Correio de Coimbra

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31 de março de 2007

Semana Santa na Catedral

A Igreja de Coimbra celebra, na Catedral, o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
As celebrações são presididas por D. Albino Cleto.

O Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto preside na Sé Nova, às diversas cerimónias da Semana Santa que têm início no Domingo, dia 1 de Abril, com a celebração do Domingo de Ramos. O cerimonial começa às 10h45, no largo da Igreja de S. Salvador, com a bênção dos ramos, seguindo-se em procissão para a Catedral, onde é celebrada a missa da Paixão.
Na Quinta-feira Santa, às 10,30 horas, D. Albino concelebra a Eucaristia (Missa Crismal) com sacerdotes do seu presbitério, em sinal de unidade eclesial. Nesta celebração salientam-se a renovação das promessas sacerdotais, a consagração do óleo dos catecúmenos e dos enfermos.
Na tarde de Quinta-feira Santa começa o Tríduo Pascal – os três dias em que a Igreja celebra o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor que «morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida». O Tríduo Pascal inicia-se com a celebração da missa da Ceia do Senhor, às 18 horas, recordando a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio da Nova Aliança. O cerimonial inclui o lava-pés.
Na Sexta-feira Santa haverá, às 9h30, a recitação do Ofício de Leituras e Laudes. Às 18 horas, tem lugar a celebração da Paixão do Senhor e a Adoração da Cruz. Na primeira parte, a Palavra de Deus mostra-nos Jesus como vítima e como sacerdote – a Sua morte é acto de mediação universal e causa de salvação. Na Cruz, símbolo do nosso resgate, adoramos Jesus Cristo «Salvação do mundo». Às 21h30, faz-se a Via-Sacra, entre o Seminário e a Sé Nova.
Tanto na Quinta como na Sexta-feira Santa, a pregação está a cargo do cónego Aurélio de Campos, reitor do Seminário de Coimbra. No Sábado Santo, haverá, às 9h30, a recitação de Leituras e Laudes. À noite, pelas 22 h, celebra-se a solene Vigília Pascal. É ela o ponto culminante da Semana Santa, o coração da liturgia cristã, o centro do ano litúrgico, a mais antiga e a mais rica de todas as Vigílias. Santo Agostinho chama-lhe «a mãe de todas as vigílias».
Destaca-se, nesta celebração, a liturgia da Luz, com a bênção do Lume Novo. O Círio Pascal é símbolo de Cristo ressuscitado que vai à frente guiando o Seu Povo.
No Domingo de Páscoa, às 11 horas, é celebrada a Missa da Ressurreição, seguida de Bênção Papal.
A parte musical está a cargo do Grupo Coral da Sé, orientado e regido pelo Padre Dr. Manuel Augusto da Silva Frade.


D. Carlos Azevedo encerra Conferências Quaresmais

“É na família cristã que se cumpre a missão da Igreja”



Para D. Carlos Azevedo, é na família cristã que se cumpre a missão da Igreja. O bispo auxiliar de Lisboa encerrou as Conferências Quaresmais de 2007, com o tema “A Igreja e a Família”, mostrando como nesta última se deve viver o ministério do Amor, base da Igreja fundada por Cristo.
Afirmando que a família deve ser protagonista activa e responsável no crescimento da sociedade, D. Carlos Azevedo chamou a atenção para o papel que ela assume na comunidade cristã, e que se concretiza através dos “dias sem história”, das rotinas diárias, dos momentos mais pequenos, alimentados pela partilha e pela vivência em comum. Profetizando através da escuta e do anúncio da Palavra, celebrando os sacramentos ou servindo e acolhendo o próximo em favor do bem comum, a família realiza, na plenitude, a missão de salvação preconizada pela Igreja.
Para o bispo auxiliar de Lisboa, o papel evangelizador dos pais e capacidade de educar, guiando escolhas com discrição mas firmeza, é insubstituível, bem como a solidez de valores experimentados diariamente, a capacidade de viver uma liturgia familiar e diária, pela oração e pela celebração dos sacramentos, a participação activa dentro da comunidade eclesial e a intervenção coerente na sociedade, de que a própria família é “uma caixa de ressonância”.
Parecendo contrariar o tempo em que vivemos, a família assume-se, hoje, como “o lugar privilegiado de comunhão e de participação”, transformando-se numa escola de sociabilidade e humanismo. Partindo deste princípio, D. Carlos pediu às famílias cristãs que não se acomodem nem se deixem instalar, perdendo o protagonismo que devem assumir no mundo. Em conclusão, afirmou que “mais do que ter família, somos, neste tempo, convidados a ser família, segundo o sonho de Deus”.
O padre João Castelhano, fazendo um balanço das Conferências Quaresmais de 2007, afirmou que estas foram uma forma de trazer um pouco “mais de luz e de conhecimento” ao caminho de cada um. Porque não acredita que os caminhos da Igreja sejam possíveis sem a família, o pároco de S. José explicou que o ciclo de exposições de vários convidados e especialistas procurou constituir-se como um olhar para o mundo de hoje, para ser possível perceber novos ideais de família, entender a “gente nova, que dispensa compromissos mas não dispensa o amor”, olhar, de outra forma, as relações entre pais e filhos, compreender os mecanismos das políticas familiares e, por fim, perceber o valor da família à luz da missão da Igreja.

Obra do Padre Serra homenageado pela cidade

É sobre a Obra do Padre Serra que recaiu a última homenagem no âmbito do ciclo de Concertos Prestígio. Fruto de uma organização do Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Coimbra e Orquestra Clássica do Centro, o concerto realizou-se no dia 28 de Março, na igreja de S. Martinho do Bispo, paróquia onde Francisco Proença Serra, Salesiano, exerceu sacerdócio e fundou uma vasta obra institucional, em benefício de crianças e jovens órfãos. Falar hoje da “Obra do Padre Serra” é referir, fundamentalmente, a figura do seu Fundador-Director. Foi a partir do cargo de Director da Instituição Geral de Menores de Bragança que o sacerdote Francisco Proença Serra tomou contacto com a problemática social dos menores órfãos e abandonados da Região Centro.
Com a sua vinda para a Universidade, o Padre Serra apercebeu-se da verdadeira dimensão que esta problemática atingia em Coimbra. Através da actividade que vem a realizar na paróquia de S. Martinho do Bispo, denota que os problemas sociais com menores eram mais acentuados do que inicialmente supunha, sentindo, então, necessidade de criar uma instituição onde pudesse albergar menores que se encontrassem em situação de privação de meio familiar estruturado. Foi, pois, arrendado um imóvel de características senhoriais (conhecido como Palácio dos Fidalgos da Corujeira), para albergar algumas crianças e jovens, ainda que não apresentasse as condições sócio-habitacionais adequadas.
O Padre Serra conseguiu, entretanto, que se realizassem algumas restaurações no edifício, erguendo, a 4 de Novembro 1973, a primeira comunidade – o “Lar de S. Martinho” – também sede da Obra do Padre Serra, e que ali funcionou até 1993. Toda a estrutura sócio-institucional foi transferida, posteriormente, para a Quinta do Chafariz (em Fala), propriedade adquirida para construção da nova Sede e do centro dinamizador de toda a “Obra do Padre Serra”.
Com vocação para acolhimento de crianças pobres, órfãs ou abandonadas, residem, actualmente, no “Lar de S. Martinho” – Pessoa Colectiva de Utilidade Pública Administrativa e Instituição de Beneficência – 37 crianças e jovens dos 5 aos 20 anos.
O crescente e elevado número de utentes da comunidade da Corujeira, impulsionou a criação de duas novas comunidades: em 1990, surge o Lar “O Girassol”, (Quinta do Monte Belo - Alcarraques), onde residem 40 crianças e jovens, dos 9 aos 18 anos; em 1990 é ampliado o Palácio da Quinta do Monte Belo, um “pequeno céu no Paraíso do Monte Belo”, como afirmou o Padre Serra, e para onde foi transferida a totalidade dos utentes que aí residiam.
A terceira comunidade foi fundada em 1987, na Figueira da Foz, com o objectivo de constituir residência para a totalidade da população utente, no período de férias no Verão. No entanto, em 1991, esta residência tornou-se num lar de acolhimento permanente, que se passou a chamar “Lar de Santo António”, comunidade com 16 crianças e jovens dos 11 aos 21 anos.
O último lar – “Lar Flor do Liz” – abriu em 1995, em Leiria (inicialmente na Rua António Costa Santos e, posteriormente, junto do Convento da Portela), entretanto, encerrado temporariamente em 2002, por falta de acordo com a Segurança Social.

29 de março de 2007

Bispo de Coimbra lembra fidelidade de Lúcia à Verdade e ao Amor de Deus

O bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, no final da eucaristia que assinalou o centenário do nascimento da Irmã Lúcia, pediu, como bênção, a rápida beatificação da vidente de Fátima. A igreja do Convento do Carmelo foi pequena para o número de fiéis, também de fora da diocese, que quiseram, desta forma, viver e celebrar a data.
Recordando-a como uma mulher que foi livre por se ter “apegado à verdade de Deus”, D. Albino Cleto lembrou que as marcas deixadas pela Irmã Lúcia não se materializaram em grandes obras de caridade ou em livros. Sem nunca fugir do mundo, “ela foi construtora, difundindo a sua devoção ao Sagrado Coração de Maria e deixando uma mensagem para todos”: a fidelidade ao Amor de Deus é o caminho da verdadeira liberdade. O pastor da diocese lembrou ainda o coração fiel e generoso de Lúcia que, “no apagamento e no silêncio, construiu a salvação de muitos”.
A diocese de Coimbra deverá entregar, até ao Verão, um pedido formal à Congregação para a Causa dos Santos para que o processo de beatificação tenha início, dispensando, dessa forma, o prazo mínimo de cinco anos após a sua morte, imposto pela legislação canónica. O vice-postulador para a causa da canonização de Francisco e Jacinta Marto, padre Luís Kondor, revelou existirem “sinais de abertura” do Vaticano em relação ao processo. O cardeal Stanislaw Dziwisz disse, em Maio de 2006, que o pedido deverá ser atendido, facto que só aconteceu, até agora, com João Paulo II e Madre Teresa de Calcutá.
O padre Luís Kondor elogiou também a iniciativa do Carmelo de Coimbra relativa à criação de um museu em memória de Lúcia. Daqui a dois meses estará pronto o espaço, que inclui uma reconstituição da cela onde a carmelita viveu grande parte da sua vida de clausura. O museu exporá o seu hábito, objectos pessoais e ofertas, algumas cartas que recebeu e documentos importantes. Salvaguardando o recolhimento das religiosas do Carmelo, este deverá constituir-se um ponto importante num percurso de devoção à vidente.
Os cem anos decorridos do nascimento da Irmã Lúcia foram também assinalados em Fátima. O bispo desta diocese, D. António Marto, reafirmou a actualidade da mensagem mariana transmitida pelos três pastorinhos, criticando “o eclipse cultural de Deus” vivido, actualmente, na sociedade. Numa cerimónia que contou com a presença do seu antecessor, D. Serafim Ferreira e Silva, e de mais 27 padres, D. António Marto afirmou que a vida da terceira pastorinha “é um dom admirável de Deus à Igreja e ao mundo” e traz ao século XXI “uma mensagem de advertência e, ao mesmo tempo, de promessa de reconciliação e de paz”.

XI Jornada de Questões Pastorais em Enxomil


No dia 23 de Abril, realiza-se em Enxomil, a décima primeira edição da Jornada de Questões Pastorais, com o tema a "Igreja e a Comunicação Social". Com a consciência da importância da comunicação que, como dito por João Paulo II, "permeia as dimensões essenciais da Igreja chamada a anunciar a todos a Boa Nova da salvação", o dia pretende criar espaços de reflexão, apontando caminhos para uma revisão pastoral e cultural na Igreja à luz das características do mundo actual.
Os temas "Como dirigir a Comunicação na Igreja" e "Como se relacionar com os meio de comunicação", orientados por Juan Manuel Mora, professor nas Universidades de Santa Cruz (Roma) e Navarra, e por Pedro Gil, licenciado em Direito e director do Gabinete de Informação da Opus Dei em Portugal, respectivamente, preenchem o programa científico da Jornada.

Retiro para Jovens em Mira


O Instituto Secular da Sagrada Família propõe um retiro para jovens, de dia 30 Março a 1 de Abril, na Casa da Sagrada Família em Mira. Para mais informações, podem ser utilizados os números de telefone 969 098 616 (Estrela Rodrigues) e 239 718 768 ou o contacto de correio electrónico sagradafamilia@sapo.pt

Sarzedo acolhe Festival da Canção Jovem no próximo Sábado


O pavilhão desportivo de Sarzedo, em Arganil, vai acolher, no próximo Sábado, dia 31 de Março, mais um Festival Jovem Diocesano da Canção, organizado pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil de Coimbra. Alguns grupos de jovens, de todos os cantos da diocese, vão dizer pela música que Cristo é o "Filho de Deus vivo", tema proposto para a iniciativa.
Os concorrentes, que caminham já em conjunto na partilha de experiências, na oração e na reflexão em comum, estarão, durante o dia em que decorre o festival, envolvidos em actividades de serviço á comunidade. Às 18h30, celebra-se a Eucaristia na Igreja de Sarzedo e às 21h tem início o desfile das canções, que pretende envolver todos os que se fizerem presentes na alegria de O dizer em palavras e gestos.

João Barbosa de Melo nas Conferências Quaresmais

"O Estado emite claramente sinais anti família"

Para o professor João Barbosa de Melo, docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, ainda que a regressão e desumanização das nossas sociedades enfraqueçam a família, esta é ainda valorizada como célula base do desenvolvimento humano, social e económico. Ainda assim, o Estado continua a emitir "sinais claramente anti-família". Falando na quarta conferência quaresmal de 2007, que aconteceu, mais uma vez, em S. José, este economista trouxe ao debate e à discussão o tema "Políticas Familiares".
Caracterizando as famílias portuguesas dos nossos dias, o conferencista apontou a melhoria de condições económicas, a diminuição crescente do número de elementos nos ambientes familiares e a tendência geral para que ambos os progenitores trabalhem fora de casa, como elementos que definem novas regras e mentalidades, no contexto da sociedade actual. O maior número de uniões não formalizadas e os maiores índices de rupturas e divórcios são outros factores importantes quando se traça um quadro da família actual. No que respeita ao nascimento dos filhos, os números são cada vez mais claros: as mulheres têm menos filhos e mais tarde. O envelhecimento da população, que preocupa a generalidade dos governos europeus, traz problemas sociais, económicos e culturais que não podem, na opinião do especialista, ser ignorados.
Neste contexto, as políticas públicas para a família preconizadas pelo Estado ganham cada vez mais sentido. Para João Barbosa de Melo é importante que estas não sejam "um conjunto de ideias vagas que, ainda por cima, são mal financiadas". Não deve existir uma política para a família, mas antes uma vontade de protegê-la que atravesse os projectos de desenvolvimento económico, de criação de bem-estar social, de desenvolvimento do sistema de saúde, educação, entre outros. E, neste campo, Portugal figura normalmente nos últimos lugares da Europa. Um sistema fiscal que torna "mais racional comprar um computador do que ter um filho", uma política laboral que não permite flexibilidade de horários ou possibilidade de part time para os pais, uma política social que concede abonos de famílias "microscópicos" considerando os custos na educação, por exemplo, políticas culturais que não facilitam o acesso aos bens da cultura por parte de famílias numerosas, políticas de urbanismo que resultam em cidades que não foram pensadas para as crianças são alguns dos factores que colocam à frente do nosso país um longo caminho a percorrer. Para João Barbosa de Melo é importante que sejamos capazes de passar uma imagem e ideia determinadas: é da família que nasce uma sociedade mais justa, mais ética, mais empreendedora.

Jornadas de Teologia sobre o futuro eclesial da mulher

A Igreja está necessitada de uma reflexão teológica no feminino
- Afirmação de D. Carlos Azevedo, Porta-Voz da Conferência Episcopal


"A reflexão teológica no feminino favorecerá visões, possibilidades e estratégias alternativas, de que a Igreja anda tão necessitada" – afirmou o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Carlos Azevedo, nas Jornadas de Teologia promovidas pelo ISET, nos dias 23 e 24 de Março, no auditório do Instituto Português da Juventude, em Coimbra. Cento e vinte participantes reflectiram sobre o tema "A Mulher e a Igreja: perspectivas para o século XXI". Concluindo o encontro, D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, afirmou que "entender a Igreja no feminino requer, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidades".






"Em que linha devemos avançar para que a mulher seja mais valorizada dentro da Igreja?" – Foi uma das interpelações deixadas por D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, aos participantes, no encerramento das Jornadas de Teologia do Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra (ISET).
Subordinadas ao tema "A mulher e a Igreja, perspectivas para o século XXI", as jornadas do ISET decorreram nos dias 23 e 24 de Março, no auditório da delegação do Instituto Português da Juventude de Coimbra.
D. Albino reconheceu que o tema debatido ao longo de dois dias "agita opiniões e provoca críticas". Para o Bispo de Coimbra "já estaríamos a dar passos mais significativos relativamente ao papel da mulher no seio da Igreja se o ecumenismo estivesse mais avançado". O desafio lançado à mulher, hoje, não significa atribuir mais poder, mas sim, atribuir-lhe mais valor, reconheceu o prelado da diocese.
D. Albino pretende que as mulheres sejam "o rosto de Deus" no século XXI, um rosto de ternura, de mudança e de esperança. No dia em que o Bispo de Coimbra comemorava seis anos à frente dos desígnios desta sua diocese, afirmou que entender a Igreja no feminino, requer em primeiro lugar uma mudança de mentalidades e uma nova linguagem adequada aos nossos tempos.
O director do ISET, Padre Doutor A. Jesus Ramos, considerou, por sua vez, que já se nota uma diferença de mentalidades" mas referiu que "estas coisas não se fazem de um momento para o outro, nem por decreto". Para o responsável destas jornadas, esta iniciativa deu um "contributo importante para que o assunto seja visto de um modo diferente" para "que sejam dados passos seguros", mas, "sem pressas".

"Chegou a hora da mulher"
D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), um dos conferencistas destas jornadas, corrobora da mesma opinião de D. Albino Cleto. A sua reflexão sobre "Mulher na Igreja: Tempos novos para mentalidades novas", "requer abertura de horizontes aos sinais dos tempos".
Para este especialista em História da Igreja "os contributos originais do masculino e do feminino, nas suas diferenças, ajudam a ampliar a missão evangelizadora da Igreja, sem a reduzir aos sacramentos".
Segundo D. Carlos Azevedo, "um certo ensino da Igreja ainda reduz a mulher à esposa amante e mãe sacrificada". "Uma parcial teologia do serviço contribui para manter muitas mulheres cristãs em estado de inferioridade, com ausência de reconhecimento das suas capacidades", lamentou.
Nesse sentido, o Bispo Auxiliar de Lisboa considera que "a reflexão teológica feita no feminino favorecerá visões, possibilidades e estratégias alternativas, de que a Igreja anda tão necessitada".
"Não basta apreciar o génio da mulher na vida social e eclesial. Essa hora já chegou. É pouco aprofundar o sentido da dignidade da mulher e do homem criados à imagem e semelhança de Deus (…). A mulher participa activamente na Igreja não só no silêncio e de modo invisível, mas com papel relevante como construtoras de teologia", disse.
D. Carlos Azevedo considera que "a mulher tem a capacidade inata privilegiada para fazer que a Igreja seja visivelmente o espaço de vida, quente, receptivo, de portas acolhedoras". Falando de um "profetismo feminino da mãe Igreja", o prelado apontou para a necessidade de se passar "a uma civilização da ternura".
"Começa a ser hora para olharmos nos olhos de cada fiel homem e mulher para nos descobrirmos e criarmos comunhão sem domínio. Olharmo-nos em silêncio, com transparência e esperança, conscientes das igualdades e das diferenças, para, na riqueza de homens e mulheres, servirmos a cultura da vida, o diálogo inter-religioso, o serviço da caridade contra a pobreza, a defesa da ecologia", apontou.
Quanto às críticas muitas vezes dirigidas contra a Igreja, por causa da subalternização das mulheres, D. Carlos Azevedo indicou que "a Igreja, sendo Mistério, criada por desígnio divino no mistério trinitário, não reduz a sua missão a critérios e decisão política como um sistema democrático. Se se perde a sua mística, perde-se o mistério e o sentido".
Por isso, observou, "quando a Igreja desatende a sua missão feminina, o que é grave não é o estar em desacordo com a moda dos tempos, mas antes o ser infiel à sua verdade interior".

A vida consagrada é uma vocação (ainda) com futuro
A Irmã Laurinda Faria, Hospitaleira do Sagrado Coração de Jesus abordou o tema: a mulher consagrada no século XXI. Partilhou a sua experiência de consagrada, como um carisma especial de serviço e hospitalidade, especialmente em prol das pessoas com sofrimento psíquico.
Para a Irmã Laurinda Faria, o tema da "mulher e da mulher consagrada na Igreja é uma questão em aberto que exige de nós atenção, cuidado e compromisso no caminho que falta percorrer".
Para esta irmã hospitaleira, a vocação consagrada não está em risco como muitos apregoam. Segundo esta conferencista, "se a vocação à maternidade é uma vocação com futuro, assim também será com a vida consagrada", disse. "O governo de um país pode liberalizar a prática do aborto, mas nunca será capaz de destruir a vocação à maternidade", ironizou. Para a Irmã Laurinda, "a mulher consagrada terá certamente dificuldades na vivência da sua consagração, mas será sempre um sinal de que um mundo novo e diferente é possível, será uma testemunha do divino ao alcance da mão, será uma prova do amor de Deus pelas suas criaturas", defendeu.
E, para justificar essa sua posição, a Irmã Laurinda Faria apresentou números que contrariam o "certificado de óbito" que se ameaça eminente nalgumas Congregações. Actualmente as mulheres consagradas são mais de um milhão no mundo, número três vezes maior que o dos homens. Em Portugal, a vida consagrada ganha visibilidade através de 99 institutos religiosos femininos, com cerca de cinco mil membros (os masculinos são 38, com cerca de 1400 consagrados). Destes 99 institutos femininos, 62 têm menos de 25 membros; 15 estão entre 25 e 50; três institutos entre 50 e 100; Doze entre 100 e 200 membros; 7 congregações têm mais de 200 membros. Existem ainda 16 institutos seculares femininos, com cerca de 650 filiados. Reconhece que muitas congregações passam por momentos difíceis, como a falta de vocações que se faz sentir na Igreja, mas têm que se adaptarem aos tempos novos.
A Irmã Laurinda Faria também defendeu que a "mulher está mais bem preparada para o ministério da ternura, do acolhimento, da hospitalidade, da liturgia da caridade" que no seu entender, são verdadeiros actos o sacerdócio de Cristo.

"Da visão medieval aos novos tempos"
A Doutora Filomena Andrade, do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (UCP), foi a segunda conferencista das Jornadas de Teologia de 2007 e, numa exposição que se debruçou sobre a "mulher na História da Igreja", assinalou os momentos mais marcantes da evolução do papel feminino na sociedade e na Igreja, reflectindo não apenas no que esta instituição pensa da mulher, mas também no que esta última realiza nela, "enquanto membro de ‘pleno direito’, construtora, ao lado do homem do reino anunciado por Cristo".
Dando a conhecer as mudanças na visão do lugar feminino no mundo e na sociedade e a forma como foram sendo acompanhadas essas transformações, na prática, pelo clero e pela hierarquia eclesiástica, a especialista referiu, por exemplo, os grupos particulares de mulheres da época medieval e da época moderna, como as viúvas ou as comunidades religiosas, que foram afirmando, mesmo que de forma lenta, "um papel espiritual e caritativo importante", ainda que marcado por uma cultura de exclusão e de excepção, que associava a mulher à fraqueza, ao pecado, à inibição intelectual e à incapacidade de participar, por isso, na vida pública. Nas palavras da Dra. Filomena Andrade, "excluídas da cena política oficial, as mulheres católicas encontram na beneficência o seu terreno de actuação".
A evolução mental, a mudança do papel da família e da importância que lhe era conferida, os ganhos constantes da mulher no que respeita à valorização da sua intelectualidade e racionalidade vão criando condições para que ela vá ganhando espaços novos e mais activos "na vivência social e transmissão da fé às novas gerações".
Como conclusão, a conferencista enunciou dois ensinamentos deixados pela história: os processos de evolução são, muitas vezes, concebidos "não por quem tem um poder formal, mas por quem gere o poder informal"; a Igreja vive "em íntima relação com a sociedade, no seu todo, por vezes anunciando as suas rupturas, outras colmatando-as e ajudando a ultrapassá-las, mas sempre em íntima conexão com ela".

"A mulher nova na Sagrada Escritura"
Sempre perspectivando o século XXI, o Dr. José Carlos Carvalho, da Universidade Católica do Porto, oscilando, como explicado pelo próprio, "entre um ponto de vista mais de teologia e outro mais na perspectiva histórico-cultural", apresentou, na conferência proferida nas Jornadas de Teologia, uma visão do feminino bíblico de Deus. Pensando a "mulher nova" na Sagrada Escritura, o especialista foi mostrando como, na própria revelação bíblica e ao longo da tradição teológica, se foi "plasmando a imagem do feminino" e como Deus foi revelando o Seu ser nas mulheres do Seu povo, constituídas quer como "mediações da revelação quer como teólogas que pensam o Deus", que é ao mesmo tempo paternidade e maternidade: Deus que é Pai também faz permanentemente "ressurgir a vida", apresentando reacções maternas face ao povo pecador que o abandona de tempos a tempos.
Revelado também por mulheres e a mulheres, Deus reconstrói uma relação de aliança e, na experiência concreta destes rostos femininos da história de Israel, é possível renovar a imagem divina e a teologia. Jesus Cristo, que estabelece um diálogo permanente com o mundo e com a cultura do seu tempo, retoma o princípio fundador da criação e filtra as sucessivas interpretações e releituras da Palavra. De acordo com este princípio fundador, o homem e mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus. S. Paulo lembra depois aos cristãos que "Cristo é tudo em todos".
Em conclusão, o Dr. José Carlos Carvalho, explicou que a radicalidade trazida por Jesus e depois reforçada por Paulo são os dados da revelação bíblica que devem ser assumidos. Segundo o conferencista, é importante entender que, com a fé cristã, foram coexistindo elementos culturais que foram denegrindo a condição da mulher, não só na sociedade mas também "no seio da própria revelação".

"Mulher, Família e Sociedade": uma articulação ainda difícil
A deputada na Assembleia da República, como independente do PS, Doutora Maria do Rosário Carneiro, falou, nas Jornadas de Teologia, da relação entre "Mulher, Família e Sociedade, no início de um novo milénio", afirmando que esta articulação constitui um dos grandes desafios para o século XXI.
A emergência de uma cultura de defesa dos direitos humanos, a clarificação do que é fundamental na dignidade da pessoa e a afirmação do valor da liberdade trouxeram à mulher "novos espaços que lhe eram devidos na esfera pública". Esta igualdade entre géneros, fundada nas diferenças, é, na opinião da também professora na Universidade Católica, "um pressuposto preconizado por Cristo que tardou 2000 anos a concretizar-se", mas que, uma vez conquistado e assumido, se torna irrevogável.
Com a reposição da mulher na esfera pública, também ao homem se exige que aceite um novo lugar no mundo que é dos dois. Na opinião da deputada, a sociedade não tem ainda modelos que clarifiquem as novas formas de estar da mulher. A descida da taxa de natalidade, o aumento do número de divórcios e a quebra no número de casamentos estão relacionados com esta "incapacidade social para absorver a noção de igualdade. As mulheres pedem para si uma vida profissional e um lugar no espaço público, sem terem que arcar, sozinhas, com a responsabilidade acrescida de gerir a família e o lar. A organização antiquada da sociedade e as políticas estatais partem, muitas vezes, do pressuposto de que "é a mulher que deve organizar-se para conciliar a vida pública e privada". Para Maria do Rosário Carneiro, a Igreja acompanha a sociedade e tem, por isso, as mesmas dificuldades que ela. Dado o seu carácter "reflexivo e lento", a Igreja deve, sobretudo, ser prudente para que "a mulher não fique sozinha".

"Deus é uma palavra difícil"
Em forma de testemunho e de relato de experiências pessoais, a jornalista Laurinda Alves falou, aos participantes nas Jornadas de Teologia, da Mulher e da Igreja, apresentando-as como um "binómio (difícil) na Comunicação Social". Afirmando que "Deus é uma palavra difícil de usar nos jornais e na televisão, porque não está na moda", explicou também que falar de religião é complicado num mundo cheio de referências ditas jornalísticas que quase determinam ser errado falar de Deus.
Dando a conhecer um percurso espiritual e profissional, a antiga directora da revista XIS, disse, no entanto, que a coerência de vida, de gestos e de discursos, pode ser um meio para se aprender a assumir Deus, inclusive, enquanto jornalista. Criticando um mundo em que só as más notícias são notícia, afirmou estar convicta da importância de ser diferente, de trabalhar "em contra corrente", dando a conhecer lados humanos e mostrando a Igreja como, de facto, é.
Laurinda Alves disse ainda acreditar que "a Igreja católica tem dificuldade na comunicação", sendo importante que pense "no Deus de que quer falar e de que forma" para chegar às pessoas da melhor forma.


Reportagem: Miguel Cotrim e Lisa Ferreira

Souta Moura no XXIV Encontro de “Fé e Cultura”

"vivemos num mundo de inquietude e de insatisfação"

À semelhança de anos anteriores, o Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN) realizou no passado dia 24, no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra a XXIV edição do encontro "Fé e Cultura".
Subordinado ao tema "Conflitos da Intimidade", este ano, o "Fé e Cultura" pretendeu com ajuda de um painel de oradores, reflectir sobre as diversas inquietudes e desejos que habitam a pessoa contemporânea, desde da ética à política, da arte às questões espirituais e de sentido, das relações humanas ao mundo dos afectos.
Sem medos e tabus abordaram o tema em questão.
O antigo Procurador Geral da República (PGR), José Souto de Moura, um dos conferencistas convidado para este evento, afirmou que sempre viveu confrontado com "dúvidas e inquietações". Segundo este magistrado, "só me mantenho nesta profissão, mantendo fidelidade aos princípios cristãos". "Procuro sempre os factos", afirmou. Para José Souto de Moura, um magistrado e um PGR não podem ser dissociados. "Saber que um PGR é nomeado pelo poder político é sempre uma angústia para um PGR", rematou.
Outra das angústias registadas pelo antigo PGR é o problema da solidão. Para José Souto de Moura um "PGR está na vértice da pirâmide e tem que responder por aquilo que faz e aquilo que fazem os seus subordinados, mesmo impedindo que o fizesse".
Souta Moura reconhece que vivemos hoje num mundo de inquietações, inquietude e insatisfação. É característico do ser humano. Segundo o antigo PGR, "foi esta inquietação que me revelou Deus".
Interpelado pela relação entre a comunicação social e a justiça, o magistrado reconhece que é "uma relação extremamente difícil". Mas não culpabiliza os média por isso. Diz apenas que "há uma certa falta de formação jurídica na óptica de quem escreve ou faz a notícia". Reconhece que os órgãos de comunicação social são empresas e "têm que fazer pela vida" e que a "justiça também não está habituada a dar satisfações à comunicação social". No que consiste na problemática destas relações, Souta Moura defende que a Justiça não deve ter medo de dizer a verdade, "só assim é que os conflitos poderão se dissipar".
Para o padre Carlos Carneiro, antigo director do CUMN, o seu maior conflito "é o celibato", não conhece ninguém mais conflituoso, que é o próprio Deus. Para este sacerdote a experiência de Deus é a experiência do conflito. Num auto-retrato que fez da sua pessoa, descreveu as suas maiores angústias e inquietudes da vida. O padre Carlos Carneiro reconhece que necessitamos muitas vezes de nos encontrarmos com a nossa própria matriz para resolvermos os conflitos interiores – "os conflitos só se resolvem no deserto".
Foram intervenientes, entre outros, o poeta e biblista José Tolentino de Mendonça, o jesuíta Filipe Martins, o psiquiatra Paula Carriço. O bioquímico João Gonçalo Frade, entre outros.


Miguel Cotrim