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3 de setembro de 2008

Semanas da Pastoral Social, uma história com êxito

D. António Marcelino


As Semanas da Pastoral Social foram iniciadas em 1983 e completam agora 25 anos. Nasceram com uma finalidade concreta: a formação dos agentes pastorais e das comunidades cristãs para um campo apostólico, na altura pouco privilegiado, mas determinante na linha do testemunho evangélico da caridade e da solidariedade.
O exercício da caridade, como ajuda fraterna, era a acção eclesial menos atendida na Igreja em Portugal, se a compararmos com a catequese das crianças e a liturgia, sobretudo das celebrações e devoções religiosas. Era como que uma acção meramente individual, escondida, realizada em geral apenas pelos vicentinos e por grupos reduzidos de voluntários em algumas paróquias, uma minoria no conjunto de cada diocese.
A Caritas Nacional exercia, desde o princípio, sobretudo uma actividade assistencial, e organizava campanhas por altura de calamidades graves. Estendia-se às paróquias por essas razões, sem grupos permanentes. A sua necessária renovação oferecia dificuldades, por motivo da rotina que vivia. As instituições de solidariedade social não eram numerosas, porque a política do Estado lhes era pouco favorável. As Misericórdias viviam uma crise prolongada, porque eram orientadas, na maioria dos casos, por gente com pouca sensibilidade cristã. Concentravam a sua acção nos hospitais concelhios, bem aceites pelas populações do interior, sem outras valências sociais, que só mais tarde proliferaram.
O tempo que se seguiu ao 25 de Abril, por razões óbvias, trouxe fortes dificuldades às instituições sociais da Igreja, com assaltos populares a centros sociais e uma ameaça renovada de nacionalização, em pleno gonçalvismo, travada à última hora, já com sentença lavrada.
Pouca sensibilidade e alheamento das comunidades cristãs; amadorismo dos agentes voluntários, sempre poucos, bem como impreparação do clero; múltiplos campos havia apelando para uma necessidade de resposta, a descoberto da acção da Igreja; instituições orientadas por gente com deficiente formação cristã e técnica; dificuldades provenientes dos serviços estatais, marcados pela ânsia da colectivização das respostas sociais ou da entrega das instituições ao "povo".
Era um panorama doméstico, não obstante algumas obras muitos válidas nas mãos de várias congregações religiosas e mesmo de algumas paróquias e dioceses do país. Não andavam por aí as grandes preocupações pastorais da Igreja em Portugal por meados do século.
As Semanas Nacionais de Liturgia, pelo êxito alcançado e fruto da renovação imposta pelo Concílio, incitavam a que se tentasse igual caminho na pastoral social. Mas era necessário acordar os cristãos e as paróquias para este campo. Foi então possível, porque a Caritas Nacional, com o caminho já andado e depois dos problemas graves porque passara, era conhecida e estava agora pacificada. Orientava esta instituição gente preparada e com espírito cristão. O Episcopado indicara-a como Secretariado Nacional da Pastoral Sócio Caritativa, uma tarefa a cargo da Comissão Episcopal respectiva. A esta a Caritas proporcionava o apoio logístico e humano para as iniciativas a tomar. Por sua vez, o Conselho Nacional da Pastoral Social, entretanto constituído com um espectro alargado, garantia a ligação normal e a sensibilização às carências no terreno e às necessidades dos diversos serviços e instituições que o constituíam.
Em 1983, pareceu à Comissão Episcopal e aos órgãos que a assessoravam, que se podia arrancar com as Semanas da Pastoral Social. Assim aconteceu. As primeiras três Semanas iam proporcionar, pelos temas tratados, um alicerce de acção continuada e um motivo de renovação urgente e inadiável.
Foram estes temas os seguintes: Pastoral Social, o que é? (1983); Pastoral Social, que objectivos? (1984); Pastoral Social, agentes e meios (1985).
Os 400 participantes na I Semana, eram já cerca de 500 na II Semana e mais de 600 na III Semana, vindos de todas as dioceses do país, com grupos significativos da Madeira e dos Açores.
A publicação rápida dos textos destas Semanas e o esforço por levar a reflexão às dioceses que assim quiseram, ajudaram a enraizar o projecto.
A IV Semana (1986), com mais de 800 participantes, foi realizada no centenário do Padre Américo e teve como tema Marginalidade dos jovens. Assim se abriu caminho às Semanas seguintes, reflectindo sempre temas objectivos e actuais, com o interesse manifesto de quem nelas participava.
A pastoral social ganhara, por fim, normal cidadania como acção eclesial.
É de realçar o empenhamento das Comissões Episcopais que se seguiram para manter e desenvolver o projecto inicial, o que nem sempre acontece com iniciativas válidas da Igreja, interrompidas e nunca mais retomadas, com prejuízos pastorais manifestos e esforços não respeitados.
Os problemas sociais têm-se multiplicado e agravado na sua complexidade e nos seus efeitos. A Igreja, ao serviço das pessoas, que não é outra a sua vocação, tem de estar cada vez mais atenta e interventora, sabendo ler atempadamente os sinais dos tempos e ouvir, com coração sensível, os gritos de dor dos inumeráveis "feridos da vida".
Dispomos hoje de mais meios humanos e técnicos, há mais abertura à colaboração entre os diversos agentes sociais, cresceu na Igreja a consciência de serviço às pessoas, faz-se um diagnóstico mais objectivo das situações e das necessidades. Já ninguém pensa que a pastoral social se esgota em acções assistenciais, mas sem se negar a estas quando necessárias, o caminho vai na linha da promoção em ordem ao desenvolvimento, à justiça e ao bem comum. Complementarmente, à defesa e implementação das estruturas indispensáveis. As três acções devem conjugar-se para uma melhor resposta aos problemas e maior empenhamento das pessoas e das comunidades.
Parece ser claro o êxito de uma iniciativa que já conta com 25 anos de acção, sem desvios nem cansaços.
A Igreja de Cristo se não favorece o exercício da caridade em todas as suas dimensões e com os meios mais válidos e, ao mesmo tempo, não se esforça por comprometer nesta acção as suas comunidades, está pondo em causa, por falta de testemunho, a sua acção profética e esvaziando de sentido e valor as suas celebrações litúrgicas, especialmente a celebração da Eucaristia, fonte que alimenta toda a acção sócio caritativa e a sua intervenção na sociedade.

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