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18 de fevereiro de 2009

Criatividades


Por Jorge Cotovio


Parece não haver dúvida quanto à necessidade de "inovarmos", de pormos a render a nossa "imaginação criadora". A sociedade já há muito aprendeu esta lição. E as empresas de sucesso são aquelas que não perdem tempo a lamentar-se com as crises, nem aguardam os subsídios dos Governos. Antes, são as que sondam as oportunidades (e não as ignoram) e arriscam novos métodos, novos desafios, para chegar aos mesmos fins (ou a novos fins).
A Igreja, embora seja uma empresa "de sucesso" - começou com uma dúzia de operários, prosperou ao longo de séculos, e, mau grado alguma crise latente, não se prevê a sua falência… - parece (ainda) não entender estes "novos" sinais dos tempos. Todavia, talvez a reboque da nova cultura societária, começa a escrever-se muito sobre a urgência de mudança de paradigma. Curiosamente, no último Correio de Coimbra, três textos alertam para esta questão. O José Dias da Silva fala, com esperança, dos desafios da crise: com tempos novos, exigem-se "soluções novas"; "é tempo de criatividade"; "um contexto desfavorável é também uma oportunidade para descobrir novas soluções" (p. 1). Na página 3, a propósito do X Colóquio Nacional de Paróquias, diz-se que "Alterações na sociedade exigem criatividade na transmissão da fé". E nesta mesma página, anuncia-se a abertura de um "espaço de recolhimento" num Centro Comercial, paradoxalmente, por iniciativa do Centro…
Este último texto aponta uma solução criativa, mas vinda "dos outros", dos que estão "do lado de lá", dos "materialistas", quiçá adversos (julgamos nós) ao religioso. Puro engano! Estou (cada vez mais) convicto que a "nova evangelização" passa, sobremaneira, pelo contributo que "os outros" - aqueles que estão à margem do nosso redil, por opção, por ignorância, ou porque os atirámos para lá com as nossas hipocrisias - podem dar, como "pessoas", como "filhos de Deus". Como diz o Dias da Silva, "só com o contributo de todos, podemos fazer da crise um factor de não ruptura mas de coesão social". E este "todos" implica muita comunhão (ou seja, trabalho em conjunto, articulação de esforços, respeito pela opinião do outro) entre os cristãos, entre as estruturas paroquiais, entre os párocos e paróquias, entre as estruturas diocesanas (só um "piqueno" desabafo: como se entenderá que no último Conselho Pastoral Diocesano - o maior órgão de concertação da diocese, e que apenas reúne três vezes por ano -, realizado há duas semanas, só tenha participado metade dos seus membros? como se entenderá que numa primeira reunião convocada pelo novo Serviço de Informação da diocese, só tenham participado seis, das dezasseis estruturas convidadas? pronto, já desabafei!), entre os bispos e as dioceses, entre a Fé e a Ciência, entre a Igreja e a sociedade.
Vá lá, desta vez parece que vamos aproveitar esta oportunidade que a sociedade do consumo nos proporciona. Já há meia dúzia de anos o Secretariado Diocesano da Família promoveu neste mesmo espaço comercial uma sessão sobre "O marketing na pastoral". E tivemos toda a abertura para o evento, que quis ser um "sinal". E já nessa altura falávamos da necessidade de irmos ao encontro das pessoas, onde elas estão, vivem e convivem, rompendo com (algumas) rotinas. A lógica, porém, era sermos nós, Igreja, a tomar a iniciativa. Mas não. Foram "eles". Este Espírito é mesmo enigmático, troca-nos as voltas, altera surpreendentemente a direcção do "sopro", parecendo alertar-nos para novos voos. E nós, ingénuos e "preguiçosos", fingimos não perceber, porque nos dá menos trabalho (?) continuarmos na mesma.
Esquecemo-nos, demasiadas vezes, que o nosso Mestre, já perto do seu fim (terreno), ordenou aos seus homens para atirarem a rede "para o outro lado". E quando eles obedeceram, a rede veio carregada de peixes… Tendo nós uma doutrina tão rica, sabendo pregar tão bem estas "coisas", de que é que estamos à espera? Por que razão insistimos em soluções velhas para tempos novos?
Saibamos, nós em Igreja, aproveitar este momento da história para valorizar o "espiritual", uma vez que a maioria das pessoas vai chegando à conclusão que os pilares onde assentam o "material" são frágeis e efémeros. Nesta perspectiva, potenciemos a excelente oportunidade de evangelizar que uma "catedral do consumo" nos oferece. E além da estética e conforto do espaço, tenhamos lá pessoas para acolher. E, de entre estas, um sacerdote a fazer aquilo que lhe é mais específico - ouvir e "animar" as pessoas, quiçá, confessá-las.
O Dolce Vita abriu-nos as portas (da "nova" evangelização). Será que temos arrojo, criatividade e fé para semelhante desafio?

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