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1 de junho de 2007

Memorial da Irmã Lúcia é um “livro da sua vida”

Para o Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, o memorial da Irmã Lúcia, inaugurado no dia 31 de Maio no Convento do Carmelo, é “um livro da sua vida humilde” que deve ser lido com a sabedoria de quem entende os sinais que ela deixa e os usa para rezar e interiorizar a mensagem de Fátima.
Parte do espólio exposto esteve, durante anos, guardados em cerca de 60 malas que foram sendo trazidas do Carmelo e que contêm centenas de cartas de todo o mundo endereçadas à vidente. O padre Pedro Lourenço Ferreira, confessor de Lúcia no Convento e padre provincial da comunidade das Carmelitas Descalças, recorda a convicção expressa pela pastorinha de que os seus escritos haviam de ser “apreciados” depois da sua morte. Contrariando a tradição das irmãs do convento de se desfazerem do que possuem, o padre Pedro Ferreira foi juntando em malas o que pareceu importante a Lúcia, como os documentos em que fala da “mensagem que a Senhora lhe confidenciou”, deixando de lado, na altura, os seus objectos de uso pessoal, mais tarde recolhidos pelas carmelitas e agora também parte integrante do espólio do memorial.
Berta Duarte, responsável pelo programa museológico do espaço, explicou que, ainda que os elementos expostos possam não ter muito valor “artístico”, ganham, sobretudo, em “significado”, já que “cada objecto conta uma história”. O memorial organiza-se de acordo com um percurso que segue imagens e pensamentos de Lúcia, para que seja ela a mostrar aos visitantes o caminho que seguiu em vida e a mensagem deixada pela sua forma de viver. A réplica exacta da cela onde viveu durante 55 anos, a batina que João Paulo II vestia quando sofreu o atentado ou o paramento romano oferecido a Lúcia pelo rei Humberto de Itália convivem de perto com expositores onde podem ser vistos os seus óculos, a saia que usava no dia em que entrou no Carmelo, a caixa de costura, a bengala, a máquina de escrever, uma mantilha que confeccionou com lã do rebanho da irmã mais velha, o hábito, canetas ou fotos que percorrem o tempo desde as Aparições até aos anos mais recentes. Nas palavras do cónego João Lavrador, capelão do Carmelo de Coimbra, este é um “itinerário com sentido humano e cristão, testemunhado através da uma vocação de carmelita” e, por ele, é também possível imaginar o que é próprio da vida destas religiosas no seu essencial: “a modéstia, a simplicidade e o despojamento”.
No dia da inauguração, a igreja do Convento, onde se realizou a Eucaristia, acolheu cerca de 300 pessoas. D. Albino sublinhou o valor do novo memorial que se assume como “sinal de uma pessoa que viveu sempre com o coração cheio de Deus”, num encontro com Ele, de encanto, respeito e amor. O Bispo de Coimbra disse ainda que, mais do que cartas e textos, “a mensagem de Lúcia foi a sua consagração, a sua presença em atenção aos outros, a sua vida dada desta forma”. Obrigadas à clausura, as irmãs do Carmelo de Santa Teresa não estiveram presentes nas cerimónias de abertura do novo espaço, idealizado e preparado por elas num terreno anexo à casa religiosa, para que a comunidade não seja perturbada. No final da Eucaristia, e do lado de lá das grades da igreja, a madre Celina de Jesus manifestou a “alegria da comunidade” por poder estar à disposição de todos o espólio da vidente e explicou ser “tudo por causa de Nossa Senhora, como diria a Irmã Lúcia”
No novo edifício, projectado por Florindo Belo Marques, poucos assistiram à bênção e cerimónias oficiais já que o espaço era pequeno para todos os que acorreram ao memorial. Muitos aguardaram à porta a sua vez de lembrar o caminho físico e espiritual de Lúcia. Entre os presentes estiveram o presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação, o presidente da Região de Turismo do Centro, Pedro Machado, o reitor do Santuário de Fátima, monsenhor Luciano Guerra, e o padre Luís Kondor, coordenador do processo de beatificação de Jacinta e Francisco. Antes das cerimónias no memorial, foi ainda descoberto e benzido um painel de azulejos alusivo ao centenário do nascimento da Irmã Lúcia, no qual pode ler-se a frase “O Mundo para mim é apenas caminho para Deus”, da vidente de Fátima. Colocado na fachada da igreja do Carmelo, o painel foi oferecido pela Junta de Freguesia da Sé Nova e pretende, nas palavras do presidente desta Junta, Hélder Rodrigues de Abreu, “lembrar aos vindouros o testemunho de fé e honestidade” de Lúcia.
O memorial, estará aberto, todos os dias, das 10h às 17h, a partir da próxima segunda-feira. O bilhete normal custa dois euros e as crianças e seniores pagam um euro. Há ainda preços especiais para famílias, cinco euros e para grupos com mais de 50 pessoas, 75 euros.

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