Processo da beatificação da Irmã Lúcia
O anúncio da possível abertura do processo de beatificação da carmelita de Coimbra encheu de alegria os fiéis da cidade e sobretudo a comunidade das religiosas de Santa Teresa. O Rádio Clube de Coimbra e o Correio conversou com o cónego João Lavrador, capelão do Carmelo, que afirmou:
"Agora falta o milagre"
Cónego João Lavrador em entrevista à Rádio Clube de Coimbra e ao Correio de Coimbra
Para a beatificação da Irmã Lúcia
falta agora (também) o milagre
O Cardeal Saraiva Martins foi recentemente, portador de uma mensagem. Bento XVI aceitou reduzir os cinco anos necessários após a morte, para início do processo de beatificação da Irmã Lúcia, o que só tinha acontecido com Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II.O anúncio foi recebido com alegria por parte da diocese e essencialmente pelas carmelitas de Santa Teresa.
Procuramos saber junto do capelão do Carmelo, Cónego João Lavrador, as consequências e o desenrolar de todo este processo.
. Paulo Alexandre Santos
. Miguel Cotrim
Como reagiu a diocese perante o anúncio do Cardeal Saraiva Martins?
Os cristãos da diocese, e essencialmente da cidade, devem sentir que há um conjunto de sinais que manifestam, um certo apreço do Vaticano pela causa da Irmã Lúcia…
Os cristãos da diocese, e essencialmente da cidade, devem sentir que há um conjunto de sinais que manifestam, um certo apreço do Vaticano pela causa da Irmã Lúcia…
Um processo que não é inédito? Já os processos de beatificação de João Paulo II e da Teresa de Calcutá também foram antecipados.
Isto é, sem dúvida, um sinal de alguma benevolência, mas por outro lado, toda envolvência das aparições de Fátima, assim como a Irmã Lúcia e o Carmelo têm em ordem a Santa Sé. A presença da sua eminência, o Cardeal Saraiva Martins no meio de nós, tem haver em primeiro lugar, pelo facto de ser português. Já veio várias vezes ao Carmelo e para ele foi uma alegria muito grande poder anunciar a abertura do processo da Irmã Lúcia. Recorde-se que ele encontrou-se várias vezes, em vida, com a vidente… O facto de ele ter sido o portador deste anúncio, foi para nós, diocese de Coimbra, um grande privilégio.
Isto é, sem dúvida, um sinal de alguma benevolência, mas por outro lado, toda envolvência das aparições de Fátima, assim como a Irmã Lúcia e o Carmelo têm em ordem a Santa Sé. A presença da sua eminência, o Cardeal Saraiva Martins no meio de nós, tem haver em primeiro lugar, pelo facto de ser português. Já veio várias vezes ao Carmelo e para ele foi uma alegria muito grande poder anunciar a abertura do processo da Irmã Lúcia. Recorde-se que ele encontrou-se várias vezes, em vida, com a vidente… O facto de ele ter sido o portador deste anúncio, foi para nós, diocese de Coimbra, um grande privilégio.
O cardeal Saraiva Martins referia que tinha chegado de todas as partes do mundo, pedidos para antecipar o processo de beatificação da Irmã Lúcia. Era uma figura reconhecida?
Não podia ser de outra maneira. A decisão não podia ser unicamente a partir do sentimento português. Esta causa de beatificação, como qualquer outra, exige uma responsabilidade e exigência muito grande por parte da Igreja. O que quer dizer, que normalmente, apenas se despensa, do tempo canónico para começar o processo de beatificação ou de canonização, a personalidades que durante as suas vidas, já manifestaram, a nível público, um grau de santidade, que a Igreja escuta e observa a partir dos fiéis.
O facto do Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos ser português, teve alguma influência na antecipação do processo?
Não podemos ficar alheios a isso. Sendo ele português, oriundo da diocese da Guarda, (até porque o nosso bispo também é da diocese da Guarda), encontraram-se várias vezes para falar do assunto. A linguagem e os sentimentos são os mesmos. É claro que isto teve alguma influência. Não podemos esquecer que a Irmã Lúcia esteve muito ligada a João Paulo II. Havia uma ligação muito próxima, e isso manifestou-se, quando ela adoeceu, uns dias antes de ela morrer. Recebeu uma mensagem de João Paulo II, onde ele a reconfortava com a sua palavra… Joseph Ratzinger, hoje actual Papa Bento XVI esteve também no Carmelo, em 1996, onde conversou com a Irmã Lúcia. Na altura era cardeal e já demonstrava interesse pela causa da última vidente de Fátima.
Não podemos ficar alheios a isso. Sendo ele português, oriundo da diocese da Guarda, (até porque o nosso bispo também é da diocese da Guarda), encontraram-se várias vezes para falar do assunto. A linguagem e os sentimentos são os mesmos. É claro que isto teve alguma influência. Não podemos esquecer que a Irmã Lúcia esteve muito ligada a João Paulo II. Havia uma ligação muito próxima, e isso manifestou-se, quando ela adoeceu, uns dias antes de ela morrer. Recebeu uma mensagem de João Paulo II, onde ele a reconfortava com a sua palavra… Joseph Ratzinger, hoje actual Papa Bento XVI esteve também no Carmelo, em 1996, onde conversou com a Irmã Lúcia. Na altura era cardeal e já demonstrava interesse pela causa da última vidente de Fátima.
Em três de anos de pontificado, Bento XVI, já fez mais beatificações que o seu antecessor. Como explica isto?
Eu também fiquei surpreendido com essa notícia. Até, porque o seu pontificado é relativamente recente. Ele iniciou vários processos há pouco tempo, de "grupos", como foi o caso aqui ao lado, de Espanha, sobre os mártires da guerra civil. Só aí são largas centenas de mártires. Eu penso que não é pela quantidade de actos solenes de beatificações, mas sim pelo número de figuras que se envolveram em cada acto. E estão mais alguns, como é o caso dos mártires do Vietname, da Correia…
Eu também fiquei surpreendido com essa notícia. Até, porque o seu pontificado é relativamente recente. Ele iniciou vários processos há pouco tempo, de "grupos", como foi o caso aqui ao lado, de Espanha, sobre os mártires da guerra civil. Só aí são largas centenas de mártires. Eu penso que não é pela quantidade de actos solenes de beatificações, mas sim pelo número de figuras que se envolveram em cada acto. E estão mais alguns, como é o caso dos mártires do Vietname, da Correia…
O documento, com data de 3 de Fevereiro, revela que a decisão foi tomada após uma audiência particular com o cardeal Saraiva Martins, no dia 17 de Dezembro de 2007. Porquê este compasso de espera na revelação deste processo?
Normalmente a Igreja tem muito a coincidência de datas. As datas são significativas. De facto, o pedido foi analisado nessa data… Mas o ser apreciado, muitas vezes, não quer dizer que a decisão seja imediatamente logo dada. O Papa tem sempre a última palavra. Se aceita ou não o pedido que lhe foi dirigido. Estando próxima da data de aniversário da sua morte, é muito natural, que a Igreja esperasse para dar a notícia.
Para além do anúncio, foi entregue o decreto papal ao Bispo de Coimbra, que permite a iniciação de todo o processo…
Normalmente a Igreja tem muito a coincidência de datas. As datas são significativas. De facto, o pedido foi analisado nessa data… Mas o ser apreciado, muitas vezes, não quer dizer que a decisão seja imediatamente logo dada. O Papa tem sempre a última palavra. Se aceita ou não o pedido que lhe foi dirigido. Estando próxima da data de aniversário da sua morte, é muito natural, que a Igreja esperasse para dar a notícia.
Para além do anúncio, foi entregue o decreto papal ao Bispo de Coimbra, que permite a iniciação de todo o processo…
Já foram revelados o postulador e o vice-postulador?
Isto também ajuda a entender o carinho que o Santo Padre tem por Coimbra, pelo Carmelo e pela Irmã Lúcia. De facto, são dois actos diferentes, um é anunciar a antecipação do processo, outro, é o decreto que serve para iniciar as investigações. Sua eminência, o Cardeal Saraiva Martins fez coincidir as duas coisas. Os trâmites normais deste processo, é nomear um postulador e um vice-postulador. Normalmente, o postulador está em Roma, conduz a partir daí o processo, faz a coordenação entre o vice-postulador, que está no terreno, neste caso em Coimbra, com a Congregação para a Causa dos Santos, o prefeito Cardeal Saraiva Martins. Quanto a nomes, ainda não lhe sei dizer porque ainda não foram nomeados pelo senhor Bispo. Em principio não serei eu o vice-postulador, porque não convém que esteja uma pessoa tão ligada ao Carmelo. Há depois um promotor da Causa, que irá vigiar o processo. Depois há a nomeação do tribunal próprio para a causa que irá julgar todos os momentos deste processo.
Isto também ajuda a entender o carinho que o Santo Padre tem por Coimbra, pelo Carmelo e pela Irmã Lúcia. De facto, são dois actos diferentes, um é anunciar a antecipação do processo, outro, é o decreto que serve para iniciar as investigações. Sua eminência, o Cardeal Saraiva Martins fez coincidir as duas coisas. Os trâmites normais deste processo, é nomear um postulador e um vice-postulador. Normalmente, o postulador está em Roma, conduz a partir daí o processo, faz a coordenação entre o vice-postulador, que está no terreno, neste caso em Coimbra, com a Congregação para a Causa dos Santos, o prefeito Cardeal Saraiva Martins. Quanto a nomes, ainda não lhe sei dizer porque ainda não foram nomeados pelo senhor Bispo. Em principio não serei eu o vice-postulador, porque não convém que esteja uma pessoa tão ligada ao Carmelo. Há depois um promotor da Causa, que irá vigiar o processo. Depois há a nomeação do tribunal próprio para a causa que irá julgar todos os momentos deste processo.
Quanto tempo pode levar até à sua conclusão?
Não sabemos. Há outro problema que nos escapa, e só esse pertence a Deus, que é o milagre. Aí não podemos dizer quando isso acontecerá…
È mais fácil esta beatificação, pelo facto de já estar consumada dos outros pastorinhos?
Não. Uma coisa não tem a ver com a outra. Vamos supor que Deus através da sua serva Irmã Lúcia no dá um sinal. Porque um milagre é um sinal. Se isso não acontecer vai criar-nos alguns problemas. Por isso, que o início de qualquer processo, é sempre um apelo à comunidade cristã que na sua oração implore junto de Deus esse sinal.
Quer dizer que este processo pode eventualmente ser chumbado?
Claro. Não é por se iniciar um processo que se vai poder conclui-lo. Temos alguns processos de beatificação, até mesmo de portugueses, que já estão há séculos para serem concluídos, como é o caso do beato Nuno… O Padre Américo também foi iniciado há uns anos atrás e ainda está a espera do sinal…
V
ai ser um trabalho muito árduo, devido a grande quantidade de documentação, nomeadamente as cartas da Irmã Lúcia…
Eu penso que não será necessário analisar tudo. Temos que fazer uma selecção para ver aquilo que interessa…Isso vai ser tarefa do vice-postulador, e irá levar algum tempo como é natural.
Conviveu de perto com a Irmã Lúcia… Como era ela? Qual era o tema das vossas conversas?
É uma experiência restrita porque a minha convivência com as irmãs é um pouco mais privilegiada pelo facto de celebrar todos os dias com elas. Apesar de viverem enclausuradas, há momentos durante o ano em que podemos falar, como é o caso do Natal, da Páscoa, respeitando, como é evidente o regime de clausura. Quando se trata da administração de sacramentos, como foi o caso da Irmã Lúcia, tive o privilégio de estar mais perto dela, nos últimos dias antes da sua morte. Quando os senhores cardeais vêm visitar as irmãs, aí também eu posso entrar e conviver com as irmãs.
A minha convivência com a Irmã Lúcia, foi no sentido de procurar, encontrar em primeiro lugar, uma irmã muito igual, às outras todas. A sua ocupação no dia-a-dia era muito parecida às outras irmãs. Eu digo parecida, porque não era bem iguais, porque as outras irmãs respeitavam o facto de ela ter que responder a grande quantidade de correspondência que diariamente recebia. E, nos últimos tempos, ela também já estava um pouco limitada por causa da idade. Mas, no geral, ela tinha as suas tarefas normais… Ora, O que mais me impressionava era a sua perspicácia, a forma como ela atingia os cardeais com determinadas questões…Ela penetrava no pensamento e tinha uma lucidez muito grande sobre determinados temas da vida da Igreja. Normalmente, ela perguntava sempre pelo Santo Padre e procurava estar sempre a par dos problemas que a Igreja enfrentava. Por outro lado, aquilo que mais apreciava nela, era o seu sentido de humor. Procurava responder sempre com uma "piada" de forma a alegrar o ambiente. Era uma pessoa comum, igual a tantas outras. Procurava sempre o bem, como qualquer carmelita.
Eu penso que não será necessário analisar tudo. Temos que fazer uma selecção para ver aquilo que interessa…Isso vai ser tarefa do vice-postulador, e irá levar algum tempo como é natural.
Conviveu de perto com a Irmã Lúcia… Como era ela? Qual era o tema das vossas conversas?
É uma experiência restrita porque a minha convivência com as irmãs é um pouco mais privilegiada pelo facto de celebrar todos os dias com elas. Apesar de viverem enclausuradas, há momentos durante o ano em que podemos falar, como é o caso do Natal, da Páscoa, respeitando, como é evidente o regime de clausura. Quando se trata da administração de sacramentos, como foi o caso da Irmã Lúcia, tive o privilégio de estar mais perto dela, nos últimos dias antes da sua morte. Quando os senhores cardeais vêm visitar as irmãs, aí também eu posso entrar e conviver com as irmãs.
A minha convivência com a Irmã Lúcia, foi no sentido de procurar, encontrar em primeiro lugar, uma irmã muito igual, às outras todas. A sua ocupação no dia-a-dia era muito parecida às outras irmãs. Eu digo parecida, porque não era bem iguais, porque as outras irmãs respeitavam o facto de ela ter que responder a grande quantidade de correspondência que diariamente recebia. E, nos últimos tempos, ela também já estava um pouco limitada por causa da idade. Mas, no geral, ela tinha as suas tarefas normais… Ora, O que mais me impressionava era a sua perspicácia, a forma como ela atingia os cardeais com determinadas questões…Ela penetrava no pensamento e tinha uma lucidez muito grande sobre determinados temas da vida da Igreja. Normalmente, ela perguntava sempre pelo Santo Padre e procurava estar sempre a par dos problemas que a Igreja enfrentava. Por outro lado, aquilo que mais apreciava nela, era o seu sentido de humor. Procurava responder sempre com uma "piada" de forma a alegrar o ambiente. Era uma pessoa comum, igual a tantas outras. Procurava sempre o bem, como qualquer carmelita.
Seria um justo reconhecimento, esta beatificação?
Eu julgo que sim. Não só por aquilo que foi a sua vida, mas por ser portadora de uma mensagem que partilhou com o mundo, através da mensagem de Fátima.
Observação:
Para ouvir a entrevista, basta aceder ao www.rcp-coimbra.blogspot.com.
Todas as quinta-feiras, pelas 15,30 horas, o Rádio Clube Português da delegação de Coimbra (98.4) transmite um espaço dedicado à Igreja diocesana, conduzido pelos jornalistas Paulo Alexandre Santos e Miguel Cotrim.
Todas as quinta-feiras, pelas 15,30 horas, o Rádio Clube Português da delegação de Coimbra (98.4) transmite um espaço dedicado à Igreja diocesana, conduzido pelos jornalistas Paulo Alexandre Santos e Miguel Cotrim.
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