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2 de março de 2007

Director do ISET em entrevista ao “Correio”


O tema da mulher na Igreja precisa de um sério debate

O ISET (Instituto Superior de Estudos Teológicos) de Coimbra organiza, nos dias 23 e 24 de
Março, no Auditório do Instituto
Português da Juventude, as suas Jornadas de Teologia. A este
propósito, o "Correio" quis ouvir o Doutor A. Jesus Ramos, director do Instituto, que, nessa qualidade, nos afirmou que "a temática da relação Mulher/Igreja precisa, como muitas outras, de ser debatida e
reflectida. O padre António Jesus Ramos foi ordenado em 1975,
tendo obtido, em 1979, o grau de licenciatura na faculdade de
história eclesiástica na
Universidade Gregoriana.
Doutorou-se, mais tarde, na mesma universidade, com uma tese sobre o bispo de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina. A partir do ano lectivo de 1980/81 tem leccionado no ISET as cadeiras de História da Igreja, História da Igreja em Portugal, Patrologia, Metodologia e Comunicação Social. Em 1996, foi convidado para integrar o corpo docente do Instituto Superior de Teologia de Viseu, filiado, tal como o ISET de Coimbra, na faculdade de teologia da Universidade Católica Portuguesa. Actualmente, é ainda pároco de S. Bartolomeu e director do "Correio de Coimbra".



Que pretende o ISET, que ao longo de todo o ano se dedica ao ensino das disciplinas teológicas, com a organização de umas "Jornadas de Teologia"? Não se trata de repetir, em dois dias, o que se ministra no tempo lectivo?
Claro que não! Seria insensatez pretender, em meia dúzia de lições, transmitir, mesmo que resumidamente, o que se ensina ao longo de seis anos de um curso teológico. Um curso de teologia abrange muitas disciplinas, desde o estudo da Sagrada Escritura, ao ensino dos Padres da Igreja, passando pela reflexão sobre os dogmas da fé cristã, da estrutura da Igreja e da doutrina da salvação, sem esquecer a sagrada liturgia, a moral fundamental, o direito canónico, a história da Igreja, e tantos outros aspectos que nos permitem entender melhor a relação de Deus com o homem através de Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo. Sendo assim (e eu estou apenas a resumir um programa muito mais abrangente), não se trata de repetir, mesmo que só este ou aquele aspecto do curso teológico.




Então, o que se pretende?
No fundo, o nosso objectivo é pegar num tema, de entre os muitos de que é composto o nosso ensino e o nosso estudo, e proporcionar, primeiro aos nossos alunos, e depois a todos os que estão despertos para estas problemáticas, uma reflexão mais aturada sobre esse ponto doutrinal, moral, teológico ou de sociologia religiosa. Nas jornadas não vamos fazer um curso, nem sequer um mini-curso de teologia, mas apenas abordar um pequeno aspecto de uma temática que nos diga respeito e que nós vejamos que precisa de ser reflectida e esclarecida. É o caso do tema deste ano.


Segundo o vosso programa, o tema a debater é "A mulher e a Igreja: perspectivas para o século XXI". Alguma razão especial?
Como lhe disse, é nossa preocupação abordar uma temática teológica, mas que tenha a ver com as preocupações da Igreja e da sociedade nos nossos dias. Os teólogos não devem ser apenas meros repetidores de fórmulas e de cânones, mas é seu dever estarem atentos aos problemas do mundo, das mulheres e dos homens seus contemporâneos. Hoje, podemos ensinar a dogmática trinitária como os padres do século IV, depois de Niceia. Mas a nossa abordagem sobre a consagração religiosa no mundo, sobre a disciplina matrimonial, ou sobre o próprio entendimento do homem é forçosamente diferente. Cada tempo tem a sua linguagem, tem a sua cultura, tem a sua forma de entender o mundo e as próprias relações sociais.
Não está a responder à minha pergunta. Gostaria de saber se há alguma razão especial para, desta feita, se abordar o tema do binómio Mulher/Igreja.
Eu estava a tentar explicar, embora entenda que pretenda uma resposta mais directa. De qualquer modo, sem me desviar do seu objectivo, gostava de recordar que, ao longo de mais de 20 anos (as nossas jornadas começaram em 1986) o nosso objectivo tem sido sempre o de fazer uma reflexão sobre algum aspecto pertinente de actualidade eclesial e social. Dou-lhe apenas três ou quatro exemplos, lembrando jornadas em que participei activamente: em 1987, no centenário do nascimento do Padre Américo, o nosso estudo recaiu sobre "A Igreja e a opção pelos pobres"; em 1990, quando se começava a falar da nova evangelização, a nossa abordagem teve como tema "A evangelização em tempo de mudança"; no ano seguinte, outro tema muito actual: "O cristão e o desafio ecológico". Mais recentemente, tivemos a preocupação de abordar "o divórcio e a unidade da família" (1994); "Religião e cidadania" (2001); ou "Cristianismo e construção de Europa" (2004). Como vê, tudo temas actuais.
O ano passado penso que o tema andou à volta da vida humana.
Precisamente. Como sabíamos que, mais mês menos mês, o tema da vida humana, inviolável a partir do primeiro até ao último momento, iria entrar em debate público, como agora aconteceu, nós procurámos dar, aos nossos alunos e a todos os participantes das jornadas, chaves de leitura sobre este assunto que, como sabe, é pluridisciplinar. Por isso, foi feita uma abordagem bíblica, uma abordagem filosófica, uma abordagem científica, uma abordagem social e, logicamente, uma abordagem teológica.




É na sequência desse tema que vem este da relação Mulher/Igreja?
Eu não diria que se trata de uma sequência. Todos os anos o Conselho Científico (formado por professores das diversas disciplinas) se reúne para, entre outros assuntos, decidir sobre o tema das jornadas do ano seguinte. De entre as várias hipóteses aventadas, pareceu-nos que estava na hora de fazer uma reflexão sobre a Mulher e a Igreja, abrindo perspectivas para uma clarificação teológica e doutrinal sobre este assunto que está na ordem do dia.


Vão abordar o tema da possível ordenação sacerdotal das mulheres?
Eu já esperava essa pergunta.


Pode não responder…
Eu costumo dizer aos meus alunos que todas as perguntas bem intencionadas merecem a consequente resposta. Depois, não é pelo facto de se tratar de um tema difícil que nos vamos escudar atrás de meias palavras ou de pequenas evasivas. No entanto, neste caso, não posso adiantar-lhe muito. Posso dizer-lhe que o tema do acesso de mulheres ao ministério ordenado tem sido abordado, nos últimos anos, em várias instâncias, nomeadamente eclesiásticas. Por isso, é possível que algum dos professores convidados toque nesse aspecto, quer emitindo a sua opinião, quer comentando o que se tem escrito sobre o assunto. Mas não está prevista nenhuma lição específica sobre essa matéria.


Então, que temas vão ser abordados?
Vamos começar, como é natural em estudos de teologia, por uma abordagem bíblica, a cargo do Dr. José Carlos Carvalho, da Universidade Católica (Porto), que está a fazer a sua tese de Doutoramento sobre a mulher na Sagrada Escritura. Depois, iremos percorrer a história da Igreja, com a Doutora Filomena Andrade, do Centro de Estudos de História Religiosa da UC, que está também a preparar doutoramento sobre a mulher consagrada na Idade Média. Seguem-se as abordagens sob o ponto de vista da família e sociedade e da comunicação social, o primeiro a cargo da Doutora Maria do Rosário Carneiro, deputada e mãe de família, e o segundo da Dr.ª. Laurinda Alves, grande conhecedora da relação entre o fenómeno religioso e a comunicação. Depois, teremos uma lição da irmã Dr.ª Laurinda Faria, Hospitaleira, sobre a actualidade da consagração da mulher ao serviço da evangelização. E, finalmente, o Doutor D. Carlos Azevedo vai abrir-nos perspectivas para o entendimento da relação Mulher/Igreja neste início do século XXI.


Pelos vistos, quase todas as lições estão a cargo de mulheres. É por acaso?
Não! Houve da nossa parte, da direcção do Instituto, a preocupação de convidar mulheres, até porque reconhecemos que, em muitas matérias, elas estão muitos pontos acima dos seus colegas no ensino, na profissão ou em outras actividades humanas e sociais.
Ainda queria questioná-lo sobre outros aspectos da vida do Instituto de Teologia, sobre a adesão ao processo de Bolonha, sobre o futuro do ensino teológico em Portugal…
Estou sempre ao dispor. Mas talvez lá mais para diante, quando vier a talho de foice. Hoje, deixe-me apenas terminar recordando que as nossas jornadas de teologia, a 23 e 24 de Março, se realizam no auditório do Instituto Português da Juventude (abertas, por isso, a toda a sociedade, a começar pelos cristãos que querem aprofundar este aspecto do seu conhecimento). As inscrições podem ser feitas na secretaria do ISET, no Seminário de Coimbra.

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