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28 de janeiro de 2009

Padre António Vieira - O Semeador de Palavras


Por Mário Nunes
Encerram em Fevereiro as comemorações alusivas aos 400 anos do nascimento do Pe. António Vieira. Nascido, em Lisboa, 6 de Fevereiro de 1608, faleceu em Salvador da Baia, Brasil, 18 de Julho de 1697.
O seu percurso vivencial afirmou-o como um dos mais lídimos e ilustres oradores e prosadores portugueses. Detentor de um invejável currículo, podemos apreender que a sua missão de missionário jesuíta se conjugou na realização das mais diferentes missões de solidariedade e ajuda aos homens e de patriota orgulhoso da sua Nação e da civilização herdada.
Figura síntese da sua época tornou-se um dos grandes valores do humanismo e da intelectualidade mundial, atendendo aos diferentes aspectos que povoam a sua vivência de 89 anos: Missionário; orador; diplomata; mestre da prosa portuguesa clássica; defensor dos negros africanos e dos índios do Brasil, envolvendo-se em polémicas que criaram situações desagradáveis aos grandes fazendeiros, porquanto criticou e promoveu a abolição da escravatura; envolveu-se no problema da perseguição aos judeus e cristãos novos contrariando a própria Igreja e os Monarcas; possuiu uma fé romântica típica do sebastianismo; manteve uma exemplar fidelidade ao absolutismo; adquiriu uma vasta formação escolástica; teve papel importante nas histórias portuguesa e brasileira; projectou-se com os seus Sermões (16 volumes), cartas (500 em 3 volumes) e papéis oficiais, documentos que constituem um extraordinário acervo bibliográfico, com conteúdo válido para a sua época e que permanece actualizado, na maioria, para os nossos dias.
Atendendo à grandeza da sua obra e à efeméride multissecular do seu nascimento, realizaram-se em Portugal, no Brasil e noutros países, iniciativas culturais e sociais de homenagem à sua memória e de enaltecimento ao sacerdote eloquente que escreveu a frase que perdura no tempo: " os portugueses têm um pequeno país para berço e o mundo todo para morrerem", numa clara e verdadeira alusão à universalidade de Portugal.
Em Coimbra, viveu na Quinta de Vila Franca (desaparecida pelas areias do Mondego) e que ficava na curva do rio, tendo à vista e em frente, o Mosteiro de S. Jorge de Milréus. Naquele espaço residiu, pelo menos em 1665, enquanto decorreu o processo ordenado pela Inquisição. Pode dizer-se que esteve, como se diz hoje, com residência fixa.
A Câmara Municipal - Departamento de Cultura promoveu algumas iniciativas ao longo do ano e que tiveram início no dia 6 de Fevereiro de 2008. Volvidos 365 dias encerra as homenagens a António Vieira com uma extraordinária exposição de pintura da autoria da artista plástica e docente de literatura, Dr.ª Maria Adélia Fernandes.

A mostra, original, e concebida, exclusivamente, para o evento, está patente ao público até 14 de Março na Casa Municipal da Cultura.
A artista, ao longo de meses debruçou-se, atenta e reflectidamente, ao estudo da obra do Pe. António Vieira com incidência especial nos Sermões. Escolheu para tema dos seus trabalhos, o Sermão de Santo António aos Peixes. E, na tela e em colagens oferece-nos um manancial expressivo e apelativo da essência do sermão. As composições retratam o pendor das palavras do prosador, com quadros repletos de autêntica força introspectiva. Neles se recolhem os ensinamentos, as críticas, as mensagens, os valores e a fecundidade de Vieira, em que os aspectos religiosos, sociais, culturais, económicos e humanísticos se projectam e transmitem, fielmente, o conteúdo dos textos.
Maria Adélia Fernandes engrandece as artes plásticas e proporciona, com a sua criatividade, sensibilidade e saber, uma leitura agradável, entusiasmante e sui generis, já que as composições afirmam que o Pe. António Vieira continua "vivo" e os seus Sermões integram-se, perfeitamente, na sociedade de exploração, de miséria, de corrupção, de fraude e até de escravatura que permanece activa no século XXI. Visite a exposição que tem orientação pedagógicas para os alunos das escolas secundárias.

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