Correio de Coimbra

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29 de fevereiro de 2008

ESMOLA, UM GESTO DEGRADANTE OU LIBERTADOR?

José Dias da Silva

Na Mensagem quaresmal deste ano, Bento XVI procura recuperar o sentido original da esmola. Bem preciso é, pois a esmola é mais uma dessas palavras ou gestos que fomos deixando degradar ao longo dos séculos. E a lista, se não é longa em quantidade, é forte em conteúdo, como dois ou três exemplos bastarão para demonstrar: próximo, uma das concepções radicais da revelação cristã, é uma palavra a minimizar pois está ligada a partilha, atenção ao outro, exigência de amor oblativo, coisas perigosíssimas para quem quer levar uma vida sossegadinha; caridade, uma atitude estruturante do ser cristão, reduziu-se a uma triste "esmolinha pró ceguinho"; o ofertório da missa, inicialmente dedicado a evitar que houvesse pobres na comunidade, esgota-se (e parece que já não chega) no culto, nos seus ministros e sobretudo nos seus edifícios; o lava-pés, um gesto forte para recordar a exigência do amor e do serviço aos mais pobres, transformou-se num ritual "folclórico" da semana santa; e até o Pai-Nosso, esta oração divina e síntese profunda do que é ser cristão, é hoje, para a grande maioria dos cristãos, uma espécie de "cassete" que repetimos sem reparar no que dizemos nem sobretudo no que nos comprometemos: repare-se na violência do "perdoa-nos como nós perdoamos". O que aconteceria se Deus levasse a sério este nosso pedido!?
Para Bento XVI a esmola é "uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos" e um dos "meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo".
Não se trata nem de um exercício de filantropia ou de auto-satisfação, pois "se, ao praticarmos uma boa acção, não tivermos como finalidade a glória de Deus e o verdadeiro bem dos irmãos, mas visarmos antes uma compensação de interesse pessoal ou simplesmente de louvor, colocamo-nos fora da lógica evangélica" e recusamos perceber a caridade como "virtude teologal que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que, ao morrer na cruz, Se entregou totalmente por nós".
É, pois necessário que o nosso "olhar" sobre o homem se assemelhe ao olhar misericordioso de Cristo, movido pela compaixão dos que sofrem. Aliás, a palavra esmola vem de uma palavra grega que significa "compaixão, misericórdia". Por isso, como dizia o secretário do Conselho Pontifício «Cor Unum», «os terríveis desafios da pobreza de grande parte da humanidade, da indiferença e do fechar-se no próprio egoísmo aparecem como um contraste intolerável frente ao "olhar" de Cristo. O jejum e a esmola, que junto com a oração, a Igreja propõe de modo especial no período da Quaresma, são uma ocasião propícia para nos conformarmos com esse "olhar"».
A esmola era efectivamente para os cristãos dos primeiros séculos algo essencial. Isto era logo evidente, pois, como recorda o papa, a esmola perdoa os pecados. Esta afirmação aparece em quase todos os chamados "Padres da Igreja" (séc. II a VIII), embora, pelo menos um deles, acrescente: "A esmola apaga os pecados passados, mas não os apaga se pecas confiando que, por meio dela, te serão perdoados". Devo confessar a estranheza com que li a primeira vez um texto de Orígenes que, ao enumerar as "sete maneiras de perdoar pecados" (o Baptismo; o sofrimento do martírio; a esmola; o perdoar os pecados aos nossos irmãos; a conversão de um pecador; a abundância da caridade; a penitência) não referia a passagem do Evangelho, tão citada nos séculos futuros: "Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu" (Mt 16,19).
Podia ainda acrescentar outros rasgados elogios: a esmola converte-nos em sacerdotes de Cristo, é a arte mais elevada, é a maior das virtudes. E, afirmação curiosa para a época, é até superior à virgindade, porque "a virgindade sem a esmola não foi capaz de levar as virgens loucas até à própria porta da câmara nupcial; a esmola, contudo, sem a virgindade, leva os que a praticam, entre grandes loas, até ao reino que lhes está preparado desde a criação do mundo".
Mas não podia terminar sem fazer uma referência aos quantitativos propostos pelos Padres. Embora muitos deixem isso ao critério de cada um, São João Crisóstomo fala em… 10%: "Pois não é muito o que peço: apenas o que davam os judeus, que eram pouco sensatos e estavam cheios de males, isso devemos fazer nós, que aguardamos o reino dos céus. Isto não é uma lei nem proíbo que se dê mais; o que não me parece justo é que se dê menos do que a décima parte. Fazei isto não só quando vendeis, mas também quando comprais". S.to Agostinho, embora fale várias vezes nos 10%, vai mais longe: "devemos superar a justiça dos escribas e dos fariseus (Mt 5,20); assim, como estes davam o dízimo, nós devemos dar metade dos próprios bens, como Zaqueu (Lc 19,18), ou duplicar o dízimo e assim superar os fariseus".
Como parece pálida a reprimenda do Papa aos cristãos (alguém deu por este puxão de orelhas?): "Este apelo à partilha ressoa, com maior eloquência, nos países cuja população é composta, na sua maioria, por cristãos, porque é ainda mais grave a sua responsabilidade face às multidões que penam na indigência e no abandono. Socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade".
Realmente nós somos de uma outra religião, muito afastada da dos Padres da Igreja!

Flores para S. Tomé


Mário Nunes*

Instalados algumas horas no paraíso terreal que é a nossa terra, onde a paz e a tranquilidade que ali se vivem, sustentam valores únicos que os homens ambicionam, e com a Natureza em plena pujança a revitalizar as árvores, as plantas, as aves, os animais e os insectos, prendemo-nos extasiados perante a beleza dos lírios roxos e brancos que festejam a chegada, brevemente, da Primavera. Nesta "prisão" encantadora do pensamento, que olha o extraordinário e belo cenário natural que se projecta na nossa frente e ao redor, transportamo-nos para a homilia de hoje, na Catedral Sé Nova, e para a sugestão enviada do altar pelo Cónego Sertório Martins. Sugestão que veio ao encontro da conversa que tivéramos, a passada semana, com o Cónego João Castelhano, quando nos explicou e ao Eng.º João Rebelo o conteúdo do diálogo havido com as crianças e os pais: poupem um euro por semana e contribuam com esse voluntário "sacrifício", para a felicidade de adolescentes e jovens de S. Tomé e Príncipe. Colaborem na iniciativa do pároco ali residente e oriundo da Diocese, que quer dar formação e futuro às crianças daquele país.
Após a conclusão do 1.º ciclo do ensino básico aquelas criaturas de Deus ficam entregues à sua sorte, porque não possuem apoios para estudar ou trabalhar. Acaba-se a escola, entram num ciclo ocioso, de desmoralização e desmobilização para enfrentar a vida, porque não existem estruturas e/ou instituições que as acompanhem.
Por isso, aquele sacerdote apercebeu-se que, sem ajuda externa, eterniza-se uma fase sequencial e continuada da vivência dos São Tomenses. Não continuam os estudos. O futuro promove, inquestionavelmente, a ociosidade – não têm possibilidade de ir mais além – e com ela a "calamidade" que resulta na pobreza, na miséria, na prostituição, no passar o tempo sem quaisquer horizontes de amanhã. Assim, se vai processando uma existência penosa, que a natureza pródiga suaviza, oferecendo frutos espontâneos que dão alguma energia ao estômago e possibilitam a continuação do ciclo ancestral, que é forçoso interromper.
O sacerdote apela à generosidade dos conimbricenses. E, quando se malbarata tanto bem e dinheiro, quando podemos, com um mínimo de esforço, partilhar uma boa e grande acção comunitária, vimos lembrar aquilo que é habitual sugerir: evite comprar um maço de tabaco por mês; beba menos um café diário; elimine, por uma semana, a compra de um bolo. Estas migalhas somadas correspondem a importante ajuda. E com esse pecúlio acumulado o nosso compatriota sacerdote consegue manter operacional a escola, para além da ex-4.ª classe, prodigalizando novas actividades escolares aos adolescentes e jovens, riquezas que lhes vão trazer oportunidades futuras, diferentes e, naturalmente, contribuir para lhes proporcionar outra qualidade de vida e apoiar o desenvolvimento de São Tomé e Príncipe.
As informações suplementares a este projecto podem ser recolhidas na Catedral da Sé Nova e/ou na Igreja de São José. Por isso, colabore nesta cruzada humanitária, educacional e cultural.

*(Vereador da Cultura
Câmara Municipal de Coimbra)

PEGADAS NA AREIA


Teresa Martins

«Quando viste apenas um par de pegadas na areia, eram as minhas. Foi exactamente aí que peguei em ti ao colo…» Assim nos diz a poesia, de autor, para mim, desconhecido. Sim. «Ele está no meio de nós.» Afirmamo-lo, nem sempre com uma fé tão adulta e firme como devíamos…, porque tudo depende da grandeza ou pequenez de nós próprios e daquilo que fizemos ou fizeram de nós… Ou, talvez e em primeiro lugar, daquilo que nós deixámos que fizessem de nós.
Acabada a leitura de um dos dois volumes mais recentemente publicados, em co-autoria, pelo Padre Vasco Pinto Magalhães, SJ, e Dr. Henrique Manuel S. Pereira, «Pensar a Vida» e «Pensar a Morte», uma leitura que foi acompanhada por momentos de muita interioridade, senti-me profundamente grata, até porque o momento que atravesso é de muita carência …
No rosto da última folha do livro, regista-se o (estranho?) testemunho de uma mãe que, tendo perdido um filho, afirma nada ter perdido, mas ter ganho, porque ganhou um anjo!… «Não perdi, ganhei!» Este testemunho exigiu-me uma grande paragem, e a análise que pelo autor lhe foi feita prestou-me, a mim, uma ajuda preciosa. «Esta senhora começou a descobrir aqui uma missão… Nasceu qualquer coisa naquela dor, a outro nível…» Sim… Não pode ser por acaso que, na vida e no viver dos grandes santos o mais evidente, e mais marcante, seja o sofrimento… O sofrimento é fonte de crescimento, só que «o caminho faz-se caminhando», e não é fácil!…
A grande e principal mensagem que Marie de Hennezel, psicóloga junto de doentes terminais numa clínica de Paris, nos deixa no maravilhoso livro da sua autoria, «Diálogo com a Morte», é a seguinte: «Os que vão morrer ensinam-nos a viver.» E confirma-o com tudo o que nele nos diz… Estou a recordar, por exemplo, a jovem que lhe confessa um medo tremendo de morrer, porque "não sabe como é que se morre", pedindo: «Por favor, ajuda-me!» E a ajuda foi-lhe prestada através de um simples gesto de carinho, muita naturalidade, e a grande e importante certeza de que, dentro de nós há algo que o sabe… E nos ensina. E nos pega ao colo, deixando, na areia, somente as suas pegadas… A partir daí, esquecemo-nos de nós. Pensamos nos outros!…
E eu passo as horas a folhear recordações… Umas inteiramente felizes outras nem por isso, e algumas dolorosas! É por isso que hoje, sentindo necessidade de comunicar com os outros (e esta necessidade, com o passar dos anos, tornou-se vício), não posso deixar de ter como tema o sofrimento de um dos meus filhos, um sofrimento que, no início, também partilhei convosco, quando pedi as vossas orações. Posso dizer-vos hoje que elas foram aceites, não porque a cura se concretizasse, mas porque, apesar de todo o sofrimento e embora inteiramente dentro da situação, continua numa verticalidade e humildade comovedoras. Em perfeita paz de espírito… Crente numa vida para além desta, e uma vida que o não assusta…
Estou tão grata a Deus, que só me devia sentir honrada e feliz…

Para quando um busto de Pai Américo em Coimbra?


A. Borges de Carvalho

E agora quem vem repor a verdade e a justiça que alguns teimaram em romper e denegrir até aos altos? Quem vem gritar as falsas atoardas que se apregoaram sobre a casa do Gaiato? Será a notícia do canto fundeiro dos jornais (a televisão não sei o que disse...) anunciando que foi arquivado por "fraqueza de indícios" o processo sobre abusos na Casa do Gaiato, que apaga as gritarias volumosas de certa imprensa?
Os mundanos actuam assim e satisfazem os seus instintos maldizentes rebuscando ou forjando notícias escandalosas. Os Padres da Rua mais uma vez tiveram que se apoiar na Palavra que brilhou nas trevas: "Eu venci o mundo. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vos".
Aquém é que não custa ver-se metido, injustamente, dentro do arame farpado? (A Casa do Gaiato que Pai Américo apelidou de "porta Aberta"!).
Para lá da sentença dos tribunais há a sentença da história, proclamada pelo povo simples e humilde que a escreve sem engano. O povo sabe onde é que ainda se aprende a educação e o trabalho
Entendam os senhores e senhoras que deram largas à sua paranóia que os catecismos de Pai Américo são mais complexos e exigentes e diferentes daqueles que andam a ler algumas cabeças ocas e tenebrosas da nossa praça. Pai Américo andou muito tempo à procura do Divino, e essa procura séria, passou necessariamente pela liberdade de amar (educar é amar!) e descobriu então que ter Fé é interrogar livremente o imenso mistério de Deus e daí partir para adoptar filhos diferentes. Aqui é que está.
Porque a Humanidade como ele escreveu, tem a suas fraquezas, mas não é massa falida.
Coimbra que foi berço da Obra da Rua, sentindo um dia, a tristeza pela injustiça que alguns perpetraram conta a obra de um verdadeiro filho inocente e heróico há-de acordar para entronizar numa praça decente a figura do Padre Américo. Ele foi a voz que se levantou a favor dos filhos de ninguém protelando os cobardes e os tímidos que têm pecado contra a inteligência e contra a verdade, por comodismo ou bajulação.
"Ai Porto, Porto, quão tarde te conheci"-exclamou um dia Pai Américo!...
A gente quando começa a comparar Coimbra com o Porto desabafa tristeza. O Porto é Porto e Coimbra nas suas tamanquinhas vaidosas, hipercrítica, parece que mirrou na generosidade. Será verdade? Talvez não. Coimbra nunca fechou as portas aos Padres da Rua e aos seus gaiatos. Cafés e casas particulares acolhiam os vendedores do jornal e pagavam-no com dinheiro e sorrisos. Pois bem que desperte agora para erguer um busto condigno ao bondoso recoveiro dos pobres. Já é tempo!

27 de fevereiro de 2008

Processo da beatificação da Irmã Lúcia



O anúncio da possível abertura do processo de beatificação da carmelita de Coimbra encheu de alegria os fiéis da cidade e sobretudo a comunidade das religiosas de Santa Teresa. O Rádio Clube de Coimbra e o Correio conversou com o cónego João Lavrador, capelão do Carmelo, que afirmou:
"Agora falta o milagre"

Cónego João Lavrador em entrevista à Rádio Clube de Coimbra e ao Correio de Coimbra
Para a beatificação da Irmã Lúcia
falta agora (também) o milagre
O Cardeal Saraiva Martins foi recentemente, portador de uma mensagem. Bento XVI aceitou reduzir os cinco anos necessários após a morte, para início do processo de beatificação da Irmã Lúcia, o que só tinha acontecido com Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II.O anúncio foi recebido com alegria por parte da diocese e essencialmente pelas carmelitas de Santa Teresa.
Procuramos saber junto do capelão do Carmelo, Cónego João Lavrador, as consequências e o desenrolar de todo este processo.


. Paulo Alexandre Santos
. Miguel Cotrim


Como reagiu a diocese perante o anúncio do Cardeal Saraiva Martins?
Os cristãos da diocese, e essencialmente da cidade, devem sentir que há um conjunto de sinais que manifestam, um certo apreço do Vaticano pela causa da Irmã Lúcia…

Um processo que não é inédito? Já os processos de beatificação de João Paulo II e da Teresa de Calcutá também foram antecipados.
Isto é, sem dúvida, um sinal de alguma benevolência, mas por outro lado, toda envolvência das aparições de Fátima, assim como a Irmã Lúcia e o Carmelo têm em ordem a Santa Sé. A presença da sua eminência, o Cardeal Saraiva Martins no meio de nós, tem haver em primeiro lugar, pelo facto de ser português. Já veio várias vezes ao Carmelo e para ele foi uma alegria muito grande poder anunciar a abertura do processo da Irmã Lúcia. Recorde-se que ele encontrou-se várias vezes, em vida, com a vidente… O facto de ele ter sido o portador deste anúncio, foi para nós, diocese de Coimbra, um grande privilégio.


O cardeal Saraiva Martins referia que tinha chegado de todas as partes do mundo, pedidos para antecipar o processo de beatificação da Irmã Lúcia. Era uma figura reconhecida?
Não podia ser de outra maneira. A decisão não podia ser unicamente a partir do sentimento português. Esta causa de beatificação, como qualquer outra, exige uma responsabilidade e exigência muito grande por parte da Igreja. O que quer dizer, que normalmente, apenas se despensa, do tempo canónico para começar o processo de beatificação ou de canonização, a personalidades que durante as suas vidas, já manifestaram, a nível público, um grau de santidade, que a Igreja escuta e observa a partir dos fiéis.

O facto do Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos ser português, teve alguma influência na antecipação do processo?
Não podemos ficar alheios a isso. Sendo ele português, oriundo da diocese da Guarda, (até porque o nosso bispo também é da diocese da Guarda), encontraram-se várias vezes para falar do assunto. A linguagem e os sentimentos são os mesmos. É claro que isto teve alguma influência. Não podemos esquecer que a Irmã Lúcia esteve muito ligada a João Paulo II. Havia uma ligação muito próxima, e isso manifestou-se, quando ela adoeceu, uns dias antes de ela morrer. Recebeu uma mensagem de João Paulo II, onde ele a reconfortava com a sua palavra… Joseph Ratzinger, hoje actual Papa Bento XVI esteve também no Carmelo, em 1996, onde conversou com a Irmã Lúcia. Na altura era cardeal e já demonstrava interesse pela causa da última vidente de Fátima.

Em três de anos de pontificado, Bento XVI, já fez mais beatificações que o seu antecessor. Como explica isto?
Eu também fiquei surpreendido com essa notícia. Até, porque o seu pontificado é relativamente recente. Ele iniciou vários processos há pouco tempo, de "grupos", como foi o caso aqui ao lado, de Espanha, sobre os mártires da guerra civil. Só aí são largas centenas de mártires. Eu penso que não é pela quantidade de actos solenes de beatificações, mas sim pelo número de figuras que se envolveram em cada acto. E estão mais alguns, como é o caso dos mártires do Vietname, da Correia…

O documento, com data de 3 de Fevereiro, revela que a decisão foi tomada após uma audiência particular com o cardeal Saraiva Martins, no dia 17 de Dezembro de 2007. Porquê este compasso de espera na revelação deste processo?
Normalmente a Igreja tem muito a coincidência de datas. As datas são significativas. De facto, o pedido foi analisado nessa data… Mas o ser apreciado, muitas vezes, não quer dizer que a decisão seja imediatamente logo dada. O Papa tem sempre a última palavra. Se aceita ou não o pedido que lhe foi dirigido. Estando próxima da data de aniversário da sua morte, é muito natural, que a Igreja esperasse para dar a notícia.
Para além do anúncio, foi entregue o decreto papal ao Bispo de Coimbra, que permite a iniciação de todo o processo…

Já foram revelados o postulador e o vice-postulador?
Isto também ajuda a entender o carinho que o Santo Padre tem por Coimbra, pelo Carmelo e pela Irmã Lúcia. De facto, são dois actos diferentes, um é anunciar a antecipação do processo, outro, é o decreto que serve para iniciar as investigações. Sua eminência, o Cardeal Saraiva Martins fez coincidir as duas coisas. Os trâmites normais deste processo, é nomear um postulador e um vice-postulador. Normalmente, o postulador está em Roma, conduz a partir daí o processo, faz a coordenação entre o vice-postulador, que está no terreno, neste caso em Coimbra, com a Congregação para a Causa dos Santos, o prefeito Cardeal Saraiva Martins. Quanto a nomes, ainda não lhe sei dizer porque ainda não foram nomeados pelo senhor Bispo. Em principio não serei eu o vice-postulador, porque não convém que esteja uma pessoa tão ligada ao Carmelo. Há depois um promotor da Causa, que irá vigiar o processo. Depois há a nomeação do tribunal próprio para a causa que irá julgar todos os momentos deste processo.


Quanto tempo pode levar até à sua conclusão?
Não sabemos. Há outro problema que nos escapa, e só esse pertence a Deus, que é o milagre. Aí não podemos dizer quando isso acontecerá…


È mais fácil esta beatificação, pelo facto de já estar consumada dos outros pastorinhos?
Não. Uma coisa não tem a ver com a outra. Vamos supor que Deus através da sua serva Irmã Lúcia no dá um sinal. Porque um milagre é um sinal. Se isso não acontecer vai criar-nos alguns problemas. Por isso, que o início de qualquer processo, é sempre um apelo à comunidade cristã que na sua oração implore junto de Deus esse sinal.


Quer dizer que este processo pode eventualmente ser chumbado?
Claro. Não é por se iniciar um processo que se vai poder conclui-lo. Temos alguns processos de beatificação, até mesmo de portugueses, que já estão há séculos para serem concluídos, como é o caso do beato Nuno… O Padre Américo também foi iniciado há uns anos atrás e ainda está a espera do sinal…
V

ai ser um trabalho muito árduo, devido a grande quantidade de documentação, nomeadamente as cartas da Irmã Lúcia…
Eu penso que não será necessário analisar tudo. Temos que fazer uma selecção para ver aquilo que interessa…Isso vai ser tarefa do vice-postulador, e irá levar algum tempo como é natural.
Conviveu de perto com a Irmã Lúcia… Como era ela? Qual era o tema das vossas conversas?
É uma experiência restrita porque a minha convivência com as irmãs é um pouco mais privilegiada pelo facto de celebrar todos os dias com elas. Apesar de viverem enclausuradas, há momentos durante o ano em que podemos falar, como é o caso do Natal, da Páscoa, respeitando, como é evidente o regime de clausura. Quando se trata da administração de sacramentos, como foi o caso da Irmã Lúcia, tive o privilégio de estar mais perto dela, nos últimos dias antes da sua morte. Quando os senhores cardeais vêm visitar as irmãs, aí também eu posso entrar e conviver com as irmãs.
A minha convivência com a Irmã Lúcia, foi no sentido de procurar, encontrar em primeiro lugar, uma irmã muito igual, às outras todas. A sua ocupação no dia-a-dia era muito parecida às outras irmãs. Eu digo parecida, porque não era bem iguais, porque as outras irmãs respeitavam o facto de ela ter que responder a grande quantidade de correspondência que diariamente recebia. E, nos últimos tempos, ela também já estava um pouco limitada por causa da idade. Mas, no geral, ela tinha as suas tarefas normais… Ora, O que mais me impressionava era a sua perspicácia, a forma como ela atingia os cardeais com determinadas questões…Ela penetrava no pensamento e tinha uma lucidez muito grande sobre determinados temas da vida da Igreja. Normalmente, ela perguntava sempre pelo Santo Padre e procurava estar sempre a par dos problemas que a Igreja enfrentava. Por outro lado, aquilo que mais apreciava nela, era o seu sentido de humor. Procurava responder sempre com uma "piada" de forma a alegrar o ambiente. Era uma pessoa comum, igual a tantas outras. Procurava sempre o bem, como qualquer carmelita.


Seria um justo reconhecimento, esta beatificação?
Eu julgo que sim. Não só por aquilo que foi a sua vida, mas por ser portadora de uma mensagem que partilhou com o mundo, através da mensagem de Fátima.


Observação:

Para ouvir a entrevista, basta aceder ao www.rcp-coimbra.blogspot.com.
Todas as quinta-feiras, pelas 15,30 horas, o Rádio Clube Português da delegação de Coimbra (98.4) transmite um espaço dedicado à Igreja diocesana, conduzido pelos jornalistas Paulo Alexandre Santos e Miguel Cotrim.

26 de fevereiro de 2008

Dois novos padres e um diácono para a Diocese de Coimbra


No próximo domingo, pelas 16 horas, na Sé Nova, D. Albino Cleto preside à Eucaristia, conferindo a ordenação presbiteral a Filipe Dinis (do Corticeiro de Cima) e a Paulo Simões (de Penacova); e a ordenação diaconal ao finalista de Teologia João Fernandes (foto ao lado), natural de Almagreira. A missa nova do Padre Dinis será no Corticeiro de Cima, no dia 8 de Março e a do Padre Paulo em Penacova, no dia 9, ambas pelas 16 horas.

25 de fevereiro de 2008

Senhor dos Passos no Louriçal


No âmbito das comemorações dos 400 anos da Capela da Misericórdia do Louriçal (1608-2008), a Paróquia do Louriçal e a Sociedade Filarmónica Louriçalense, em colaboração com diversas entidades da freguesia, pretende organizar a cerimónia da Procissão do Senhor dos Passos, com o objectivo de recriar uma cerimónia religiosa cheia de simbolismo. Esta procissão irá ter lugar no próximo dia 9 de Março, na Vila do Louriçal. O percurso irá passar pelo Largo do Prior Campos, Rua do Convento, Rua Madre Maria do Lado, Av. Ernesto Domingues Tavares, Praça Joaquim da Silva Cardoso, Rua do Recolhimento e Rua da Misericórdia e será composta por quatro grandes momentos (Sermão do Pretório (Igreja Matriz), Cantar de Verónica (igreja do Convento), Sermão do Encontro (Praça Joaquim da Silva Cardoso) e Sermão do Calvário (Capela da Misericórdia).

Retiro quaresmal para casais

O Movimento por um Lar Cristão (MLC) e as Cooperadoras da Família promovem no próximo dia 9 de Março, das 9h às 17h30 um retiro quaresmal, nas instalações da Obra de Santa Zita (Rua Gil Vicente, nº 2, em Coimbra). O Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar associa-se a esta iniciativa, e convida todos os casais interessados em aprofundar a sua fé neste tempo propício da Quaresma para participarem, uma vez que o retiro é aberto a todos. Quem tem filhos pequenos pode levá-los pois existe um serviço de acolhimento a crianças. Será conferente o Sr. D. Augusto César, bispo emérito de Portalegre e Castelo Branco. As inscrições podem ser feitas através dos seguintes contactos telefónicos: 239701527 / 964394622/ 963052046.

Paróquia de S. José homenageia o Padre Aníbal Dias Pacheco


Integrada nas Comemorações dos 75 anos, Bodas de Diamante, da Paróquia de S. José, vai ser prestada uma homenagem ao pároco que mais anos esteve à sua frente: Padre Aníbal Dias Pacheco, o sacerdote que deixou as marcas mais relevantes na vida daquela comunidade, “o audacioso construtor da Igreja e da residência paroquial, mas também o homem piedoso e organizador que deu alma a esta Comunidade”, diz o actual pároco num comunicado enviado à nossa redacção.
A homenagem vai ter lugar no próximo dia 1 de Março (sábado), com uma eucaristia, presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto (19 horas). À noite, pelas 21,30 horas decorrerá uma conferência proferida pelo Padre João Castelhano, onde será depois apresentado o livro “Paróquia de S. José – 75 Anos de história”, pelo Eng. João José Rebelo.
Haverá ainda lugar para um testemunho proferido por um dos seus sobrinhos e o descerramento de uma placa alusiva a esta homenagem, que ficará situada no hall de entrada da igreja.

Padre ANÍBAL DIAS PACHECO
O Padre Aníbal Dias Pacheco nasceu em Unhais-o-Velho, Pampilhosa da Serra, em 2 de Fevereiro de 1906.
Fez os estudos no Seminário Maior de Coimbra, vindo a ser ordenado sacerdote em Julho de 1928.
No mesmo ano foi nomeado Pároco da Pampilhosa da Serra, onde permaneceu até 1938, data em que foi transferido para a Paróquia de S. José em Coimbra.
Paróquia recém criada, não dispunha de estruturas de apostolado adequadas. A Igreja existente, embora recente (sete anos), revelava-se pequena para a Comunidade.
Dedicou-se primeiro à organização da Paróquia, com particular atenção à Catequese, Apostolado da Oração, Conferências Vicentinas, Acção Católica e Obra da Sagrada Família.
Depois a construção da Nova Igreja. Em 15 de Junho de 1939 reúne-se pela primeira vez a Comissão pró - construção da Nova Igreja. Tal comissão constituída no início por um núcleo muito reduzido de pessoas da Paróquia, veio a ser alargada, galvanizando em tal projecto toda a Comunidade Paroquial.
Em 19 de Março de 1954 numa cerimónia presidida pelo Arcebispo Bispo de Coimbra, D. Ernesto Sena de Oliveira, foi lançada a primeira pedra do novo Templo.
Com projecto da autoria do Arquitecto Álvaro da Fonseca a obra teve o seu tempo de construção, com algumas vicissitudes por carência de meios financeiros.
Finalmente em 19 de Março de 1962 foi sagrada a nova Igreja, pelo Bispo Auxiliar de Coimbra, D. Manuel de Jesus Pereira, face ao impedimento por motivos de saúde do Bispo Titular, D. Ernesto Sena de Oliveira.
A persistência do Padre Aníbal Pacheco, levou-o ainda a construir a residência paroquial e a mandar elaborar o Projecto para o Centro Paroquial.
Deixou a paroquialidade em Outubro de 1974. Faleceu em 26 de Outubro de 1987.

Comunidades do Baixo Mondego preparam celebração da Páscoa com Procissão de Passos


A “Procissão do Senhor dos Passos” constitui um dos pontos altos das actividades litúrgicas que culminam com a celebração da Páscoa. Trata-se de uma manifestação de fé e devoção, com séculos de existência, reunindo centenas de fiéis que vivem intensamente este acto religioso, em diferentes comunidades cristãs do Baixo Mondego.
Através dos séculos, na época quaresmal, os cristãos souberam traduzir, por diferentes formas, os mistérios principais da nossa Fé na Ressurreição do Senhor. A Procissão dos Passos é uma maneira visível e silenciosa de proclamar o Mistério da Paixão e Morte de Jesus Cristo. É, de certo modo, a transposição no tempo e no espaço a Via-sacra de Jerusalém do “Cordeiro de Deus”, imolado no Calvário, pela remissão de crentes e não crentes. Pelo Caminho do doloroso peregrinar, apareceram os oratórios, com telas, ou azulejos, que as fraternidades franciscanas ou a piedade de grupos de fiéis erguiam, muitas vezes nas fachadas ou esquinas das suas próprias casas, diante dos quais se contemplavam os Passos do Senhor e por vezes algum pregador exortava à Penitência e Conversão.
Algumas comunidades cristãs do Baixo Mondego (Carapinheira, Tentúgal e Montemor do arciprestado da Carapinheira - Região Pastoral da Beira Mar e Pereira do arciprestado de Coimbra-Zona Rural Sul - Região Pastoral do Centro), gozando a felicidade de acolher no seu seio algumas das mais antigas manifestações de religiosidade popular, tem por tradição reconstituir os momentos mais marcantes alusivos à morte de Cristo, com a realização de soleníssimas procissões do “Senhor dos Passos”. Estas manifestações de piedade e de reconciliação têm lugar, respectivamente, dias 1 e 2 de Março, em Pereira e Carapinheira; 8 e 9, em Tentúgal; e 15 e 16, em Montemor-o-Velho.
Os pontos altos das cerimónias de domingo, residem essencialmente na celebração da Eucaristia e Sermão do Pretório, constituindo também momentos marcantes para estas comunidades cristãs o Cantar da Verónica e o Sermão do Encontro, numa simbologia do encontro de Cristo com sua Mãe, a caminho do Calvário. A “Procissão dos Passos” constitui uma significativa manifestação de fé e devoção, que é visível durante o espiritual e silencioso cortejo litúrgico, apenas suspenso pelo entoar da Verónica, em latim, “vede se há dor igual à minha”. No Sermão do Encontro, é normal verem-se algumas lágrimas a brotar e a resvalarem pelos rostos das pessoas mais sensíveis, exprimindo o mais exímio sentimento de dor, fé e esperança.
A “Procissão do Senhor dos Passos” culmina numa significativa manifestação de fé e devoção, com séculos de existência, reunindo centenas de fiéis que viveram intensamente este acto litúrgico. A solene Procissão dos Passos oferece aos espectadores, em quadros alegóricos e encenação dramática, a caminhada de Cristo até ao Calvário. Nela seguem as figuras que “intervieram” no julgamento, condenação e morte de Jesus: soldados, algozes e inimigos; mas também Cireneus e amigos, Madalenas arrependidas e piedosas mulheres. O próprio Jesus, o “Senhor dos Passos”, levando a cruz às costas (a imagem do Senhor dos Passos, apresenta-O com um dos joelhos no chão e a Cruz aos ombros), percorre as ruas das localidades, num percurso pré-destinado, numa autêntica “Via-sacra”, como outrora percorreu as ruas de Jerusalém até chegar ao Gólgota.

Aldo Aveiro