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18 de janeiro de 2007

As (minhas) notas da semana

1. Até meados de Fevereiro, o tema de todas as conversas, de todos os debates vai ser o referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Usa-se agora esta expressão menos agressiva aos nossos ouvidos para significar o acto sempre condenável do aborto. Como se a mudança das palavras e o recurso a temperadas perífrases viessem alterar um milímetro que fosse a gravidade deste crime contra a humanidade. Não é meu intento, nesta coluna, descer a grandes argumentos, que os há, para que se entenda a minha tomada de posição inequívoca – a minha e a de todos os cristãos que procuram ser consequentes com a sua fé – a favor da vida em todas as circunstâncias, em todos os momentos e em todas as suas etapas de desenvolvimento. A vida humana é um dom inestimável. Tão inestimável no primeiro momento como no momento derradeiro. Se morre um jovem na força dos vinte anos, todos lamentamos a sua perda. E, no entanto, o valor dessa vida perdida de modo irreparável não é nem mais nem menos, nem absolutamente o mesmo daquela outra vida que cresce no seio materno. A vida vale por si mesma e não pela arbitrariedade das leis humanas, que a põem nos pontos da balança de qualquer justiça. É um dom gratuito, mais valioso ainda que o dom do amor ou que o dom da liberdade. A vida é aquele dom sem o qual todos os outros deixam de ter qualquer sentido.

2. Sendo inequivocamente a favor da vida, sempre e em qualquer circunstância, o cristianismo é também, e inequivocamente, defensor do perdão dos culpados. Quem contacta habitualmente com a Sagrada Escritura, encontra expressões como estas que aqui cito de memória: “Deus não quer a morte do pecador, mas sim que se converta e viva”; ou “Eu vim para salvar os pecadores”; ou ainda “digo-te para perdoares setenta vezes sete”. Não é próprio, pois, do cristianismo defender qualquer tipo de pena física, mesmo que seja a prisão para os que se deixam cair na tentação do erro, mesmo que esse erro constitua um atentado contra a vida própria ou contra a vida dos outros. É verdade que a história nos ensina que nem sempre a Igreja entendeu deste modo a penalidade sobre as acções humanas, algumas delas bem menos graves do que esta que está agora em causa. Não é menos verdade que, já no nosso tempo, através do Papa João Paulo II, a Igreja pediu perdão à humanidade pelo facto de, na sua actuação ao longo da história, nem sempre ter testemunhado e defendido até ao fim os valores e os princípios do Evangelho. Entenda-se, pois, que no nosso tempo (como sempre, neste campo) a Igreja, ao defender a vida, não está a pedir a penalização civil para as mulheres que, por fragilidade, por pressão alheia ou por medo, não levaram ao fim a sua gravidez. A Igreja sabe e proclama que “Deus é rico em misericórdia”, e que “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Não nos é difícil, pois, imaginar a cena da pecadora, que podia ser uma mulher acusada de aborto, levada à presença de Jesus no intuito que Ele a condenasse. Hoje, como ontem, Ele começaria a escrever no pó da estrada aquelas palavras enigmáticas que levaram os acusadores a afastarem-se sorrateiramente, um por um, a começar pelos mais velhos. E havia de dizer outra vez: “Mulher, onde estão eles? Não te condenaram? Pois também Eu não te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar”. Mas que fique bem claro que perdoar não é legalizar. Perdoar é abrir caminho na consciência para, no futuro, haver um compromisso maior. Neste caso, o compromisso de estar sempre a favor da vida.

A. Jesus Ramos

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