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9 de janeiro de 2009

Inventariação da Paróquia de Zambujal

Por José Eduardo Reis Coutinho
No passado dia 22 de Dezembro, ficou completada a inventariação da paróquia de Zambujal, com um total de 40 novas fichas, referentes à igreja matriz e às capelas, e um exaustivo levantamento fotográfico. A tarefa realizada contou, sempre, com a constante presença do senhor Prior, o Padre Idalino Simões, o acompanhamento do Padre Amílcar dos Santos Neves e a colaboração do senhor Luís Rafael, bem como do Conselho Económico.
A recuada ocupação deste território provém de tempos muito antigos, compartilhando, por certo, as comuns inerências da própria sub-região, habitada desde o Paleolítico, com interessantes vestígios epocais e, sucessivamente, valorizada na Idade do Bronze, do Ferro e na Romanização, porque o espaço geográfico, em que toma lugar, é um vasto sub-rectângulo, percorrido, longitudinalmente, pela via militar romana, de Lisboa a Braga, atravessado pelo Rio dos Mouros e incluído na área de influência do castro do Monte Figueiró, que o domina, a sul, e fora o mais importante da jurisdição meridional de Conímbriga.
O período romano está, por isso, bem documentado, mediante diversas estações arqueológicas, situadas na freguesia, porém, as fontes escritas, que melhor referem o local, datam da plena Idade Média e dos inícios da Nacionalidade: mencionado na carta de testamento e doação, de 9 de Abril de 1160, de Dom Afonso Henriques ao Mosteiro de Santa Cruz, integra o circuito de certas delimitações, ali expressas, justapostas às do bastante individuado território da Ladeia.
Diz a tradição lendária, inerente aos dois irmãos ferreiros, Melo (Germanelo) e Jerumelo, e explicativa da origem desta povoação - pelo quantitativo de plantas formadas a partir do cabo do martelo perdido, de zambujo - que o topónimo actual surge nos princípios da Nacionalidade, tem feição fitomórfica e origem rural, e manifesta uma etapa de segurança demográfica, parcialmente conseguida com o acastelamento afonsino do Germanelo e concluída depois de a Conquista ter tomado as praças fortificadas de Santarém e Lisboa, colocando a fronteira cristã no vale do Tejo.
Com efeito, aqueles diplomas incluem as formas azambugial e azambugeiro, com o a protético, próprio do vocábulo arcaico, deveras numerosíssimo em povoações, lugares, sítios e prédios rústicos, assim designados, visto a larga distribuição desta família toponímica estar de acordo com a fitogeografia e com o étimo do nome, de proveniência islamizada, entrada no uso corrente, onde a permanência muçulmana e moçárabe foi acentuada.
Em abono de tal frequência, indubitavelmente resultante da proliferação da variedade silvestris da Olea europaea, o zambujeiro, árvore ou arbusto desenvolvido como espécie de oliveira bravia, é caracterizado pelo fruto mais pequeno, pelos ramos espinescentes, sobretudo nos estádios arbustivos, e pela predominância nos bosques, sebes e, particularmente, nos terrenos pedregosos e áridos, por vezes detendo um tronco bastante avantajado. Alguns, com enormes proporções, recuam ao Império Romano, apesar de a maioria remontar aos arroteamentos medievais, o que os torna um factor histórico, indicativos dos sobreditos povoados, do desenvolvimento agrícola dos respectivos locais e a reclamarem, por isso, uma efectiva salvaguarda, botânica e factual.
Paralelamente, Janeanes, Fonte Coberta e Póvoa de Pegas asseveram idênticas origens agrárias e prestam indicações precisas acerca da implantação humana, promovida através de casais de lavradores, ao revelarem, sucessivamente: um povoador medieval, de nome Joane Eanes; uma nascente natural, protegida por cobertura e coeva da mesma ocupação do solo; e a pobra, o inicial aglomerado populacional, ali estabelecido.
Sugestivamente, enquanto a oliveira cresce no meio de pedras, o trigo, a aveia, a fava e o grão de bico medram enraizados no grosso cascalho das terras aráveis, porque os montes são para os rebanhos, fornecedores de crias, leite e lã, pois, os lacticínios, conhecidos por Queijo do Rabaçal, constituem um dos melhores produtos de leitaria do País. É fabricado, além da localidade nomeada, em Zambujal, Furadouro, Pombalinho e Alvorge, com leite de ovelha e pequena percentagem do de cabra, cuja alimentação é parca, devido à pobreza dos magros terrenos da serra, mas, local privilegiado para esta pastar a Erva de Santa Maria (Thimus zygis), que concede um inconfundível sabor ao queijo, assim preparado, em casas particulares.
Intensas actividades arroteadoras, do campesinato, fizeram aumentar as parcelas cultivadas, facultaram melhores colheitas e trouxeram algum efectivo da população, de baixa densidade, distribuída pelos quatro núcleos primordiais, onde fundaram aldeamentos e, neles, as ermidas de Nossa Senhora da Expectação, de Santa Inês e de Santa Cristina, cultos antigos e muito consonantes ao sentimento religioso medieval, ainda que influenciados pelo Mosteiro de Santa Ana, de Coimbra, que apresentava o Cura.
Já referida no elenco das igrejas, de 1321, a de Santa Maria de Zambujal está taxada em 130 libras, o que supõe o desafogo económico da comunidade local, depois, também, responsável pelos contínuos restauros e muitas beneficiações recebidas, a partir do século XV, como certificam as esculturas calcárias, os azulejos sevilhanos, do século XVI, outras imagens e utensílios da mesma centúria, os contributos de Seiscentos e, de maneira grandiosa, os arranjos do século XVIII, patentes em toda a renovação realizada na época da maior ostentação, social e litúrgica, demonstrada nas memórias encontradas e que realçam a dedicada vivência da fé, neste meio de minguados recursos de subsistência, todavia, sem diferenciação no geral das paróquias rurais, dotadas de maiores facilidades.

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