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13 de novembro de 2006

CONSAGRAÇÃO SECULAR: UMA ESPERANÇA NO MUNDO DE HOJE

Na Igreja ainda não foi suficientemente aprofundada a importância da vocação laical consagrada, com o seu valor e o seu dom extraordinário para a Igreja e para o mundo. Num mundo globalizado e cada vez mais distante de Deus, o fermento da secularidade consagrada torna-se cada vez mais necessário. Neste momento da história, a Vocação Consagrada é um sinal profético para a Igreja e para todos os homens.
A Vocação Secular Consagrada possui uma ressonância extraordinária porque está inserida no coração da história e é ali, a partir de dentro, que renova o mundo.
O específico dos consagrados seculares é o de recompor a fractura criada entre o homem e Deus, entre fé e vida, fé e cultura, permitindo ao homem ser plenamente ele próprio sem se separar de Deus. A função dos consagrados seculares é viver profundamente em si mesmos a síntese extraordinária de uma plena inserção no mundo e de uma plena consagração a Deus. Os consagrados seculares são chamados a serem fermento que age, com o apostolado activo e com a sua presença nos vários contextos humanos: industrial, cultural, político, económico… onde quer que o homem viva. E, aí, “Fazer de Cristo o coração do mundo” vivendo a radicalidade evangélica na pobreza como educação a um espírito de sobriedade; na castidade como liberdade interior para estar totalmente ao serviço de Deus; na obediência como busca constante da Vontade de Deus.
Os Institutos Seculares são chamados a viver uma das grandes urgências do nosso tempo, redescobrir e reviver o verdadeiro amor, amor ágape, o amor de Deus que é capaz de transformar a nossa existência e fazer de cada um de nós um dom para os outros.
Pertence aos leigos, de modo mais específico aos leigos consagrados a cristianização e humanização das realidades temporais. A nossa presença no meio do mundo não é algo fictício ou complementar, nem uma invasão de um espaço destinado a outros. Pertence-nos a nós por vocação própria e é-nos outorgado pela nossa consagração. Somos Igreja mas não deixamos de pertencer ao mundo. Este mundo que é o nosso mundo, que é o mundo onde deve ser vivida e concretizada a nossa consagração secular.
João Paulo II em Lisboa recordava que se acontecer que a Igreja não esteja presente em algum espaço da actividade humana é porque nós, os leigos, não estamos lá. Somos chamados a participar na vida pública, a transformar o mundo ao nosso redor, o qual se repercute em toda a sociedade.
Mas, para isso duas convicções básicas são necessárias:
Primeira: Possuímos a verdade sobre o homem. Esta foi-nos manifestada em Jesus Cristo e é transmitida e guardada pela Igreja. Não é pura complacência. É um dom que recebemos e que, distante de nos vangloriarmos é uma responsabilidade. Nós cremos que o Evangelho pode iluminar qualquer situação humana, das mais prosaicas às mais complexas.
Segunda: A eficácia de uma minoria. O mundo é dirigido por minorias económicas, políticas religiosas…Olhemos para a nossa realidade e observemos que esta se encontra em poucas mãos.
A história dos primeiros cristãos é instrutiva. Atreveram-se a enfrentar uma civilização pagã e conseguiram transformá-la, não sem grandes sacrifícios.
Diante do vasto e complexo panorama nacional e do campo de actuação que se apresenta diante de nós, convém recordar o que “devemos pensar globalmente e actuar localmente”. Ou em palavras de Santa Teresa de Jesus: “Determinei-me a fazer o pouco que podia”. Ou ainda dito de outro modo: “nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos reflexivos e comprometidos pode mudar o mundo” (Margaret Mead).
O Padre Manuel Antunes, Fundador do Instituto Secular da Sagrada Família dizia-nos: "Como consagradas, não podemos ser indiferentes a tantas almas que se perdem, não podemos ser moles, devemos ser activas, duras, exigentes na nossa vocação. Nosso Senhor julga-nos segundo as graças que nos dá"
Na audiência aos superiores dos Institutos de Vida Consagrada, de 22 de Maio de 2006 o Papa Bento XVI lança este desafio: “são necessárias opções destemidas, a nível pessoal e comunitário, para redescobrir e mostrar a beleza do seguimento de Cristo na vida consagrada. Os consagrados e as consagradas possuem hoje a tarefa de ser testemunhas da transfiguradora presença de Deus no mundo, cada vez mais desorientado e confuso”.
Ser consagrado é “pertencer totalmente a Cristo”. Pertencer ou ser de Cristo; por cinco vezes repetiu o Papa esta expressão. Esta é a essência da vida consagrada, esta é a primazia do ser sobre o fazer, este é o grande paradoxo que o mundo não entende, e que nós mesmos às vezes deixamos de entender quando permitimos que sejamos levados pelo afã do número, da eficácia.
As palavras do Santo Padre são reveladoras: “Pertencer ao Senhor: esta é a missão dos homens e mulheres que optaram por seguir a Cristo casto, pobre e obediente, para que o mundo creia e se salve”
Na saudação ao Santo Padre a Presidente da CMIS (Comissão Mundial dos Institutos Seculares) Euva Kusz dizia: “Não temos poder político, social ou pastoral, vivemos em diáspora, não somos numerosos, mas somos como o sal e o fermento da terra, que podem paulatinamente mudar e transformar o mundo a partir do interior. Nisto cremos e por isto nos esforçamos em viver…”
Que assim seja.


Estrela de Noronha

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