PEGADAS NA AREIA
Teresa Martins
«Quando viste apenas um par de pegadas na areia, eram as minhas. Foi exactamente aí que peguei em ti ao colo…» Assim nos diz a poesia, de autor, para mim, desconhecido. Sim. «Ele está no meio de nós.» Afirmamo-lo, nem sempre com uma fé tão adulta e firme como devíamos…, porque tudo depende da grandeza ou pequenez de nós próprios e daquilo que fizemos ou fizeram de nós… Ou, talvez e em primeiro lugar, daquilo que nós deixámos que fizessem de nós.
Acabada a leitura de um dos dois volumes mais recentemente publicados, em co-autoria, pelo Padre Vasco Pinto Magalhães, SJ, e Dr. Henrique Manuel S. Pereira, «Pensar a Vida» e «Pensar a Morte», uma leitura que foi acompanhada por momentos de muita interioridade, senti-me profundamente grata, até porque o momento que atravesso é de muita carência …
No rosto da última folha do livro, regista-se o (estranho?) testemunho de uma mãe que, tendo perdido um filho, afirma nada ter perdido, mas ter ganho, porque ganhou um anjo!… «Não perdi, ganhei!» Este testemunho exigiu-me uma grande paragem, e a análise que pelo autor lhe foi feita prestou-me, a mim, uma ajuda preciosa. «Esta senhora começou a descobrir aqui uma missão… Nasceu qualquer coisa naquela dor, a outro nível…» Sim… Não pode ser por acaso que, na vida e no viver dos grandes santos o mais evidente, e mais marcante, seja o sofrimento… O sofrimento é fonte de crescimento, só que «o caminho faz-se caminhando», e não é fácil!…
A grande e principal mensagem que Marie de Hennezel, psicóloga junto de doentes terminais numa clínica de Paris, nos deixa no maravilhoso livro da sua autoria, «Diálogo com a Morte», é a seguinte: «Os que vão morrer ensinam-nos a viver.» E confirma-o com tudo o que nele nos diz… Estou a recordar, por exemplo, a jovem que lhe confessa um medo tremendo de morrer, porque "não sabe como é que se morre", pedindo: «Por favor, ajuda-me!» E a ajuda foi-lhe prestada através de um simples gesto de carinho, muita naturalidade, e a grande e importante certeza de que, dentro de nós há algo que o sabe… E nos ensina. E nos pega ao colo, deixando, na areia, somente as suas pegadas… A partir daí, esquecemo-nos de nós. Pensamos nos outros!…
E eu passo as horas a folhear recordações… Umas inteiramente felizes outras nem por isso, e algumas dolorosas! É por isso que hoje, sentindo necessidade de comunicar com os outros (e esta necessidade, com o passar dos anos, tornou-se vício), não posso deixar de ter como tema o sofrimento de um dos meus filhos, um sofrimento que, no início, também partilhei convosco, quando pedi as vossas orações. Posso dizer-vos hoje que elas foram aceites, não porque a cura se concretizasse, mas porque, apesar de todo o sofrimento e embora inteiramente dentro da situação, continua numa verticalidade e humildade comovedoras. Em perfeita paz de espírito… Crente numa vida para além desta, e uma vida que o não assusta…
Estou tão grata a Deus, que só me devia sentir honrada e feliz…
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