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19 de junho de 2007

José Mattoso defende: não deve abrir-se agora o túmulo de D. Afonso


José Mattoso considera mais prudente esperar pelo desenvolvimento de novos métodos de análise e só depois abrir o túmulo do primeiro rei de Portugal, que se encontra na Igreja de Santa Cruz.
O historiador José Mattoso concorda com a não abertura imediata do túmulo de D. Afonso Henriques por haver risco de se destruírem os vestígios existentes, mas considera que a análise seria "muito interessante" do ponto de vista historiográfico.
Tendo em conta que a análise do ADN implica a destruição dos materiais utilizados, Mattoso afirmou, numa entrevista à Agência Lusa, que é mais prudente esperar pelo desenvolvimento de novos métodos que não impliquem a destruição.
O historiador diz "respeitar" o parecer técnico que aconselha a não abertura neste momento da arca tumular, tanto mais que "tem havido várias investigações de ADN que não têm atingido resultados evidentes e arriscávamo-nos a destruir para sempre os vestígios que existem".
José Mattoso, autor de uma biografia do primeiro rei de Portugal, refere que "a investigação do ADN está em progresso, sendo provável que num futuro próximo os métodos sejam suficientemente seguros, mesmo com pedaços muito reduzidos, ou sem os destruir".
"Cláudio Torres pensa que o facto de as ossadas terem sido manipuladas por ocasião de várias intervenções anteriores, pelo menos as do tempo de D. Manuel e D. Miguel, tornam o exame de ADN inseguro e levariam a destruir os despojos actualmente existentes", afirma o autor de "Identificação de um país".
O historiador não deixa de sublinhar que "os métodos científicos modernos são muito interessantes porque abrem novos campos para a interpretação histórica e consequentemente seria uma atitude muito pouco científica recusar a sua utilização neste caso".
O túmulo de D. Afonso Henriques encontra-se no altar-mor da igreja de Santa Cruz, em Coimbra, cujo mosteiro recebeu várias doações do rei, que ouvia atentamente os conselhos do seu prior S. Teotónio, o primeiro santo português.
O túmulo de D. Afonso Henriques foi aberto pelo menos duas vezes, a primeira no reinado de D. Manuel I. O relato feito nessa altura diz que o corpo estava praticamente incorrupto, um testemunho que Mattoso considera decerto mais resultante da veneração tributada ao rei do que de uma observação objectiva.
Na ocasião considerava-se que a sua estatura era a de "um verdadeiro gigante". As suas dimensões físicas tinham de estar à altura da obra moral do "construtor de um reino protegido por Deus" que D. Manuel, seu décimo neto, "estendera até aos limites da orbe terrestre".
Em 1832, o rei D. Miguel voltou a mandar abrir o túmulo. O relato existente já não fala do corpo mas apenas de ossadas "que continuam a ser as de um gigante". Mattoso constata que a expressão "gigante" surge já nos Anais de Santa Cruz, escritos pouco depois da sua morte. "O cónego regrante que os escreveu deve tê-lo conhecido pessoalmente", afirma.

Nuno Lopes
(Agência Lusa)

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