Acto de falta de cultura
Por Teresa Martins
No «Correio» do dia 18 de Setembro, li que o Bispo auxiliar de Braga, D. António Couto, quando presidia a uma Peregrinação, falou sobre a importância do crucifixo, considerando-o como «imagem e lição de amor divino», daí a nossa absoluta necessidade em mantê-lo presente nos espaços públicos, «nomeadamente em hospitais e escolas», acrescentando que «retirá-lo corresponderia a um acto de estupidez e falta de cultura». Li toda a notícia com particular interesse, percorrendo com ela (e por ela), uma longa vida, visitando lugares e pessoas de um longínquo passado. Recordei imenso! Rezei, sem palavras. Também há dias (4 do corrente), no auditório do Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, o Conferencista, D. Manuel Clemente, na sua belíssima intervenção, nos falou da Cruz, relacionando-a com «a luz que nos vem de Cristo» e dando-nos todo o seu sentir nesta peremptória afirmação: «Não há ressurreição sem cruz.» Enquanto o ouvia, ia (à velocidade da luz), associando memórias, momentos, até pessoas… Foi deste modo que recebi, de novo, D. António Couto: «…sendo a Cruz o texto de Deus escrito perante nós, temos de o saber ler… preservando o seu verdadeiro sentido», isto no momento em que D. Manuel Clemente partilhava connosco a pergunta que, perante um Crucifixo, lhe havia feito um rapaz em Lisboa: «Que é Aquilo (ou Aquele…)?»
Nos tempos da minha meninice, os livros escolares não tinham gravuras nem cores, mas tinham lições maravilhosas que eram lidas ao serão, junto da lareira e da família… Como não recordar, naquele momento, João de Deus e o seu inesquecível "Minha mãe, Quem é Aquele pregado naquela cruz? Aquele, filho, é Jesus, é a santa imagem d’Ele"… Nos longínquos tempos em que a "falta de cultura e o analfabetismo eram o prato forte", nem pais nem professores (nem manuais escolares) permitiriam que um jovem, crente ou não crente, sentisse necessidade de se interrogar ("que é aquilo?"), perante um Crucifixo!… Há dias ouvi referir num noticiário que uma sondagem havia provado terem os crentes muito maior aceitação do sofrimento (com menor revolta à dor física) que outros sofredores não crentes, e também o pensamento me levou àquela cama do hospital de S. Teotónio, em Viseu, onde se encontra a professora do ensino secundário que, depois de aposentada, passou a dedicar-se de alma e coração à Sociedade de S. Vicente de Paulo, dando-se por inteiro aos mais carenciados, e que um terrível acidente de comboio (24/09/2008) deixou sem as duas pernas. «Não deixarei de ser vicentina», afirmou-nos, com lágrimas nos olhos mas um sorriso calmo, inspirador da maior confiança e reflexo de uma fé inteiramente adulta. «É claro que tenho de refazer a minha vida, mas ficou-me intacta a cabeça, tenho mãos e conhecimentos de informática. Tenho livros, uma cadeira de rodas e, muito principalmente, tenho-vos a todas vós num abraço amigo. Só tenho graças que dar a Deus!»
Nós também as damos, por esta grande lição de fé!…
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