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29 de março de 2007

Souta Moura no XXIV Encontro de “Fé e Cultura”

"vivemos num mundo de inquietude e de insatisfação"

À semelhança de anos anteriores, o Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN) realizou no passado dia 24, no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra a XXIV edição do encontro "Fé e Cultura".
Subordinado ao tema "Conflitos da Intimidade", este ano, o "Fé e Cultura" pretendeu com ajuda de um painel de oradores, reflectir sobre as diversas inquietudes e desejos que habitam a pessoa contemporânea, desde da ética à política, da arte às questões espirituais e de sentido, das relações humanas ao mundo dos afectos.
Sem medos e tabus abordaram o tema em questão.
O antigo Procurador Geral da República (PGR), José Souto de Moura, um dos conferencistas convidado para este evento, afirmou que sempre viveu confrontado com "dúvidas e inquietações". Segundo este magistrado, "só me mantenho nesta profissão, mantendo fidelidade aos princípios cristãos". "Procuro sempre os factos", afirmou. Para José Souto de Moura, um magistrado e um PGR não podem ser dissociados. "Saber que um PGR é nomeado pelo poder político é sempre uma angústia para um PGR", rematou.
Outra das angústias registadas pelo antigo PGR é o problema da solidão. Para José Souto de Moura um "PGR está na vértice da pirâmide e tem que responder por aquilo que faz e aquilo que fazem os seus subordinados, mesmo impedindo que o fizesse".
Souta Moura reconhece que vivemos hoje num mundo de inquietações, inquietude e insatisfação. É característico do ser humano. Segundo o antigo PGR, "foi esta inquietação que me revelou Deus".
Interpelado pela relação entre a comunicação social e a justiça, o magistrado reconhece que é "uma relação extremamente difícil". Mas não culpabiliza os média por isso. Diz apenas que "há uma certa falta de formação jurídica na óptica de quem escreve ou faz a notícia". Reconhece que os órgãos de comunicação social são empresas e "têm que fazer pela vida" e que a "justiça também não está habituada a dar satisfações à comunicação social". No que consiste na problemática destas relações, Souta Moura defende que a Justiça não deve ter medo de dizer a verdade, "só assim é que os conflitos poderão se dissipar".
Para o padre Carlos Carneiro, antigo director do CUMN, o seu maior conflito "é o celibato", não conhece ninguém mais conflituoso, que é o próprio Deus. Para este sacerdote a experiência de Deus é a experiência do conflito. Num auto-retrato que fez da sua pessoa, descreveu as suas maiores angústias e inquietudes da vida. O padre Carlos Carneiro reconhece que necessitamos muitas vezes de nos encontrarmos com a nossa própria matriz para resolvermos os conflitos interiores – "os conflitos só se resolvem no deserto".
Foram intervenientes, entre outros, o poeta e biblista José Tolentino de Mendonça, o jesuíta Filipe Martins, o psiquiatra Paula Carriço. O bioquímico João Gonçalo Frade, entre outros.


Miguel Cotrim

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