Inventariação da Paróquia de São Cristóvão (Sé Velha)
Aproveitando a interrupção surgida no decorrer da inventariação da paróquia de Serpins, efectuou-se a da paróquia de São Cristóvão, vulgar e impropriamente designada Sé Velha. Com um total de 111 fichas e o inerente repositório fotográfico, ficou concluída no dia 24 de Janeiro.
Na verdade, aquela conhecida paróquia medieval estava sediada na importante igreja de São Cristóvão, edificada nos meados do século XII, de traçado românico e construída como miniatura de ensaio da Sé, de seguida reedificada desde os fundamentos, por ordem do Bispo Dom Miguel Pais Salomão e com o patrocínio de Dom Afonso Henriques.
Quando as funções catedralícias foram transferidas, em 1772, para a igreja do Santíssimo Nome de Jesus, por decisão do ministro despótico de Dom José e plena anuência do prelado e do cabido, as recentes instalações receberam o nome de Sé Nova. A veneranda sede-mãe da Diocese ficava posta ao nefando abandono ignominioso, chegando a refúgio de marginais e lixeira desavergonhada, um autêntico espelho do abandono a que foi lançada.
Tal era o lastimável estado por que passava que, no tempo de Dom Manuel Correia de Bastos Pina, e pelo auxílio concedido pela Rainha Dona Amélia, obteve inestimável restauro e, já em 1928, recebia nova sagração, com Dom Manuel Luís Coelho da Silva, e ficando inigualavelmente estudada pelo Doutor António Garcia Ribeiro de Vasconcelos.
Outro facto, tristemente célebre, data de princípios da segunda metade do século XIX, quando certos alumbrados da cidade, também movidos pelos inconfundíveis ideários maçónicos, conseguiram a destruição da notável igreja de São Cristóvão para, no preciso local, instalarem um teatro, com o nome do rei Dom Luís e, por fim, de Sousa Bastos: um enodoado arquitectónico na malha citadina, similar a vários outros.
Como se mantinha a mencionada paróquia e era necessário um condigno lugar de culto, ele ficou sediado na catedral de Santa Maria, desde logo a servir na categoria de paroquial. Para lá se transferiram todos os bens móveis e nela passou a existir o serviço cultual, com plena utilização do património sacro-litúrgico, vindo da que fizeram desaparecer, porque o cabido debandara com todos os pertences da Sé.
Felizmente, muito ainda subsiste da passada glória da paróquia inicial, especialmente evidente nas pratas, onde avultam utensílios processionais, da melhor feitura seiscentista, e diferentes peças da centúria seguinte, algumas imagens e paramentos, de diminuta variedade, mas, de bons tecidos brancos; alguns outros, vermelhos, foram desmanchados, como se percebe pelos retalhos existentes.
Da talha e da imaginária, há uma singela presença, embora de superior qualidade, seja na escultura estofada, seja na de madeira simples ou na de terracota, cujo conjunto manifesta um interessante reportório de relicários, incorporados nas figuras de mártires e de santos, identificados.
Para perpetuar a dedicação da primitiva Sé, à Virgem Santa Maria, subsiste a lápide do século XI. Depois, algum esplendor ainda permanece dos faustos medievais e modernos: a tumulária dos bispos e de Dona Vataça Lascáris; parte do revestimento azulejar, proto-quinhentista; o magnífico retábulo flamejante (em 12 de Novembro completará meio milénio de existência ao público); a excelente pia baptismal, de Dom Jorge de Almeida; as telas seiscentistas, com particular destaque da contemporânea da canonização da Rainha Santa Isabel; a imagem de Nossa Senhora da Conceição, de Frei Cipriano da Cruz; e, principalmente, a jóia monumental que é a mole arquitectónica românica da própria Sé, bem como a do claustro, do gótico inicial.
Padre José Eduardo Reis Coutinho
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