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14 de março de 2007

As (minhas) notas da semana


1. Vamos ter aí, daqui a oito dias, as jornadas de Teologia do ISET, este ano debatendo o tema da Mulher na Igreja e perspectivando as linhas de reflexão para o século que estamos a iniciar. Como tenho as mãos metidas na massa, muita gente conhecida me tem perguntado se vamos debruçar-nos, e sobretudo tomar posição, sobre a possibilidade de a mulher vir a ser inserida no quadro dos ministérios ordenados da Igreja. Houve mesmo agentes qualificados da estrutura eclesiástica que, como quem não quer a coisa, foram pretendendo saber se estas jornadas ("com um tema escaldante" – segundo dizem) não vão ser palco de debate sobre este assunto, ultimamente tão discutido e objecto de opiniões contrastantes. Há que serenar o debate e reafirmar aquilo que disse, na qualidade de director do ISET de Coimbra, em entrevista ao "Correio". O importante, agora e aqui, não é sabermos se a mulher pode, alguma vez, no âmbito da Igreja Católica, vir a ser admitida ao ministério ordenado, mesmo partindo do princípio que, no século II, tenha havido não apenas "virgens chamadas viúvas" (como lhes chamou Santo Inácio), mas verdadeiras diaconisas, com a missão especifica de evangelizarem as mulheres e de participarem na unção baptismal daquelas que recebiam este sacramento de iniciação.
2. Nesta, como em muitas outras matérias, somos todos demasiado apressados. Queremos a solução das nossas preocupações no dia imediato ao nosso pensamento, sem termos em atenção que a história é lenta, e que a História da Igreja o é ainda muito mais. Há movimentos de mudança acalentados ao longo de séculos e alguns dos quais ainda não foram, nem serão tão depressa, concretizados. Recordo aqui, e apenas a título de exemplo, o que se passou , com a utilização da língua vernácula na liturgia. Todos sabemos que foi o Concílio Vaticano II que permitiu (e, mais do que isso, que incentivou) o uso das línguas faladas na celebração dos sacramentos, nomeadamente na Eucaristia. Mas as tentativas para que isso se concretizasse vinham de muito longe, pelo menos do século IX, quando os apóstolos dos eslavos, S. Cirilo e S. Metódio, pediram ao Papa (a vários papas, a começar por Nicolau I e Adriano II, e insistindo com João VIII) que autorizasse a celebração na língua dos povos que evangelizavam. Foi nesse âmbito que, depois de algumas recusas, conseguiram de João VIII a célebre bula "Industriae Tuae" (do ano 880) em que o papa declara: "Não é contrário à doutrina e à fé cantar missa ou ler o Santo Evangelho ou as lições divinas do Novo e do Antigo Testamento, bem traduzidas e interpretadas, ou mesmo cantar os outros ofícios das horas em língua eslava, porque Aquele que fez as três línguas principais – o hebraico, o grego e o latim – criou também todas as outras para sua glória e seu louvor". Nem o Vaticano II disse melhor, cerca de onze séculos depois.
3. Daí que me pareça, em relação ao papel da mulher na Igreja que o mais importante não seja agora estarmos a preocupar-nos se o ministério ordenado deve ou não, já ou amanhã, ser-lhes atribuído. O que nos compete, neste início do século XXI, é fazer uma séria reflexão antropológica, social, teológica e canónica sobre o papel da mulher no mundo do nosso tempo, em que a Igreja se insere sem qualquer relutância. É, aliás, nesse sentido, e dentro destes parâmetros, que o Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra se propõe organizar umas jornadas de reflexão, abertas a todos aqueles e aquelas que queiram participar. Não nos esquecemos, de resto, que quem dirige a Igreja, quem marca os tempos e as oportunidades, é o Espírito Santo de Deus. Sem Ele, nada vale a pena, quer antes quer depois!
A. Jesus Ramos

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