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10 de maio de 2007

Padre Pedro Miranda, vigário episcopal da região Sul faz um balanço do Ano Pastoral



É preciso acordar para a descristianização



No fim de um ano pastoral que encerra, também, cinco anos de caminhada diocesana em torno de determinados temas, o "Correio" falou com o padre Pedro Miranda, vigário episcopal da região Sul, para perceber as formas como as comunidades desta zona da diocese vivem e se movimentam na Igreja. Referindo os grandes níveis de prática cristã da região Sul, o também pároco de Penela, Espinhal, Podentes e Rabaçal, deixou uma mensagem: é preciso acordar e dinamizar a evangelização nas paróquias.



É vigário episcopal da região pastoral sul. Qual é exactamente a função de um vigário episcopal?
Em Coimbra, a função de vigário episcopal é a de procurar ser um prolongamento das preocupações mais importantes do Bispo junto das paróquias, através dos padres, e a de procurar também ser veículo do som de retorno que leve ao Bispo as moções interiores da vida das comunidades locais. Tudo isto é feito, sobretudo, através de um contacto mais habitual com os padres da região. O vigário representa também o Bispo em alguns momentos e lugares. Aquilo que o torna mais visível para as pessoas é o facto de, por delegação do Bispo, fazer a administração do Crisma.



Sente, nas comunidades da região Sul, uma ligação das pessoas aos organismos diocesanos e um sentido de pertença à diocese?
As pessoas têm uma noção de diocese até porque temos uma circunstância que ajuda a isso: a diocese de Coimbra está implantada em quatro distritos diferentes – Coimbra, Aveiro, Leiria e Santarém – e, portanto, há zonas em que as pessoas têm a noção de que, em termos civis, estão integradas numa determinada unidade e, em termos de organização eclesiástica, estão ligadas a outra. Isto ajuda mas sabemos que não resume o sentido de pertença a uma diocese, que é mais do que isso. Entre os leigos mais responsáveis essa noção é clara. Agora, o facto de as paróquias reagirem, ou não, às propostas de um plano pastoral, no fundo, depende, metade por metade, da acuidade dos temas e da índole da comunidade concreta. De facto, tenho notado que os temas podem ou não ser agarrados dependendo da conjuntura, da sensibilidade das pessoas, das paróquias, dos padres, dos colaboradores. Não duvido que uma coisa que actualmente perturba a melhor vivência dos planos seja a nossa vida paroquial. Os padres, como sabemos, têm, hoje, muito trabalho e pouca disponibilidade interior porque querem resolver o imediato, o urgente. Têm quatro ou cinco paróquias e querem corresponder às suas necessidades, querem que todas vivam intensamente e com organização e por isso sobra-lhes pouca disponibilidade interior e pouco tempo para promover as planificações da diocese.



O ano pastoral, agora a terminar, procurou debruçar-se sobre a pastoral social e a atenção aos mais pobres. Em termos práticos como é que esta vivência se reflectiu nas paróquias do sul da diocese?
A região pastoral Sul tem uma grande parte de população envelhecida. A região tem praticamente dois pulmões: o concelho de Pombal, que reúne quase metade da população de toda região e onde esta é mais jovem, e uma parte mais interior, onde habitam pessoas mais idosas. No âmbito deste tema, já há, naturalmente muita actividade, mesmo além dos generalizados Centros Sociais Paroquiais. Por exemplo: há um número significativo de ministros da comunhão que têm um papel muito importante ao levarem regularmente a Sagrada Comunhão aos doentes ou aos que não podem deslocar-se. Pode, no entanto, acontecer que estas actividades se ressintam de alguma rotina. Penso que o tema foi colocado no plano, sobretudo, com o objectivo de o recuperar, de o reequacionar, de ver o que é preciso de novo para que as actividades que existem correspondam melhor às necessidades. Nalguns casos, a discussão do tema teve impacto, recordo uma ou outra notícia. Se isso aconteceu onde essa área estava mais descurada, é positivo.



Como caracteriza as paróquias da região sul em termos de actividade dentro da Igreja e de prática cristã?
A realidade é diversa. A região pastoral Sul é, na grande maioria do território, uma zona muito cristã. Atendendo aos censos realizados em 2001, para aferir da prática dominical, é na região pastoral Sul que se encontram os números mais significativos, muito acima da média nacional e muito acima da média da diocese. Mas há paróquias onde, ao longo destes anos, por várias circunstâncias, não foi suficiente o trabalho de integração e responsabilização dos leigos. Não quer dizer que não os haja porque há, mas não têm papéis tão activos, o que pode ter a ver, por um lado, com o povo, por outro, também, com os padres que por lá passaram, eventualmente. Mas há de tudo. Há muito bons exemplos, dos melhores, de muito boa participação laical na vida da Igreja.



Existem muitos grupos de jovens na região?
Sim. Nas décadas de 70, 80 nasceram muitos, como se sabe; isso é do meu tempo e lembro-me do espírito próprio da altura que também ajudou. Há bastantes grupos, embora não em todas as paróquias. E até há, grupos que têm subsistência própria, isto é, alicerçada numa certa transmissão testemunho e de carisma próprio de geração para geração. Há alguns casos assim, e isso é muito positivo porque motivo de esperança.



A ligação entre fé e cultura foi outra das preocupações do plano pastoral. De que forma é possível tornar presente a fé nos meios da cultura?
Na região Sul, não me parece que se tenha crescido muito aqui. O plano, nesse ponto, é profético. No nosso caso, a presença da fé na cultura é, em muitos casos, natural. Mas a tendência dominante não deixa de ser a geral: as manifestações culturais que movem a sociedade no seu todo têm cada vez menos origem na vida da Igreja. Por exemplo, as filarmónicas do distrito de Coimbra em geral têm a ver com ligação e aí está a sua primeira razão de ser, uma vez que uma grande parte da sua actividade destina-se às festas religiosas. Mas, a pouco e pouco, elas foram alargando, e bem, o âmbito da sua actividade; ou porque as festas religiosas têm diminuído ou porque nem todas têm capacidade para financiar uma banda. Ainda que lentamente, portanto, as manifestações culturais da sociedade vão tendo cada vez menos uma razão ou origem religiosa. A cultura que predomina no centro, em Coimbra, é, intencional e naturalmente, estranha à vivência cristã e, talvez por isso, recordo que houve mais iniciativas neste campo. No meio rural, as pessoas ainda não despertaram tanto para este fenómeno e parece-lhes até que está tudo igual ao que era. Não está, só que ainda não se está desperto para isso.



Que balanço faz dos três anos já passados como vigário episcopal da região sul?
Este é o terceiro ano a exercer esta função e, fazendo um balanço pessoal, vejo que ela me coloca nom posto privilegiado de observação e conhecimento da Igreja diocesana. Quanto ao papel que se esperaria que deveria desempenhar, de coordenador e animador da região, fiquei muito aquém. Não é fácil. Até porque evolução sociol-geográfica da região de Coimbra fez com que não seja, hoje, a mesma coisa a relação entre os extremos do território. Aqui há 25 ou 30 anos, em que a acessibilidade das várias zonas da região entre si e com Coimbra era muito menor, imaginava-se melhor a noção de região pastoral com vocação a uma certa autonomia e vida própria, conforme o Sr. D. João Alves as imaginou, mas tudo mudou bastante. Depois, com todos os trabalhos que tenho, não há, de facto, disponibilidade para fazer muito mais do que aquilo que faço ou para ter o tal papel de pivot, de animador da região. Não é provável que possa reeditar uma experiência muito interessante nos meus tempos de Midões, região nordeste, em que todos os padres, coordenados pelo vigário episcopal, o cónego Maduro, se empenharam na realização, com sucesso aliás, de uma missão popular redentorista em toda a região. O balanço pessoal é rico, o balanço pastoral é… pobrezinho mas honrado.



Quais os maiores desafios que sente serem os da região Sul, em termos de vida pastoral?
Acho que é capaz de ser necessário, numa grande parte das paróquias da região Sul, acordar para a realidade de que a elevada percentagem de prática dominical, dentro de muito pouco tempo, revelar-se-á um analgésico. É preciso acordar para isso e despertar a atenção para a dinamização da evangelização, propriamente dita, embora, curiosa e felizmente, existam, na região pastoral, exemplos muito positivos, como é o caso do movimento dos Cursos de Cristandade, que tem muita expressão em Pombal. Temos a Rádio Vida Nova de Santiago da Guarda e o jornal Luz de Santiago da Guarda e da Redinha que, institucionalmente se colocam ao serviço da evangelização. Mas não é suficiente. Eu estive 3 anos na região Nordeste, no concelho de Tábua, uma zona com tons de descristianização, que sentia a crescer e tem crescido em termos de catequese, prática dominical, trabalho de formação dos leigos. É nosso dever, também no nosso ambiente ainda com tantos sinais comunitários de vida cristã, esforçarmo-nos pelo mesmo. Os movimentos, que já referi, são também muito importantes até porque, pela sua natureza, têm uma agilidade maior a fazer opções fundamentais e a actuar decididamente por elas.

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