O sonho americano
Miguel Cotrim
1. O sonho de Martin Luter King cumpriu-se. Barack Obama foi eleito o 44.º Presidente dos EUA.
A partir de 20 de Janeiro de 2009, a Casa Branca vai receber, pela primeira vez na história, um afro-americano. É um sonho para Obama sobretudo pela recordação dos sacrifícios daqueles que o antecederam, pela emoção de chegar onde mais nenhum outro afro-americano chegara. É também um sonho para tantos outros afro-americanos e emigrantes que trabalham arduamente para o progresso de uma nação.
Quando lançou a sua candidatura à Presidência dos EUA, em Janeiro de 2007, Obama estava muito longe de gerar consensos que o catapultaram para a condição de um herói amercicano.
Barack Hussein Obama impôs uma nova forma de fazer política à escala mundial. Em poucos meses conseguiu congregar, à sua volta o maior movimento de cidadãos na história da política americana. Um milhão e meio de voluntários trabalharam para a vitória de Obama, distribuindo panfletos nas ruas, pregando a mensagem do candidato porta a porta e multiplicando mensagens na Internet.
O que motivou tantos jovens, que nunca antes se tinham interessados pela política, e tantos idosos, que há muito se tinham afastado deste cenário, a participarem activamente nesta campanha?
Obama personifica o sonho americano, lembrando que, nos momentos mais difíceis, como o qual estamos a atravessar, unidos, podemos superar os obstáculos. Esta é a maior riqueza da humanidade – não olhando a credos, raças ou condição social – é possível, unirmos por uma causa.
O homem que, nascido no Havai, no seio de uma família humilde, filho de um negro queniano e de uma branca do Kansas, conseguiu estudar direito em Harvard e chegar ao Senado.
Ele acredita numa nova América. Acredita que com esforço, dedicação e trabalho, tudo é possível. O seu carisma e o seu dom da oratória conquistaram os corações dos americanos e do mundo. O slogan escolhido «Yes, we can» («Sim, nós podemos») passou a estar presente constantemente nas suas propostas.
O homem que prometeu mudar a América e o mundo, tem agora grandes desafios pela frente – crise económica à escala mundial; criar um sistema de saúde acessível a todos os americanos; financiar os estudos universitários dos mais pobres; reduzir os impostos da classe média, etc.
Quando tomar posse a 20 de Janeiro de 2009, a poucas centenas do Memorial em honra do Presidente Abraham Lincoln, o mesmo local onde Luther King proferiu o discurso «I have a dream», Barack Obama iniciará uma nova fase da sua vida. Conseguirá honrar as suas promessas de campanha? Esperemos que sim.
Por cá, não teremos essa sorte. No próximo ano iremos viver três campanhas (Legislativas, Autárquicas e Europeias), e ao que parece teremos os mesmos candidatos de sempre. Protagonistas enfadonhos, arrogantes e mentirosos não convencerão o eleitorado a ir às urnas. Há uma grande insatisfação no seio da sociedade em geral. A desculpa não é só da crise económica. As políticas têm que ser acertadas e essencialmente viradas para as pessoas. Muitas estão viradas para o umbigo de cada um. Para muitos, é uma opotunidade para tirar o maior proveito do cargo que se exerce. Basta acompanhar por exemplo, aqui no burgo, as reuniões de câmara. Tanto o executivo como a própria oposição já cheiram a mofo. Enquanto não surgir uma nova "primavera" não surgirá a esperança que alimenta as pessoas na dedicação às comunidades…
Onde estará o nosso Obama?
2. Afinal, não são só, os partidos a queixarem-se da falta de participação civil na política. A Igreja também sofre desse mal. Em Coimbra, como em qualquer outra diocese da Europa, os católicos deixaram de praticar e de se interessar pelas actividades da Igreja. A assembleia diocesana realizada no passado dia 8 de Novembro no Seminário Maior de Coimbra registou apenas 20 presenças… Subtraindo os padres e os seminaristas presentes, a assembleia teve apenas 10 leigos… O que vale fazer festivais de música religiosa ou festas das famílias, quando nos momentos mais sérios e íntimos da Igreja não se consegue congregar os cristãos de uma cidade… Convinha interrogar-mos seriamente sobre isto!
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