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11 de março de 2009

Inventariação da Paróquia de São Miguel de Poiares


Por José Eduardo R. Coutinho
No passado dia 9, ficou concluída e completada a inventariação da paróquia de São Miguel de Poiares, com um total de 48 novas fichas e o inerente registo fotográfico do património encontrado, na igreja matriz e nas capelas, o qual também merecera o particular cuidado manifestado pelo senhor Padre Anselmo Ramos Dias Gaspar, no decurso da respectiva paroquialidade. A tarefa, acabada de realizar, teve o constante acompanhamento do actual Prior, o Padre Joaquim Lopes Ribeiro Natário, bem como da senhora D. Celeste Silva Laranjeira e do marido, o senhor António Manuel Ferreira Coimbra.
O carácter geomorfológico da serrania próxima, pontilhada pelas cristas dos rochedos, que repetidas enxurradas puseram a descoberto, distinguindo partes boleadas e ravinosas, foi aproveitado pelos habitantes pré-históricos, que nela construíram, pelo menos, um dólmen, conhecido e fornecedor de apreciável espólio lítico e cerâmico, a testemunhar usos, tradições manufactureiras, absoluto respeito pelos defuntos e crenças na vida do além.
Daquelas sucessivas escorrências milenares, provieram as camadas estratigrafadas nos terrenos, dispostos em concha, ulteriormente aproveitados para continuados trabalhos agrícolas e ponteados de casitas, abeberadas por um riacho, bucólico e serpeante, de modo nenhum alheio à permanência de populações muito rarefeitas, apesar de laboriosas, instaladas, como fora possível, nos espaços disponíveis e de melhor capacidade agrícola, longe das quebradas agrestes, porque as áreas livres eram, suficientemente, acolhedoras.
Isso mesmo permitem as deduções indirectas, pela manutenção da toponímia fixada, esclarecedora de variadas situações, diferenciadas, no tempo: Cabeço de Celas, subentendendo eventuais monumentos megalíticos, e Catraia, o nome islâmico dado à torre da bandeira sinalizadora (cat-raya) que, com as praças-fortes e castelos, constituíam a rede militar do Al-Andaluz, protectora e explicativa da paisagem demográfica; Casal do Gago e Vale do Gueiro, evocando, respectivamente, particularidades identificadoras dos fundadores; Vila Chã, perpetuando a unidade agrária que, mencionada, pelo latim plana, é referente ao território; Venda Nova, como recente continuadora da velha albergaria sanchina; Boiça, o terreno baldio, inculto, a monte, onde, somente, cresce mato; e Cascalho, Lombada, Seixosa e Terra de Areia, cada qual a individuar evidências naturais, nesses lugares.
A presidir ao aglomerado dos moradores locais, também radicados no considerável senhorio crúzio, detentor destes domínios fundiários, a igreja de São Miguel ganha destaque, num sítio preponderante, no elevado vértice dos campos subjacentes, a qual tivera origens na medievalidade final, expressa pelos bens quatrocentistas, enquanto beneficências ornamentais, de importação sevilhana, de começos de Quinhentos, certificam uma comum interacção do Mosteiro de Santa Cruz, em resposta de tratamento equitativo e de sintonia dos fiéis com os gostos estéticos, igualmente promovidos para edificação da Grei.
Tendo passado para a Universidade, após 1537, ficara um curato anual, da respectiva apresentação, e, anexo da vizinha igreja de Santa Maria de Arrifana, partilhara do prestígio institucional, através de várias dotações, inerentes ao culto divino, quer em paramentaria, quer em distintos exemplares de alfaias litúrgicas, todavia, os consecutivos roubos ali perpetrados fizeram desaparecer dezenas de peças, há anos registadas e fotografadas, constantes de imagens (de madeira, terracota e marfim), estanhos e têxteis, do século XVI ao XVIII.
Entretanto, alguns outros objectos levaram sumiço, na sequência de limpezas de pedreiros, indo parar a vazadouros de lixeirada, porque estes mestres de obras consideram entulho tudo aquilo que resta de pisos e paredes, mesmo que, entre tais desperdícios, haja elementos antigos, importantes e de valor.
Um diminuto acervo patrimonial é o que resta dos legados de outrora, ainda significativo na retabulária, de talha dourada; na pintura, muito degradada; na escultura, mutilada; e na metalagem, por vezes, descaracterizada, para cumprir objectivos inusitados
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