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6 de julho de 2007

“Um novo humanismo para a Europa”


Professores universitários de Coimbra participaram num simpósio em Roma

A propósito do 50º aniversário do tratado de Roma, o Vicariato de Roma e a Presidência das Conferências Episcopais da Europa organizaram um simpósio, cujo tema «um novo humanismo para a Europa – o papel da universidade» se propunha ser uma ocasião de reflectir o papel do cristianismo na construção da cultura europeia. Foram convidados os docentes e investigadores das universidades europeias que, durante quatro dias, de 21 a 24 de Junho, partilharam ideias, experiências, preocupações e, sobretudo, a esperança de um futuro a construir com o empenhamento de todos, nomeadamente dos cristãos inseridos nos meios académicos. De Coimbra, na maioria membros do CADC, participaram dezena e meia de docentes.
Logo a abrir foram lembrados a paz e a dignidade da pessoa humana como os grandes objectivos dos fundadores da União Europeia e foi sublinhado que sem identidade ela não poderá apresentar-se com autoridade, e a identidade depende de um projecto de futuro. Este será o de criar uma nova humanidade. Mas, também não há identidade sem se abrir ao passado e, aí, encontramo-nos com a necessária referência às suas raízes cristãs.
Eis algumas das ideias que estiveram presentes nas diversas intervenções: a Europa é uma comunidade de comunidades, pautadas pela diferença sem destruir a unidade; a dignidade humana é das maiores das suas conquistas; o humanismo cristão convida-nos a abrir-nos aos outros, distintos mas complementares; o seu grande poder é o poder do exemplo que atrai; na linha dos «pais» fundadores, a Europa necessita de líderes credíveis; ela não pode ser apenas uma comunidade económica, mas tem de unir a economia à cultura, e, para tal, é insubstituível o papel da universidade e da religião; o conhecimento tem de levar aos valores éticos; a Europa deve tornar-se líder de humanidade e de solidariedade.
Mas, foi sobretudo a intervenção do Cardeal Camillo Ruini, subordinada ao tema «o humanismo cristão e a questão antropológica», que marcou o tom de todo o encontro. Começou por realçar a problemática das novas tecnologias e os consequentes desafios éticos, o relativismo e nihilismo no contexto da modernidade e a desumanização provocada pela visão unidimensional do ser humano a partir das ideologias. Sublinhou que o humanismo cristão tem a sua origem e o seu sentido em Jesus de Nazaré que se apresenta como um teocentrismo e cristocentrismo, na humildade e na exaltação do valor do homem, que é objecto da loucura do amor de Deus e é chamado a ser filho no Filho. Mas em Jesus Cristo unem-se também o teocentrismo e o antropocentrismo e apresenta-se para o ser humano como um processo sempre aberto. Importa, contudo, que o humanismo cristão estabeleça diálogo com a ciência e, para tal, deve integrar a ciência, a filosofia e a teologia. Recordou, a finalizar a sua intervenção, que o homem permanece para si mesmo uma questão insolúvel e que o caminho da Igreja é o homem.
No contexto das áreas temáticas foram aprofundados os seguintes temas: a pessoa humana, genética e biologia; a cidade do homem: sociedade, ambiente e economia; a visão da ciência: descobertas, invenções e tecnologia; criatividade e memória: história, literatura, língua e arte.
No primeiro tema foi sublinhado o reducionismo humanista provocado pela cultura ocidental nos últimos séculos e, para responder a esta situação, o humanismo cristão deve propor uma fundamentação metafísica da realidade humana, deve pugnar pelo valor da lei natural, deve encontrar na fenomenologia o lugar de encontro com os não crentes, deve proporcionar uma racionalidade ampla entre todos os intervenientes na cultura e deve unir, no espaço universitário, a mística e a inteligência.
O segundo tema focou três palavras chave: um novo personalismo que implica que a universidade seja um lugar de educação nos valores; a democracia como proposta de liberdade e de justiça social o que implica que seja norteada pela ética; fraternidade que trata todos os cidadãos como iguais mas sem extinguir as diferenças. Daqui falar-se de economia fraterna, direito fraterno e de bem comum. A grande exigência que se coloca à Europa é a de uma racionalidade sempre maior.
No terceiro tema, foi denunciada a redução do ser humano a um produto genético fruto da ambição das novas tecnologias e foi sublinhado que a vida humana e a sua dignidade colocam limites a certas investigações, exige-se a procura ética do melhor para o ser humano e que se tenha em conta as raízes humanistas europeias. Para tal, a Europa deve voltar-se para as suas raízes para ser garantia de um optimismo antropológico. Frisou-se ainda que a racionalidade é uma condição para o conhecimento mas deve orientar-se pelo Amor.
O quarto tema deu lugar à análise da caminhada humanizadora da pessoa humana no espaço europeu. Mas isto só aconteceu quando se contou com o contributo da religião em união com a cultura. Foi enaltecido o contributo dos Papas do século XX para a cultura da paz e para a visão integral do ser humano. A centralidade do ser humano que tanto agradou à modernidade só poderá existir na lógica de Deus.
O simpósio contou com um momento particularmente gratificante com a reunião dos reitores das diversas universidades europeias. Para nós, a presença do reitor e da vice-reitora da universidade de Coimbra e da sua intervenção acerca do desenrolar do processo de Bolonha, actualidade, exigências e possibilidades, foi motivo de grande alegria.
Mas o momento alto, sem dúvida, para além da beleza e profundidade das celebrações litúrgicas, foi a audiência com o Santo Padre. Só a presença do sucessor de Pedro já se revestiria de um significado incalculável para a fé dos docentes católicos, mas foi jubilosamente sentida a sua intervenção na qual ofereceu uma reflexão profunda sobre as raízes cristãs da Europa, o contributo do cristianismo para um verdadeiro humanismo de futuro, o papel das universidades na promoção das dignidade humana e na construção da civilização do amor. Para tal, convocou os docentes e investigadores à virtude da caridade intelectual, abrindo os horizontes científicos para que os saberes ofereçam uma visão global do ser humano, onde se inclui a dimensão religiosa. Segundo as suas palavras, todos em conjunto, professores e alunos, devem proporcionar que o espaço universitário se torne num «laboratório da cultura».

João Lavrador

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