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29 de outubro de 2008

Padre Américo: pioneiro dos hospitais de acamados


Mário Nunes

Américo Monteiro de Aguiar nasceu no lugar de Bairro, freguesia de Galegos, Penafiel, em 23 de Outubro de 1887, portanto, fazia ontem, 121 anos.
O pai encaminhou-o para o comércio, embora a mãe visse nele uma vocação para o sacerdócio. Uma loja de ferragens, no Porto, possibilitou-lhe conhecer o homem que lhe viria a abrir as portas para ser padre, o Cónego Dr. Manuel Luís Coelho da Silva, futuro Bispo de Coimbra. Primeiramente, e após ultrapassar as mais diversas fases da sua vida, incluindo ter vivido em Moçambique, quis ser frade franciscano. Chegou a tomar o hábito de noviço, porém, na altura da admissão na Ordem, foi rejeitado pelo Cabido. Abatido e desencorajado pediu admissão no Seminário do Porto, estabelecimento que, também, não o aceitou. Dirigiu-se a Coimbra e D. Manuel Coelho da Silva acolheu-o no Seminário e ali foi ordenado sacerdote. Devido ao esforço que fizera com os estudos, sentiu-se debilitado, fisicamente, e solicitou ao Prelado autorização para tratar dos pobres. Aí começou a sua cruzada de bem-fazer. A vontade de ser franciscano veio tornar-se realidade, porque se desprendeu de tudo e, tal como S. Francisco, entregou-se à missão de acudir aos desgraçados, marginalizados, carentes de amor, abandonados e doentes, iniciando a sua tarefa pela criação da Sopa dos Pobres, em Coimbra, prosseguindo com visitas a suas casas.
Bateu de porta em porta e de instituição em instituição, vindo a interessar-se pelos rapazes famintos de pão e de amor. As colónias de Férias ou de Campo do Gaiato da Rua ou da Baixa de Coimbra, em S. Pedro d´Alva e a seguir a sua grande obra, as "Casas do Gaiato", com a compra do edifício e terreno no concelho de Miranda do Corvo, por quarenta mil escudos, foi a sementeira para construir futuros, ou seja, somaram mais um marco na sua entrega aos pobres. Buscando o poema de Miguel Torga "Todo o semeador / semeia contra o presente / Semeia como um vidente / a seara do futuro / sem saber se o chão é duro / e lhe recebe a semente", vemos que Padre Américo foi um semeador de esperança, lançando a semente na "terra" dura, esperando, com esperança, colher os frutos.
Multiplicou as obras do gaiato, pelo País, Açores e África, utilizando na fundação o princípio que permanece: "dar às crianças o alimento (pão) como pretexto para educar para a vida", uma obra de rapazes, para rapazes e pelos rapazes, para formar homens de bem, honestos, trabalhadores, chefes de família, respeitados pela sociedade.
Lançada a semente arrancou com os Lares e o Património dos Pobres (construção de casas para abrigar as famílias a viver em condições infrahumanas), criando, mais tarde, o hospital de acamados, antecipando-se, em dezenas e dezenas de anos, aos hospitais de acamados que, actualmente, existem sob a responsabilidade de Instituições vocacionadas para o efeito, exemplo das Misericórdias. Ao criar o "Calvário" afirmou ser o seu último grito, o canto do cisne. E, não se enganou. A morte chegou, por acidente de automóvel, em Valongo, a 16 de Julho de 1956.
Nos últimos tempos, as Casas do Gaiato têm estado na Comunicação Social pelas mais diversas razões. Não compreendemos que senhores ou senhoras de gabinetes aquecidos e outros interesses pessoais e ou institucionais ponham em causa uma obra respeitável, grandiosa, humana e portadora dos mais extraordinários valores do Homem para o Homem. Somente, na minha opinião, por desconhecerem um percurso de amor, em prol da sociedade, daqueles que a mesma sociedade atira para os vícios, pobreza e morte, em vida. Mas, o Padre Américo, como samaritano, perdoa-lhes as ofensas feitas à sua memória e à obra que deixou na Terra
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