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8 de novembro de 2007

Padre Luís Miranda em entrevista ao “Correio”


"A Semana dos Seminários é um desafio à oração"

Em vésperas de iniciarmos a Semana de Oração pelos Seminários, o "Correio" falou com um jovem sacerdote da nossa diocese, Padre Luís Miranda que acompanha actualmente cerca de sete jovens no Ano Propedêutico em Leiria. Mais do que falar dos edifícios e dos seminaristas, o Padre Luís Miranda desafia-nos à oração pelas vocações sacerdotais. Interpelado sobre os números de seminaristas, Luís Miranda diz que são apenas número e que, prefere apenas preocupar-se com as pessoas…

Correio de Coimbra - Iniciamos no próximo domingo, uma vez mais, a Semana de Oração pelos Seminários. Na sua opinião, é importante celebrar-se esta semana?
Padre Luís Miranda
– Claro que sim! Embora seja necessário esclarecer aqui um aspecto a meu ver determinante, essencial. A celebração da "semana de oração pelos seminários" nunca pode ser entendida como o único tempo do ano em que prestamos mais atenção "ao edifício" e às pessoas que lá habitam, também não deve ser um tempo para a lamentação do "há poucos e devia haver mais…", muito menos é um tempo para fazer estatística! A celebração desta semana desafia-nos a todos em primeiro lugar para a oração e, por força dessa intimidade e comunhão com Deus, nasce também aí a necessidade de aprofundarmos o caminho feito e o caminho a fazer-se. Mais do que dizermos que queremos padres, o essencial é perceber que padres queremos nós. É por isso que julgo que esta semana, vivida nesta profundidade, pode constituir para toda a diocese, para todas as comunidades cristãs e para cada um de nós os baptizados o início de um tempo em que nos preocupamos menos com os números e mais com as pessoas. Creio que é assim que nascerá em todos nós uma consciência vocacional orante e interpeladora…e creio ainda que desta forma todos nos sentiremos mais comprometidos e empenhados não tanto em "arranjar" padres mas sobretudo em formar cristãos conscientes, audazes, felizes…e ser padre aparecerá neste contexto como uma questão natural.

"O padre não pode ser um «atarefado fazedor de muitas coisas« ou um «super-padre»"


Acompanha os jovens da nossa diocese no chamado Ano Propedêutico… È uma espécie de estágio ou pré-admissão ao seminário… È importante que haja esta "iniciação"?
Olhe, eu sou fruto dessa experiência e sinto que ela foi determinante para o que sou, quer pelo conjunto de experiências que me proporcionou, quer pelos desafios que me colocou, quer sobretudo pela profundidade que gerou pelo simples facto de ser um ano de aprofundamento (discernimento) e consolidação vocacional.
Diante de um tempo tão confuso e tão alérgico à profundidade e ao compromisso, como é o nosso, um ano destes é determinante não só para ser padre mas acima de tudo
para se ser cristão. Daí que seja muito importante esta iniciação à vida comunitária, à oração, ao aprofundamento do mistério da fé, a uma leitura objectiva do tempo e da cultura, e acima de tudo pelo facto de ser um tempo em que há tempo para o essencial. O padre não pode ser um "atarefado fazedor de muitas coisas" ou um "super-padre". Sendo servidor do baptismo dos irmãos, ou como gostava de dizer o Papa João Paulo II sendo um homem para os outros, o padre deve em primeiro ser um sinal do Eterno, de Deus, e isso não se improvisa, tal como não se improvisa a proximidade, a ternura de um acolhimento sincero, a experiência de levar a misericórdia de Deus a todos os que andam afadigados, esmagados pelo peso da vida e dos seus muitos problemas…é por isto que é determinante um tempo propedêutico, que não é um fim em si mesmo mas um ponto de partida para o seminário maior e para a vida toda…


"…para haver padres, é preciso que haja cristãos…"


Estando ligado também ao Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações, encontra alguma esperança num futuro próximo, concretamente na área sacerdotal?
Sem cair num optimismo semelhante ao daqueles que porventura não querem ler a realidade eu diria, apesar de tudo, que nós temos bons motivos para a esperança. O primeiro deles prende-se com os jovens que estão no nosso seminário maior, no ano propedêutico e no pré-seminário: eles são para mim, para nós Diocese de Coimbra, o rosto da esperança, a certeza de que Deus não falta ao que nele confiam. No entanto há um segundo aspecto a ter em conta: é preciso recomeçar sempre! Para ser padre, para haver padres, é preciso que haja cristãos, homens que se questionam, que rezam, que se deixam inquietar pelo Evangelho, e por isso, um aspecto determinante para que a nossa esperança seja alegre e real advirá do empenho que todos colocarmos numa pastoral que seja toda ela vocacional. O "haver" ou não mais padres no futuro depende em primeiro lugar de Deus…mas que nenhum de nós se sinta dispensado de rezar, de formar, de chamar…o Papa Bento XVI tem-nos recordado que os padres surgem nas comunidades onde se reza, mas recorda-nos também que rezar não significa fugir da realidade mas empenhar-se plenamente nela. Penso por isso que a esperança de mais vocações ao ministério presbiteral reclama de nós um empenho, um carinho e um acolhimento maior do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo nosso seminário maior, pelo pré-seminário, pelo ano propedêutico e pela pastoral das vocações, mas também uma admiração e gratidão muito grande para com todos os nossos padres que servem generosa e abnegadamente as nossas comunidades cristãs…é o seu testemunho de fidelidade, de alegria e de fraterno acolhimento que tem gerado as vocações que todos estamos a colher, e isto não pode ser esquecido!

Um desafio: que palavras deixaria aos jovens que se encontram actualmente no seminário e no pré-seminário? E aqueles que porventura venham a pensar nisso?
Diria a todos e a cada um aquilo que um dia o grande Papa João Paulo II disse aos jovens: "Não tenhas medo de ser santo! É possível seres jovem e seres radicalmente fiel a Cristo".

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