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10 de março de 2009

Coimbra evocou a figura do Padre Américo


"O Padre Américo é a prova, quase científica, de que se pode viver o Evangelho à letra"
- afirmou o Padre Carlos Galamba na evocação feita em Coimbra ao fundador das Casas do Gaiato.



"O Padre Américo teve um sonho e trabalhava para que todos pudessem participar no seu sonho" que mais não era do que viver para os mais carenciados, fossem eles crianças, idosos ou famílias inteiras necessitadas. As palavras são do Padre Carlos Galamba, companheiro do Padre Américo e continuador da sua Obra após a sua morte. O Padre Américo, fundador da Obra da Rua, que comemora 77 anos de existência, e que ainda acolhe centenas de crianças, foi alvo de uma simples e bela homenagem que decorreu no dia 7 de Março à tarde na igreja de São Tiago, em Coimbra. Centenas de pessoas participaram neste evento, desde antigos e actuais gaiatos, seminaristas e muitos apaixonados pela Obra do sacerdote, nascido em Penafiel e ordenado sacerdote em Coimbra.
"Coimbra é testemunha da sua personalidade" - uma vez que foi aqui que viveu a sua vida depois de ser ordenado sacerdote, em Julho de 1929 - e também do nascimento deste sonho que, como explicou o Padre Carlos Galamba, "nasceu de forma caótica".
"Pouca gente entendeu a sua obra. O grande especialista, o que a entendeu desde o princípio, foi o povo", afirmou o antigo colaborador de padre Américo e aquele que foi; a seguir à sua morte, o responsável por todos os seus projectos. Num discurso carregado de emoções, Carlos Galamba garante que o seu "mestre" forçou "todas as leis normais e humanas para realizar a Obra da Rua", limitando-se apenas, como explicou, a aplicar aquilo que "alguém, todos os dias, Lhe ditava para fazer".
"Na altura não havia telemóveis, mas o Padre Américo entendia-se muito bem com Deus", ironizou, garantindo que a maior herança deixada por ele é "esta prova, quase científica, de que se pode viver o Evangelho, à letra". Nem sempre foi compreendido, às vezes era incómodo e escrevia coisas incómodas, como fez questão de recordar nalguns escritos publicados no "Correio de Coimbra" numa secção chamada "Sopa dos Pobres". Mas, apesar de se viver numa época de ditadura, o Padre Carlos Galamba garantiu que "nunca o lápis azul da censura gastou uma milésima a cortar uma vírgula que fosse" dos seus escritos.
"Via no seu próprio rosto o rosto dos outros nas suas necessidades e carências", explicou Ernesto Candeias Martins, professor na Escola Superior de Educação de Castelo Branco e investigador da obra de padre Américo. Num discurso emocionado de quem, como assumiu, já olha para o "objecto" de estudo "mais com o coração do que com a razão", o especialista destacou alguns dos traços mais marcantes da personalidade do Padre Américo.
"Era uma pessoa peculiar, diferente do contexto em que estava inserido, … irreverente, um revolucionário pacífico, porque fazia revoluções dentro dos corações das pessoas", enumerou, recordando que a vida do Padre Américo foi sempre dedicada à Obra da Rua, que fundou há 77 anos e que ainda hoje, mais de 50 anos depois da sua morte, ainda se mantém viva, quer com as Casas do Gaiato, quer com o Património dos Pobres, quer ainda com o Calvário.
Ernesto Candeias considera ainda "o Padre Américo Doutor no Evangelho meditado e praticado". "No Evangelho é onde ele encontrava todas as razões das suas tarefas. Estar presente no Evangelho é estar presente no amor", referiu mais tarde D. José Alves, bispo de Évora na apresentação da obra. D. José Sanches recorda-se do Padre Américo com um pacificador e um bom ouvinte.
D. Albino Cleto que presidiu à cerimónia de homenagem do Padre Américo, referiu que "há muito se pensava homenagear o Padre Américo, em Coimbra". "Já posso dormir descansado. Não culpo ninguém, se não a mim mesmo", afirmou o prelado no encerramento da sessão solene. Para o Bispo de Coimbra, "este homem faz parte das grandes figuras da galeria de Coimbra". Segundo o prelado, "é uma honra de ser bispo de uma cidade onde há tantos santos como a Rainha Santa Isabel, Santo António, Carolina de Sousa Gomes (fundadora das Criaditas dos Pobres em que tem o seu processo de beatificação aberto), o Padre Lopes de Melo e o Padre Américo".
O Bispo de Coimbra está consciente que a Casa do Gaiato tem de responder aos novos desafios. Para D. Albino Cleto urge "respostas novas para problemas novos". "A Casa do Gaiato não recebe hoje crianças apenas com fome, mas sim com problemas muito sérios", alertou o prelado.
Na cerimónia, que contou com a presença do Coro da Igreja de Santa Cruz, dirigido por Fernando Taveira, participou ainda Manuela Lopes Cardoso, outra estudiosa da vida e obra de padre Américo, que sublinhou especialmente a importância das Casas do Gaiato na sociedade e na vida das crianças que ali encontram uma "família de substituição".
Depois da sessão foi ainda inaugurada uma exposição evocativa, que estará patente até dia 22 de Março na Galeria Almedina e foi lançado o livro "Amor, meditação e Acção - A Pedagogia do Padre Américo Monteiro de Aguiar", de Ernesto Candeias Martins e apresentado por D. José Sanches Alves.


Miguel Cotrim


NOTAS DA REDACÇÃO
1. Há um ano atrás, neste mesmo semanário, escrevíamos que Coimbra se tinha esquecido do Padre Américo. Valeu o nosso apelo. Muitos o entenderam como crítica ou uma provocação ao Bispo de Coimbra. Cumprimos a nossa missão de informar e alertar. Seria impensável que Coimbra esquecesse de uma figura tão emblemática na área social. Hoje regozijamo-nos por esta simples e bonita homenagem levada a cabo por uma comissão presidida por D. Albino Cleto.
2. Coimbra fará, muito em breve, mais uma homenagem ao padre Américo, colocando na Avenida Dias da Silva uma escultura com a imagem do fundador da Obra de Rua. A ideia inicial era que o busto estivesse colocado já no próximo domingo, tal como nós tínhamos noticiado na semana passada, altura em que se realiza, na igreja de Santa Cruz, pelas 10horas, uma missa em homenagem a Padre Américo, presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, mas segundo o vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Eng. João Rebelo, a colocação da escultura exige obras de integração paisagística que não ficarão prontas a tempo.

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