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1 de outubro de 2008

Perguntas (in)convenientes


Jorge Cotovio


Há dias, uma estação de rádio da nossa cidade contacta-me para participar, via telefone, num pequeno debate subordinado ao tema "o celibato dos padres". Se o assunto é incómodo para um cidadão "anónimo", mais o será para um cidadão, baptizado, com alguma responsabilidade na instituição chamada Igreja, e contactado porque tem essas mesmas responsabilidades. Sabia, é claro, o (relativo) risco da minha exposição. Por mais que dissesse que era "a minha opinião pessoal", ela seria sempre associada a uma posição "da Igreja"…
Mas recusar participar, mesmo nestas circunstâncias, nunca!
Perguntou a jornalista se concordava com o casamento dos padres. Lá fui dizendo que o celibato é uma tradição característica do último milénio da Igreja, significando, entre outros aspectos, a entrega total do sacerdote a Deus e às comunidades que serve. Também disse que, actualmente, a sociedade e a conjuntura são diferentes, sendo, pois, uma questão "em aberto". Depois, procurei ser mais directo na resposta, dizendo que, pessoalmente, aceitava mais facilmente a ordenação de homens casados do que o casamento de sacerdotes (não explicando porquê, mas fazendo-o agora: a preparação para a vocação matrimonial tem em conta aspectos fundamentais não integrados na tradicional formação dos futuros sacerdotes – toda virada para o celibato; a solidão e o individualismo que emergem naturalmente, podem ser dois sérios obstáculos a uma vida conjugal sã).
Também acrescentei que, quanto a mim (porque falei sempre em nome pessoal), o caminho natural será este, não tanto para resolver o problema da escassez de padres (embora seja este o motivo que desencadeará a discussão deste tema), mas para estar acessível a muitos baptizados que até se sentem "chamados" para este serviço fundamental na vida da Igreja. E acrescentei logo a seguir, para não haver dúvidas, que esta ordenação de casados (ou mesmo o casamento de padres) não colide em nada com o Evangelho ou com as verdades fundamentais da Fé, sendo uma questão com raízes meramente "humanas", fruto da "tradição" e de alguns preconceitos.
Antes que a jornalista me interrompesse o raciocínio, ainda tive oportunidade de dizer que para vencer a crise das vocações consagradas, um dos caminhos será promover o papel dos leigos dentro da Igreja, deixando-os assumir tarefas de maior responsabilidade e autonomia, sem, contudo, colidirem com a missão específica dos sacerdotes e restantes consagrados, pois há lugar e tarefas específicas para todos nesta Igreja. [Não disse, mas também podia ter dito, que este "caminho" também implica promover (= a "desenvolver", "impulsionar", "provocar") o papel dos bispos, dos sacerdotes e restantes consagrados, levando-os a assumir as tarefas que lhes são mais específicas e exclusivas, isto é, aquelas que os leigos não podem assumir, ou, relativamente aos bispos, aquelas que os sacerdotes não devem assumir].
Como já não bastasse esta pergunta inconveniente, a jornalista avança com outra que eu já estava a prever: "E o que acha da ordenação das mulheres?". Lá fui respondendo que achava muito bem, quer fossem já consagradas, quer não. Também esta questão não contraria as verdades da Fé. É só uma questão recheada de preconceitos, embora estejamos cheios de justificações que dão a entender a "sublimação" do feminino, mesmo sem a possibilidade do acesso a este "grau superior"…
E agora só para nós. Não será este o caminho que os "sinais dos tempos" apontam? Não é isto que vai suceder lá para o pontificado de Bento XVIII (não, não foi engano; eu disse mesmo "dezoito") ou de João Paulo IV?
Mas, sinceramente, creio haver questões pastorais mais importantes para resolver nos próximos dois pontificados do que estas questões meramente "técnicas". O Espírito vai-nos alertando – a todos nós católicos – mas estamos ocupados com tanta "coisa" que não temos tempo para o essencial. Parecemos Marta, preocupada com tudo e até chocada com a opção da irmã. Esquecemos a Maria, a sua atitude de "sub+missão", de humildade, de "estar" com o Mestre, para ganhar forças para a "missão". Uma missão que cabe a cada um de nós – leigos e consagrados – agora, neste pontificado de Bento XVI.

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