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Localização: Coimbra, Portugal

13 de março de 2008

Inventariação da Paroquia de Bolho


José Eduardo R. Coutinho

No dia 5 deste mês, ficou concluída a inventariação da paróquia de Bolho, com um total de 37 fichas e respectivas fotografias, abrangendo o património da igreja matriz e de duas capelas.
A arqueologia local é suficiente para provar a existência de população no território, que ascende, pelo menos, à Pré-História recente, mas, da época pré-nacional, a do domínio islâmico, nenhuma documentação directa se conhece, nem a toponímia apresenta qualquer caso que possa provir, inegavelmente, desse tempo.
Mesmo depois do século XIII, também são escassas as informações documentais, apesar de ser muito remoto o povoamento da região de Coimbra a Montemor e da faixa litoral, do Vouga ao Mondego, em cujo horizonte está Bolho de a par de Cantanhede, assim referido num diploma de 1113, pelo qual Salvador Sandines e mulher Susana venderam, a Randulfo Zuleimaniz e mulher Justa, metade da uilla de bolio, precisamente a parte situada trans illo rego qui est pro ad illa fontanina, nessa uilla quod dicitur bolio quod fuit de soecrum meum Mofarrig Azaqui.
Está claro que aquele indivíduo era o pai de Dona Susana, a concessora, e a villa (a grande propriedade agrícola) aparece, nitidamente, de um moçárabe, que a devia ter presurado após a reconquista cristã de Coimbra, em 9 de Julho de 1064, e, de seguida, repovoado por sua, cumprindo as ordens do Alvazir Dom Sesnando.
Simultaneamente, o nome Mofarrig Azaqui, desse dono da uilla bolio, é um completo testemunho do moçarabismo e certifica o modo de repovoamento vigente: a presúria sesnandina, insistentemente recomendada pelo celebérrimo governador do condado conimbricense, igualmente moçárabe e que dela dava exemplo, até em Cantanhede.
O posterior historial da localidade, de que, talvez, Dom Randulfo e Dona Justa já possuiriam a outra metade, por anterior aquisição, por esse ou outro modo, ficou perdido por falta de documentação conhecida, como a da instituição da paróquia de São Mamede de Bolho, já mencionada no rol das igrejas, de 1321.
Basta considerar a escolha do veneradíssimo mártir da Capadócia para ser crível uma remota vivência cristã no local, a economia agro-pastoril desenvolvida e o persistente cultivo das terras, muito férteis e produtivas. Ulteriormente, a igreja teve a categoria de priorado e, por donatários, os condes de Pombeiro.
No conjunto das peças inventariadas, sobressaiam as boas imagens em pedra, do século XV, honrando a exímia produção escultórica das oficinas de Coimbra, grande utilizadora das reservas calcárias da zona de Portunhos – Ançã – Outil, outras dos séculos XVI e XVII, e algumas do XVIII, em madeira e de panejamentos esvoaçantes.
Quanto a retabulária, os trabalhos esculpidos em calcário e madeira provêm de finais de Seiscentos; as pratas inscrevem- se nas tipologias setecentistas e oitocentistas, segundo o mais comummente divulgado.
Por fim, um interessante conjunto de paramentaria seiscentista, completo e muito bem conservado, possivelmente devido ao presbítero Pedro Carvalho - que mandara fazer a capela-mor e , por isso, está perpetuado no enunciado epigráfico da lápide lá colocada, com data de 1669 – atesta os factos característicos das circunstâncias portuguesas da época e da indústria têxtil nacional.
Com efeito, apreciando a estrutura dos tecidos e os motivos ornamentais adoptados, é possível definir concepções bem organizadas, plenas de vigor e detentoras de reconhecida qualidade, nos damascos, taqueté, galão, franjas e passamaneria.Embora mantendo a complexidade técnica dos panos, duráveis e robustos, o efeito ornamental obtido somente realça singelezas austeras: a ausência de fios metálicos, de prata e de ouro, determinantes de brilhos e cintilâncias vistosas, muito apreciadas pelos efeitos ricos e subtis, justifica o grandioso esforço na guerra da independência, mantido na segunda metade do século XVII, que absorvia os metais preciosos do País e conduziu as produções nacionais à evidente sobriedade, assim processada, numa época de contenções económicas.

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