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28 de janeiro de 2009

Inventariação da Paróquia de Lamas


Por José Eduardo R. Coutinho
No passado dia 23, deste mês, ficou completada e concluída a inventariação da paróquia de Lamas, com um total de 50 novas fichas e um minucioso registo fotográfico, para a igreja matriz e as várias capelas. A tarefa foi, dedicadamente, acompanhada pelo senhor Prior, o Padre Rolando dos Prazeres Simões com isto, e deste modo, está satisfeito o louvavel propósito de haver o pleno registo dos bens culturais e religiosos, assumido pelos sagrados pastores do arciprestado de Condeixa.
Apesar de faltarem notícias documentais - por ter incorporado um senhorio dependente de Miranda do Corvo, de ser repovoamento tardio, ou, ter perdas sucessivas, no cartório dos eventuais possuidores - a ocupação humana é remota, como sugere o famoso achado de diversos bens de prestígio, em prata, do final da Idade do Ferro, recolhido em Chão de Lamas e, sem a mínima divulgação, vendido para Espanha, cujas autoridades culturais o adquiriram e fizeram expor numa destacada sala do Museu do Prado, propositadamente preparada para o receber e mostrar, recusando quaisquer outras informações acerca do achador, da data e do preço pago, na aquisição.
Este facto é, só por si, suficientemente esclarecedor da politiquice vigente no País: atendendo à psicologia da população e à infame sofreguidez dos estatizantes (pior do que a socialice comuna da caída ditadura soviética), através do contra-senso legislativo, o resultado está à vista; houvesse, antes, o integro reconhecimento do achador como proprietário desses objectos encontrados - como estipula o inigualável Direito Romano - e fosse homenageado, publicamente, pelas autarquias, no dia do município respectivo, pelo menos, e seria diferente a situação portuguesa. Em caso de notória peça, a juntar às colecções oficiais, por motivos de manifesta conveniência cultural, que ele seja remunerado no justo valor monetário, à maneira da honrosa prática seguida no mundo civilizado, como em Inglaterra, e tudo seria dignificado. Aqui prevalece a discutível vontade de um Estado inepto, incompetente, corrupto e ladrão, causa e efeito da desastrosa situação generalizada.
Os vestígios romanos, expressos no habitual aparecimento da dispersão tegular e das outras cerâmicas utilizadas nas construções, indiciam algumas estações arqueológicas dessas épocas, indicativas do aproveitamento agrário, nas cercanias e nas áreas de influência de Conímbriga, cujo território abrangia domínios geográficos até ao Trevim, o vocábulo designativo do Trifinium, lá situado, a demarcar as confinações desta civitas com a de Aeminium e de Bobadela, segundo parece.
Situados nos plainos, abaixo das declivosas vertentes dos empinados montes limítrofes, os terrenos de melhor aptidão agrícola tiveram acentuadas deflorestações e arroteamentos, na fase de maior ênfase do povoamento medieval, disperso pelos casais de colonos e de cultivadores anónimos, que habitaram os sítios dos actuais lugares, aproveitando recursos naturais, algumas linhas de água corrente, a reconhecida qualidade das terras e os incentivos da laboriosa prosperidade económica, na feliz esperança do gradual desafogo futuro. Nesta sadia panorâmica dos espaços rurais, a virtude do trabalho, a harmonia social, o alento da fé e a solidariedade humano-cristã organizavam o quotidiano das gentes, polarizado pelo campanário da sede matriz, o ponteiro sonante do curso solar.
Isso concorrera para o erguer de pequenas ermidas, das capelas da devoção local e, sob um agregado alargado, para a construção da igreja, nas quais a memória dos tempos passados está materializada, nas imagens de santos e de mártires, por vezes recordando a fundação dos povoadores iniciais, a voga desses cultos antigos e a transmissão da fé, como legado perene, vivenciado no decurso das eras infindáveis.
Uns tantos bens patrimoniais, acumulados desde começos da Idade Moderna, pautam as encomendas, os estilos, as matérias, os sentimentos transmitidos, acerca das esculturas singelas, das de madeiras estofadas; do latão, dos estanhos e do bronze; dos têxteis, aplicados em paramentos; das valências celebradas, para marcar as estações e reger o ano agrícola; do quanto asseguram identidades comunitárias e certificam costumes jamais desaparecidos.

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