Verdadeiros exemplos
Por João Caetano*
José Mourinho é um líder. Recordo-me de quando ele chegou a Portugal para treinar o Benfica. Vinha do F. C. Barcelona, onde completara, com Van Gaal, um percurso apreciável como treinador adjunto; iniciara-se nessas funções alguns anos antes, no Sporting, com Bobby Robson, e continuara, com o mesmo treinador, no F. C. Porto e no referido F. C. Barcelona. Como treinador adjunto teve muitas vitórias, mas foi duramente criticado pela imprensa portuguesa quando começou a trabalhar no Benfica como treinador principal, com o argumento de que não tinha curriculum nessas funções. Vale e Azevedo, que era à época o presidente do Benfica, foi mais inteligente do que todos os que levianamente criticaram Mourinho, ao confessar que intuía que Mourinho era um homem de carácter. Mourinho acabou por sair do Benfica, após um breve percurso em que teve momentos altos. Depois passou pelo União de Leiria e, logo a seguir, pelo F.C. Porto, com extraordinárias vitórias. Confesso que, por amor clubístico, desejei, durante esses anos, que Mourinho não ganhasse, salvo quando esteve no Benfica. Mas isso não obsta a que eu lhe reconheça grande mérito. Mais: reconheço em Mourinho a virtude, pouco usual em Portugal, de partilhar conhecimentos e até sentimentos. No auge da sua primeira grande vitória internacional, que foi a conquista da taça UEFA ao serviço do F. C. Porto, publicou, pela mão de Luís Lourenço, um livro onde dá a conhecer a sua maneira de pensar e concretizar o futebol, sem vanglória e com muito realismo. Mais tarde, veio a saber-se que já nos seus tempos de estudante partilhava os elementos de estudo com os colegas, com quem mantinha uma boa relação. E é neste livro que se penitencia de alguns exageros que cometeu com Manuel Vilarinho, o presidente do Benfica com quem não se entendeu mas que Mourinho considera ser um homem bom.
É mais fácil fazer tão bem ou melhor do que fez Mourinho do que criticar o seu trabalho ou a sua própria maneira de ser. De facto, existe larga evidência de que Mourinho é um excelente condutor de homens, não porque seja um tirano mas porque é um homem inteligente e amigo dos seus jogadores. Numa visita que fez a Israel, na altura em que era treinador do Chelsea, quando falava para uma plateia de cerca de 250 treinadores israelitas e palestinianos, mostrou uma fotografia em que estava abraçado ao jogador Frank Lampard e disse: "Parece um abraço, mas é mais do que um abraço… é um abraço que mostra que confiamos um no outro. Sem uma palavra, ele está a dizer-me: "Obrigado". É um abraço que repetimos, jogador após jogador, porque somos uma família". Cada jogador é para Mourinho uma pessoa, com características e necessidades próprias, o que é relevante tanto nas vitórias como nas derrotas. É sintomática a história que Mourinho conta quando o Chelsea perdeu as meias-finais da Liga dos Campeões contra o Liverpool. Quem ele consolou foram os jogadores que ainda não tinham ganho aquela competição e que estavam a perdê-la pelo segundo ano consecutivo na mesma fase da prova. Não foram os portugueses Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira que com ele tinham ganho essa competição no ano anterior.
Os jogadores vêem que Mourinho é especial e consideram-no um modelo de comportamento, o que justifica a sua admiração por ele e, em consequência, motiva as vitórias, porque só se segue quem verdadeiramente se reconhece como bom. As palavras de John Terry, capitão do Chelsea, são claras: "Todos os resultados são para o treinador. Ele trabalha muito, ele e a sua equipa. No campo, lutamos uns pelos outros, mas, no fundo, é para ele. Ele é o maior, acreditamos que é o maior, e temos sorte por tê-lo connosco". O desejo dos jogadores impele-os para o treinador, que, nesse sentido, "domina" os seus jogadores, porque orienta a sua liberdade. Ele é diferente dos jogadores, e não se baixa às suas pretensas necessidades, que quantas vezes não passam de excentricidades. E os seus jogadores são também diferentes dos outros jogadores. Poderia dar muitos mais exemplos, mas não é necessário. Retirei as citações do livro de Luís Lourenço e Fernando Ilharco intitulado "Liderança: As lições de Mourinho", que foi publicado em 2007 pela editora Booknomics e cuja leitura recomendo.
Também Karol Wojtyla era "admirado" pelos membros da rede Srodowisko que criou na Polónia nos seus tempos de padre e, posteriormente, de bispo de Cracóvia, numa altura em que era conveniente que os católicos fossem inteligentes para vencerem a perseguição comunista. A rede Srodowisko, ainda hoje existente, era uma rede de jovens, intelectuais, cientistas, filósofos, teólogos, namorados, casais e noivos e constituía uma unidade pastoral particular e muito inovadora para a época. Esta descrição extraordinária não é minha, mas de Yves Semen, que a faz na sua obra "A sexualidade segundo João Paulo II". Este livro foi publicado em Portugal em 2006 pela editora Principia, e recomendo também a sua leitura. Acabo com o testemunho de um dos membros do Srodowisko - palavras ditas anos mais tarde, quando o estudante que convivera com Wojtyla ainda se mantinha como membro activo da rede: "Nos nossos dias, há muitos padres que se esforçam por ser como os jovens. Nós esforçávamo-nos por ser como ele". Voltarei a este assunto.
É mais fácil fazer tão bem ou melhor do que fez Mourinho do que criticar o seu trabalho ou a sua própria maneira de ser. De facto, existe larga evidência de que Mourinho é um excelente condutor de homens, não porque seja um tirano mas porque é um homem inteligente e amigo dos seus jogadores. Numa visita que fez a Israel, na altura em que era treinador do Chelsea, quando falava para uma plateia de cerca de 250 treinadores israelitas e palestinianos, mostrou uma fotografia em que estava abraçado ao jogador Frank Lampard e disse: "Parece um abraço, mas é mais do que um abraço… é um abraço que mostra que confiamos um no outro. Sem uma palavra, ele está a dizer-me: "Obrigado". É um abraço que repetimos, jogador após jogador, porque somos uma família". Cada jogador é para Mourinho uma pessoa, com características e necessidades próprias, o que é relevante tanto nas vitórias como nas derrotas. É sintomática a história que Mourinho conta quando o Chelsea perdeu as meias-finais da Liga dos Campeões contra o Liverpool. Quem ele consolou foram os jogadores que ainda não tinham ganho aquela competição e que estavam a perdê-la pelo segundo ano consecutivo na mesma fase da prova. Não foram os portugueses Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira que com ele tinham ganho essa competição no ano anterior.
Os jogadores vêem que Mourinho é especial e consideram-no um modelo de comportamento, o que justifica a sua admiração por ele e, em consequência, motiva as vitórias, porque só se segue quem verdadeiramente se reconhece como bom. As palavras de John Terry, capitão do Chelsea, são claras: "Todos os resultados são para o treinador. Ele trabalha muito, ele e a sua equipa. No campo, lutamos uns pelos outros, mas, no fundo, é para ele. Ele é o maior, acreditamos que é o maior, e temos sorte por tê-lo connosco". O desejo dos jogadores impele-os para o treinador, que, nesse sentido, "domina" os seus jogadores, porque orienta a sua liberdade. Ele é diferente dos jogadores, e não se baixa às suas pretensas necessidades, que quantas vezes não passam de excentricidades. E os seus jogadores são também diferentes dos outros jogadores. Poderia dar muitos mais exemplos, mas não é necessário. Retirei as citações do livro de Luís Lourenço e Fernando Ilharco intitulado "Liderança: As lições de Mourinho", que foi publicado em 2007 pela editora Booknomics e cuja leitura recomendo.
Também Karol Wojtyla era "admirado" pelos membros da rede Srodowisko que criou na Polónia nos seus tempos de padre e, posteriormente, de bispo de Cracóvia, numa altura em que era conveniente que os católicos fossem inteligentes para vencerem a perseguição comunista. A rede Srodowisko, ainda hoje existente, era uma rede de jovens, intelectuais, cientistas, filósofos, teólogos, namorados, casais e noivos e constituía uma unidade pastoral particular e muito inovadora para a época. Esta descrição extraordinária não é minha, mas de Yves Semen, que a faz na sua obra "A sexualidade segundo João Paulo II". Este livro foi publicado em Portugal em 2006 pela editora Principia, e recomendo também a sua leitura. Acabo com o testemunho de um dos membros do Srodowisko - palavras ditas anos mais tarde, quando o estudante que convivera com Wojtyla ainda se mantinha como membro activo da rede: "Nos nossos dias, há muitos padres que se esforçam por ser como os jovens. Nós esforçávamo-nos por ser como ele". Voltarei a este assunto.
*(Presidente da Direcção do CADC
relvaocaetano@gmail.com)
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