Em plena Semana dos Seminários, quais são as minhas interpelações sobre este apelo da Igreja nacional (é que se, acaso, isto não mexer comigo, connosco, de pouco vale haver Dias, Semanas, Meses, Anos, Quinquénios, sobre esta ou aquela temática)?
O meu primeiro pensamento dirige-se aos seminaristas. Sabemos que são poucos (mas já nas décadas de quarenta e cinquenta os nossos Bispos se queixavam do mesmo…), sabemos que não são todos, certamente, os mais indicados para as necessidades do mundo actual, mas são estes os que nós temos como candidatos ao sacerdócio. Rezar, rezar muitos por eles, será a nossa primeiríssima obrigação. Depois, rezarmos convictamente para que surjam novas vocações consagradas. Também todos sabemos que não é fácil despertar a vocação sacerdotal numa sociedade como a nossa, apelando permanentemente ao prazer, ao materialismo, ao ter, e pouco à doação, à renúncia, ao espiritual, ao ser. Perante este ambiente pouco favorável, incumbe-nos uma segunda obrigação: tornar mais vocacional a nossa catequese, a pastoral da juventude, a pastoral familiar, a pastoral das vocações. Esta é uma tarefa que diz respeito a todos e com muita pertinência às famílias cristãs. Mas também as escolas, nas suas aulas de EMRC, as Escolas Católicas, com a sua cultura fundamentada no evangelho, são espaços privilegiados de emersão destas vocações que não devemos descurar.
O segundo pensamento vira-se para a formação (inicial) dos seminaristas. Além da Filosofia e da Teologia – porque é indispensável que sejam “amigos do saber” e conheçam bem as (pa)ciências divinas – por que não mais formação ao nível das relações humanas, da dinâmica de grupos, da gestão dos recursos humanos (e de outros recursos), das Tecnologias de Informação e Comunicação? E como sem bons formadores dificilmente se têm bons formandos, por que não apostar-se em professores que saibam conjugar a actividade intelectual com a pastoral (porque estão no terreno) e que sejam, eles próprios, boas referências para os seminaristas?
O terceiro pensamento: acreditar(mos) que sem seminaristas não teremos padres. E os padres são indispensáveis na Igreja (por mais esforços que façamos (?) para formar leigos que vivam intensamente a sua “vocação admirável”). Talvez padres de outra forma, com outras incumbências (ou com menos incumbências…), talvez com uma Igreja diocesana estruturada de maneira diferente (se continuarmos com este modelo da cristandade, daqui a uns anitos teremos padres com uma dúzia de paróquias, o que é humanamente incomportável). Mas se atendermos, com acuidade, aos sinais do Espírito, encontraremos, certamente, respostas adequadas.
O quarto pensamento assenta na nossa contribuição material. Os Seminários ficam caros. A manutenção do edifício, a conservação dos bens patrimoniais que encerram, além das despesas correntes, somam quantias avultadas. E se, em tempos, o efeito de escala se fazia sentir, hoje em dia, uma estrutura pesada para tão poucos “clientes” transporta (elevados) encargos acrescidos. É nossa obrigação contribuirmos. E até se poderá pedir um recibo, com direito a benefícios fiscais (acrescidos de 30% sobre o montante doado – quadro 7 do anexo H, utilizando o código 714). Também a este propósito, por acaso o leitor sabe que, na declaração do IRS, pode “doar” 0,5% do imposto que pagou, a algumas instituições, designadamente os Seminários, sem qualquer encargo para si? Deste modo, estará a efectuar um “donativo”, utilizando montantes que, em vez de irem para o fisco, vão para a instituição escolhida. Para tal, bastará preencher o quadro 9 do anexo H, indicando o nome da instituição em “Denominação” (por exemplo “Seminário Maior de Coimbra”) e o número de contribuinte em “NIPC” (500792305, no caso do nosso Seminário). Resta-me dizer que este pensamento não foi encomendado por ninguém…
Depois de um pensamento tão material (e fiscal) – ao jeito do nosso tempo – aqui vai o quinto: a nossa atitude para com os Seminários só pode ser de gratidão. Graças a eles, tivemos, temos e teremos sacerdotes (e bispos e papas) que asseguram (juntamente com todos os baptizados) a continuidade da Igreja de Cristo. Mas não esqueçamos que, durante o Estado Novo, os Seminários foram uma extraordinária escola de formação cultural para milhares de jovens que por lá passaram e depois ingressaram na vida activa (na década de sessenta, os nossos Bispos falavam em mais de 85% de jovens nestas condições; agora “é só fazer as contas”, como dizia Guterres, há anos…). Estou cada vez mais convicto que os Seminários, juntamente com as restantes escolas da Igreja, foram os grandes promotores da chamada “democratização do ensino”, ademais quando sabemos que a maioria dos candidatos era oriundo de meios socialmente desfavorecidos. Estas são algumas páginas da nossa história (recente) que muitos procuram ofuscar, ou mesmo apagar.
Se, entretanto, não me cortarem os pensamentos, aqui vai o último: a necessidade do testemunho cristão dos leigos, das famílias, dos pais, mas, sobretudo, dos párocos. Estes servirão de modelo para os futuros (e presentes) candidatos. A relação que é estabelecida, a espiritualidade que emerge para além da batina, a humildade, o “orgulho” de ser padre (e padre a tempo inteiro), a atitude de serviço (e não de poder), a coerência de vida são, quanto a mim, determinantes para quem se sente tocado. Não desperdicemos as (poucas) oportunidades.
Por ora já pensei muito – o que nem sempre é sinónimo de pensar bem. Mas, se quero ser coerente, não devo ficar por aqui. Devo agir. Rezar. E co-responsabilizar-me nesta tarefa que pertence a todos nós. Para que a Igreja continue a anunciar a Boa-Nova do Evangelho a todas as pessoas, até ao fim dos tempos.
Jorge Cotovio