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15 de maio de 2007

E depois do Adeus?


Alguns mais distraídos podem pensar que se trata de um aceno à dita "revolução dos cravos", mas não é. No dia em que escrevo (7 Maio) cumprem-se 365 dias que já passaram desde que fomos como Igreja diocesana em Peregrinação ao Santuário de Fátima.
Convocados pelo nosso Bispo fomos das diversas comunidades cristãs da diocese como um povo Pascal, um povo peregrino, marcados pela certeza de que há-de ser pela oração mais intensa e dinamizada pela esperança, pelo testemunho de uma fé viva e comprometida, que as nossas comunidades se hão-de tornar escolas onde é acolhido, celebrado e vivido o "evangelho da vocação", isto é, o espaço natural onde cada um se descobre chamado por Deus a participar no Seu projecto de amor. Podemos dizer que "colocar na agenda" das comunidades cristãs a necessidade de rezar pelas vocações ao presbiterado, à vida religiosa e missionária, à vida consagrada secular era o objectivo da peregrinação. Rezámos, fizemos festa, vimo-nos e testemunhámos que somos uma Igreja viva e com vida, descobrimos até facetas novas desta Igreja a que pertencemos e, animados pelo fogo de Deus semeado no nosso coração pelas palavras do nosso Bispo, lá dissemos adeus à Virgem do Rosário e rumámos a casa.
Um ano depois é altura de rever este regresso a casa, é altura para nos perguntarmos: O que ficou depois do adeus? Em que terreno semeámos a esperança que ali foi rejuvenescida? Este acontecimento foi um acto meramente acidental, isolado, ou fizemos dele uma oportunidade para dar pequenos passos, concretos, audazes?...
Não basta fazer coisas, muitas ou poucas, se essas mesmas coisas não implicarem de todos e cada um de nós uma fidelidade cada vez mais criativa, real, alegre e comprometida. Num tempo tão marcado pelo acidental, pela superficialidade, há que "ousar a esperança", não como alienação (como quem foge das dificuldades na esperança de um futuro que nunca chegará) mas com um olhar atento, realista, sábio, marcado pela profundidade de quem sabe ler em cada tempo os sinais de Deus.
Em algumas circunstâncias, permitam-me o desabafo, continuamos todos (padres e leigos) a pregar muito uma "esperança desesperada". Muitas vezes dedicamo-nos à oração para que haja mais padres, religiosas, missionários e leigos consagrados tão-somente tendo como motivação o "eles diminuíram…há menos…já não há suficientes para as paróquias". Não nego esta realidade, é verdade que há menos padres e consagrados. Temos de assumi-lo sem dramatismos esquizofrénicos. Mas o nosso horizonte, enquanto homens e mulheres de fé, não pode situar-se só aqui, seria paupérrima uma reflexão (e oração) pela realidade vocacional de uma diocese centrada apenas e só na míngua de padres e consagrados.
"Afinal rezámos (e rezamos) para quê? Não há mais padres por isso. Continua tudo na mesma" É o lamentos que tantas vezes me apresentam. É evidente que precisamos de mais padres e
religiosos, de mais missionários e leigos consagrados, mas precisamos igualmente de famílias cristãs que vivam com entusiasmo a sua vocação de "igreja doméstica", precisamos de jovens que se entusiasmem com o evangelho, precisamos de comunidades paroquiais onde se vive uma harmónica sinfonia de ministérios. Precisamos todos em primeiro lugar de dizer uns aos outros que somos profundamente felizes por sermos cristãos e precisamos todos (e cada um) de assumir sem medo o risco de fazer opções certas no tempo certo. Afinal rezamos sobretudo para acolhermos com lucidez o dom da fé, para a vivermos com alegre generosidade e para termos o discernimento necessário de não nos deixarmos ir na onda da lamentação e da pressão fazendo opções que mais não são do que remendos/paliativos.
A questão da vocação (e das vocações) diz respeito a todos nós que fazemos parte desta Igreja diocesana. Mais do que lamentação ela pede-nos, ou melhor, exige-nos ponderação, formação, projecto(s), comunhão de esforços e de ideias e sempre joelhos por terra diante de Deus. Tudo isto não nos pode preocupar apenas quando o drama for maior, mas deve ocupar-nos desde já, a partir de hoje.
É certo que gostávamos de ter mais jovens, famílias, padres, consagrados, comunidades, talvez eles nos faltem porque também nos falta a esperança.
É urgente que repensemos o que andamos a fazer, a dizer e a rezar. É urgente descruzar os braços e assumirmos o risco de interpelar com mais determinação "os que nos faltam" e "os que ainda estão", só assim a nossa esperança não adormecerá e só assim seremos uma Igreja que vive e vibra com a novidade da Páscoa.


Luís Miranda

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