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17 de julho de 2008

Leigos com encargo pastoral

Por Jorge Cotovio


Com este ou outro nome (animadores/ agentes/ responsáveis pastorais, assistentes paroquiais, leigos em serviço pastoral, leigos pastoralmente profissionalizados, leigos "teólogos", …), tudo leva a crer que seja uma realidade nos próximos tempos na nossa diocese. Com o envelhecimento do clero e a escassez de vocações de consagração, não é difícil crer que o futuro da Igreja portuguesa passará – inevitavelmente – por esta nova "figura", melhor, por este novo "ministério", onde os leigos se responsabilizam por animar comunidades paroquiais, por nomeação episcopal. Assim acontece, há anos, por esta Europa fora, nomeadamente na Espanha, na França, na Itália, na Suiça e na Alemanha (cf., por exemplo, GORDO, Jesus Martínez, 2006. Os Leigos e o futuro da Igreja. Coimbra: Gráfica de Coimbra 2) e nós não vamos ser excepção.
Urge, pois, dar passos firmes e cautelosos, mas com muita ousadia (isto é, com coragem e sem medo), imaginação (porque não temos de copiar, forçosamente, o que se passa lá fora) e enTEOsiasmo (porque Deus estará connosco!), aceitando este novo desafio como um autêntico "sinal dos tempos".
Embora o campo próprio da actividade evangelizadora dos leigos seja "o mundo", pondo "em ordem" as realidades terrestres (a família, a educação, a cultura, as ciências, a economia, as artes, os media, a política (cf. LG 31; EN 70), também incumbe aos leigos trabalhar no seio da Igreja, como diz claramente o Concílio: "[Os sagrados pastores] entreguem-lhes confiadamente cargos em serviço da Igreja e dêem-lhes margem e liberdade de acção" (LG 37).
É claro que este novo serviço eclesial provocará muitas mudanças. E riscos. Mas se estivermos prevenidos, toda esta "ventania" será sentida como "sopro" do Espírito, ar renovado que nos dá uma "alma" nova para melhor "animarmos" as realidades terrestres, ou seja, os homens e mulheres que habitam este planeta.
Preparemo-nos, então, para assistir a alguns conflitos entre (estes) leigos e os sacerdotes responsáveis pelas unidades pastorais (que podem ser superados pelo diálogo, pela paciência e tolerância evangélicas), ou a tentações de "clericalização" de leigos (talvez mitigada se os sacerdotes cada vez mais assumirem o seu campo específico dentro da Igreja), ou a "lutas de poder" de leigos (questão superada com "vacinas de humildade" e adequada formação para a co-responsabilidade, de forma a não existir o protagonismo de uma pessoa, mas de uma equipa), ou a reacções negativas das comunidades às actividades pastorais dirigidas pelos "leigos teólogos" (se estes forem pessoas de reconhecido mérito pastoral, estas reacções deixarão de existir), ou à emergência de tensões laborais, sobretudo se estes leigos forem sustentados pelas comunidades e tiverem vínculos laborais (também não existem estes problemas nas empresas? E não são resolvidos?), ou a problemas resultantes das "contingências existenciais" (que podem ser minimizados por escolhas criteriosas), ou a uma espécie de "funcionalização" destes leigos, ou a conflitos "sexuais" se uma mulher assumir este cargo (como tem todo o direito e obrigação), ou a abusos de autoridade da parte destes animadores pastorais (porque até parece estar provado que os leigos, quando "lhes dão corda", costumam ser mais autoritários e centralizadores que muitos padres…), ou a interferências "ruidosas" da parte do marido ou da mulher, se o leigo for casado (e resta-nos ter paciência…), etc.
É razoável que queiramos evitar estes riscos. Às tantas, até estaremos a protelar estas "ousadias" com medo deles. Mas pensemos bem: a Igreja não correu todos estes riscos durante séculos, embora com outras configurações? (Ou seja, as tensões entre padres, bispos e leigos, a gradual secularização do clero, as lutas pelo poder, as tentações "mundanas", os conflitos internos, as reacções das comunidades a este ou àquele pároco, os amuos, as desobediências subtis, o autoritarismo, etc.).
Pronto. Contemos com todos estes riscos e ajamos com precaução. Correcto. Mas avancemos nesta linha, desde já, pois a messe é grande e há leigos que estão a ser subaproveitados e outros que poderão ser estimulados a sair da letargia em que vivem.
Procuremos, sim, ver este novo cargo como ele realmente é – um "ministério". E que os homens e as mulheres que vão ter a humildade e a coragem para assumir semelhante múnus, saibam fazer-se "minus", ou seja, ministros, servidores, para elevar os outros. Como Cristo.

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