainda se mantém?
MC –
Ainda mantemos o Internato (masculino e feminino), com cerca de 50 alunos. Continua a ser uma resposta para muitas famílias. A maioria dos alunos não tem qualquer ligação ao fenómeno da emigração dos anos 60 e 70. Nem tão pouco os alunos oriundos dos PALOP têm uma presença significativa. São, na maioria, filhos de famílias que encontram no internato (ficar a semana no Colégio, com todo o apoio escolar associado) uma possibilidade acrescida de sucesso educativo.


CC – Ainda funciona a residência para universitários?
MC – O mesmo se diga para a residência universitária que, apesar da proliferação de apartamentos e quartos arrendados a estudantes, ainda se mantém.


CC – A Semana Europeia vai reunir no colégio alunos e professores de vários países da Europa. Como surgiu o projecto e quais os seus objectivos?
MC –
Anualmente, procuramos ter no nosso Plano de Actividades várias visitas de estudo e intercâmbios escolares no estrangeiro, especialmente de âmbito europeu. Participámos em iniciativas do género no Luxemburgo. Este ano coube-nos a nós a organização da Semana Europeia. De 25 de Fevereiro a 4 de Março, teremos no Colégio escolas de 16 Países da União Europeia. Basicamente, diria que os objectivos são a partilha cultural, no reforço do maior conhecimento da diversidade europeia ao serviço duma cidadania comum, bem como a proficiência linguística na prática das línguas oficiais e que fazem parte do nosso currículo escolar.


CC – O S. Teotónio é uma das instituições privadas financiadas em parte pelo Estado. Como funciona este ou estes acordos?
MC –
O Colégio de São Teotónio é um estabelecimento de ensino particular. Não é financiado pelo Estado nem recebe deste qualquer subsídio. Acontece que mantém um contrato com o Estado mediante o qual este garante o funcionamento de algumas turmas no mesmo regime das escolas estatais. No âmbito dos contratos de associação, que aqui no colégio se aplicam aos 1º e 2º ciclos, o Estado compra-nos a educação e ensino, como um serviço que prestamos aos alunos, não havendo custos para os pais. Há ainda os contratos simples, aplicados ao 1º ciclo e secundário e os contratos de desenvolvimento, aplicados ao pré-escolar. Mediante estes contratos, o Estado concede um pequeno subsídio às famílias. Estas candidatam-se e poderão beneficiar de algum apoio em função do rendimento familiar.

CC – Prevê que estes contratos se mantenham?
MC – Para bem da educação, não só desejo que se mantenham como venham a ser celebrados com outras escolas. Sempre tive receio do modelo único (cheira-me a totalitarismo!), e se a educação em Portugal está como se sabe, que acontecerá se só tivermos escolas de modelo estatal?

"Liberdade, em educação, é a capacidade dos pais escolherem a escola dos seus filhos, segundo o Projecto Educativo"

CC – Os pais deveriam ser livres nas escolhas no âmbito da educação dos seus filhos?
MC –
Essa é uma tese que defendo e que modificaria definitivamente, não sem dificuldade, mas com enorme sucesso, o ensino em Portugal; terminaria de vez o corporativismo que nos tem amarrado a um passado que já não devia ser o nosso presente. Tenho esperança! Simplesmente, em Portugal, não há liberdade de escolha; quando muito poderíamos falar de um arremedo de liberdade garantido pelos Contratos Simples, de Desenvolvimento, ou até mesmo de Associação. É uma liberdade muito condicionada, seja à capacidade económica das famílias, seja à rede escolar. Liberdade, em educação, é a capacidade dos pais escolherem a escola dos seus filhos, segundo o Projecto Educativo, que se pretende, num legítimo exercício de paternidade, sem quaisquer constrangimentos financeiros ou sócio culturais. Estar amarrado a uma definição prévia segundo a residência é uma forma arcaica de organização do sistema e não condiz com o mundo em que já vivemos. Mais, doutros modelos já experimentados resultam dois aspectos que deveriam merecer a nossa atenção: um melhor desempenho do sistema educativo e o seu mais baixo custo. Devia fazer-nos pensar.


CC – Concorda com a existência dos rankings em função das médias nos exames nacionais?
MC –
Não. Esta é uma visão terceiro mundista. Digo-o por uma simples razão: a finalidade do sistema educativo é fazer com que todos concluam, com sucesso, a escolaridade básica e secundária, façam o seu percurso profissional e sejam cidadãos implicados no bem comum da sociedade. Uma escola que interessa à sociedade é uma escola que conseguiu diplomar todos os alunos matriculados. Que importa se alguns têm elevadas notas se muitos outros ficam pelo caminho e são afastados dos exames para não estragarem as médias? O ranking que interessaria, mesmo que continuasse a ter efeitos perversos, deveria assentar na eficácia e eficiência do sistema escolar para ultrapassarmos as piores taxas de desempenho da Europa no que toca a abandono escolar e número de alunos com Ensino secundário, já para não falar de formação profissional.


CC – Estes rankings expressam uma avaliação verdadeira das escolas?
MC – Pelo que disse, claro que não. Como dizia a Sr.ª Ministra, as Escolas são mais do que rankings.


CC – Em termos de estruturas físicas do colégio, o que mudou durante a sua direcção?
MC – Para sublinhar alguns aspectos mais significativos: foi criada mais uma sala de informática, foi renovada a sala de audiovisuais, foi completamente reformulada e equipada a cozinha e self-service, foram substituídas as janelas da fachada e voltadas para o quadrado da biblioteca, e foram reconstruídos os WC dos três pisos de salas de aula.


CC – E a que projectos deu prioridade?
MC – Quisemos dar prioridade a projectos que estivessem ligados à ideia de uma escola do século XXI. Então integramos projectos de nível europeu, como o programa Sócrates, e organizámos a Semana Europeia. Temos dado atenção ainda à área das novas tecnologias. Para além do material comprado, promovemos a criação de uma plataforma de e-learning, de modo a que os alunos, em casa, possam ter acesso a alguns recursos que os professores da turma disponibilizam. A partir daquilo a que chamamos o colégio virtual, os alunos têm acesso às disciplinas todas do seu currículo, dispondo de materiais didácticos de reforço. Podem até usar um chat de contacto e troca de informações com os professores, caso estes tenham possibilidade de o manter. Em termos curriculares, temos apostado, claramente, nas ciências experimentais de Biologia e Química. Num projecto preparado com os alunos, uma série de brincadeiras científicas foram postas em prática, durante o Laboratório Aberto, com todos, desde os mais pequeninos aos estudantes do secundário. Fazem-se experiências e são explicados os porquês dos resultados. Outro projecto, de longo prazo e ainda em fase de estudo, tem a ver com a oferta de formação profissional e a criação de um espaço de requalificação aberto ao exterior.

Futuro da Europa debatido em Coimbra


"Europa – Tratado Constitucional e União Política" é o tema de um debate que vai realizar-se em Coimbra no próximo dia 26 de Fevereiro, com a participação de Gomes Canotilho, Jorge Leite, Manuel Lopes Porto, Rui Moura Ramos e Marcos Andrade, sendo moderador o eurodeputado socialista Fausto Correia.
A sessão, que começa às 17h30 no auditório da Fundação Bissaya Barreto, é promovida pelo Governo Civil de Coimbra, no âmbito do "Fórum de Debate do Futuro da Europa", cuja criação foi incentivada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros para estimular o debate nacional sobre a evolução futura da União e em especial sobre a Constituição Europeia, que se encontra num impasse após a vitória do "não" nos referendos na França e da Holanda.
O debate é antecedido por intervenções de Manuel Lobo Antunes, secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Europeus, Fausto Correia, deputado do Parlamento Europeu, Henrique Fernandes, governador civil de Coimbra, e Nuno Viegas Nascimento, presidente da Fundação Bissaya Barreto.

Conferências Quaresmais em Coimbra, em Cantanhede e em Soure


Coimbra (Salão de S. José)

As já tradicionais Conferências Quaresmais, organizadas pelas paróquias da cidade de Coimbra – Ceira, Nossa Senhora de Lurdes, Santa Clara, Santa Cruz, Santo António dos Olivais, São Bartolomeu, São José, Sé Nova, Sé Velha e Torres do Mondego – realizam-se, este ano, sob o tema "Família, Espaço de Crescimento". Todas as Quintas feiras, a partir do dia 1 de Março, o Salão Polivalente de S. José, acolherá diferentes oradores que abordarão temáticas ligadas ao tema principal. Na terceira semana, excepcionalmente, a sessão acontecerá a uma quarta-feira, dia 14 de Março.
Laurinda Alves, directora da revista XIS, do Público, orientará o primeiro tema, "Que modelos de família?", sendo a quinta-feira seguinte preenchida pelo padre Vasco Magalhães, director do CUPAV, no Porto, com a exposição do tema "Família sim, Casamento não?". "A Relação Pais Filhos" será motivo de debate orientado pelo professor Eduardo Sá, da Faculdade de Psicologia de Coimbra, no dia 14 de Março e, na semana seguinte, João Paulo Barbosa de Melo, director do CEFA, falará aos que estiverem presentes de "Políticas Familiares". As conferências encerram com D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa, com a exposição do tema "A Igreja e a Família".
Segundo o cónego João Castelhano, as Conferências foram orientadas, este ano, para "uma reflexão abrangente sobre a realidade familiar dos nossos tempos". O pároco de S. José espera que "não só a actualidade e importância dos temas, mas também o nome, o valor e competência dos conferencistas despertem o gosto de participar, de saber mais, de dialogar, de dar à família o lugar que lhe cabe na construção de uma sociedade sã, que se deixa guiar pelos valores do Evangelho".

Cantanhede (Centro Paroquial de S. Pedro)
O Arciprestado de Cantanhede vai, como em anos anteriores, organizar jornadas de formação durante a Quaresma. Este ano, porque a nível diocesano, se tem proposto um esforço no sentido da renovação da pastoral social, o tema será "a caridade como sinal do ser cristão", aplicando à realidade prática a Encíclica "Deus Caritas Est", do papa Bento XVI.
Estas Jornadas pretendem também ajudar instituições de solidariedade social do arciprestado de Cantanhede e Mira a tomarem consciência da sua missão, para melhorarem a sua acção junto dos pobres, dos idosos, das crianças e de todos os que sofrem. As conferências e reflexões são, por isso, muito particularmente dirigidas aos funcionários e pessoal de organismos e grupos de acção sócio-caritativa, quer estejam ou não ligados á Igreja. As 4 sessões acontecerão às terças-feiras, a partir das 21h, no Centro Paroquial de S. Pedro, em Cantanhede, junto ao novo quartel dos Bombeiros.
"A caridade como o melhor sinal de credibilidade da Igreja e do ser cristão" é o tema de abertura das Jornadas e será orientado pelo bispo emérito de Aveiro, D. António Marcelino. No dia 6 de Março, será discutida "A humanização das relações entre funcionários, direcções e utentes", cabendo, na sessão seguinte, a Pedro Vaz Cardoso, com o pelouro da Acção Social na Câmara Municipal de Cantanhede, uma reflexão intitulada "A caridade precisa de organização e de articulação com todos os outros agentes da pastoral social para haver maior sinergia e mais frutos". As Jornadas encerram com uma exposição e debate em torno do tema "A especificidade de um Centro Social ou de uma IPSS cristã, ligada à Igreja – A humanização das relações entre funcionários, direcções e utentes", orientada pelo padre Lino Maia.

Soure (Centro Paroquial)
À semelhança do que tem acontecido em anos anteriores, a paróquia de Soure organiza mais um ciclo das "Jornadas Quaresmais do Arciprestado de Soure", este ano sob o tema "Deus é Amor… uma encíclica que nos questiona". O Centro Paroquial de Soure acolhe, nos dias 3, 9, 16 e 23 de Março, as conferências, que terão início pelas 21h. "Os (des)contextos do Amor na Sociedade" é o primeiro tema em foco, sendo a reflexão orientada pelo padre Carlos Carneiro. O Cónego Emanuel Silva é o conferencista da segunda sessão, que parte da apresentação de "Uma novidade com mais de 2000 anos". A discussão sobre os "Compromissos de um cristão" estará a cargo de Bagão Félix, sendo o responsável pela última sessão das Jornadas o Bispo emérito de Coimbra, D. João Alves, numa conferência sobre "A caridade da Igreja como manifestação do Amor".

Documentário e concerto em S. Bartolomeu


Ainda as comemorações do centenário
do nascimento de Mons. Nunes Pereira


As comemorações do Centenário do Nascimento de Monsenhor Nunes Pereira, que tiveram início em Dezembro de 2006 e que decorrem até 2 de Dezembro do ano em curso, integram, no próximo dia 28 duas iniciativas previstas para a Igreja de S. Bartolomeu. Assim, às 21h30, é apresentado o documentário "Monsenhor Nunes Pereira: um padre e um artista. Das raízes em Fajão à Oficina-Museu em Coimbra", produzido e realizado no âmbito do programa televisivo «70x7»; mais tarde o Grupo de Instrumentos de Sopro de Coimbra protagoniza um concerto, onde serão interpretadas obras de diversos compositores: Green, Bach, Beethoven, Haendel, Gluck, Charpentier, Mozart, Purcell, Mendelssohn, Ron Goodwin e W. Rimmer.



Oficina-Museu
No âmbito das comemorações do Centenário, o Seminário Maior de Coimbra tem abertas as portas da Oficina-Museu Monsenhor Nunes Pereira ao público em geral, promovendo visitas guiadas à exposição, sujeitas a marcação prévia.
A vasta e riquíssima obra plástica de Augusto Nunes Pereira está presente na Oficina-Museu em três núcleos distintos: Num primeiro, o visitante contacta com a oficina e o ambiente de trabalho do artista, onde estão presentes instrumentos que utilizava e a peça que trabalhava na manhã em que morreu. O visitante passa depois a um outro núcleo, onde pode observar a madeira trabalhada, presente nas esculturas e nas gravuras elaboradas por Nunes Pereira. O último núcleo expositivo é preenchido com as obras concebidas no papel e em seixos.
O espaço vive de duas cores que se ligam também à vida e ao trabalho artístico do padre. O verde surge como a cor da natureza e o roxo como uma cor litúrgica, para que seja plena a percepção da dimensão religiosa de Monsenhor Nunes Pereira.
Patente até Dezembro de 2007, a exposição pode ser visitada aos Sábados (das 15h00 às 18h00, com possibilidade de prática de outros horários, mediante marcação prévia, em função da disponibilidade dos grupos interessados). As inscrições ou pedidos de informação devem ser feitas para o telefone nº 239792340 (Seminário Maior de Coimbra).