Correio de Coimbra

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23 de dezembro de 2008

O espírito de Natal


O título sugestivo “Baixa aposta no espírito de Natal para atrair pessoas”, em primeira página do penúltimo número de O Correio interpelou-me. Seria mais lógico, ademais num semanário diocesano, surgir destacada esta frase: “Alta aposta no espírito do Natal para atrair pessoas”… Mas, efectivamente, todos sabemos que a “Alta” não apostou (porque nem precisava…) e a “Baixa” lá foi fazendo “luz” para iluminar os caminhos (para as lojas…), apostando, assim, no “espírito do Natal”. Que “espírito”?
A resposta, curiosamente, vinha lá dentro, na página 6, nas leituras do III domingo do Advento – “o domingo da alegria”. Isaías exulta de alegria e Paulo convida-nos a viver sempre alegres. Ou seja, o espírito do Natal é a “alegria”. Não uma alegria qualquer, mas aquela que dimana cá de dentro. É esta atitude que marca a diferença entre os cristãos “praticantes” e “os outros”. Com este espírito alegre sobrevivemos às crises (pessoais e societárias) e tornamo-nos resistentes, mesmo quando tudo parece estar contra nós.
Mas é óbvio que esta alegria interior tem de ser exteriorizada! Será que temos essa preocupação em nossas casas, para com os nossos filhos, maridos, mulheres, pais, irmãos? Será que temos essa preocupação no nosso local de trabalho, para com os nossos colegas, superiores e “inferiores”? E nas nossas pastorais? Cuidamos da manifestação desta alegria? Ou seja, preocupamo-nos por acolher bem, com um sorriso, com simpatia, as pessoas que nos procuram, por exemplo, para casar, para baptizar os filhos e afilhados, para confessar, para desabafar, para pedir informações, etc? E nas celebrações, sabemos transmitir essa alegria na forma como falamos, como gesticulamos, como olhamos, como nos relacionamos? Às vezes temos o semblante tão carregado, tão triste, tão antipático, que até assusta… (Ao falar disto, vem-me sempre à mente aquela oração de uma criança, afixada há muitos anos cá por casa, que diz o seguinte: “Senhor, faz que os maus sejam bons e que os bons sejam simpáticos”).
Vamos ser realistas. Ou nós acreditamos que temos uma “boa notícia”, uma novidade a transmitir aos outros, e o fazemos com entusiasmo e alegria (contagiantes), ou então não atraímos ninguém, e poucos compreenderão que este Deus nasceu mais ou menos como qualquer um de nós, para que nós nos tornássemos seres divinos (e felizes!). Ou nós – padres, leigos, bispos, religiosos, leigos consagrados – mostramos que sabemos estar bem dispostos, “enTEOsiasmados”, no meio das adversidades (porque fora delas até os ateus estão…), ou então pouco marcamos e convencemos as pessoas que andam à deriva e estão fora do nosso redil (e até aquelas que estão com um pé dentro e outro fora).
Viver este espírito de Natal é sermos especialistas do sorriso, técnicos da boa disposição, porque temos a “chave do sucesso”. E para isto não necessitaremos de grandes cursos, de muitas reuniões, ou de leituras assaz profundas. Basta fazermos movimentar alguns músculos faciais e termos algum brilho nos olhos para tornar esse sorriso mais autêntico e contagiante.
Mas atenção! Paulo, cola a alegria ao seguinte aviso: “Orai sem cessar”. É aqui que reside o (grande) segredo. Orar sem parar, e “em todas as circunstâncias”. Isto é, transformando o trabalho em oração, a reunião em oração, a missa em oração, a vida em oração. Isto é, tornando sagrado tudo quanto nos cerca, tudo o que vivemos e sentimos.
Pois é, reside aqui o busílis da questão. Nós rezamos pouco e depois queixamo-nos dos insucessos pessoais e colectivos.
É este o autêntico espírito de Natal: estar alegre, sorrir, acolher bem. (E é tudo tão barato, meu Deus!). E se apostarmos altamente neste espírito, então teremos outra garra para superar a(s) crise(s) e também uma Igreja que atrai mais pessoas, não só no Natal, mas durante todo o ano. Garantidamente, diz-nos o outro “Espírito”.


Jorge Cotovio

A Festa do Amor


Como sempre, muito cedo se começou a anunciar o Natal, quer nas ruas quer mesmo dentro das nossas casas. Há movimento, há sorrisos, há alegria nos rostos, há flores e música no ar. As donas de casa, numa excitação… Já não se escrevem tantos cartões alusivos à época, porque os modos de enviar Boas Festas passaram a ser outros, mais rápidos e modernos, mas todos nos lembramos uns dos outros, em perfeita e louvável fraternidade… Uma maravilha! O Natal é a Festa do Amor. E da Amizade. Até do perdão e da reconciliação. Lá vem uma voz isolada a dizer que «o Natal devia ser todos os dias», outra que «é quando uma pessoa quiser» ou que «com tanto alarido e excitação se esquece o verdadeiro sentido do Natal», mas essas vozes até nos passam ao lado, esfumam-se… Por tudo isto, há perguntas que, de tão misteriosas, nos ficam sem resposta, como sendo, por exemplo, o facto de se dar ao nascimento do Deus Menino (no caso dos cristãos) um relevo extraordinário, se comparado com a Ressurreição de Cristo, a Páscoa… E igual relevo mesmo nos que o consideram apenas “festa da família”, estando a família como se sabe… E outras!… Um mundo que tão bem sabe manifestar e sentir tanto amor e tanto carinho, por que é, simultaneamente, um mundo de tantos e tão horrendos crimes, a toda a hora… Tanto ódio, tanta vingança, tanto egoísmo e tanta falsidade?!
Com mistério ou sem mistério, o Natal encanta grandes e pequenos, velhos e novos… Toca-nos profundamente. Só o gosto e o enlevo com que se lê (ou se escreve…) uma pequena história que aborde o Menino de Belém… Há poucos dias calhou a vez à «Reunião de Natal», de João César das Neves, em “Parábolas sobre Jesus”. «Quando o Senhor lhes comunicou a sua decisão de encarnar como homem», nenhum anjo queria crer… Foi o espanto que ainda continua a ser, para os homens! Então o arcanjo Gabriel foi eleito director das operações de marketing e divulgação do Natal, achando-se com isso tão feliz que até resolveu ir ele próprio a Nazaré, dar a notícia àquela jovem. Depois disso, «a luz que saía da menina era tão forte que toda a corte celeste a ia ver». Naquela magna reunião, «o anjo do secretariado colocou a disquete no computador» e tudo correu muito bem. «O écran mostrava o mundo», e os anjos tudo viam, em silêncio, mas muito receosos… Tanto que todos acharam que só os pastores teriam simplicidade para abarcar tanta grandeza, fruto da extrema humildade, e assim aconteceu!… Mas o grande problema surgiu quando houve que decidir como informar Herodes, porque «o rei Herodes era tão perverso que nada entendia da bondade celestial»! Salvou a situação o anjo mais pequenino que, lá do fundo da sala, «levantou um dedo», sugerindo encarregar os magos dessa difícil tarefa… E foi o que ficou decidido, por unanimidade…
Para todos, Feliz Natal! Esforcemo-nos por dar Glória a Deus e Paz àqueles que dela mais precisam! Isso é o que importa.


Teresa Martins

Tradição Natalícia



O Natal simboliza o momento principal, anual, de um ciclo religioso e profano, que se inicia no Advento, assume maior densidade espiritual e humana no dia 25 de Dezembro, e prolonga-se até ao dia de Reis ou Epifania do Senhor, 6 de Janeiro.
Um período relevante na vida do Homem, de âmbito mundial, repleto das mais diferentes manifestações de alegria elevadas para o Deus-Menino, para o espírito, e, também um tempo de intensa vivência popular caracterizada pelo louvor ao Salvador do Mundo (acabado de nascer) e de agradecimento e saudação ao próprio Homem, corporizado num leque de actividades recreativas, sociais e culturais, onde o presépio, as loas e os cantares assumem um lugar de relevo, de contentamento e de confraternização.
O Natal, pode afirmar-se, consagra o sobrenatural, sustentado e dirigido ao Homem, que se apresenta como o cerne e o objectivo da mensagem espiritual e da realização da solenidade.
O Natal é, assim, a comunhão do Divino com o terreno, apoiando-se na fé dos homens e na essência de um acontecimento que o Mundo acarinha, espera, consagrou e festeja, habitualmente, em todos os lugares e civilizações da Terra. Em Portugal, e para justificar o motivo que pretende materializar a quadra natalícia, encontram-se as mais diversas manifestações de cariz popular, recuperadas e postas em prática pelos Grupos de Folclore e Etnografia, que testemunham o pendor e a grandeza da herança recebida dos nossos antepassados. O concelho de Coimbra abraça, felizmente, esse património, graças aos seus responsáveis e agrupamentos de cultura popular, vinculando o verdadeiro louvor ao Menino Jesus e o reconhecimento às figuras e instituições merecedoras (no entendimento dos grupos) da saudação festiva na época natalícia.
As actividades mais visíveis e de maior agrado e envolvência da população, inscrevem-se nos cânticos religiosos e nos cantares populares. Há neles uma fusão do espiritual e do profano, em que se testemunha uma dualidade / unidade de princípios, de valores e de receptividade geral, vincada na exaltação, no humorístico, no satírico e no agradecimento, com votos de felicidade, de bem-estar, de gratidão, de louvor ao Menino e de penhor à pessoa.
A distribuição cronológica da festividade principia nos cânticos de alegria e de elevação espiritual ao Menino, entoados na noite de Natal e nos dias seguintes.
O Menino nasceu, em Belém, pobrezinho, mas portador da paz, do amor e da salvação para os homens. "Noite de Natal", "Cantar ao Menino", "Canto dos Pastores", "Roxozinho" e outros traduzem o feliz momento para a Humanidade.
No primeiro de Janeiro, cantam-se nos adros e de porta em porta, as "Janeiras", cantares populares, outrora preparados para os lavradores e pessoas ricas e de linhagem, tendo por motivo agradecer os benefícios recebidos ao longo do ano, desejar um Ano Novo repleto de alegria e saúde aos proprietários e familiares, e pedir, em recompensa, alguns bens alimentares para festejar o evento. São cantares imbuídos de contentamento, de gratidão e de votos de felicidade, augurando voltar no próximo ano.
Nos Reis, última fase do ciclo natalício, cultivam-se os mesmos sentimentos, empresta-se o entusiasmo e a saudação, algumas vezes personalizados, ao Senhor da Casa e pessoas queridas, exemplo dos "Santos Reis" e do "Cântico dos Reis".
Na ausência do esperado agradecimento, isto é, não correspondido, materialmente, cantam-se quadras, previamente, escolhidas, em que o humor, a sátira e até o brejeiro dirigidos aos donos, acompanham as despedidas e formalizam o desagrado do grupo aos distinguidos com a saudação.
Desejamos Boas-Festas e Bom Ano Novo.


Mário Nunes

Como o povo canta o Natal



O nascimento de Jesus é um dos acontecimentos que marca mais profundamente a cultura popular portuguesa. Não esquecendo os grandes presépios que se erguem em quase todas as igrejas, feitos pelas mãos do povo, como fruto da sua imaginária e da sua devoção, ou os autos de Natal, que se representam nos templos e nas praças, a forma cultural mais comum é o canto natalício.
Do Minho ao Algarve, da Madeira aos Açores, não há vila nem aldeia onde, nesta noite santa, o povo não faça ouvir os seus cânticos tradicionais, muitos deles com origem desconhecida e a perder-se na bruma do nosso passado colectivo. De tantos que se cantam, nem sabemos qual é o mais popular, nem qual é o mais antigo.
Na Beira Baixa e no Alto Alentejo, por exemplo, não há quem desconheça este refrão:
Olhei para o céu,
estava estrelado;
vi o Deus Menino,
em palhas deitado.
Em palhas deitado,
em palhas estendido,
filho duma rosa,
dum cravo nascido!
Também na Beira, todos, dos mais velhos aos mais jovens, cantam quadras saborosas como esta:
Ó meu Menino Jesus,
vinde ao meio da igreja,
que eu vos quero adorar
onde toda a gente veja.
Um pouco por todo o lado, em Trás-os-Montes, nas Beiras e na Estremadura, os grupos de crianças e de jovens, nas escolas e nas lições de catequese, entoam:
Alegrem-se os céus e a terra,
cantemos com alegria,
já nasceu o Deus Menino,
Filho da Virgem Maria.
Mais a sul, no Algarve, é costume contar-se a história do nascimento de Jesus com quadras cantadas ao gosto popular:
Linda noite de Natal,
noite de grande alegria,
caminhava S. José
mai-la sagrada Maria.
Bateram a muitas portas,
mas ninguém lhes acudia,
foram dar a uma choupana
onde o boi bento dormia.
Como estas, muitas outras são as canções com que o povo celebra o Natal, afirmando assim a sua fé no mistério da vinda do Filho de Deus, que vem habitar no meio de nós. A cultura e a fé andam aqui, como quase em tudo, de mãos juntas. É, de resto, em sintonia com a fé e a cultura do nosso povo, que a Medalhística Lusatenas edita esta artística medalha de Natal.


A. Jesus Ramos

Natal: mensagem de fraternidade para os homens de boa vontade


Ouvimos dizer a cada passo, e até o escrevemos repetidamente, que, o Natal devia ser todos os dias do ano. O que é certo é que, passada a quadra festiva, esquecemos o desejo e o voto, e é preciso esperar pelo Natal seguinte para que, de novo, nos recordemos desse anseio que habita dentro de cada um. De facto, no coração de cada homem existe o desejo da paz, da alegria e da convivência fraterna de que o Natal é símbolo há cerca de dois mil anos. Nem sempre, porém, o desejo se transforma em actos palpáveis e concretos. Continua, por isso, a ser preciso haver, em cada ano, um 25 de Dezembro, para que se mantenha viva a esperança de que é possível construirmos um mundo onde todos nos sintamos e sejamos verdadeiramente irmãos.
A quadra natalícia é, continua a ser, pelo menos no mundo cristão, uma das que marcam mais profundamente a vida social e familiar. De facto, é esta a quadra em que as famílias procuram reunir-se, em que os amigos permutam saudações, em que os mais abastados se recordam dos que nada têm, em que as pequenas prendas simbolizam uma fraternidade que todos desejavam que se prolongasse pelo ano inteiro.
O mistério da vinda do Filho de Deus
Não pode ignorar-se, porém, que esta quadra assenta numa base essencialmente religiosa. Com efeito, a festa do Natal, mais que o facto histórico do nascimento de Jesus Cristo - cuja data, aliás, se ignora - celebra sobretudo o mistério da vinda ao mundo do Verbo Divino feito homem. Neste sentido, o Natal da Igreja romana tem muita semelhança com a Epifania (festa da aparição ou da manifestação do Filho de Deus) que, desde o século IV, as igrejas orientais celebram a 6 de Janeiro.
Em Roma, centro do cristianismo, a primeira referência escrita à celebração do Natal do Senhor remonta ao ano 336. A data adoptada de 25 de Dezembro relaciona-se com uma outra, a da Encarnação, que, desde o século III, considerações astronómico-simbólicas levavam a fixar em 25 de Março (equinócio da Primavera, no calendário juliano). Por outro lado, o dia 25 de Dezembro (solstício de Inverno, no mesmo calendário) era, em Roma, desde o tempo do imperador Aureliano (274) consagrado ao Natalis Solis Invicti, uma festa romana que celebrava o "renascimento" do Sol. Este facto levaria, naturalmente, a Igreja romana a contrapor-lhe a festa cristã do Natal de Jesus, o verdadeiro "Sol da Justiça". A celebração romana depressa se estendeu a todo o Ocidente, não tardando também a ser inserida nos calendários litúrgicos de quase todas as Igrejas orientais.
Uma Boa-Nova veiculada através da arte
Para além da celebração litúrgica, a partir da Idade Média, a piedade cristã começou a representar artisticamente o nascimento de Cristo. De facto, os presépios, constituídos por figuras esculpidas, têm a sua origem remota na reconstituição feita, em 1223, por S. Francisco de Assis, na aldeia de Greccio. O santo poverello mandou preparar uma manjedoira cheia de feno e, além das figuras do Menino, de Maria e de José, pediu que se colocassem perto um boi e um jumento. Neste cenário celebrou-se a missa de Natal. A descrição deste facto, feita pelo primeiro biógrafo de S. Francisco, deu origem a numerosas representações esculpidas em Itália e no sul de França, donde passaram a outras regiões e, naturalmente, a Portugal.
No século XVIII alastrou, entre nós, o hábito de armar, nas salas das habitações familiares, presépios com figuras de barro ou de madeira. Conhecidos são, sobretudo, os dos escultores Machado de Castro (na foto) e António Ferreira, alguns deles com centenas de figuras. Coimbra, Lisboa, Viseu, Estremoz, Aveiro e Buçaco possuem presépios destes autores, de grande valor artístico. Outros escultores, mesmo alguns nossos contemporâneos, legaram-nos presépios de inegável valia. Recorde-se, apenas a título de exemplo, a monumental representação do conimbricense Cabral Antunes que, durante muitos anos, era colocada em frente da igreja de Santa Cruz, e que a incúria dos responsáveis terá deixado perder.
Também na pintura, na literatura, na medalhística e noutras formas artísticas, o homem exprimiu, através dos séculos, o seu pensamento religioso sobre o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, que, tornando-se humano (Ele foi em tudo igual a nós, excepto no pecado) introduziu a humanidade na esfera do divino. É esta Boa-Nova de salvação, esta mensagem de fraternidade e de paz que o Natal continua a despertar no coração de todos os homens de boa vontade (na foto).

A. Jesus Ramos

Alguns presépios artísticos a visitar na região de Coimbra



Coimbra
Encontra-se patente ao público, na Casa da Cultura, até ao dia 9 de Janeiro, uma mostra/venda de presépios artesanais, em representação de diversas regiões do país, concebidos por artesãos, com recurso a diversas técnicas e materiais.
Os presépios têm uma presença constante em igrejas, conventos e lares particulares. Ainda hoje subsistem montados bons exemplares de presépios, como é o caso do da Igreja de S. José, o da Capela da Senhora do Monte e o da Igreja dos Mártires; desmontados ou apenas com figuras avulsas estão em vários museus, como o Museu da Arte Antiga e o Museu do Azulejo.
No século XIX, o presépio começou a ser objecto da arte popular, caindo em desuso a criação de presépios monumentais.
Actualmente, o costume de armar o presépio, tanto em locais públicos como particulares, ainda se mantém em muitos países europeus. Contudo, com o surgimento da árvore da Natal, no século XX, os presépios, cada vez mais, ocupam um lugar secundário nas tradições natalícias.
A exposição estará patente até 9 de Janeiro, de Segunda a Sexta (das 9h00 às 19h30), ao Sábado (das 13h30 às 19h00), encerrando ao Domingo e feriados.
Outros presépios podem ser contemplados na cidade, nomeadamente o da Praça 8 de Maio, obra do escultor Cabral Antunes, alvo de vários actos de vandalismo e o presépio dos Bombeiros Sapadores, junto ao quartel.

Montemor-o-Velho
Na igreja da Misericórdia de Montemor-o-Velho está patente até 6 de Janeiro, um grande presépio animado que pode ser visitado entre as 9 e as 21 horas. A iniciativa é da Junta de Freguesia de Montemor-o-Velho, que vai já na terceira edição e que, através de mecanismos eléctricos, vai transformar a paisagem, simulando a noite e o dia, dando vida aos rebanhos que passam em frente à grua, às figuras representativas das várias profissões e revelando o murmúrio do rio e dos moinhos, em constante labuta.

Penela
O maior presépio animado do país dá vida ao castelo de Penela que, até 4 de Janeiro de 2009, é palco do nascimento de Jesus, num espaço de 350 metros quadrados e 90 bonecos. Mas para dar mais colorido, a companhia de teatro Vivarte volta a ser a responsável pela recriação do quotidiano hebraico do tempo de Jesus, onde não faltam os curtidores de peles, queijeiros ovinos e caprinos, salga de peixe, secagem de carne, marcenaria e outras actividades. Há ainda representações teatrais, núcleos de animação, a play zone para os mais novos e Aida a Tree Parade, que povoa o caminho até ao castelo. Os visitantes podem ainda fazer o roteiro dos presépios e dar um salto ao Espinhal, onde se pode contemplar também um grande presépio.
Pampilhosa da Serra
Pode ser apreciado na sede de Agrupamento de Escolas da Pampilhosa da Serra, uma exposição de presépios elaborados em materiais diversos, desde papel reciclado, outros desperdícios, folhas da espiga de milho, pinha, flores, cartolinas, entre outros para dar vida às personagens do presépio.
O Agrupamento de Escolas da Pampilhosa da Serra participa com presépios elaborados pelo 1.º, 3.º (turmas A e B) e 4.º anos do primeiro ciclo, e pelo 12.º ano. Mas há trabalhos feitos pelas crianças que frequentam o Jardim de Infância da Pampilhosa da Serra, a Casa da Criança da Santa Casa da Misericórdia, a Educação Pré-Escolar Itinerante do pólo da Malhada do Rei e a Educação Pré-Escolar Itinerante do Pré-Escolar do pólo de Fajão, além do Jardim-de-Infância da Associação de Solidariedade Social de Dornelas do Zêzerre, a Associação Trilhos e o Gabinete de Acção Social da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra.
A mostra pode ser apreciada até ao dia 21 de Dezembro.


Miguel Cotrim

Paróquia de S. João Baptista do Vale das Flores


- o entusiasmo cresce!

A Comissão da Nova Paróquia de S. João Baptista entusiasmada com a edificação da futura igreja, para já em pré-fabicado, que estará pronta dentro de um a dois meses, vai realizar no dia 10 de Janeiro de 2009, um almoço, de forma a angariar dinheiro para a obra. O almoço será na escola Quinta das Flores. O custo de cada almoço é de 10 euros para adultos, e de cinco para crianças dos 5 aos 12 anos.
É uma oportunidade para poder ajudar esta nova comunidade paroquial que pretende crescer na zona da Portela.

Frei Gonçalo Figueiredo fala do nascimento de Jesus como “grande presente para a humanidade”


Em tempos marcados por uma visão globalizada do mundo, onde impera a cultura de massas, o frei Gonçalo Figueiredo acredita que “a nota dominante do Natal sugere caminharmos com os pés bem assentes na terra, ou seja, com atenção ao próximo, à pessoa que está ao meu lado, alguém em concreto e, simultaneamente, com a abertura para Cristo, o céu e Deus como fronteira última”.
Aos microfones da Rádio Regional do Centro (RRC), a propósito da época festiva que vivemos, o frei Gonçalo argumentou que “apesar do Natal ser, antes de mais, vida e testemunho de vida e fé, é também um acontecimento de alguém que nos quer com os pés na terra mas com os olhos no céu”, ou seja, embora sendo a consequência do mistério da encarnação, consubstanciado no nascimento de Cristo, “é um momento dedicado à atenção ao próximo, à pessoa”.
No programa que foi transmitido no passado domingo pela RRC, frei Gonçalo Figueiredo afirma que a época natalícia “sugere uma crítica a um tempo de massas e de modas, da solidão anónima e da falta de sentido crítico e solidário”, mas abre portas a “um mundo de possibilidades, de justiça e fraternidade, de vida para além da vida, ou seja, do reino de Deus”.
Falar de Jesus Cristo e do seu nascimento implica, segundo o franciscano, aceitar um acontecimento concreto que mudou o mundo, independentemente das interpretações que possam ser dadas nas escrituras. Como tal, o frei Gonçalo reconhece no Natal “não apenas e simplesmente o nascimento de uma criança mas sim a encarnação de algo que estava antes da criação do mundo, ou seja, a prova de que há algo mais para além da vida terrena, do hoje em que cada um vive, do presente”. O grande choque que o Natal sugere, no íntimo de cada um, “é, apesar de estarmos demasiado circunscritos à existência entre a vida e a morte, aceitar que há mais para além disso, abrindo-nos as portas do eterno infinito de Deus”.
Terá o Natal perdido o seu real significado, cedendo o lugar de introspecção e partilha com o próximo ao consumismo desenfreado? A questão merece do frei franciscano uma resposta bem humorada que convida à reflexão: “A culpa é dos Reis Magos, eles é que levaram o ouro, incenso e mirra. Contudo, perante o nascimento de Jesus Cristo, um acontecimento de tal forma extraordinário que responde a interrogações sobre a razão da vida, a oferenda é um impulso natural e compreensível”.
Contudo, se é aceitável que se procure dar ao outro o melhor que temos para oferecer, assinalando em festa o nascimento de Cristo, o problema surge quando se perde a intenção e consubstanciamos todo o significado da época e do Natal na prenda que se oferece. Frei Gonçalo sustenta que “a ideia a reter é que o nascimento de Jesus é o grande presente e, sobretudo, é o presente de Deus, é o grande presente, é a dádiva em si”.
Época festiva onde a família desempenha um papel central, o Natal merece também, neste aspecto, uma reflexão do franciscano: “A família é o berço, é aquele aconchego necessário para desenvolvermos pessoas. Se é a família que permite pensarmos e criarmos um futuro com pessoas formadas, com capacidade de pensar e de se respeitar, com amadurecimento intelectual e afectivo, é fundamental apostarmos nessa instituição. Caso contrário, daqui a um tempo deixaremos de ter gente com laços afectivos, com consciência fraterna”.
Aludindo ao mistério do Natal, em que Deus que dá o seu filho, o frei Gonçalo Figueiredo não tem dúvidas em afirmar que a única forma de correspondermos a esse acto “é com gestos de amor ao próximo”, afinal, é esse o espírito do Natal.

Isabel Jonet confia no regulamento do mercado para resolver a crise alimentar


“A subida de preços dos alimentos está a assumir proporções dramáticas, que geram fome no mundo, e tem sido origem de um conjunto de revoltas sociais em diversos países”, como tem acontecido nos últimos dias na Grécia. A afirmação é de Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares. Convidada do almoço “Quintas na Quinta”, promovido pela Fundação Inês de Castro, a responsável reparou que, “com grandes sectores da população mundial abaixo do limiar da pobreza”, a subida de preços registada no primeiro semestre deste ano é “devastadora”. E mesmo a ajuda alimentar, “constrangida por orçamentos inelásticos”, foi reduzida em volume.
As más colheitas na Austrália e nos Estados Unidos, o aumento da procura alimentar e a alteração das dietas tradicionais indiana e chinesa, a tendência para a monocultura, a destruição da biodiversidade na agricultura e a erosão dos recursos genéticos foram algumas das causas apontadas por Isabel Jonet para a subida de preços, acrescentando o contributo importante da subida dos preços dos combustíveis e da energia, as alterações climáticas, a especulação dos mercados de “commodities agrícolas” e mesmo o crescimento da população mundial.
Licenciada em Economia, a responsável dos Bancos Alimentares afasta, ainda assim, “uma visão catastrófica” e acredita que “o funcionamento do mercado contribuirá para a resolução de uma parte destes problemas”. Isabel Jonet, que trabalhou no Comité Económico e Social das Comunidades Europeias em Bruxelas, fez um paralelo com a crise energética – cuja alta de preços “não será tão evidente” quanto parecia – e antecipou futuro idêntico para a crise alimentar. “Os agricultores em todo o mundo não deixarão de se afadigar, de forma criativa, na procura de rápida, eficiente e barata resposta às crescentes necessidades de alimentos”, sustentou.
Não obstante, a economista apontou o papel essencial da mudança de políticas e dos Estados, “como reguladores de mecanismos de distribuição que geram diferenças inadmissíveis entre preço na produção e no consumo” e ainda reorientando apoios aos países mais pobres.

Bancos Alimentares Contra a Fome
“Os bancos alimentares existem não para dar de comer a quem tem fome, mas para lutar contra o desperdício, é isso que está na sua origem e que nos move diariamente: procurar onde sobra para levar onde falta”, declarou Isabel Jonet, a propósito do trabalho dos Bancos Alimentares Contra a Fome. A responsável quis esclarecer que o voluntariado destas associações, mais mediatizado por altura das campanhas de recolha – em Maio e Dezembro – se desenvolve durante todo o ano, com acções junto da indústria agro-alimentar, de mercados abastecedores e de grandes cadeiras de distribuição.
“Nas sociedades actuais existem grandes excedentes de produtos, que são retirados do mercado por razões inexplicáveis do ponto de vista social, mas totalmente explicáveis do ponto de vista industrial e comercial”, explicou a economista, dando o exemplo de fruta enterrada ou peixe deitado ao mar, para não baixar os preços. São estes bens que os bancos alimentares procuram recuperar e distribuir.
Já as campanhas de recolha nacional – “as maiores acções organizadas de voluntariado em Portugal no pós-guerra, que envolvem 20 mil pessoas” – servem sobretudo para recolher produtos relativamente aos quais não há excedente de produção (o azeite, as conservas, as massas, etc.). Por dia, a nível nacional, são distribuídas pelos bancos alimentares 80 toneladas de alimentos, destinadas a 245 mil pessoas (2,5 por cento da população portuguesa), através de 1.616 instituições.
Freitas do Amaral, em Janeiro, e Júlio Machado Vaz, em Fevereiro, serão os próximos convidados da iniciativa “Quintas na Quinta”, que passará a realizar-se à hora de jantar.

425 toneladas de alimentos distribuídas em Coimbra
Cada um dos 14 bancos alimentares do país – em breve serão 15 – existe de forma autónoma, fazendo a sua recolha e distribuição de bens localmente. O BACF de Coimbra também “aproveita os desperdícios da indústria agro-alimentar para os fazer chegar às mesas de quem mais precisa”, mas nem sempre é suficiente, conforme revelou o seu presidente, José de Sousa.
No ano passado o BACF de Coimbra distribuiu 425 toneladas de bens alimentares, sendo que mais de metade (54 por cento) foram conseguidas através duas campanhas anuais de recolha; os excedentes da indústria alimentar apenas significaram 36 por cento e 10 por cento dos bens resultaram da actividade de recolha em escolas e empresas, revelou o responsável. Já este ano, a campanha de recolha de alimentos realizada em Novembro/ Dezembro, registou um crescimento de 5,8 por cento.
O NIB do Banco Alimentar de Coimbra é o 0033 000005281083207 74, para as pessoas que queiram apoiar financeiramente.

Novo projecto cria hortas solidárias nas prisões

O Banco Alimentar Contra a Fome vai lançar, no próximo dia 30 de Dezembro, um projecto em articulação com os vários estabelecimentos prisionais do país. As “Hortas Solidárias”, anunciou Isabel Jonet, serão não só uma boa forma de ocupar os reclusos – e de incentivar a sua reinserção –, como também uma ajuda para a causa dos bancos alimentares. A maior parte das prisões têm terrenos que podem servir para a agricultura e os bens alimentares podem ser distribuídos pelo BACF a quem mais precisa.