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5 de fevereiro de 2007

As (minhas) notas da Semana

A. Jesus Ramos

1. A história do homem é evolutiva em todos os seus sentidos. Momentaneamente pode recuar, mas apenas por acidente. Porque, a cada paragem no tempo, logo faz um esforço por avançar, no sentido de que, ao menos perfeito, se siga uma tentativa de perfeição, de modo a que a ânsia de plenitude sempre presente no coração humano se não quede ao longo da caminhada. Foi sempre assim, no decorrer dos séculos, e assim há-de continuar. Vejamos o percurso da história da liberdade humana. É continuado e persistente! As civilizações antigas produziram, todas elas, a par de alguns filósofos defensores da autonomia individual, da responsabilidade de cada um perante a comunidade, uma multidão imensa de gente que aceitava, defendia e praticava a escravatura. Foi assim no tempo dos egípcios, no tempo dos romanos, no tempo dos árabes. E até o cristianismo, que é a religião da liberdade, acabou por aceitar – mesmo através de Paulo, o mais lúcido dos apóstolos da libertação – uma realidade histórica que não entrava no seu ideário, mas acabou por entrar no seu itinerário, pelo menos no seu itinerário provisório. E se, a par da escravatura, falarmos da pena de morte, podemos fazer uma análise semelhante. Há, através da história, também por intervenção paciente do cristianismo, uma mudança de entendimento sobre a forma como a humanidade se refere aos seus princípios constitutivos. A lei do mais forte tem vindo, paulatinamente e pouco, ao longo dos séculos, a ser substituída pela força, presente em cada um de nós, do reconhecimento de uma igualdade que, aos poucos, se traduz em fraternidade. De semelhante, o homem vai-se reconhecendo como irmão.
2. Esta caminhada humana é sempre lenta. Os seus princípios estão inscritos no disco rígido de cada ser, mas não se manifestam todos de uma vez, nem todos em cada um dos indivíduos, de modo claro e definitivo. A escravatura, defendida em tempos idos, desapareceu das legislações ocidentais apenas no século dezanove. E a pena de morte, que quase todos os povos aceitaram na antiguidade, foi banida dos nossos códigos civis e das nossas constituições há poucos anos, e apenas em parte. Há estados que se dizem democráticos e civilizados a decretarem, ainda hoje, a pena de morte.
3. Nesta linha de pensamento, estou inteiramente convencido que a defesa da vida, a começar pela que se desenvolve no seio materno, tem também o seu percurso histórico. Os que agora estamos do lado do "não" à morte, somos apenas os pioneiros de uma luta que há-de levar, num futuro mais ou menos próximo, à declaração universal do princípio fundamental da vida a partir do primeiro momento. Não tenhamos, pois, medo do futuro. Muito pelo contrário.
4. Quem diz "não" à morte, tem que dizer "sim" à vida. Seria, aliás, essa a forma mais digna e dignificante de abordar este assunto, quer a nível político, quer eclesial, quer pastoral e social. A todos os níveis! Se olharmos à nossa volta, podemos perguntar-nos onde estão as estruturas que promovem, que defendem e que acolhem a vida? Onde estamos nós quando é necessário apoiar as jovens mães, dentro ou fora da família? Onde estão as ordens religiosas consagradas a este serviço, que é hoje um dos carismas mais interpelativos da nossa forma cristã de estar no mundo?

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