No Jubileu Episcopal de D. Albino Cleto
Homenagem ao Senhor Dom Albino
25º Aniversário do Episcopado
Foi para mim uma grande honra o convite que me foi feito para dirigir algumas palavras nesta ocasião tão solene. Aceitei em atitude de serviço apesar de reconhecer que tão alta celebração exigiria uma outra pessoa mais à altura.
Celebrando o vigésimo quinto aniversário da ordenação episcopal do Senhor Dom Albino, Bispo de Coimbra, gostaria de sublinhar três aspectos. Um primeiro de Acção de Graças pela vocação e missão episcopal do nosso Bispo, em segundo lugar, fazer um conjunto de reflexões sobre a doutrina conciliar acerca da Pessoa do Bispo e, por fim, sublinhar algumas notas acerca da acção pastoral do Senhor Dom Albino na Diocese de Coimbra.
Este é o momento de acção de graças pela vida, vocação e serviço que, por mandato divino, o Senhor Dom Albino representa no meio de nós. Gostaria de unir nesta palavra de acção de graças, a diocese da Guarda que o viu nascer e lhe deu os primeiros sacramentos e à qual o Senhor Dom Albino sempre se encontrou ligado, realçando a sua família e a sua paróquia de Manteigas, e incorporando, ainda, a Diocese de Lisboa que o formou humana, teológica e culturalmente, na qual exerceu o seu ministério de presbítero em diversas tarefas pastorais e de bispo auxiliar. Dar Graças ao Senhor que chama e envia. O Senhor Dom Albino é, desde há 10 anos o enviado por Jesus Cristo como Apóstolo à diocese de Coimbra.
Tal como, no ano de 2001, a Assembleia do Sínodo dos Bispos colocou perante si o Bom Pastor como o Modelo de todo o Pastor da Igreja, também nós levantamos o nosso ser para o Bom Pastor da Igreja, Jesus Cristo, para Lhe dar Graças pela forma tão sublime como quis fazer participante do Seu Ser Bom Pastor ao actual Bispo de Coimbra.
Realmente não se pode entender nenhum ministério na Igreja sem a referência a Jesus Cristo e através dEle ao Mistério Trinitário de Deus. Como afirma a Exortação Apostólica Post-Sinodal «Pastores Gregis», «vista em toda a sua profundidade, a dimensão cristológica do ministério pastoral introduz na compreensão do fundamento trinitário do mesmo. A vida de Cristo é trinitária: é o Filho eterno e unigénito do Pai e o ungido do Espírito Santo, enviado ao mundo; é Ele juntamente com o Pai, que envia o Espírito Santo à Igreja. Esta dimensão trinitária, que sempre se manifesta no modo de ser e de agir de Cristo, plasma também o ser e o agir do Bispo»(n. 7).
Neste ambiente de acção de graças, penso que a Igreja diocesana deve aprofundar a sua consciência acerca da Pessoa do Bispo na vida da Igreja diocesana.
Afirma o Concilio Vaticano II (LG, 20) que «entre os vários ministérios que na Igreja se exercem desde os primeiros tempos, consta da tradição que o principal é o daqueles que, constituídos no episcopado em sucessão ininterrupta são transmissores do múnus apostólico». E continua, «Portanto, os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres de doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo. E assim como permanece o múnus confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, primeiro entre os Apóstolos, e que se devia transmitir aos seus sucessores, do mesmo modo permanece o múnus dos Apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido perpetuamente pela Sagrada Ordem dos Bispos. Ensina, por isso, o Sagrado Concílio que por instituição divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos, como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e Àquele que enviou Cristo».
É este o mistério que hoje se nos torna presente na celebração que nos reúne aqui. Este mesmo mistério é descrito na «Pastores Gregis» com as seguintes palavras: «Cristo é o ícone original do Pai e a manifestação da presença misericordiosa entre os homens. O Bispo, agindo em lugar e nome de Cristo, torna-se, na Igreja a ele confiada, sinal vivo do Senhor Jesus, Pastor e Esposo, Mestre e Pontífice da Igreja. Aqui está a fonte do ministério pastoral, pelo que (…) a tríplice função de ensinar, santificar e governar o Povo de Deus deve ser exercida com os traços característicos do Bom Pastor» (7). E quais são esses traços característicos do Bom Pastor? Responde este mesmo documento: caridade, conhecimento do rebanho, solicitude por todos, acção misericordiosa pelos pobres, peregrinos e indigentes, busca das ovelhas perdidas para conduzi-las ao único redil. E, mais à frente, completa este elenco, somando-lhe ainda os critérios das Bem-aventuranças, dizendo: «Em suma, os fiéis devem poder contemplar, no rosto do Bispo, aquelas qualidades que são dom da graça e que nas bem-aventuranças constituem quase o auto-retrato de Cristo: o rosto da pobreza, da mansidão e da paixão pela justiça; o rosto misericordioso do Pai e do homem pacífico e pacificador; o rosto da pureza de quem constantemente e unicamente contempla a Deus. Os fiéis hão-de poder ver, no seu Bispo, o rosto também daquele que continua a compaixão de Cristo pelos atribulados e às vezes, como sucedeu na história e acontece ainda hoje, o rosto cheio de fortaleza e alegria interior de quem é perseguido por causa da verdade do Evangelho» (n. 18).
Estes são traços que mais adiante sublinharemos na acção do Senhor Dom Albino nestes 10 anos de exercício pastoral na Diocese de Coimbra. Mas mais ainda, ao sublinhar estes traços, sinto toda a Igreja diocesana, sacerdotes, diáconos, religiosos, consagrados e leigos, a ser interpelada pelas mesmas exigências, porque se o Bispo não realiza a missão da Igreja sozinho, também desperta em todos os fiéis as mesmas exigências da acção pastoral.
Há duas expressões que bem sintetizam o ser do Bispo, Sumo Sacerdote, no seu ser e na sua missão: perito em humanidade e homem de Deus. É preciso que a exemplo de Jesus Cristo que sabia o que existe no interior de cada homem, seja capaz de conhecer em profundidade a alma humana, intuir dificuldades e problemas, facilitar o encontro e o diálogo, obter confiança e colaboração, exprimir juízos serenos e objectivos (cfr. PdV, 43). A Pastores Dabo Vobis, define deste modo o sacerdote como homem de Deus: «O sacerdote é o homem de Deus, aquele que pertence a Deus e faz pensar em Deus (…) Os cristãos esperam encontrar no sacerdote, não só um homem que os acolhe, que os escuta com todo o gosto e lhes testemunha sincera simpatia, mas também e sobretudo um homem que os ajuda a ver a Deus, a subir em direcção a Ele» (n 47).
Mas sobretudo o Bispo é o homem da comunhão que vive no seu ser e a exprime no seu actuar pastoral. Por isso, a vivência da comunhão eclesial levará o Bispo a um estilo pastoral cada vez mais aberto à colaboração de todos. Há uma espécie de circularidade, diz a Exortação Post-sinodal «Pastores Gregis», entre aquilo que o Bispo tem em si mesmo como responsabilidade pessoal de decidir para o bem da Igreja confiada aos seus cuidados e o contributo que os fiéis lhe podem oferecer através dos órgãos consultivos. E enumera o sínodo diocesano, o conselho presbiteral, o conselho episcopal e o conselho pastoral.
A Igreja é uma comunhão orgânica, que se realiza através da coordenação dos vários carismas, ministérios e serviços em ordem à consecução do fim último que é a salvação. O Bispo é responsável pela realização desta unidade na diversidade, procurando favorecer de tal modo a sinergia entre os diversos agentes que seja possível percorrerem juntos o caminho comum de fé e missão. Isto exige do ministério do Bispo o suscitar de novas formas de participação e corresponsabilidade nas várias categorias de fiéis. Por isso, o Bispo, prossegue o documento citado, «esforçar-se-á por suscitar, na sua Igreja particular, estruturas de comunhão e participação, que permitam escutar o Espírito que vive e fala nos fiéis e, depois, orientá-los a fim de porem em prática o que o mesmo Espírito sugere para o verdadeiro bem da Igreja» (n.44).
Pretendo, nestas minhas palavras e em breve síntese de alguns aspectos doutrinais acerca do ser e da missão do Bispo, colocar-me em comunhão com toda a Igreja diocesana em atitude acção de graças e de escutar os apelos que o Senhor Jesus Cristo nos quer dizer através desta celebração.
No dia 11 de Janeiro de 1998, dava entrada o Senhor Dom Albino na Diocese de Coimbra, nos primeiros quatro anos permaneceu como Bispo Coadjutor do Senhor Dom João Alves, agora Bispo Emérito de Coimbra e que temos a graça de ter aqui presente. Logo desde o início vimos na pessoa do Senhor Dom Albino a riqueza da sua personalidade, perito em humanidade, com invulgares qualidades humanas e homem de Deus porque na sua simplicidade e transparência de homem serrano, descobre-se no interior de si mesmo uma alma apaixonada por Jesus Cristo.
Nas suas palavras e nos seus comportamentos sentiu a diocese que o animava uma grande fé, uma forte comunhão Episcopal e uma sólida amizade com o seu, agora, antecessor, o Senhor Dom João Alves. Várias vezes o ouvimos dizer da sua alegria pela riquíssima herança que recebia, nos diversos campos em que se exprime a vida pastoral da diocese: um presbitério unido, boa formação e corresponsabilidade dos leigos, boa dinamização vocacional e uma boa organização das estruturas pastorais. Parecendo, deste modo, um Bispo que viria dar continuidade ao trabalho já realizado, cedo se impôs pela sua forma original de ser pastor diocesano.
Um primeiro aspecto que gostaria de realçar na actuação pastoral do Senhor Dom Albino é o conhecimento directo de todos os homens e mulheres que pertencem à sua diocese. Não sei se o Senhor Dom Albino conhece todos os seus diocesanos, será uma causa quase impossível, mas tenho a certeza que conhece todos os fiéis mais responsáveis dos diversos sectores e serviços pastorais. Mas há algo que é incontestado, não há ninguém que na diocese não conheça o seu Bispo. Seja nas visitas pastorais que faz com tanto empenho, seja nas diversas actividades que se vão realizando e que contam sempre, ou quase sempre, com a presença do senhor Bispo, seja, ainda, em encontros ocasionais, todas estas ocasiões são aproveitadas para estabelecer laços de comunhão e de amizade.
Atento à sua responsabilidade de Bispo e à situação do tempo presente, bem cedo apresentou, na sua Carta Pastoral programática «À sombra dos seus ramos», como sua primeira prioridade, os que se encontram afastados da fé. Penso que tem sido este campo pastoral que mais o tem preocupado, porque sendo afastados da Igreja, não possuímos instrumentos adequados para ir ao encontro destes irmãos nossos e filhos de Deus mas que ainda não despertaram para a sua participação na Igreja de Jesus Cristo. Quantas intervenções suas sublinham a necessidade de se alterarem as prioridades da actuação pastoral, admitindo que não se devem esgotar os recursos humanos na manutenção dos serviços religiosos
Sabendo que hoje há novos areópagos onde deve ser proclamada a Palavra de Deus, como o Magistério da Igreja tantas vezes tem afirmado, o vasto mundo da comunicação social, das associações, onde se forja a cultura, no domínio da economia, da arte, cedo o Senhor Dom Albino sentiu que era necessário empenhar esforços na valorização dos meios de comunicação social, seja os da diocese, seja no diálogo com os que se situam no domínio da sociedade em geral; sentiu-se interpelado pela torre de uma universidade que domina não só o emblemático de Coimbra como desafia a novas preocupações pastorais. São tantos os cristãos que aí estudam e leccionam ou trabalham que são um desafio constante à Igreja para que assumam a sua responsabilidade de serem fermento de Evangelho no meio universitário e do Ensino Superior. Quanto às associações, quantas vezes já mereceram destaque nos programas de pastoral, não só no seu reconhecimento mas também no contributo dos cristãos para a sua valorização.
A Igreja segundo o ritmo do Vaticano II exige a corresponsabilidade de todos os fiéis cristãos não só no trabalho pastoral imediato mas na reflexão e na decisão sobre os melhores caminhos pastorais. A diocese de Coimbra, poucos anos antes da sua entrada, tinha celebrado o sínodo diocesano. Foi um trabalho profundo e de expressão máxima da Igreja que vive a comunhão e se corresponsabiliza na missão. Agora, o Senhor Dom Albino, logo que iniciou o seu magistério como Bispo diocesano, convocou toda a diocese para lhe indicar as linhas de orientação pastoral para o Plano de Pastoral que deveria nortear a acção pastoral de toda a comunidade diocesana ao longo de cinco anos. Assim, dedicou-se empenho que se traduziu em iniciativas e projectos no domínio da família, dos jovens, dos carenciados, no diálogo fé-cultura e na promoção vocacional. Está agora a diocese a fazer a avaliação deste trabalho, mas podemos desde já reconhecer como se tem avançado nestas áreas.
Para melhor preparar os leigos para assumirem as suas responsabilidades na missão da Igreja, cada vez mais exigente, o Senhor Bispo propôs-se, de imediato, a criação da Escola diocesana de Leigos com meritórios resultados.
Merece um especial carinho e dedicação do Bispo os mais pobres e marginalizados. Isto mesmo o tem manifestado na sua acção. Não só pelo empenho pessoal em acompanhar as diversas instituições que, como organismos da Igreja diocesanas, respondem aos mais desprotegidos da sociedade, como provocou a sua permanência durante diversos anos de vigência do plano pastoral, como a sua visível preocupação não só pela pobreza tradicional mas, sobretudo, pelas novas formas de pobreza, determinadas pelas situações económicas e sociais do mundo de hoje. Certamente que estamos perante um campo de grandes exigência e de novas respostas.
Eu amo os meus padres. Várias vezes o Senhor Dom Albino referiu esta expressão. Mas não era necessário dizê-lo, todos nós sentimos que o Senhor Bispo sofre com cada um dos seus padres, quando surgem as dificuldades, e alegra-se com cada um deles, na alegria do ministério, vivido no dia a dia. Exige o Concílio que o Bispo faça um todo com o seu presbitério que coopera com o seu Bispo no serviço pastoral. De tal modo o Senhor Dom Albino leva à risca esta recomendação, que por vezes ficamos com a sensação que ao fazer-se tão irmãos dos seus padres se coloca demasiado ao seu lado e não tanto acima. É fruto da sua simplicidade, humildade e grandeza de alma. Não necessita de se colocar acima para se reconhecer que é o Pastor.
Ligado ao amor pelos seus padres está a sua paixão pelas vocações de consagração em geral e das vocações sacerdotais em particular. Graças a Deus, a diocese tem vindo a fazer, já há muito tempo, um bom trabalho no domínio do trabalho da pastoral vocacional, no pré-seminário e na adequada formação nos seminários. Sem dúvida, que o Senhor Dom Albino não só continuou este trabalho como lhe imprimiu um interesse e dinamização pessoal.
Certamente, reconhecemos que em tão curto espaço de tempo, dez anos, muito foi realizado, mas também sentimos que as palavras são pobres e a memória atraiçoa. Damos graças a Deus Senhor Dom Albino pela sua acção pastoral na diocese de Coimbra.
Mas há uma característica que é essencial ao ministério episcopal, a sua colegialidade, pela qual cada bispo faz parte de um colégio apostólico, presidido pelo Santo Padre, e toma a seu encargo a solicitude por todas as Igrejas particulares. Com que entusiasmo e zelo o Senhor Dom Albino preparou, realizou e relatou a visita «ad sacra limina apostolorum», momento alto da expressão desta colegialidade; com que interesse, preparação e dedicação se entrega às tarefas das Comissões Episcopais onde está integrado; que belo é vê-lo a manifestar a amizade e simpatia com todos os outros bispos da conferência episcopal, e vice-versa, é animador ver como os bispos portugueses falam com simpatia e amizade do Senhor Dom Albino.
Realcei no Senhor Dom Albino a sua humanidade, profunda fé e zelo caritativo. Prestes a terminar esta minha intervenção, gostaria de sublinhar a faceta de Pastor da Esperança. Deixei esta virtude teologal para o fim de propósito.
É este o horizonte onde se quis colocar o Sínodo dos Bispos de 2001, ao reflectir sobre o ser e a missão do Bispo, cuja Exortação Pós Sinodal leva como título «O Bispo Servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a Esperança do Mundo». Esta Exortação, no nº 4, refere a verdadeira Esperança, no contexto da falência das esperanças humanas, para exemplicar, sublinha os factos do 11 de Setembro, ocorridos, pouco mais de um mês antes, com o resultado de inumeráveis vitimas inocentes e o aparecimento no mundo de novas e gravíssimas situações de incerteza e de temor. E, continua o texto, «configuravam-se, assim, novos horizontes de guerra e de morte que, juntando-se às situações de conflito já existentes, mostravam em toda a sua urgência a necessidade de dirigir ao Príncipe da Paz a imploração para que os corações dos homens voltassem a estar abertos à reconciliação, à solidariedade e à paz». Mas o texto vai mais longe e analisa mais profundamente o que chama a falência das esperanças humanas, que «baseando-se em ideologias materialistas, imanentistas e economicistas, pretendem medir tudo em termos de eficiência e relações de poder e de mercado». Onde colocar então a verdadeira Esperança? O mesmo texto responde, na convicção que nos anima na fé: «só a luz do Ressuscitado e o impulso do Espírito Santo ajudam o homem a apoiar as próprias expectativas na esperança que não desilude». Por isso, prossegue:«A certeza desta profissão de fé deve ser tal que permita tornar de dia para dia mais firme a esperança dum Bispo, levando-o a confiar que a misericordiosa bondade de Deus jamais cessará de construir sendas de salvação e de abri-las à liberdade de cada homem. É a esperança que o anima a discernir, no contexto onde desempenha o seu ministério, os sinais da vida capazes de derrotar os germes nocivos e mortais. É também a esperança que o sustenta na transformação dos próprios conflitos em ocasiões de crescimento, abrindo-os à reconciliação. Será ainda a esperança em Jesus, Bom Pastor, a encher o seu coração de compaixão induzindo-o a debruçar-se sobre a dor de cada homem e mulher que sofre, para cuidar das suas chagas, mantendo sempre viva a confiança de que a ovelha perdida pode ser encontrada. Deste modo o Bispo será sinal cada vez mais luminoso de Cristo, Pastor e Esposo da Igreja. Agindo como pai, irmão e amigo de todo o homem, será junto de cada um a imagem viva de Cristo, na esperança, no qual se cumprem todas as promessas de Deus e realizam todas as expectativas da criação».
Quanta paciência (esperança) verificamos na sua actuação, Senhor Dom Albino, ao longo destes anos, nunca abdicando do diálogo, da compreensão, sem transigir no essencial, mas compreensivo nas fragilidades humanas que se traduzem em alguns casos de conflito que algumas comunidades suportam no seu seio. Obrigado, Senhor Bispo por este seu exemplo de simplicidade e de coragem evangélica.
Este é o mundo, cujos traços me escuso de enunciar, que Deus continua a amar. Este é o nosso mundo que, tantas vezes sem o saber, necessita do anúncio da Boa Notícia, o Evangelho de Jesus Cristo.
Por isso, apela João Paulo II a que o Bispo, tal como recomenda o Apóstolo, anuncie o Evangelho oportuna e inoportunamente, repreenda, censure e exorte com bondade e doutrina (cfr. 2Tim. 4,2). Vivendo como homens de esperança e reflectindo no próprio ministério a eclesiologia de comunhão e missão, o Bispo será verdadeiramente motivo de esperança para o seu rebanho. E insiste João Paulo II, nós sabemos que o mundo necessita da esperança que não confunde. Sabemos que esta esperança é Cristo. Sabemo-lo e por isso proclamamos a esperança que brota da cruz (cfr. PG, 5), que, no dizer do Apóstolo, continuará a ser escândalo e loucura para o mundo.
Fica muito por dizer. Nestas circunstâncias as palavras são sempre pobres. Mas gostaria de terminar com um pequeno texto retirado da carta de S.to Inácio de Antioquia ao seu amigo Bispo Policarpo:
«Pela graça de que estás revestido, eu te exorto a acelerar ainda o teu passo e a exortar também os outros para que se salvem. Justifica a tua posição, empenhando-te todo, física e espiritualmente. Cuida da unidade; nada melhor do que ela. Promove a todos como o Senhor te promove; suporta a todos com amor, como aliás o fazes. Dispõe-te para orações ininterruptas; pede ainda maior inteligência do que já tens; sê vigilante, dono de um espírito sempre alertado. Fala a cada qual no estilo de Deus. Vai levando as enfermidades de todos como atleta consumado. Quanto maior o labor maior o lucro.
(…) O tempo actual exige tua presença, para chegares até Deus, assim como os pilotos anelam pelos ventos e os açoitados da tempestade pelo porto (…)
Aqueles que parecem dignos de fé e no entanto ensinam o erro não te abalem. Mantém-te firme como bigorna sob os golpes. É próprio de um grande atleta receber pancadas e vencer. Não tenhas nenhuma dúvida temos de suportar tudo por causa de Deus para que Ele também nos suporte. Torna-te ainda mais zeloso do que és; aprende a conhecer os tempos. Aguarda o que está acima do oportunismo, o atemporal, o invisível que por nossa causa se fez visível, o impalpável, o impassível que por nós se fez passível, o que de todos os modos por nós sofreu».
Consigo, Senhor Dom Albino, damos graças a Deus pelo bem que tem feito.
25º Aniversário do Episcopado
Foi para mim uma grande honra o convite que me foi feito para dirigir algumas palavras nesta ocasião tão solene. Aceitei em atitude de serviço apesar de reconhecer que tão alta celebração exigiria uma outra pessoa mais à altura.
Celebrando o vigésimo quinto aniversário da ordenação episcopal do Senhor Dom Albino, Bispo de Coimbra, gostaria de sublinhar três aspectos. Um primeiro de Acção de Graças pela vocação e missão episcopal do nosso Bispo, em segundo lugar, fazer um conjunto de reflexões sobre a doutrina conciliar acerca da Pessoa do Bispo e, por fim, sublinhar algumas notas acerca da acção pastoral do Senhor Dom Albino na Diocese de Coimbra.
Este é o momento de acção de graças pela vida, vocação e serviço que, por mandato divino, o Senhor Dom Albino representa no meio de nós. Gostaria de unir nesta palavra de acção de graças, a diocese da Guarda que o viu nascer e lhe deu os primeiros sacramentos e à qual o Senhor Dom Albino sempre se encontrou ligado, realçando a sua família e a sua paróquia de Manteigas, e incorporando, ainda, a Diocese de Lisboa que o formou humana, teológica e culturalmente, na qual exerceu o seu ministério de presbítero em diversas tarefas pastorais e de bispo auxiliar. Dar Graças ao Senhor que chama e envia. O Senhor Dom Albino é, desde há 10 anos o enviado por Jesus Cristo como Apóstolo à diocese de Coimbra.
Tal como, no ano de 2001, a Assembleia do Sínodo dos Bispos colocou perante si o Bom Pastor como o Modelo de todo o Pastor da Igreja, também nós levantamos o nosso ser para o Bom Pastor da Igreja, Jesus Cristo, para Lhe dar Graças pela forma tão sublime como quis fazer participante do Seu Ser Bom Pastor ao actual Bispo de Coimbra.
Realmente não se pode entender nenhum ministério na Igreja sem a referência a Jesus Cristo e através dEle ao Mistério Trinitário de Deus. Como afirma a Exortação Apostólica Post-Sinodal «Pastores Gregis», «vista em toda a sua profundidade, a dimensão cristológica do ministério pastoral introduz na compreensão do fundamento trinitário do mesmo. A vida de Cristo é trinitária: é o Filho eterno e unigénito do Pai e o ungido do Espírito Santo, enviado ao mundo; é Ele juntamente com o Pai, que envia o Espírito Santo à Igreja. Esta dimensão trinitária, que sempre se manifesta no modo de ser e de agir de Cristo, plasma também o ser e o agir do Bispo»(n. 7).
Neste ambiente de acção de graças, penso que a Igreja diocesana deve aprofundar a sua consciência acerca da Pessoa do Bispo na vida da Igreja diocesana.
Afirma o Concilio Vaticano II (LG, 20) que «entre os vários ministérios que na Igreja se exercem desde os primeiros tempos, consta da tradição que o principal é o daqueles que, constituídos no episcopado em sucessão ininterrupta são transmissores do múnus apostólico». E continua, «Portanto, os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres de doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo. E assim como permanece o múnus confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, primeiro entre os Apóstolos, e que se devia transmitir aos seus sucessores, do mesmo modo permanece o múnus dos Apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido perpetuamente pela Sagrada Ordem dos Bispos. Ensina, por isso, o Sagrado Concílio que por instituição divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos, como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e Àquele que enviou Cristo».
É este o mistério que hoje se nos torna presente na celebração que nos reúne aqui. Este mesmo mistério é descrito na «Pastores Gregis» com as seguintes palavras: «Cristo é o ícone original do Pai e a manifestação da presença misericordiosa entre os homens. O Bispo, agindo em lugar e nome de Cristo, torna-se, na Igreja a ele confiada, sinal vivo do Senhor Jesus, Pastor e Esposo, Mestre e Pontífice da Igreja. Aqui está a fonte do ministério pastoral, pelo que (…) a tríplice função de ensinar, santificar e governar o Povo de Deus deve ser exercida com os traços característicos do Bom Pastor» (7). E quais são esses traços característicos do Bom Pastor? Responde este mesmo documento: caridade, conhecimento do rebanho, solicitude por todos, acção misericordiosa pelos pobres, peregrinos e indigentes, busca das ovelhas perdidas para conduzi-las ao único redil. E, mais à frente, completa este elenco, somando-lhe ainda os critérios das Bem-aventuranças, dizendo: «Em suma, os fiéis devem poder contemplar, no rosto do Bispo, aquelas qualidades que são dom da graça e que nas bem-aventuranças constituem quase o auto-retrato de Cristo: o rosto da pobreza, da mansidão e da paixão pela justiça; o rosto misericordioso do Pai e do homem pacífico e pacificador; o rosto da pureza de quem constantemente e unicamente contempla a Deus. Os fiéis hão-de poder ver, no seu Bispo, o rosto também daquele que continua a compaixão de Cristo pelos atribulados e às vezes, como sucedeu na história e acontece ainda hoje, o rosto cheio de fortaleza e alegria interior de quem é perseguido por causa da verdade do Evangelho» (n. 18).
Estes são traços que mais adiante sublinharemos na acção do Senhor Dom Albino nestes 10 anos de exercício pastoral na Diocese de Coimbra. Mas mais ainda, ao sublinhar estes traços, sinto toda a Igreja diocesana, sacerdotes, diáconos, religiosos, consagrados e leigos, a ser interpelada pelas mesmas exigências, porque se o Bispo não realiza a missão da Igreja sozinho, também desperta em todos os fiéis as mesmas exigências da acção pastoral.
Há duas expressões que bem sintetizam o ser do Bispo, Sumo Sacerdote, no seu ser e na sua missão: perito em humanidade e homem de Deus. É preciso que a exemplo de Jesus Cristo que sabia o que existe no interior de cada homem, seja capaz de conhecer em profundidade a alma humana, intuir dificuldades e problemas, facilitar o encontro e o diálogo, obter confiança e colaboração, exprimir juízos serenos e objectivos (cfr. PdV, 43). A Pastores Dabo Vobis, define deste modo o sacerdote como homem de Deus: «O sacerdote é o homem de Deus, aquele que pertence a Deus e faz pensar em Deus (…) Os cristãos esperam encontrar no sacerdote, não só um homem que os acolhe, que os escuta com todo o gosto e lhes testemunha sincera simpatia, mas também e sobretudo um homem que os ajuda a ver a Deus, a subir em direcção a Ele» (n 47).
Mas sobretudo o Bispo é o homem da comunhão que vive no seu ser e a exprime no seu actuar pastoral. Por isso, a vivência da comunhão eclesial levará o Bispo a um estilo pastoral cada vez mais aberto à colaboração de todos. Há uma espécie de circularidade, diz a Exortação Post-sinodal «Pastores Gregis», entre aquilo que o Bispo tem em si mesmo como responsabilidade pessoal de decidir para o bem da Igreja confiada aos seus cuidados e o contributo que os fiéis lhe podem oferecer através dos órgãos consultivos. E enumera o sínodo diocesano, o conselho presbiteral, o conselho episcopal e o conselho pastoral.
A Igreja é uma comunhão orgânica, que se realiza através da coordenação dos vários carismas, ministérios e serviços em ordem à consecução do fim último que é a salvação. O Bispo é responsável pela realização desta unidade na diversidade, procurando favorecer de tal modo a sinergia entre os diversos agentes que seja possível percorrerem juntos o caminho comum de fé e missão. Isto exige do ministério do Bispo o suscitar de novas formas de participação e corresponsabilidade nas várias categorias de fiéis. Por isso, o Bispo, prossegue o documento citado, «esforçar-se-á por suscitar, na sua Igreja particular, estruturas de comunhão e participação, que permitam escutar o Espírito que vive e fala nos fiéis e, depois, orientá-los a fim de porem em prática o que o mesmo Espírito sugere para o verdadeiro bem da Igreja» (n.44).
Pretendo, nestas minhas palavras e em breve síntese de alguns aspectos doutrinais acerca do ser e da missão do Bispo, colocar-me em comunhão com toda a Igreja diocesana em atitude acção de graças e de escutar os apelos que o Senhor Jesus Cristo nos quer dizer através desta celebração.
No dia 11 de Janeiro de 1998, dava entrada o Senhor Dom Albino na Diocese de Coimbra, nos primeiros quatro anos permaneceu como Bispo Coadjutor do Senhor Dom João Alves, agora Bispo Emérito de Coimbra e que temos a graça de ter aqui presente. Logo desde o início vimos na pessoa do Senhor Dom Albino a riqueza da sua personalidade, perito em humanidade, com invulgares qualidades humanas e homem de Deus porque na sua simplicidade e transparência de homem serrano, descobre-se no interior de si mesmo uma alma apaixonada por Jesus Cristo.
Nas suas palavras e nos seus comportamentos sentiu a diocese que o animava uma grande fé, uma forte comunhão Episcopal e uma sólida amizade com o seu, agora, antecessor, o Senhor Dom João Alves. Várias vezes o ouvimos dizer da sua alegria pela riquíssima herança que recebia, nos diversos campos em que se exprime a vida pastoral da diocese: um presbitério unido, boa formação e corresponsabilidade dos leigos, boa dinamização vocacional e uma boa organização das estruturas pastorais. Parecendo, deste modo, um Bispo que viria dar continuidade ao trabalho já realizado, cedo se impôs pela sua forma original de ser pastor diocesano.
Um primeiro aspecto que gostaria de realçar na actuação pastoral do Senhor Dom Albino é o conhecimento directo de todos os homens e mulheres que pertencem à sua diocese. Não sei se o Senhor Dom Albino conhece todos os seus diocesanos, será uma causa quase impossível, mas tenho a certeza que conhece todos os fiéis mais responsáveis dos diversos sectores e serviços pastorais. Mas há algo que é incontestado, não há ninguém que na diocese não conheça o seu Bispo. Seja nas visitas pastorais que faz com tanto empenho, seja nas diversas actividades que se vão realizando e que contam sempre, ou quase sempre, com a presença do senhor Bispo, seja, ainda, em encontros ocasionais, todas estas ocasiões são aproveitadas para estabelecer laços de comunhão e de amizade.
Atento à sua responsabilidade de Bispo e à situação do tempo presente, bem cedo apresentou, na sua Carta Pastoral programática «À sombra dos seus ramos», como sua primeira prioridade, os que se encontram afastados da fé. Penso que tem sido este campo pastoral que mais o tem preocupado, porque sendo afastados da Igreja, não possuímos instrumentos adequados para ir ao encontro destes irmãos nossos e filhos de Deus mas que ainda não despertaram para a sua participação na Igreja de Jesus Cristo. Quantas intervenções suas sublinham a necessidade de se alterarem as prioridades da actuação pastoral, admitindo que não se devem esgotar os recursos humanos na manutenção dos serviços religiosos
Sabendo que hoje há novos areópagos onde deve ser proclamada a Palavra de Deus, como o Magistério da Igreja tantas vezes tem afirmado, o vasto mundo da comunicação social, das associações, onde se forja a cultura, no domínio da economia, da arte, cedo o Senhor Dom Albino sentiu que era necessário empenhar esforços na valorização dos meios de comunicação social, seja os da diocese, seja no diálogo com os que se situam no domínio da sociedade em geral; sentiu-se interpelado pela torre de uma universidade que domina não só o emblemático de Coimbra como desafia a novas preocupações pastorais. São tantos os cristãos que aí estudam e leccionam ou trabalham que são um desafio constante à Igreja para que assumam a sua responsabilidade de serem fermento de Evangelho no meio universitário e do Ensino Superior. Quanto às associações, quantas vezes já mereceram destaque nos programas de pastoral, não só no seu reconhecimento mas também no contributo dos cristãos para a sua valorização.
A Igreja segundo o ritmo do Vaticano II exige a corresponsabilidade de todos os fiéis cristãos não só no trabalho pastoral imediato mas na reflexão e na decisão sobre os melhores caminhos pastorais. A diocese de Coimbra, poucos anos antes da sua entrada, tinha celebrado o sínodo diocesano. Foi um trabalho profundo e de expressão máxima da Igreja que vive a comunhão e se corresponsabiliza na missão. Agora, o Senhor Dom Albino, logo que iniciou o seu magistério como Bispo diocesano, convocou toda a diocese para lhe indicar as linhas de orientação pastoral para o Plano de Pastoral que deveria nortear a acção pastoral de toda a comunidade diocesana ao longo de cinco anos. Assim, dedicou-se empenho que se traduziu em iniciativas e projectos no domínio da família, dos jovens, dos carenciados, no diálogo fé-cultura e na promoção vocacional. Está agora a diocese a fazer a avaliação deste trabalho, mas podemos desde já reconhecer como se tem avançado nestas áreas.
Para melhor preparar os leigos para assumirem as suas responsabilidades na missão da Igreja, cada vez mais exigente, o Senhor Bispo propôs-se, de imediato, a criação da Escola diocesana de Leigos com meritórios resultados.
Merece um especial carinho e dedicação do Bispo os mais pobres e marginalizados. Isto mesmo o tem manifestado na sua acção. Não só pelo empenho pessoal em acompanhar as diversas instituições que, como organismos da Igreja diocesanas, respondem aos mais desprotegidos da sociedade, como provocou a sua permanência durante diversos anos de vigência do plano pastoral, como a sua visível preocupação não só pela pobreza tradicional mas, sobretudo, pelas novas formas de pobreza, determinadas pelas situações económicas e sociais do mundo de hoje. Certamente que estamos perante um campo de grandes exigência e de novas respostas.
Eu amo os meus padres. Várias vezes o Senhor Dom Albino referiu esta expressão. Mas não era necessário dizê-lo, todos nós sentimos que o Senhor Bispo sofre com cada um dos seus padres, quando surgem as dificuldades, e alegra-se com cada um deles, na alegria do ministério, vivido no dia a dia. Exige o Concílio que o Bispo faça um todo com o seu presbitério que coopera com o seu Bispo no serviço pastoral. De tal modo o Senhor Dom Albino leva à risca esta recomendação, que por vezes ficamos com a sensação que ao fazer-se tão irmãos dos seus padres se coloca demasiado ao seu lado e não tanto acima. É fruto da sua simplicidade, humildade e grandeza de alma. Não necessita de se colocar acima para se reconhecer que é o Pastor.
Ligado ao amor pelos seus padres está a sua paixão pelas vocações de consagração em geral e das vocações sacerdotais em particular. Graças a Deus, a diocese tem vindo a fazer, já há muito tempo, um bom trabalho no domínio do trabalho da pastoral vocacional, no pré-seminário e na adequada formação nos seminários. Sem dúvida, que o Senhor Dom Albino não só continuou este trabalho como lhe imprimiu um interesse e dinamização pessoal.
Certamente, reconhecemos que em tão curto espaço de tempo, dez anos, muito foi realizado, mas também sentimos que as palavras são pobres e a memória atraiçoa. Damos graças a Deus Senhor Dom Albino pela sua acção pastoral na diocese de Coimbra.
Mas há uma característica que é essencial ao ministério episcopal, a sua colegialidade, pela qual cada bispo faz parte de um colégio apostólico, presidido pelo Santo Padre, e toma a seu encargo a solicitude por todas as Igrejas particulares. Com que entusiasmo e zelo o Senhor Dom Albino preparou, realizou e relatou a visita «ad sacra limina apostolorum», momento alto da expressão desta colegialidade; com que interesse, preparação e dedicação se entrega às tarefas das Comissões Episcopais onde está integrado; que belo é vê-lo a manifestar a amizade e simpatia com todos os outros bispos da conferência episcopal, e vice-versa, é animador ver como os bispos portugueses falam com simpatia e amizade do Senhor Dom Albino.
Realcei no Senhor Dom Albino a sua humanidade, profunda fé e zelo caritativo. Prestes a terminar esta minha intervenção, gostaria de sublinhar a faceta de Pastor da Esperança. Deixei esta virtude teologal para o fim de propósito.
É este o horizonte onde se quis colocar o Sínodo dos Bispos de 2001, ao reflectir sobre o ser e a missão do Bispo, cuja Exortação Pós Sinodal leva como título «O Bispo Servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a Esperança do Mundo». Esta Exortação, no nº 4, refere a verdadeira Esperança, no contexto da falência das esperanças humanas, para exemplicar, sublinha os factos do 11 de Setembro, ocorridos, pouco mais de um mês antes, com o resultado de inumeráveis vitimas inocentes e o aparecimento no mundo de novas e gravíssimas situações de incerteza e de temor. E, continua o texto, «configuravam-se, assim, novos horizontes de guerra e de morte que, juntando-se às situações de conflito já existentes, mostravam em toda a sua urgência a necessidade de dirigir ao Príncipe da Paz a imploração para que os corações dos homens voltassem a estar abertos à reconciliação, à solidariedade e à paz». Mas o texto vai mais longe e analisa mais profundamente o que chama a falência das esperanças humanas, que «baseando-se em ideologias materialistas, imanentistas e economicistas, pretendem medir tudo em termos de eficiência e relações de poder e de mercado». Onde colocar então a verdadeira Esperança? O mesmo texto responde, na convicção que nos anima na fé: «só a luz do Ressuscitado e o impulso do Espírito Santo ajudam o homem a apoiar as próprias expectativas na esperança que não desilude». Por isso, prossegue:«A certeza desta profissão de fé deve ser tal que permita tornar de dia para dia mais firme a esperança dum Bispo, levando-o a confiar que a misericordiosa bondade de Deus jamais cessará de construir sendas de salvação e de abri-las à liberdade de cada homem. É a esperança que o anima a discernir, no contexto onde desempenha o seu ministério, os sinais da vida capazes de derrotar os germes nocivos e mortais. É também a esperança que o sustenta na transformação dos próprios conflitos em ocasiões de crescimento, abrindo-os à reconciliação. Será ainda a esperança em Jesus, Bom Pastor, a encher o seu coração de compaixão induzindo-o a debruçar-se sobre a dor de cada homem e mulher que sofre, para cuidar das suas chagas, mantendo sempre viva a confiança de que a ovelha perdida pode ser encontrada. Deste modo o Bispo será sinal cada vez mais luminoso de Cristo, Pastor e Esposo da Igreja. Agindo como pai, irmão e amigo de todo o homem, será junto de cada um a imagem viva de Cristo, na esperança, no qual se cumprem todas as promessas de Deus e realizam todas as expectativas da criação».
Quanta paciência (esperança) verificamos na sua actuação, Senhor Dom Albino, ao longo destes anos, nunca abdicando do diálogo, da compreensão, sem transigir no essencial, mas compreensivo nas fragilidades humanas que se traduzem em alguns casos de conflito que algumas comunidades suportam no seu seio. Obrigado, Senhor Bispo por este seu exemplo de simplicidade e de coragem evangélica.
Este é o mundo, cujos traços me escuso de enunciar, que Deus continua a amar. Este é o nosso mundo que, tantas vezes sem o saber, necessita do anúncio da Boa Notícia, o Evangelho de Jesus Cristo.
Por isso, apela João Paulo II a que o Bispo, tal como recomenda o Apóstolo, anuncie o Evangelho oportuna e inoportunamente, repreenda, censure e exorte com bondade e doutrina (cfr. 2Tim. 4,2). Vivendo como homens de esperança e reflectindo no próprio ministério a eclesiologia de comunhão e missão, o Bispo será verdadeiramente motivo de esperança para o seu rebanho. E insiste João Paulo II, nós sabemos que o mundo necessita da esperança que não confunde. Sabemos que esta esperança é Cristo. Sabemo-lo e por isso proclamamos a esperança que brota da cruz (cfr. PG, 5), que, no dizer do Apóstolo, continuará a ser escândalo e loucura para o mundo.
Fica muito por dizer. Nestas circunstâncias as palavras são sempre pobres. Mas gostaria de terminar com um pequeno texto retirado da carta de S.to Inácio de Antioquia ao seu amigo Bispo Policarpo:
«Pela graça de que estás revestido, eu te exorto a acelerar ainda o teu passo e a exortar também os outros para que se salvem. Justifica a tua posição, empenhando-te todo, física e espiritualmente. Cuida da unidade; nada melhor do que ela. Promove a todos como o Senhor te promove; suporta a todos com amor, como aliás o fazes. Dispõe-te para orações ininterruptas; pede ainda maior inteligência do que já tens; sê vigilante, dono de um espírito sempre alertado. Fala a cada qual no estilo de Deus. Vai levando as enfermidades de todos como atleta consumado. Quanto maior o labor maior o lucro.
(…) O tempo actual exige tua presença, para chegares até Deus, assim como os pilotos anelam pelos ventos e os açoitados da tempestade pelo porto (…)
Aqueles que parecem dignos de fé e no entanto ensinam o erro não te abalem. Mantém-te firme como bigorna sob os golpes. É próprio de um grande atleta receber pancadas e vencer. Não tenhas nenhuma dúvida temos de suportar tudo por causa de Deus para que Ele também nos suporte. Torna-te ainda mais zeloso do que és; aprende a conhecer os tempos. Aguarda o que está acima do oportunismo, o atemporal, o invisível que por nossa causa se fez visível, o impalpável, o impassível que por nós se fez passível, o que de todos os modos por nós sofreu».
Consigo, Senhor Dom Albino, damos graças a Deus pelo bem que tem feito.
Padre João Lavrador
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