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14 de outubro de 2008

Comunhão


Por Jorge Cotovio

Quanto a mim, é esta a palavra de ordem para a nossa sobrevivência. E se estivermos atentos, facilmente verificamos que tudo o que nos rodeia faz apelo à "comunhão".
Fomos criados por um Deus que é comunhão íntima de três pessoas. E quando este Deus criou a humanidade, fez nascer o homem e a mulher, para viverem em comunhão humana. E deu-lhes um jardim – o "paraíso" – para aí viverem "felizes" em comunhão com a natureza.
Olhemos esta natureza. Também ela nos projecta para a comunhão. O nosso planeta é um ecossistema, todo articulado, todo em inter-relação permanente, todo em equilíbrio dinâmico perfeito. Quando algo corre mal num lado, logo o outro é afectado. Mas, misteriosamente, quando há um acidente, mesmo não natural (como um incêndio), logo esta "oikós" congrega todas as suas forças e energias para recuperar o equilíbrio e voltam a surgir a vida, a vegetação, as árvores, as flores, os passaritos.
Também nós nascemos da comunhão (carnal e "espiritual") de dois seres. E temos um corpo e muitos membros, cada qual com a sua função, trabalhando para o mesmo fim. Se, acaso, algo corre mal, quantas não são as reacções químicas que se processam imediatamente, fruto do trabalho solidário de muitos órgãos, de muitas células, para tentar remediar o problema?
Verificamos, pois, que tudo o que nos cerca, tudo o que foi criado por Deus, nos projecta para a comunhão. Ele próprio nos disse que estará sempre presente quando dois ou três (ou mais) estiverem reunidos em Seu nome. O número um e o singular, não predominam lá muito na matemática e na gramática deste Deus…
Antigamente, era a Igreja a pregar tudo isto. E tanto pregou, que hoje é o mundo da política e das empresas a sentir a necessidade da comunhão. A União Europeia é um exemplo cabal, nascida, curiosamente, da mente de dois grandes estadistas cristãos: Jean Monnet e Robert Shuman. E o sonho da união concretizou-se. E veio a paz, o progresso, a estabilidade. (Tudo relativo, é claro, mas muito melhor do que a guerra, os muros e as cortinas de ferro, o subdesenvolvimento). Também as empresas aprenderam a associar-se, a agrupar-se ou a fundir-se para serem mais fortes, mais eficientes e mais resistentes às ameaças externas. Toda esta gente aprendeu o significado de sinergia e de economias de escala…
E nós, Igreja? Temos o Mestre, temos a doutrina, temos a pregação e pouco exemplo damos de comunhão, de articulação de esforços, de luta em comum. Fechamo-nos nas dioceses, nas paróquias, nas capelas, nos movimentos, nos secretariados, nos institutos religiosos, nas escolas católicas, sempre com receio que os outros façam mais e melhor do que nós. Temos muros a mais, alguns tão espessos que o próprio Espírito terá alguma dificuldade em penetrar. Desgastamo-nos, não potenciamos esforços, assumimos atitudes farisaicas. Desculpai, mas apetece perguntar: "Afinal, que testemunho damos nós?" É assim que queremos ser fecundos, eficientes, audazes? É assim que queremos ser fortes e reabilitarmos a nossa "missão"? É assim que queremos seduzir as pessoas afastadas de nós? É assim que queremos "salvar" a humanidade? É assim que queremos ser "cristãos", isto é "como Cristo"? É assim que queremos ser Igreja, isto é "assembleia re+unida", comum+unidade dos crentes"? É assim que queremos mudar estilos de organização e mentalidades e "construir caminhos de comunhão", como recomendou Bento XVI aos nossos bispos há mais ou menos um ano?
Será que ainda não entendemos que quanto mais nos abrirmos aos outros, mais nos enriquecemos (todos)? Será que ainda não entendemos que não temos outro caminho senão juntar vontades, energias, entusiasmos, porque somos todos muito frágeis, muito limitados, muito pecadores (e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, muito "divinos")?
Como diz o pedagogo espanhol Miguel dos Santos Guerra (que até me parece nem ser muito assíduo às missas dominicais) "Somos anjos com uma só asa. Precisamos de nos abraçar para poder voar…"
Estamos mesmo convencidos disto? Ou será que (já) não acreditamos em anjos?

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