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29 de janeiro de 2008

El-Rei Dom Carlos: Exigência da Memória


Um século se completa, no próximo dia 1 de Fevereiro, sobre o assassínio do Rei Dom Carlos e do Príncipe Real, Dom Luís Filipe, junto ao Terreiro do Paço, em 1 de Fevereiro de 1908.
O Monarca sofreu as rudes consequências das anteriores complicações gradualmente avolumadas em diversos sectores e deveras enfatizadas aquando da situação gerada pelo ultimato enviado pela Inglaterra, em 11 de Janeiro de 1890, inerente à posse dos domínios ultramarinos portugueses.
Isso levantou a plena indignação popular, incrementada por impulso patriótico, tendenciosamente instigado contra o Soberano, que nenhuma culpa detinha, todavia, ardilosamente usada pela maçonaria e de modo que aumentara a propaganda republicana, promotora de várias revoltas, como a do Porto.
Encontrando grandes obstáculos ao prosseguimento de políticas acertadas, por motivo dos erros vindos de longe, como, mais tarde, o próprio Dom Carlos dizia, o poder alternava entre Regenedores e Progressistas, sem alguma melhoria na enorme crise financeira e no constante reacender de conflitos governativos, religioso e partidários, sempre tidos como pretexto para denegrir e atacar a Coroa, mesmo sendo sedições muito localizadas, em qualquer ponto do vasto império colonial.
Alterado o ritmo rotativo, com a ditadura do gabinete de João Franco, surge a completa oposição do Parlamento: a questão agudiza-se e a revolta instaura-se na capital, em finais de Janeiro daquele ano, sendo presos alguns caudilhos republicanos e dissidentes. A Família Real parte de Vila Viçosa e, ao entrar em Lisboa, El-Rei recusa o automóvel – que era costume enviar à estação – e prefere o landau, que mandou descobrir.
Como alvo fácil, foi mortalmente alvejado, com o filho herdeiro, e ficando ferido o Infante Dom Manuel, vítimas dos atiradores Manuel Buiça e Alfredo Costa, imediatamente executados pela polícia.
Nesse trágico acontecimento e deplorável crime, Portugal perdia o Soberano, de inteligência superior, bondoso, artista, cultor das ciências, notável investigador e diplomata, também apreciador das contingências existenciais, o que bem se coadunava por força da educação liberal, que recebera, das inerências da suprema magistratura da Nação, em que estava hereditariamente investido, e como se tornara voga.
Porém, a vasta cultura, a notável inteligência, o trato delicado, o apurado espírito artístico e a reconhecida predisposição de investigador nato, faziam-no admirado na Europa e, num tal merecimento que, ainda, é referido pelo valor dos trabalhos oceanográficos, pela exímia qualidade dos quadros pintados e pelo distinto relacionamento diplomático, alcançado com a França, a Inglaterra e a Alemanha, todas com ligações familiares à Rainha Dona Amélia de Orleães.
Vivendo num tempo bastante difícil, as sucessivas ocorrências sócio-políticas internas em nada lhe foram favoráveis, sempre agravadas pela união de facto instalada no consórcio de republicanos e da carbonária (o braço armado da maçonaria, com arreigada implantação em Coimbra), que tudo fizera, aproveitara e confundira para o denegrir e desacreditar a Monarquia, de total feição constitucional e liberal, culminado tais acções no regicídio.
Depois, prosseguiram os cortejos caluniosos, infamantes, movidos pela inveja, desautorizando quem demonstrava empenhadas preocupações com a tarefa governativa do País, apesar dos limitados poderes que a mesma Constituição lhe permitia desempenhar.
Na percepção destes cem anos completos, o republicanismo, instaurado dois anos volvidos, surge intrinsecamente jacobino, violentamente anti-eclesiástico, inerentemente demagógico e constitutivamente tirânico – impôs-se a tiro, sobre sangue humano, deploravelmente derramado, e a coberto do disfarce democrático: está explícito no colorido da bandeira escolhida, um tanto disfarçado pela nobilitada distinção sobreposta da Esfera Armilar.
Devotadamente, a manifesta incompetência de bem governar, provinha desses tantos irresponsáveis, que desacreditaram a Nação, no estrangeiro, conduziram à participação na I Guerra Mundial e geraram incontáveis infortúnios, a directa consequência do legado regicida em Portugal, diametralmente oposta do quanto Dom Carlos de Bragança projectava como herança comum, de melhoria efectiva para os povos de Portugal.
Padre José Eduardo Reis Coutinho

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