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4 de março de 2009

Inventariação da Paróquia de Santa Maria de Arrifana


José Eduardo R. Coutinho

No dia 3, deste mês, ficou concluída e completada a inventariação da paróquia de Santa Maria de Arrifana, com um total de 73 novas fichas e o pormenorizado registo fotográfico do património encontrado, na igreja matriz e nas capelas, em parte cuidadosamente reunido e acautelado pelo senhor Padre Anselmo Ramos Dias Gaspar, durante o munus pastoral, nesta circunscrição eclesiástica. O presente labor teve o acompanhamento do actual pároco, o Padre Joaquim Lopes Ribeiro Natário, e beneficiou de certas informações prestadas pelo senhor Eng. Paulo Carvalho.
A documentação escrita - utilizada no artigo anterior, para elucidar o passado da região poiarense, na generalidade histórico-geográfica - tem, agora, especial incidência: a uilla que dicunt algazala (Algaça) e os uillares iuxta ribulo mondeco nomine lauredo et sautelo (…) per suos terminos anticos (Diplomata et Chartae, 2) mencionados em 850-866, estão situados no território desta jurisdição paroquial, como, também, o estaria o desaparecido assentamento de Alkinitia.
Enquanto o sufixo -azala ( -aça) evoca um contexto sócio-cultural moçárabe, mantido nos topónimos Algaça, Almaça e Cortegaça, todos na média bacia mondeguina, e sob administração governativa de Coimbra, o caso dos vilares, entendidos como fragmentação da villa rústica, original, igualmente assegura um povoamento continuado, porém, retendo dois aproximados diminutivos medievais: Lauredo (Louredo), do latim laur- + o sufixo -etus; e Sautelo (Soutelo), do latim saut- + o sufixo -ello. Respectivamente, designam matas de loureiros e de castanheiros, sobressalientes em terrenos baldios, ou, incultos.
Fazendo perceber o distante estado geológico-vegetal destes sítios, o topónimo Arrifana pode reportar a fundação islâmico-moçárabe, e o nome ser proveniente de arrayan, a designação árabe do mirto, ou, murta, Myrtus communis L, um arbusto da família Myrtaceae, frequente nos terrenos acidentados e pobres.
Todavia, o diploma de 6 de Agosto de 930 (D.C., 42), ao traçar a divisória estabelecida entre as áreas de Alkinitia (Alcainça) e Coua (Penacova), concede o mais raríssimo teor esperado do enunciado que apresente uma antiga descrição de remotos limites de uma villa, de sentido territorial, evidentemente, cujos pontos de referência sejam em tal número e variedade, a testificar antiguidade tão recuada, como neste caso, apenas superado em Santa Comba Dão. Em pleno século X, ainda conservava as velhas confrontações iniciais, sendo as petras fictiles os termos fixos, a que alude o Código Visigótico, respeitando-os da propriedade fundiária hispano-romana, e as arcas as construções, de quatro paredes, destinadas a proteger marcos divisórios, edificadas pelos agrimensores imperiais, sob domínio de Roma.
Posteriormente, a 25 de Fevereiro de 980 (D.C., 127), a doação de Alcainça, feita pelos esposos Gaudino e Composta, ao mosteiro de Lorvão, já refere a igreja dedicada a São Martinho, pertença daqueles religiosos, o que diz a solicitude praticada, sob a própria jurisdição espiritual, no aro de influência monástica.
Quer a doação daquele casal, quer a de Secular e Abuzat, feita à mesma comunidade religiosa, com data de 25 de Junho de 992 (D.C., 165), demonstram intensas actividades agrícolas, a génese dos povoados e a progressiva colonização pré-nacional, eivada da religiosidade do tempo: a par dos começos agrários, efectuados numa extensa planície, de pastagens e lavradios, a labuta do campesinato continha o alento da fé cristã, também assistida pelas devoções em voga; o caso indicado e o de Santa Marinha, já intensa, por certo, em edificação remota, numa ermida desse título, conservada, como as congéneres, através de sucessivas restaurações, mesmo nos finais da Idade Média, pontuam dois sítios de culto. Esta rara invocação, de directo relacionamento com a pastorícia, fornece a parte complementar das principais ocupações rurais, visto a situação dos povoadores depender dos rendimentos agro-pastoris, aqui particularmente condicionados pelos relevos limítrofes do Mondego, de si pouco dadivosos e muito bravios.
Devido aos variados factos, seguramente documentados, é possível admitir o centro da vida celebrativa na primitiva igreja de Santa Maria, sede cultual da considerável inclusão no Isento do Mosteiro de Santa Cruz, nestas paragens, a cuja congregação pertencera, e onde restam indicadores epigráficos, como a inscrição gravada, em lápide, datada do último ano do século XII, a imaginária quatrocentista e os exemplares azulejares hispano-árabes, do século XVI.
Incorporado, depois de 1537, com as rendas do priorado-mor, na Universidade, esta aí recebia os dizímos e as primícias, para que tinha adega e celeiro locais, e diversos foros.
O novo senhorio merecera ficar assinalado, na divulgada novidade do manuelino, nas instalações económicas, e ter perpetuação heráldica, no complexo retabular da capela-mor, directamente dependente da responsabilidade do padroado, rematado pelo escudo de armas, partido, com as representações régias, de Portugal, e a figuração da Sabedoria, personificada, de ceptro, coroada e cercada dos atributos do saber académico, sendo tudo encimado pela coroa real.
Com efeito, e no cumprimento das obrigações que lhe competiam, esta instituição de ensino dotou a paróquia de condignos bens patrimoniais, muito apreciados, para os actos de culto, para a sagrada liturgia e para as manifestações públicas e solenes da fé, dos quais subsistem paramentos, alfaias requintadas, imagens, pinturas e metais, de distintas qualidades.

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