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27 de novembro de 2007

Opinião


A nova basílica de Fátima

A terceira maior basílica mundial, em dimensão, denominada da Santíssima Trindade, foi inaugurada em Outubro, com pompa e circunstância, mas com a ausência de Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Muito se escreveu, já, sobre este vultuoso investimento e sobre a não presença do Papa. Vozes críticas acharam exagerado o dispêndio de tantos milhões, quando, como escreveram, há tanta falta de habitação, tanta pobreza e tão precárias condições assistenciais aos idosos, a crianças, à doença e à fome no mundo. Mas, independentemente, das opiniões dos outros, também fizemos a nossa reflexão.
Aceitamos os argumentos dos críticos, mas lembramos que as críticas em Portugal não são de hoje, mas de todos os dias, de todos o tempos, e em quase todos os grandes investimentos. Repare-se na presente conjuntura da construção do aeroporto – Ota ou Alcochete – e os números referidos para alterar um projecto ou remetê-lo para a ampliação do aeroporto da Portela. Atente-se no Centro Cultural de Belém, a celeuma que provocou e que, ainda, não se desvaneceu, pelos custos, dimensão e localização daquele Centro Cultural. Apreenda-se a enorme mancha de críticas à volta do projecto do Alqueva, projecto que mantém, ainda, a actualidade dos muitos argumentos daqueles que o contestaram ou contestam. Entenda-se o empreendimento das gravuras de Foz Côa, em que as críticas negativas se dimensionaram para um sucessivo adiamento da obra museológica ao ar livre. Voltemo-nos para a Igreja de Marco de Canaveses, da autoria de Siza Vieira. Veja-se o que, nesta altura, se evidencia por causa das colecções Berardo e do Hermitage! Analise-se a quantidade de críticas alusivas à Casa da Música no Porto. Ausculte-se o investimento da Cova da Beira e os contundentes argumentos de que não se devia ter realizado. Observe-se a quantidade de críticas para a instalação em território nacional do TGV. Mesmo, o que se disse e se escreveu do megalómano empreendimento da Expo’98. E, recue-se a D. João V, com a construção do Convento de Mafra; a D. Manuel I, com os Jerónimos; ao Jardim Botânico de Coimbra (reduzida a sua dimensão por argumentos falaciosos de custos e interesses). Enfim, estes exemplos de muitos outros que se podem enumerar, alusivos a empreendimentos realizados, ao longo dos séculos, grandes investimentos e empreendimentos, têm provocado, normalmente, críticas, aplausos e indiferença.
Ouve-se e lê-se, muitas vezes, que os portugueses se contentam com pouco, que a grande "aventura" foi nos séculos XV e XVI com os Descobrimentos (embora, para muitos, apenas "aventura"). Mas, quando surge um empreendimento de "anormal" dimensão e custos ou voltado para um futuro longo e que se inscreve no quadro dos grandes bens mundiais, apresenta-se muitas vezes, o sinal negativo: para que serve? para que se gastaram tantos e tantos milhões?
Deslocámo-nos a Fátima com dois objectivos: participar nas cerimónias religiosas em honra da Virgem e visitar a nova basílica. Escrevemos porque o novo espaço religioso esmaga, no bom sentido, a quem o visitar, quer pela grandiosidade artística, pela técnica de construção, pela riqueza de elementos decorativos e funcionais, exemplo das 13 portas, dos mosaicos, das pinturas, do simbolismo figurativo da vida de Cristo e da Virgem, quer pela monumental cruz com uma impressionante escultura de Cristo no centro da mesma, pelo dramatismo e anatomia da imagem de Cristo no altar-mor da basílica, pela expressividade do painel em dourado e terracota e do cromatismo que o realça com enquadramento biblíco em fundo (contemporaneidade da riqueza e beleza dos retábulos barrocos), e, ainda, pela distribuição dos milhares de cadeiras, pelas numerosas e amplas capelas e salas de trabalho na parte baixa da basílica com os desenhos de Siza Vieira, onde os quadrados (lençóis) de água com repuxos suavizam a dureza do mármore e da pedra. Sublinhamos, também, as duas enormes estátuas em bronze (no recinto e antes da entrada para a basílica), uma delas alusiva a João Paulo II e que estava atapetada por ramos de flores, viçosas, que os fiéis ou devotos depositaram na base.
Uma obra megalómana, sem dúvida e que custou milhões e milhões. Porém, identificadora duma época contemporânea, dos nossos dias, e que segue a linha dos períodos das grandes catedrais da Idade Média, (românico e gótico) e do Renascimento e do Barroco, sobretudo em Espanha, França, Itália, Áustria, Alemanha e Inglaterra, de que o Convento de Mafra, o Palácio de Sintra e da Pena e o de Queluz e os grandes Mosteiros das Ordens Religiosas são, também, exemplo em Portugal.
Milhares de pessoas afluíam a Fátima e à basílica no dia em que ali estivemos.
Se Fátima, altar do Mundo, possuía, já, os valores espirituais, arquitectónicos, artísticos, museológicos e sociais evidentes para um turismo religioso/cultural e de amplitude mundial, com esta impressionante obra, amplia-se, assim opinamos, o fluxo de pessoas – com fé ou agnósticos, cristãos ou indiferentes – ao Santuário de Fátima na Cova de Iria. A nova Basílica integrará os roteiros turísticos de Portugal e do Mundo. Não é uma obra qualquer, é, também, a afirmação da capacidade urbanística e arquitectónica dos portugueses. Uma obra para o século XXI.

Mário Nunes

*(Vereador da Cultura
Câmara Municipal de Coimbra)

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