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13 de março de 2008

AOS PÉS DA CRUZ


Teresa Martins

Nós, cristãos, vivemos os mistérios da dor de Cristo (dolorosos) com uma sensibilidade excepcional, daí que os rituais do tempo quaresmal, como a Via Sacra e o jejum, ou mesmo as nossas particulares atitudes comportamentais, tenham, geralmente, um laivo de fé. Maria, mãe de Jesus e nossa mãe («Mulher, eis o teu Filho») conservou-se aos pés da cruz, mesmo vendo os discípulos pôr-se em fuga… E quando Cristo subia, já tão sem forças, a caminho do Calvário, o camponês Simão de Cirene é obrigado a levar-lhe a cruz, para que Ele não desfaleça antes da crucificação. «Quando o Senhor cedia ao peso da cruz, foi obrigado pelos soldados a ajudá-lo. Este acto de caridade, ainda que involuntário, valeu-lhe uma recompensa do Senhor, pois seus filhos, Alexandre e Rufo, converteram-se à fé cristã e foram discípulos dos Apóstolos…», lemos na enciclopédia. E nós ouvimos a voz do coração, e ficamos imensamente condoídos, mas cumprir a voz do Profeta é mais complicado… «O jejum que eu aprecio é este, oráculo do Senhor Deus: Abrir as prisões injustas, desatar os nós do jugo, deixar ir livres os oprimidos, quebrar toda a espécie de jugo; repartir o teu pão com o esfomeado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir o nu, e não desprezar o teu irmão…», Isaías, 6 a 8) Mesmo cumprindo pouco (e mal), a Quaresma foi, desde sempre, tempo de silêncio muito respeitoso e de uma oração com dor sentida perante todos os momentos da Paixão de Cristo. Como tudo na vida, também em mim houve, ao longo dos anos, mudanças nas manifestações exteriores, mas nenhuma Quaresma me deixou indiferente, dada a maneira como as vivi na minha meninice. Os jejuns!… Eles eram obrigatórios, mesmo para as crianças, só que a estas, tanto quanto me recordo, era permitido comer várias parvinhas ao dia… Essas "parvinhas" (dejejuadouros), em qualquer altura do ano tinham o nome de bucha ("já comi uma bucha!"), julgo eu agora que o termo "parva" era simplesmente ligado ao jejum, e sorrio à recordação das belas fatias de pão centeio, de fabrico caseiro, bem barradas com queijo da serra ou marmelada (a manteiga veio muito depois) que eu comia sempre que queria, com autorização, e sem quebrar o jejum! Era isto educar e fazer crescer na fé? Claro que sim…
E as "cinzas"? Poderei eu, hoje, receber as cinzas que me lembram a nossa condição humana sem deixar de recordar a minha saudosa mãe a limpar, com extremo cuidado a pedra da lareira, libertando-a de todo e qualquer vestígio da fogueira diária? E posso apagar da minha memória aqueles molhinhos de vides, designados por capões, que ela depois colocava bem no centro daquela pedra, onde iriam ser transformados na cinza a ofertar à igreja? A tradição vinha de longe. Assim, aquelas vides haviam sido seleccionadas logo na poda das vinhas, porque tinham de ser as varas mais tenras das videiras e, para atiçar o lume, apenas restos da estopa (rejeitados depois de se ter usado o sedeiro), a que davam o nome de molinhaço. Até no apanhar e no arrefecer daquela finíssima cinza havia provas de carinho, e fé de mover montanhas…

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