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20 de dezembro de 2007

Inventariação da Paróquia de Sobral


Em 18 deste mês, ficou concluída a inventariação da paróquia de Sobral, constante de 164 fichas e do inerente registo fotográfico, para cuja concretização destas morosas tarefas muito contribuiu a solicitude pastoral do senhor Padre Dr. António Jesus de Melo Loureiro e a incansável dedicação do senhor Albano Rodrigues Dias que, zelosamente, tem protegido e salvaguardado bens únicos e da maior raridade.
A sede paroquial, em 1321 já declarada sob a invocação de São Miguel e, nos inícios de Oitocentos, remodelada com a direcção ainda mantida preside a um vasto território, composto de bastantes povoados rurais, cuja origem pode remontar aos inícios da Nacionalidade, extensamente alargado às faldas do Caramulo e confinante com a diocese viseense, através de divisórias naturais, como são as comeadas dos montes e os ribeiros de planície.
O considerável património existente, quer na igreja matriz, quer nas capelas antigas, realça várias esculturas em pedra, de boa execução quatrocentista e quinhentista, outras em terracota, características do século XVII, bem como algumas do século XVIII, geralmente esculpidas em madeira, depois estofada, as quais coexistem, por vezes, a par de produções mais recentes. A prevalência é de pequenas dimensões.
Um tanto por todos os lugares, há bons espécimes de talha, patente na retabulária e na divulgada tipologia dos castiçais, então preferidos aos anteriores, menos vistosos e ornados, porém, de superior resistência e longevidade, por que feitos em bronze, durante os séculos XV e XVI, e em estanho, nas centúrias de Seiscentos e Setecentos, com certas variantes, a concederem formas típicas de diferentes épocas, o que facilitará um seguro estudo determinativo da evolução por que passaram, atendendo às variantes adoptadas, consoante as preferências estéticas de onde provêm.
Interessantemente, também há algum acervo de significativas peças devidas a qualificados mestres prateiros, assim testemunhados em coroas de Nossa Senhora, do século XVII, e cálices do XVIII, cujo peso da prata certifica pujantes brios, verificados nos fabricantes, esmerados em bem servir os encomendantes, por sua vez detentores de considerável poder económico.
Na verdade, a tónica marcante nestas múltiplas ocorrências permanece fundamentada no criterioso princípio de conceder às expressões litúrgicas da celebração da fé o melhor, dotando a maioria dos dispersos centros de culto com bens convenientemente ajustados ao serviço divino, pois, apesar das muitas e repetidas renúncias efectuadas e do muito empenho suposto nas gentes ocupadas em trabalhos de lavoura e pastorícia, que terá exigido custos elevadíssimos, surpreende como tantas pequenas comunidades dotaram a casa comum de honrosos haveres, incontestavelmente dignificantes de quem os adquirira, tivera e mantém em enlevante memória, tão exemplar quanto provêm de tempos e recursos inferiores aos actuais, em que os gastos se dispersam em futilidades.
De notar, ainda, a omnipresença de campainhas de missa e de comunhão, a frequência das imagens de Santo Inácio de Antioquia – em que já se manifesta o cuidado de levar em procissões as réplicas fiéis, em madeira durável, das antigas, calcárias – e a singular representação da Rainha Santa Isabel, segundo modelo anterior ao comercializado após o devido ao escultor António Teixeira Lopes.
Quanto a livros litúrgicos, as numerosas edições de missais acompanham distintos formatos, impressos em prestigiadas cidades nacionais e estrangeiras, desde o século XVII, logo a par de cerimoniários e devocionários. De permeio, a bibliografia canonística e jurídica revela interesses de alargada cultura eclesiástica, sempre formativa e capaz de dirimir assuntos eventualmente eclodidos, por força de situações conflituosas.
Por último, a valiosa quantidade de cadernos anuais, manuscritos e pormenorizados, de registos conhecidos pelo nome de Róis de Confessados, subsistentes desde 1822, destaca o mais recuado e completo assento que, nesta matéria histórica, existe conhecido, na diocese de Coimbra, principalmente apreciável para se proceder a rigorosos estudos sobre demografia, compreendendo análises inerentes à densidade populacional e aos ofícios, à mobilidade e às ocorrências ocasionais, à natalidade e aos óbitos.

José Eduardo R. Coutinho

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