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28 de agosto de 2008

Somos peregrinos de casa às costas…


Nuno Santos


A vida é uma constante e permanente viagem… onde cada um de nós é apenas (e só) um peregrino do amanhã. Um amanhã reconfigurado no que somos e no que acreditamos.
Ser peregrino não é um dado adquirido, uma vivência fácil, ou um passo já dado. Afinal tudo aqui é dinâmico, exigente, recíproco e dialéctico. Cada pegada que deixamos na estrada da vida fala do cosmos que somos e nos habita. Somos (muito) mais do que conseguimos ver reflectido no espelho.
Claro que todos sabemos isto. Todos sabemos que o amanhã ‘a Deus pertence’ (e a nós também!). Sabemos que mais importante do que o caminho é o modo como fazemos o mesmo caminho, porque a meta não é o fim mas o modo como nos re-constuímos no fim que somos.
Mas atenção que o nosso fim (para os crentes – claro!) é a eternidade. Nem mais - ETERNIDADE. Um viver plenamente em comunhão de amor – uns com os outros e todos com Deus. Só essa comunhão e essa partilha nos torna felizes. E a felicidade é já antecipação e vivência desta sintonia de corações.
Assim conclui Emile Hirsch, no filme «O lado selvagem» de Sean Penn (inspirado numa história verídica de Christopher McCandless): «a felicidade só é real quando é partilhada». Apetece-me perguntar: a quantas felicidades irreais somos tentados e pretendemos construir?!
Ser peregrino não é, por isso, a construção de uma história individual ou um projecto de felicidade ‘privado’. Trata-se sempre de uma permanente construção de ‘pontes’ e um permanente estender de mão. Ajudar e ser ajudado, ouvir e ser ouvido, abraçar e ser abraçado, amar e ser amado.
No dicionário deste tipo de peregrinos há palavras que não existem: egoísmo, solipsismo, individual (são as que me recordo agora!). Há, todavia, outras que ocupam muitas páginas: partilha, inter-ajuda, comunidade, amizade, fraternidade, amor… E há uma muito especial A-DEUS. Assim mesmo. Este modo de escrever fala da permanente necessidade de passos novos que dizem cada ‘adeus’. Contudo, o significado não se fica por aqui, porque «a-Deus» trata-se da forma sincopada e simplificada da expressão ‘encomendo-te a Deus’ (como é no francês adieu ou no castelhano adiós, mas como não o é o inglês good bye).
A propósito desta expressão, dizia Bagão Félix: «saberão os ateus empedernidos ou mesmo os agnósticos distraídos que, na despedida, são intermediários entre Deus e o familiar, amigo ou transeunte? Uma espécie de fé mínima garantida envolta num afixo. Deus está ali. Nas entrelinhas das palavras, do comportamento, da relação. E na mais bela palavra na despedida de quem parte desta vida. Adeus! (Do lado de cá, ao deus-dará, Sopa de Letras, Lisboa 2002).
Assim me quero despedir. Estou de partida para novas missões, sinto-me peregrino de casa às costas… por isso hoje quero dizer agradecidamente: A-DEUS!

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