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24 de julho de 2007

O ÓRGÃO DO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE SEMIDE


Manuel Augusto Rodrigues

Depois de ter sido objecto de um importante restauro o órgão do mosteiro de Semide vai ser solenemente "inaugurado" no próximo dia 15 de Agosto, solenidade da Assunção. Trata-se de um acontecimento extremamente relevante, pois muito virá a contribuir para a revitalização do templo mariano. Este acto, aliás, vem juntar-se a outros mais, relacionados com o melhoramento do imponente edifício aguardando-se agora para breve a recuperação do claustro quinhentista. A pouco e pouco está a devolver-se ao monumento o seu rosto primitivo. Ele renasce das cinzas em que os tempos o foram mergulhando e os seus ossos ressequidos recuperam carne e nervos como diz o profeta Ezequiel acerca do povo de Israel exilado em terra opressora.
Com um enquadramento paisagístico singular e dominando a natureza envolvente, certamente um dos mais belos à volta de Coimbra, aquela casa religiosa tem conhecido momentos altos de valorização espiritual e cultural graças ao dinamismo do pároco da freguesia local, Padre António Pedro dos Santos, figura de destaque da Igreja de Coimbra, por muitos conhecido simplesmente pelo Padre Pedro do Colégio de São Teotónio.
No passado dia 6 para celebrar os 20 anos da CEARTE que ali está instalada exercendo uma notável actividade foi proporcionado aos que ali se dirigiram um magnífico concerto em que actuaram o Coro Alma de Coimbra e o Coro do Instituto do Emprego e da Formação Profissional, dirigidos respectivamente pelos maestros Augusto Mesquita e António Leitão. O público teve o ensejo de saborear momentos de boa música excelentemente executada com brio e profissionalismo. A série de intervenções dos representantes de várias entidades, nomeadamente da presidente da câmara de Miranda do Corvo, emprestou à cerimónia uma dignidade especial.
O majestoso templo que durante séculos foi o lugar de culto por excelência das monjas beneditinas apresenta um conjunto de preciosidades artísticas em que sobressaem os motivos da ordem. A sua arquitectura e as diversas peças que nele se conservam elevam o espírito para realidades superiores, cuja meditação enriquece sobremaneira o espírito e abre a alma para o mundo do sobrenatural. Perpassa pelo seu espaço uma atmosfera especial que convida ao silêncio e à reflexão. O papa Bento XVI que várias vezes salientou o papel de S. Bento na história da Europa tem insistido no tema da beleza litúrgica que empresta um significado profundo à contemplação dos mistérios cristãos. E a música constitui indiscutivelmente um dos elementos fundamentais.
Em Semide respira-se o apelo de S. Bento à prática do lema "Ora et labora", frase que a partir das origens da Europa marcou a sua história de muitas e variadas formas: no domínio da economia, do saber e da espiritualidade. Por isso o papa Paulo VI declarou Bento de Núrcia como patrono da Europa, ao qual se vieram depois a juntar Cirilo e Metódio, Catarina de Siena, Brígida da Suécia e Edite Stein. Podemos dizer que S. Bento cuja festividade ocorre a 11 de Julho insuflou na Europa a sua alma. A "Regra" encerra os valores que haviam de tornar a Europa grande e respeitável: disciplina, espiritualidade cristã, optimismo, relação positiva entre o indivíduo e a sociedade. Na era actual, a velocidade dos acontecimentos, a visão economicista e capitalista da vida, a relativização através do multiculturalismo parece terem criado um vazio que urge colmatar. Como resposta ao pessimismo que tem tomado conta da modernidade, recordemos a abertura e a criatividade que foram sempre notas marcantes do espírito europeu. Há que remontar ao espírito do "Ora et labora"que ensina que o trabalho não deve funcionar desligado da espiritualidade. O trabalho sem a dimensão religiosa faz-nos escravos dos interesses económicos, como o contrário nos torna afastados da realidade terrena. S. Bento ajuda a reabilitar essa harmonia. E Semide aí está a brilhar qual estrela que ainda nos nossos dias evoca o ideal beneditino como guia de todos quantos procuram a alma que anime o homem subjugado por tantas formas de opressão e dúvida.
Mas voltemos ao órgão do venerando templo de Semide sobre o qual falaremos com mais pormenor noutra ocasião. Encimado pelo rei David tocando a sua harpa, ele virá no futuro a criar uma outra atmosfera ao mosteiro. Com uma longa tradição que remonta aos tempos bíblicos, o órgão sempre ocupou um lugar especial na liturgia da Igreja. A sua decoração dá-lhe um aspecto muito peculiar e contribui em muito para o embelezamento do espaço sagrado. A bênção dos órgãos segundo obedece no ritual romano à fórmula seguinte: depois de recitado o Sal 150, "Laudate Dominum…in chordis et organo", vem a oração: "Oh Deus, vós ordenastes a Moisés, vosso servo, que mandasse fabricar trompetas, cujo som acompanharia a oblação dos sacrifícios oferecidos ao vosso nome; vós quisestes também que os filhos de Israel cantassem os vossos louvores acompanhados de trompetas e de címbalos. Abençoai, pois, agora este instrumento, este órgão, que nós consagramos ao vosso culto. Concedei aos vossos fiéis que coloquem toda a sua alma a cantarem os cânticos espirituais e de chegarem assim às felicidades eternas nos céus".

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Estive a assistir ao magnifico concerto, no convento, e a emoção assolou-me quando ouvi algumas peças como "Avé-Maria" pelo Alma de Coimbra. Gostei, foi um concerto magnífico com o coro do IEFP a mostrar também muita qualidade.

Miguel Almeida - Miranda do Corvo.

1:34 da tarde  

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