Adriano Vaz Serra em longa entrevista ao Correio sobre o referendo ao aborto
"A solução que se impõe não é a de escolher a morte mas sim a de promover a vida"
Adriano Vaz Serra é, actualmente, professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e assume, desde 1973, o cargo de director do Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra. O semanário Campeão das Províncias caracterizou-o, recentemente, como o "gentleman da Psiquiatria". Numa entrevista ao "Correio", afirma que quem responder "sim" no referendo do próximo Domingo, estará a "assinar um cheque em branco" que não sabe como vai ser utilizado. Para este especialista, a vida existe desde o momento da concepção e a realização do aborto, muitas vezes imposto à mulher por outros, deixa marcas psicológicas graves e conduz a comportamentos suicidas, depressão, transtornos mediados pela ansiedade, abuso de drogas e alcoolismo. Numa época que considera esclarecida, chama a atenção para a importância de apoiar as mulheres em situações difíceis, mas acredita que "a solução que se impõe não é a de escolher a morte mas sim a de promover a vida".
Concorda com este referendo? Concorda com os termos da pergunta que vai ser colocado ao eleitorado no próximo dia 11 de Fevereiro?
A maioria das pessoas tem vindo a salientar que "a vida não é referendável". De facto este aspecto é reconhecido pela própria Constituição da República Portuguesa quando afirma, no Art.° 24.°, que "a vida humana é inviolável", o que, naturalmente, se deve aplicar igualmente à vida intra-uterina desde a sua concepção. Por sua vez, o Art° 140.° do Código Penal Português define que o aborto é um "crime contra a vida intra-uterina" presumindo que, mesmo que se seja um feto, representa um ser que já tem vida. A pergunta que vai ser colocada ao eleitorado português é demasiado elaborada e um pouco confusa. Menciona: "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?" Toda a pessoa que responda "sim" estará a permitir que o aborto seja descriminalizado, legalizado e liberalizado até às 10 semanas sem que a mulher precise de dar qualquer justificação para o seu desejo de abortar. Quem responder "sim" estará a "assinar um cheque em branco", que não sabe como vai ser utilizado, isto é, que introduções virão a ser colocadas na lei que posteriormente se referirá ao aborto.
"O aborto não é um método anticonceptivo"
Com tantos meios de contracepção para se evitar uma gravidez, já não falando da vasectomia aplicada ao homem e da laqueação das trompas à mulher, é mesmo necessário recorrer-se à prática da IVG? Não haverá outra solução?
De facto, estamos numa época esclarecida, em que se tem procurado investir na educação sexual e em que há diversos métodos de controlo da natalidade, entre os quais se citam o uso já clássico da "pílula" anticonceptiva, o uso ainda mais antigo do preservativo, a utilização do dispositivo intra-uterino, a vasectomia ou a laqueação das trompas. Então, com muita honestidade, devemos perguntar-nos colectivamente, "olhos nos olhos" se, para além destes métodos, ainda é necessário colocar o aborto como mais um dos métodos anticonceptivos? A solução que se impõe não é a de escolher a morte, mas sim de promover a vida: a vida da mãe e do feto, prestando atenção às causas, procurando encontrar respostas para elas, dando o apoio médico, jurídico e social que muitas vezes falta.
A entrevista encontra-se na íntregra na edição desta semana
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